
Embalagem para Sementes
Edição VII | 02 - Mar . 2003 As sementes fazem parte de um tipo de
negócio em que poucos as produzem e muitos as utilizam. Assim, para transportar
do local de produção para o de utilização, é necessário que as sementes estejam
devidamente embaladas e identificadas. Na embalagem vai a identificação das
sementes, constando, entre outras características, o nome do produtor, a
espécie, a cultivar e/ou híbrido, o peso e qualidade física e fisiológica. As
sementes também são colocadas em embalagem para separá- las em lotes,
facilitando sua identificação e individualização. Por definição, um lote é
constituído por sementes com atributos de qualidade similares, o que é muito
importante porque possibilita que a amostragem realmente represente o lote
inteiro de sementes.
As embalagens possuem várias funções e
devem atender a objetivos específicos como: resistência ao transporte; porosidade
ou impermeabilidade; flexibilidade ou rigidez; durabilidade e possibilidade de
reutilização; facilidade de impressão; transparência ou opacidade; e
resistência a insetos e roedores. Pode-se dividir as embalagens em permeáveis,
semi-permeáveis e impermeáveis, em função das trocas de umidade que podem
ocorrer entre as sementes e o ambiente em que elas estão. Como embalagens
permeáveis têm-se as de papel, juta, algodão e plástico trançado. Todas essas
embalagens permitem livremente as trocas de umidade, o que quer dizer que se a semente
estiver seca e o ambiente úmido, em pouco tempo a semente também estará úmida.
A utilização de uma ou outra embalagem irá
depender basicamente do profissionalismo do produtor de sementes e do preço da
embalagem. Atualmente, a embalagem de plástico trançado é a mais barata e
possibilita o segundo ou terceiro uso, ou seja, o agricultor que comprar a
semente poderá utilizá-la para outros propósitos em sua propriedade. Possui o
inconveniente da má apresentação e ser de difícil manuseio (são comuns pilhas mal
formadas). As embalagens de
papel possuem boa apresentação e são de fácil manuseio; o inconveniente é que
não permitem um segundo uso. Entretanto, o que se compra é a semente, não a embalagem.
E, na realidade, a semente merece um tratamento especial por tudo que ela
representa. As embalagens impermeáveis mais comuns são as de lata, em que
realmente as trocas de umidade são nulas, porém são inconvenientes para pequenas
quantidades de sementes.
As embalagens aluminizadas são bastante práticas
para pequenas quantidades de sementes, possuindo o inconveniente de romperem-se
com certa facilidade. As embalagens de plástico, em geral, não são 100%
impermeáveis, entretanto, para armazenamentos de até dois anos, cumprem bem sua
função. Enfatiza-se que mesmo uma embalagem impermeável, uma vez aberta, torna-se
permeável. Isto significa que comprar semente de lata que foi aberta é expor-se
ao perigo de ter uma semente de baixa qualidade.
Tamanho da embalagem
Por muitos anos o tamanho da embalagem era
determinado principalmente pelo peso que uma pessoa poderia carregar, pois o
processo de empilhamento e o abastecimento da semeadora era praticamente todo
realizado de forma manual. Assim, no Brasil, convencionou-se que um saco de sementes
de soja, arroz e trigo era de 50 kg.
Atualmente, com o avanço das técnicas de
marketing, as sementes de soja, trigo e arroz, são comercializadas em
embalagens que vão de 20 a 50kg. A disponibilidade de embalagens com menor peso
possibilita que pequenos agricultores possam comprar quantidades reduzidas de
sementes em embalagens fechadas. Como a semeadura é realizada levando-se em conta
o número de sementes por metro linear e não por peso, essa mudança na embalagem
está possibilitando também que o agricultor compre sua semente por unidade e
não por peso.
É possível determinar-se em dois sacos de
sementes de soja, cada um com 40 kg, um possa possuir 360000 sementes e o outro
240 000, demonstrando assim a importância de comprar as sementes por unidade.
Para facilitar esse procedimento, a indústria brasileira de sementes está
classificando as sementes de soja em três tamanhos. Em algumas espécies, como o
milho, o tamanho da embalagem era determinado em função do peso médio necessário
para semear um hectare, ou seja, 20 kg. Atualmente, estão sendo utilizadas
embalagens contendo ao redor de 20kg, variando de 17 a 22 kg.
O avanço foi o número de sementes por
embalagem, convencionado em 60 000. Na prática, isso quer dizer que uma
embalagem de 17 kg possui sementes de menor tamanho que uma de 22 kg. A
utilização de embalagens com determinado número de sementes, realmente, veio em
boa hora, inclusive para proteger o produtor, pois o número de sementes dentro
de uma embalagem não muda, enquanto o peso pode mudar conforme a umidade
relativa do ar no local em que a semente se encontra armazenada. As embalagens para sementes de hortaliças são
determinadas em função do seu preço. Além de pequenas, estas devem ser
impermeáveis à água, pois as sementes são secas a graus de umidade inferiores a
7% para aumentar seu potencial de armazenamento, e as embalagens impermeáveis
evitam que as sementes voltem a absorver
água do ambiente.
Custo e Manuseio
Entre as iniciativas bem sucedidas para
baixar o custo e ajudar os grandes produtores no manuseio do material, está a
utilização do transporte das sementes a granel. Como a abertura de 500 sacos
para distribuir as sementes no depósito da semeadora, não é uma tarefa muito
leve, começou- se a adotar embalagens com alta capacidade, como sacos ou caixas
de 500 kg a 1000 kg. De acordo com o tamanho da embalagem, pode-se considerar, para
fins práticos, que a semente está sendo manuseada a granel. Até o momento, no
Brasil, essa embalagem é utilizada principalmente nas unidades de
beneficiamento de sementes para armazenamento regulador de fluxo. A adoção
dessas embalagens de até uma tonelada, também possui a vantagem de possibilitar
uma melhor separação das Sementes em lotes, além do manuseio a granel ter um
menor custo. Por outro lado, o ensaque tradicional envolve muita mão-de-obra, além
do custo da sacaria em si. O manuseio a granel nessas grandes embalagens economiza
a mão-de-obra, tanto no ensaque como na abertura da embalagem. Ainda em termos
de custo, há relatos de economia de US$1,00/50 kg de semente.

Atualmente,
o peso da embalagem para algumas espécies é função do número de sementes.
Exemplo: milho 60.000 sementes = 19,32 Kg
Esse avanço no manuseio das sementes a
granel ainda está sendo aperfeiçoado, assim como os recipientes em si. Os
aperfeiçoamentos seriam:
1- possibilidade de segundo uso sem risco
de misturas varietais,
2- forma para empilhamento, e
3- o controle externo de qualidade entre
outros. Esse processo faz com que a semente siga diretamente do produtor de
sementes para o agricultor, sem passar por intermediários.
Proteção
As sementes secas (umidade inferior a 7%)
possuem alto potencial de armazenamento, desde que estejam em embalagens
impermeáveis. Para armazenamento por período de tempo superior a um ano, a
umidade das sementes deve estar entre 3 a 7%, enquanto que para armazenagem até
um ano, a umidade deve estar abaixo de 11%, no caso de embalagens impermeáveis.
Feijão e soja são bons exemplos para ilustrarmos a situação.
Absorção
de umidade pelas sementes em diferentes profundidades na embalagem
*Profundidade
da semente na embalagem
No caso de feijão, os agricultores
costumam secar bem as sementes ao sol e armazená-las em garrafas plásticas por
períodos de até um ano. Com isso, evitam a deterioração do produto e o ataque
de insetos. Para sementes de soja, o uso de embalagem impermeável também tem se
mostrado adequado. O doutor Ademir Henning, da Embrapa–Soja, realizou uma
pesquisa envolvendo embalagem de plástico liso em condições tropicais,
constatando efeitos benéficos deste tipo de embalagem, desde que a umidade das
sementes esteja abaixo de 10%. Sementes de soja são conhecidas como de baixo
potencial de armazenamento.
Assim, uma proteção extra pela embalagem propiciará
que o agricultor receba uma semente com a qualidade preservada.
Outro exemplo relacionando potencial de
armazenamento, umidade de sementes e embalagem, é o da cebola. Inicialmente, as
sementes de cebola, com 10-11% de umidade, eram embaladas em sacos de algodão e
possuíam um potencial de armazenamento de, no máximo, cinco meses, acarretando uma
instabilidade no oferecimento de sementes de alta qualidade aos agricultores,
pois as sementes que não eram vendidas não poderiam ser armazenadas em
condições ambientais para a próxima safra . No caso de um ano considerado bom
para sementes o preço baixava e num ano ruim, preço das sementes subia muito.
Atualmente, as sementes de cebola são
secas à umidades inferiores a 7%, colocadas em embalagens impermeáveis e
armazenadas por pelo menos três anos sem perder sua qualidade. Isso estabilizou
a oferta, com benefícios para quem produz e para quem utiliza sementes.
Armazenamento e embalagens
É consenso que a unidade de beneficiamento
de sementes (UBS) é a vitrine da empresa, pois quando os agricultores fazem
suas visitas para comprar sementes, o primeiro local que visitam é a UBS.
Sabendo disso, os produtores de sementes constróem as pilhas bem arranjadas, de
tal forma que dêem uma boa impressão, principalmente em termos de limpeza e
profissionalismo. Algumas embalagens são melhores do que outras para compor a
pilha: embalagem de papel possibilita pilhas mais altas e de melhor
apresentação que as de plástico trançado. Entretanto, o tipo de embalagem tem
uma influência muito pequena nas trocas de umidade e calor das sementes
localizadas no meio da pilha, pois como o ar não passa pela área central da
pilha, não retira a umidade e nem reduz a temperatura.

Embalagem de 500 KG
Ainda sobre pilhas, enfatiza-se que caso
seja necessário a passagem de ar forçado (com ventilador) pelas sementes, para
retirada de um pouco de umidade ou calor, o processo não se dará de forma
homogênea, uma vez que como a embalagem (papel ou plástico) não oferece uma
resistência uniforme à passagem do ar, este circulará muito mais pelos locais
que ofereçam menor resistência. O ar segue o princípio dos líquidos – vai pelo
local mais fácil. Portanto, passar ar por sementes empilhadas, só em último
caso.
RESUMO
A embalagem possui importantes funções no
processo de obtenção, manutenção e distribuição das sementes para os
agricultores. Há grandes avanços no manuseio das sementes, como embalagens de
diferentes tamanhos para atender melhor ao consumidor, que vão desde gramas até
tonelada; a caracterização da embalagem por número de sementes, e não por peso;
a embalagem de papel como sinônimo de alta tecnologia; a embalagem impermeável
para armazenamento em condições adversas: a distribuição das sementes a granel
e a utilização da embalagem como ferramenta mercadológica. Como requisito legal
de identificação das sementes permanece praticamente intocável.
No entanto, outras funções vão se
ajustando conforme ocorrem os avanços científicos, tecnológicos e comerciais.
Neste sentido, o avanço de colocar-se o número de sementes por embalagem merece
um destaque especial, pois evita os inconvenientes de corrigir-se o peso
conforme a semente perca ou ganhe umidade do ambiente. Isso foi facilitado pela
classificação das sementes, que uniformizou seu tamanho, sendo obtida com isso
uma menor amplitude de variação no peso de 1000 sementes do lote,
proporcionando uma maior confiabilidade ao processo.