Melhorando o Desempenho da Semente

Edição VIII | 06 - Nov . 2004
James Delouche-JCDelouche@aol.com
   Um dos preceitos fundamentais da ciência e tecnologia de sementes é de que sementes de alta qualidade apresentam um melhor desempenho do que as de menor qualidade. Logo, melhorar o desempenho das sementes na produção de cultivos é mais facilmente alcançado concentrando-se no desenvolvimento e produção de sementes de alta qualidade e na manutenção dessa qualidade. Esta abordagem é efetiva e eficiente, mas seria a única forma de melhorar o desempenho das sementes? Desempenho e qualidade de sementes constituem-se essencialmente no mesmo atributo? Pode o desempenho de sementes de alta qualidade ser melhorado sem nenhuma mudança significativa na sua qualidade?  
               
Exemplos de melhoria do desempenho- No outono, época da renovação anual do meu gramado, comprei as sementes, coloquei-as em um balde de plástico, pulverizei-as com água e mexi bem para distribuí-la uniformemente, colocando a seguir um saco plástico fechando o balde. Por sete dias, eu colocava mais água quando necessário e fornecia aeração às sementes, mexendo-as bem. No oitavo dia, as semeei, aguando bem após a semeadura. No décimo dia, as áreas renovadas estavam cobertas de plântulas verdes. Como acontece todos os anos, algum vizinho perguntava que tipo de sementes eu havia utilizado para produzir um gramado verde em dois dias. Obviamente, ele não sabia de tudo que eu havia feito durante os sete dias que precederam a semeadura! O desempenho das sementes, contudo, havia sido dramaticamente melhorado sem nenhuma mudança na sua qualidade, e sim por meio de uma forma primitiva de priming ou osmocondicionamento. 
               
    O fim da qualidade de sementes - Há apenas alguns dias, li um editorial muito interessante em uma revista de sementes com o título provocativo de "O Fim da Qualidade de Sementes". A tese principal do autor é a de que, uma vez que os principais fornecedores de sementes de milho e soja já levaram, ou estão levando, a qualidade física das sementes a limites máximos, ela está rapidamente perdendo sua posição de característica chave para comercialização.
    Assim, O Fim da Qualidade de Sementes acontecerá logo, quando todos os grandes fornecedores de sementes tiverem alcançado e proclamado a commodity qualidade de sementes, fazendo, dessa forma, que ela deixe de constituir-se, para os consumidores, em uma base importante para a diferenciação entre fornecedores.  
                   
    “Desempenho e qualidade de sementes constituem-se essencialmente no mesmo atributo?”    
             
    Na consideração do "próximo passo", o autor não se concentra nos novos caracteres introduzidos por meio da engenharia genética, devido a que as práticas atuais de  licenciamento de produtos e de caracteres levam a uma rápida aquisição e disseminação dos mesmos entre os fornecedores. Similarmente, ao desempenho agronômico, como por exemplo, ao rendimento, não é dado muito peso como uma vantagem competitiva para os fornecedores de sementes, uma vez que rendimentos estão se tornando uma commodity, da mesma maneira que a qualidade se tornou. O autor sugere, em conclusão, que uma boa oportunidade para o fornecedor ganhar uma vantagem competitiva está no campo da informação, isto é, fornecendo informações sobre qualidade e valor agregado das sementes, de maneira que o consumidor possa entendê-las e utilizá-las. Porém, não sou tão otimista quanto o autor com relação à possibilidade de marketing de informações nesses tempos de excesso de informações em muitas áreas e assuntos.               
    Não discordo da tese do autor de que para milho e soja nos Estados Unidos o "fim da qualidade física de sementes" pode estar chegando. Alguns pesquisadores já deixaram de trabalhar com sementes de milho e soja para trabalhar com alguns tipos de sementes menos estudadas, porque não há muito mais deixado por fazer em milho e soja. Contudo, não aceito a extensão desta tese para sementes de outros importantes cultivos e continuo a acreditar que o desenvolvimento de tratamentos para estimular o desempenho das sementes, tais como osmocondicionamento, aplicação de giberelinas e outros produtos químicos, recobrimento para evitar as injúrias por embebição ou "programar" a emergência para épocas mais favoráveis sob mais favoráveis condições, e assim por diante, podem dar aos fornecedores significativas vantagens competitivas e aos consumidores, escolhas viáveis entre os fornecedores.               
    Concordo que, para o futuro, o uso de maior quantidade e de mais modernos equipamentos de beneficiamento de sementes da maioria das principais culturas vai resultar principalmente em sementes mais atrativas, porém com pouca ou nenhuma melhoria no desempenho. Espero que eventualmente, contudo, possa ser desenvolvido um tipo de equipamento que separe as sementes com base em seus caracteres fisiológicos.              Sempre acreditei que melhorias dramáticas na qualidade das sementes e no seu desempenho poderiam ser obtidas via herança. Sem dúvida, é possível na atual era da "agricultura genética" que sejam identificados e desenvolvidos caracteres que possam melhorar muito o desempenho das sementes em locais, épocas ou sob condições onde este é, em geral, bastante prejudicado. Creio que serão concentrados atenção e recursos na melhoria do potencial inerente de desempenho das sementes.
 
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