Com a crescente integração dos mercados mundiais, novos agentes econômicos têm afetado o cenário competitivo das organizações. Esse novo contexto traz efeitos difusos, pois, ao mesmo tempo em que abre novas oportunidades, coloca também ameaças e desafios a serem superados e, sobretudo, exige um grande esforço de adaptação às mudanças. O ritmo da competição global e a mudança tecnológica estão forçando as empresas a adotarem uma postura de aprendizagem intensiva, enquanto buscam a identificação de estratégias que viabilizem resultados satisfatórios.
As empresas são pressionadas a adotarem estratégias competitivas, através de novas concepções, ações e atitudes, nas quais produtividade, custo e eficiência se impõem como regras básicas, mas não suficientes, na busca da sua sustentação duradoura no mercado. Para além de produtividade, custo e eficiência, conceitos como aprendizagem e inovação – pela combinação apropriada de recursos e capacitações – passam a constituir eixos fundamentais na condução da gestão estratégica.
Inseridas nesse ambiente de mudança, risco e incerteza crescentes, as empresas do agronegócio em geral e, em especial, as produtoras de sementes, também são instigadas a buscar estratégias competitivas e a repensar suas formas de organização, tanto em nível interno de concepção e execução da produção, como no externo, em suas relações com outras empresas. Assim, o fortalecimento de relacionamentos com atores externos são, via de regra, as fontes do valor gerado e percebido pelos clientes.
Num cenário onde os produtos, os preços e a qualidade são cada vez mais iguais e os consumidores cada vez mais informados e exigentes, a simples sobrevivência das organizações traz novos desafios aos profissionais responsáveis pela sua gestão. Então, compreender os clientes, as suas necessidades e os direcionadores de valor que orientam as suas escolhas é fundamental, mas além disso, também é importante entender o ambiente onde as empresas atuam. Com o intuito de auxiliá-lo na gestão estratégica de sua empresa, apresentamos na sequência três ferramentas que o ajudarão a diagnosticar o ambiente da sua empresa (análise ambiental), a avaliar os direcionadores competitivos do(s) produto(s) da sua empresa (análise de direcionadores) e a avaliar o desempenho dos seus produtos vis-à-vis ao interesse dos seus clientes e a performance dos seus concorrentes (matriz de importância – desempenho).
Análise Ambiental
A análise ambiental ajuda a tornar os sistemas de decisão de produção e marketing mais eficientes. Como as empresas formam um sistema de dependência e interação mútua com o ambiente, a análise ambiental ajuda a prever as combinações de variáveis econômicas, sociais, políticas, naturais, competitivas, etc, e, portanto, a reduzir – mas não eliminar – as incertezas. Ela divide-se em três níveis: O ambiente geral, o ambiente competitivo e o ambiente interno, ou seja, a própria organização.
O ambiente geral é composto pelas forças motrizes que afetam todas as empresas. As empresas não têm controle sobre estas forças, por isso é importante que elas criem condições para a tomada de decisões eficazes quando diante de oportunidades e/ou ameaças.
O ambiente competitivo é composto pelos atores que estão mais próximos da organização. O objetivo da análise do ambiente competitivo é identificar oportunidades para o desenvolvimento das competências da organização, entender os clientes e suas necessidades, identificar ameaças atuais e potenciais, bem como entender o mercado dos fatores de produção. Conhecendo o ambiente competitivo, a empresa poderá melhor se posicionar.
A última etapa da análise compreende a análise do ambiente interno. Ela consiste em avaliar as competências da empresa, bem como as suas limitações. Deve-se avaliar a empresa em áreas como: a estrutura organizacional, capacidade operacional, participação no mercado, recursos financeiros, experiência, imagem e cultura da empresa, gestão e qualidade dos recursos humanos, portfólio de produtos e serviços, entre outras. A meta é identificar pontos fortes que possam ser alavancados e pontos fracos que possam ser superados na organização.
Análise de direcionadores de competitividade
A caracterização e análise dos segmentos que compõem uma cadeia agroindustrial revelam a existência de um variado conjunto de fatores internos e externos que afetam o seu desempenho competitivo. A análise contempla um conjunto de fatores denominados de “direcionadores de competitividade”, os quais, vão indicar o estágio competitivo em que se encontra uma determinada cadeia produtiva e suas organizações. Esta ferramenta, adaptada para o negócio sementes, permite diagnosticar o estágio competitivo do conjunto das empresas do setor no seu ambiente macro, além da avaliação de suas competências internas. O método consiste em elaborar uma matriz passo a passo, com todos os elos da cadeia representados.
Nas diversas turmas do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Sementes da UFPel, compostas principalmente por profissionais das áreas de agronomia, engenharia agrícola, biologia e administração, tem-se trabalhado intensivamente questões de biotecnologia, tecnologia de produção e pós-colheita, além do planejamento e gestão estratégica do negócio sementes, entre eles soja, arroz, milho, trigo, sorgo, hortaliças, etc. Para exemplificar a aplicação desta ferramenta, utilizaremos um exemplo de trabalho exercitado pelos mestrandos na área de sementes de soja, desenvolvido no Brasil.
A primeira tarefa, então, é definir os direcionadores de competitividade e os respectivos critérios competivos. Neste caso, optou-se pelos seguintes direcionadores: ambiente institucional, gestão de negócio, tecnologia, logística, relação de mercado e marketing. Conforme pode-se observar, no âmbito de cada direcionador de competitividade, estão indicados os diversos critérios competitivos avaliados. Por exemplo, o direcionador “logística” tem como critérios competivos o sistema de transporte, o custo, a flexibilidade de entrega, o fluxo de informações e a acessibilidade do cliente.
Na sequência, atribui-se responsabilidade(s), ou seja, quem controla de fato cada critério competitivo, com as seguintes opções: a empresa (EMP), a coordenação da cadeia produtiva (CAD), o governo (GOV), se é quase controlável (QCON) ou não controlável pelos agentes (NCON).
O segundo passo do procedimento metodológico é definir a intensidade do impacto de cada critério competitivo e sua contribuição para o efeito agregado dos direcionadores. Para tanto, pode-se utilizar uma escala do tipo “likert”, variando de “muito favorável” (MF +2), quando há significativa contribuição positiva do critério; “favorável” (F +1); “neutro” (N zero); “desfavorável” (D -1); e “muito desfavorável” (MD -2), no caso de impacto muito negativo do critério. A atribuição de valores (de +2 a -2) permite visualizar os resultados através de uma representação gráfica, bem como combinar quantitativamente os valores atribuídos aos critérios, para que se possa fazer avaliações agregadas. Assim, a combinação quantitativa dos critérios, de modo a gerar uma avaliação para cada direcionador de competitividade e seus respectivos critérios, envolve ainda uma etapa de atribuição de pesos relativos. A motivação para esse procedimento de ponderação é o reconhecimento da existência de graus diferenciados de importância para os diversos critérios, em termos de sua contribuição para o efeito agregado. Cada um dos direcionadores de competitividade também deve ser ponderado em função de sua contribuição para a competitividade da cadeia sob avaliação.
Esta fase do trabalho – a atribuição de pesos relativos sobre o impacto de cada critério e seu efeito agregado na competitividade da empresa e/ou do setor – é a mais complexa e rica da análise, pois permite aos participantes expressarem o seu conhecimento e as suas convicções acerca de cada direcionador e seus respectivos critérios competitivos. É um momento chave para o resultado do trabalho, pois, além de exigir um conhecimento profundo da equipe sobre o setor de sementes que está sendo avaliado, normalmente são necessárias várias rodadas de debates e discussões até chegar-se a uma resposta consensual acerca de cada item da matriz dos direcionadores de competitividade.
Retomando a sequência da matriz, desenvolveu-se um exemplo hipotético de análise dos direcionadores de competitividade de uma empresa produtora de sementes de soja e sua respectiva cadeia produtiva. Na primeira coluna (direcionadores e critérios competitivos) foram estabelecidos seis direcionadores de competitividade (ambiente institucional, gestão de negócio, tecnologia, logística, relação de mercado e marketing) e seus respectivos critérios competitivos. Na segunda coluna (controlabilidade), foram indicadas as responsabilidades ou co-responsabilidades de cada critério competitivo, entre os agentes da cadeia produtiva e governo. Na terceira coluna (peso), definiu-se o peso relativo atribuído a cada direcionador e a cada critério, os quais se constituirão em informação-chave para obter-se o impacto real de cada critério e seu efeito agregado na competitividade da empresa e do setor.
Desta maneira, após ampla discussão entre os agentes envolvidos e especialistas, através do método Delphi, atribuiu-se o peso de 8% para o ambiente institucional, 22% para a gestão do negócio, 19% para tecnologia, 21% para logística, 18% para a relação de mercado e 12% para o marketing, além dos pesos relativos aos critérios competitivos, dentro de cada direcionador. Obviamente, a soma dos direcionadores deve fechar em 1, assim como os pesos relativos dos critérios dentro de cada direcionador. Nas duas colunas seguintes (avaliação dos critérios e quantificação da avaliação), foram atribuídos os níveis de desempenho em que se encontram cada critério, desde Muito Favorável (MF, +2) até Muito Desfavorável (MD, -2). Os valores da última coluna (avaliação x peso dos critérios), resulta da multiplicação do nível de cada critério (+2, +1, 0, -1 ou -2) pelo respectivo peso relativo do critério, atribuído anteriormente, dentro de cada direcionador de competitividade. O impacto de cada direcionador é obtido pela soma algébrica dos resultados do impacto de cada critério, multiplicado pelo peso relativo atribuído a cada direcionador, na terceira coluna.
O resultado da matriz pode ser visualizado na figura. Note-se que os direcionadores – gestão do negócio e tecnologia – basicamente de responsabilidade da empresa, são os que estão impactando mais positivamente a competitividade. Por outro lado, o direcionador – logística –, cuja responsabilidade é compartilhada entre governo e empresa, está impactando negativamente a competitividade da empresa.
As relações de mercado, o marketing e o ambiente institucional, embora de forma menos significativa do que a logística, também estão impactando negativamente a empresa. Assim, de um modo geral, pode-se concluir que a avaliação dos direcionadores de competitividade desta empresa junto à cadeia de produção de sementes, estão com desempenho regular, mas podem ser melhoradas, necessitando de ações específicas e urgentes na área de logística, especialmente na flexibilidade de entrega por parte da empresa e sistema rodoviário por parte do governo, assim como ações nas áreas de relações de mercado e marketing.
A partir do resultado da matriz dos direcionadores de competitividade, os agentes econômicos ligados à cadeia de produção de sementes analisada, poderão projetar suas ações estratégicas de curto, médio e longo prazos. Uma vez que o trabalho teve a participação de todos os envolvidos, este documento pode se transformar no instrumento orientador e articulador de ações concertadas entre os empresários dos diversos elos da cadeia, assim como das instituições governamentais envolvidas.