Desafios e Oportunidades na Produção de Sementes de Hortaliças no Brasil

Edição XIX | 03 - Mai . 2015
Warley Marcos Nascimento-warley.nascimento@embrapa.br

    O setor de produção de hortaliças apresenta grande destaque no agronegócio brasileiro. Em 2012, a produção e área cultivada das principais culturas foram estimadas em 18,7 milhões de toneladas e 800 mil hectares, respectivamente. Dados de 2012/13, apresentados pela Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), mostram que as 18 principais culturas oleráceas propagadas por sementes rendem no atacado R$ 26,84 bilhões. Porém, o valor alcança R$ 53,49 bilhões quando se considera as vendas no setor varejista. 

    O balanço do desempenho da cadeia produtiva de hortaliças a partir do início da década passada até a presente data tem sido altamente positivo. Esse progresso pode ser atribuído aos investimentos em inovação tecnológica nos sistemas de cultivo das principais culturas e na disponibilização de maquinário e materiais modernos, e insumos com destaque para sementes híbridas de alto valor agregado. Com isso, houve uma melhoria acentuada no campo, com aumento de produtividade da maior parte dos cultivos de importância econômica. Assim sendo, verificou-se, no período 2000 a 2012, incremento de 6,6% em produtividade para 35 espécies de hortaliças, de acordo com dados apresentados pela Embrapa Hortaliças. 

    É importante destacar que a olericultura é um setor do agronegócio que se caracteriza por apresentar enormes diferenças quanto à adoção de insumos, tecnologias, nos canais de comercialização e distribuição. De outra parte, desde o início da década de 2000, o padrão de consumo de hortaliças no país está em constante transformação, observando-se que o perfil do consumidor contemporâneo de hortaliças tem priorizado a busca por produtos saudáveis, diferenciados e com alta qualidade. Ademais, para o novo consumidor de hortaliças, os aspectos relacionados à saúde e ao meio ambiente passaram a ser também fatores decisivos sobre os produtos que pretende adquirir.

    Para acompanhar tais mudanças, as empresas de sementes desencadeiam novas estratégias, onde procuram se adequar às necessidades do setor produtivo, bem como se ajustar às tendências de comportamento do consumidor, de forma a manter sua competitividade. Nesse sentido, as empresas de sementes têm tido um papel destacado no processo de segmentação das principais espécies olerícolas cultivadas, lançando continuadamente produtos não convencionais com variações de cores, tamanho, formato e sabor. 

    Essa nova realidade na olericultura nacional tem contribuído para o vigoroso crescimento em valor do mercado de sementes de hortaliças. No gráfico junto ao texto observa-se que no início da década passada o valor total do mercado de sementes de hortaliças era estimado em R$114,4 milhões e em 2013 alcançou o valor de R$ 550 milhões, segundo dados ABCSEM, portanto um incremento ao redor de 500%.

    A rigor, essa mudança intensificou-se a partir da década de 1990, com  a aquisição das principais empresas de sementes brasileiras por corporações transnacionais. Com isso, verificou-se aumento gradativo da importação de cultivares, especialmente híbridos F1, desenvolvidos no exterior. Sem dúvida, a grande mudança no novo cenário do setor de sementes de hortaliças nacional implementada pelas empresas multinacionais foi a conversão do mercado de sementes de polinização aberta, de baixo valor de mercado, por cultivares híbridas. Com efeito, salvo as espécies de hortaliças, cuja produção de sementes híbridas não é econômica e/ou tecnicamente viável, a exemplo da alface, ervilha, feijão-vagem, coentro, salsa, entre outras, o mercado de sementes de polinização aberta tem sido explorado exclusivamente por empresas de pequeno porte e abrangência nacional.


Produção de sementes híbridas


    Atualmente, as prioridades de negócio das multinacionais do setor sementeiro de hortaliças que atuam no Brasil envolvem espécies cujos mercados já foram ou estão sendo convertidos para híbridos F1, não apenas pelo valor agregado às sementes, mas para garantir o direito natural de propriedade intelectual. A preocupação advinda desse novo cenário é que espécies oleráceas como abóboras, coentro, couve-de-folha, jiló, maxixe, quiabo, entre outras, correm o risco de se tornar cada vez mais negligenciadas. Todavia, de outra perspectiva, essa realidade pode ensejar uma grande oportunidade para instituições públicas e empresas nacionais de sementes intensificarem seus esforços em pesquisa e desenvolvimento (P&D) com foco na seleção de novas cultivares e em tecnologia de produção de sementes para condições tropicais e subtropicais. 

    No presente artigo, serão abordados os principais desafios e oportunidades para o setor sementeiro de hortaliças do Brasil.


Desenvolvimento de Novas Cultivares

    A importância dos trabalhos realizados nas instituições oficiais de pesquisa no desenvolvimento de novas cultivares de hortaliças foi importante em um passado recente. Uma avaliação dos catálogos das principais companhias de sementes do período confirma o trabalho fecundo destas instituições. 

Produção sementes de cenoura


    Nos últimos anos, a obtenção de cultivares híbridas de alto potencial produtivo e com resistência a doenças limitantes, através do melhoramento convencional com auxílio de novas ferramentas da biotecnologia, tem revolucionado a olericultura. Já se encontra disponível no mercado ou é esperado no futuro o lançamento de novas cultivares de hortaliças com características não conseguidas anteriormente por meio do melhoramento convencional. Como exemplo, podem-se citar produtos como:

1- Minimelancia sem sementes (seedless);
2- Pimentão com melhor sabor;
3- Batata mais sólida (significando menos óleo a ser absorvido durante a fritura) e com resistência a viroses e insetos;
4- Milhos-doces portadores da tecnologia Bt que confere resistência a insetos; e 
5- Tomate com sabor acentuado e com maior teor de antioxidantes e com resistência múltipla a doenças, dentre outros. 

    Embora tenha experimentado um período de menor influência, especialmente na década de 1990, a pesquisa pública em melhoramento genético apresenta, a nosso ver, um futuro promissor. A implementação da “Lei de Inovação Tecnológica” pode potencializar essa importância devido ao seu natural sinergismo com os parceiros da iniciativa privada, principalmente aquelas pequenas empresas de sementes que apresentam pequenos programas de melhoramento genético de cultivares e dependem de instituições públicas para terem acesso a novos materiais genéticos.

Pirataria de Sementes
    O registro de cultivares permite a produção e comercialização de sementes no país. É um processo importante para os programas de melhoramento, pois assegura a identidade genética e a qualidade varietal das cultivares. Adicionalmente, a proteção de cultivares, que garante os direitos autorais aos obtentores, possibilita que empresas públicas e privadas de pesquisa possam ser beneficiadas com o ingresso de recursos decorrentes dos direitos sobre as cultivares que desenvolvem, dando sustentabilidade parcial ou total à continuidade de programas de melhoramento e o subsequente lançamento de novas cultivares de interesse para o agronegócio.
    Porém, algumas empresas de produção de sementes de hortaliças têm enfrentado o problema de pirataria de seus materiais. Produtos são copiados e comercializados a preços mais baixos aos agricultores, que, em busca de uma redução de custos imediatos, podem ser prejudicados na hora da colheita. As chamadas sementes F2, isto é, sementes obtidas a partir de híbridos F1 disponíveis no mercado, não guardam todas as características de seus parentais. A pirataria de sementes de hortaliças, ou quaisquer outras, é crime previsto em lei.  

Tecnologia de Produção de Sementes de Hortaliças
    A produção de sementes de hortaliças de alta qualidade, seja ela genética, fisiológica, física ou sanitária, ainda é um dos principais desafios para a pesquisa e para as empresas produtoras. Tecnologias de produção de sementes das diferentes espécies para as condições nos diferentes agroecossistemas devem estar disponibilizadas. A P & D, principalmente em empresas públicas e instituições de pesquisa e ensino, devem ser ampliadas. Como algumas empresas fomentam a produção de sementes no exterior, a tecnologia para a produção de sementes de várias hortaliças no nosso país tem, em alguns casos, sido incipiente; soma-se a isto que as técnicas empregadas na produção de sementes ficam restritas a empresas produtoras de sementes, não estando disponíveis à cadeia produtiva. 
    Vários aspectos relacionados à produção de sementes das várias espécies oleráceas devem ser melhor investigados, como: exigências climáticas, nutricionais e hídricas, controle de pragas, doenças e plantas invasoras, maturação e colheita, secagem, beneficiamento e acondicionamento das sementes, etc. O aprimoramento das tecnologias para a produção de sementes híbridas também deve ser buscado; assim, técnicas de emasculação e secagem de pólen (em solanáceas), utilização de macho esterilidade (cebola, cenoura, brássicas), reversão sexual por meio de reguladores de crescimento (cucurbitáceas), dentre outras, necessitam de maior investigação, visando uma maior eficiência na hibridização e, consequentemente, melhoria da qualidade genética. 
    Finalmente, mesmo com a utilização de alta tecnologia na produção de algumas espécies de hortaliças, com a obtenção de altas produtividades durante o ano todo, nas mais diversas regiões do país, a tecnologia de produção de sementes de hortaliças ainda necessita de investimentos em pesquisa. Seja na tecnologia de produção de sementes, ou em estudos relacionados à obtenção de sementes de alta qualidade.

Local de Produção de Sementes
    No Brasil, a atividade de produção de sementes de hortaliças se restringe a algumas espécies, com destaque para cultivares de polinização aberta de cebola, cenoura, coentro, quiabo, alface, pimentão, tomate, maxixe, abóboras, ervilha, feijão-vagem e jiló. A produção de sementes híbridas em larga escala se restringe a berinjela e tomate. As empresas de sementes nacionais concentram a multiplicação de sementes, principalmente, no sul e nordeste. 
    Nos últimos anos, vem aumentando a contratação da produção de sementes das diferentes espécies de hortaliças em uso no Brasil em outros países, notadamente no Chile e, mais recentemente, no Peru, além de países asiáticos, tanto para empresas nacionais como as transnacionais que atuam no país. 
    O histórico desses países em tecnologia de produção de sementes de hortaliças, com excelentes condições climáticas, aliado ao menor custo de produção, são alguns fatores que favorecem tal cenário. No entanto, a adoção dessa estratégia é questionável, uma vez que o desempenho de uma determinada cultivar pode variar quando é submetida a condições agroecológicas diferentes daquelas onde foi originalmente selecionada. Vale salientar que, embora para a empresa de sementes este aspecto seja conveniente e de menor custo, ele não contribui para o desenvolvimento da tecnologia de produção nacional; com isso, o país torna-se cada mais dependente da importação de sementes, ocasionando evasão de divisas. Além disso, há sempre o risco de introdução de novas pragas. 


Evolução do mercado de sementes de hortaliças, em valor (Milhões de R$), entre 2001 e 2013. 


    Na produção de sementes híbridas ou mesmo para algumas cultivares de polinização aberta, o cultivo protegido possibilita aumentos de produtividade em pequenas áreas e um melhor controle das condições ambientais, minimizando assim problemas fitossanitários e propiciando produtos de melhor qualidade; soma-se a isso o melhor controle da qualidade genética do material que está sendo produzido. 

Qualidade das Sementes
    O estabelecimento rápido e uniforme das plântulas de hortaliças no campo é fundamental para se alcançar um estande adequado e se ter garantia de produtividade e qualidade do produto colhido. A qualidade da semente é particularmente crítica quando são utilizadas novas cultivares ou híbridos, onde o alto custo unitário dessas sementes determina a necessidade de utilização de tecnologias eficientes para maximizar a germinação e a emergência das plântulas. 
    As sementes, durante o período de germinação, são normalmente expostas a diferentes condições edafoclimáticas, sobre as quais o produtor nem sempre tem controle. Especialmente nestas situações, a qualidade das sementes utilizadas na semeadura é fundamental para se assegurar a emergência das plântulas em campo e obter um estande uniforme. Seja naquelas culturas onde se realiza a semeadura direta, como cenoura, ou naquelas transplantadas, como alface, brassicáceas e outras, a utilização de sementes de alta qualidade é imprescindível.

Secagem de sementes de hortaliças


    Assim, a busca constante de sementes de alta qualidade deve ser enfatizada por todos os atores da cadeia produtiva de hortaliças. Em geral, as sementes fornecidas pelas companhias produtoras de sementes atendem às exigências impostas por lei, principalmente em relação à qualidade física (pureza) e fisiológica (germinação). Neste último caso, o vigor das sementes, embora não exigido, deve ser sempre avaliado no controle interno das empresas de sementes; para isso, testes de vigor “padronizados” devem estar disponíveis. Limites de tolerância quanto à incidência de certos patógenos transmitidos por sementes também devem ser verificados. 

Tratamento de Sementes contra Microrganismos
    As sementes constituem-se no mais eficiente agente de disseminação e no mais seguro abrigo à sobrevivência dos patógenos. Com isso, a presença de um grande número de patógenos associados a sementes de hortaliças tem limitado o cultivo de muitas espécies. 
    Devido ao fato de a maioria das hortaliças serem consumidas “in natura” ou no estado fresco, a aplicação de medidas de controle de doenças exige maiores cuidados. Dentre várias medidas que podem ser empregados, o uso de sementes sadias ou sementes com qualidade sanitária dentro de padrões aceitáveis surge como das mais eficazes.
    O tratamento de semente é uma prática importante tanto no armazenamento como no campo. Para que o tratamento de semente seja eficiente deve-se levar em conta o comportamento dos principais patógenos associados às sementes. O efeito econômico ocasionado pela associação patógeno-hospedeiro pode se estimado tomando-se por base a forma como cada doença ocorre na natureza e considerando-se o fato de que a maioria destas pode ser transmitida, eficazmente, através das sementes. Essa associação pode colocar em risco programas importantes de melhoramento e de certificação. A dificuldade de se identificar com precisão e rapidez a presença ou não de patógenos importantes nas sementes, através da análise de sanidade de sementes, e a falta de medidas eficientes na erradicação desses patógenos podem provocar a introdução de raças ou espécies afins de natureza intolerável.
    Em todas as etapas, o conhecimento dos mecanismos de transmissão e de dispersão de patógenos por sementes é requisito primordial para o controle das doenças. Entre os patógenos transmitidos por sementes, existe uma grande variação em termos de posicionamento do inóculo em relação às mesmas, e isso ocasiona ciclos diferenciados no desenvolvimento das doenças. 
    Comercialmente, as sementes de hortaliças, em geral, são apenas tratadas com fungicidas, sendo, na maioria dos casos protetores, com amplo espectro de ação, como é o caso do Captan ou Thiram. Vários destes produtos utilizados para o tratamento das sementes não são registrados para as hortaliças. Convêm lembrar ainda que estes produtos não controlam todas as espécies de fungos, principalmente aqueles que infectam (internamente) as sementes. Além disso, certos vírus ou bactérias podem também ser transmitidos pelas sementes, e obviamente este tratamento torna-se ineficiente. 
    O teste de sanidade, realizado pelos laboratórios credenciados, detecta os diferentes microrganismos associados às sementes e torna-se o orientador para o tipo de tratamento e produto a ser utilizado. Para determinados patógenos, a utilização de produtos sistêmicos (atuam internamente nas sementes), tratamentos térmicos ou uso de sementes indexadas (livre de vírus, por exemplo) devem ser empregados. As condições em que as sementes serão armazenadas e/ou semeadas também devem ser levadas em consideração para a escolha da melhor forma do tratamento.
    Assim, o uso de sementes tratadas permite eliminar os patógenos das sementes, além de proteger tanto as sementes como as plântulas dos patógenos do solo, possibilitando uma melhoria no estande inicial da cultura e evitando uma disseminação desses microrganismos na lavoura. Nos últimos anos, vários avanços foram obtidos em produtos químicos e biológicos, no tratamento de sementes, e “coatings” e equipamentos, na aplicação dos tratamentos. Especificamente em relação ao tratamento de sementes, notadamente para grandes culturas em detrimento às hortaliças, a evolução se deve principalmente ao aumento dos produtos sistêmicos; novos princípios ativos e novos conceitos, como os biológicos e os fitohormônios; aplicações sofisticadas com várias camadas de revestimento; e atenção com a proteção dos operadores. 

Mudanças Climáticas
    Modelos climáticos sugerem que até o fim deste século, independentemente de emissões futuras de dióxido de carbono, temperaturas atingirão seu ponto mais alto desde o fim da era glacial mais recente. Em plantas, as altas temperaturas podem afetar drasticamente o desenvolvimento nas diferentes fases das culturas, na ocorrência de pragas e doenças, na qualidade dos produtos, dentre outros. Com isso, o melhoramento genético deve estar atento a estas mudanças, desenvolvendo novas cultivares mais tolerantes a estresses bióticos e abióticos. 
    Altas temperaturas podem ainda, durante a semeadura de diversas espécies de hortaliças, reduzir ou mesmo inibir a germinação das sementes. O período compreendido entre a semeadura e o estabelecimento das plântulas é uma fase crucial da produção olerícola. Dentre os fatores que afetam o estabelecimento de plântulas, a temperatura poderá vir a ser o mais importante. Cada espécie apresenta uma temperatura mínima, máxima e ótima para a germinação, e dentro de cada espécie podem existir diferenças marcantes entre as cultivares quanto à germinação nas diferentes temperaturas.
    Temperaturas muito baixas ou muito altas poderão alterar tanto a velocidade quanto a porcentagem final de germinação. Em geral, temperaturas baixas reduzem, enquanto temperaturas altas aumentam a velocidade de germinação. Em condições extremas de temperatura, a germinação poderá não ocorrer, e, em alguns casos, poderá levar a semente à condição de dormência. Por exemplo, na maioria das cultivares de alface, condições de altas temperaturas (acima de 30°C) durante a embebição das sementes podem levar a uma redução drástica do estande inicial. Nestas condições, dois diferentes fenômenos podem ocorrer: a termo-inibição, onde as sementes não germinam, mas irão germinar uma vez que a temperatura volte a um nível adequado – portanto um processo reversível –, e a termodormência, no qual as sementes, após permaneceram embebidas em altas temperaturas durante um período prolongado, não germinarão mesmo após a redução da temperatura. Neste caso, as sementes necessitam de algum tratamento para superar esta dormência (também chamada de dormência secundária).
    Em cenoura, temperaturas próximas de 35°C podem reduzir a germinação e o estabelecimento de plântulas no campo. Vale salientar que o estabelecimento da lavoura de cenoura é obrigatoriamente por semeadura direta, uma vez que esta espécie não aceita o transplante. Nesta espécie, o estabelecimento das lavouras tem modificado nos últimos anos em algumas regiões produtoras de cenoura no país, onde o gasto de sementes por área tem diminuído, em razão de alguns aspectos:

a) da utilização de semeadeiras mais modernas, onde as sementes, incrustadas ou não, são distribuídas mais uniformemente e com maior precisão; 
b) da utilização crescente de sementes híbridas de maior custo; e
c) do maior custo de mão de obra para realizar a prática do desbaste. 

    A técnica do condicionamento osmótico (seed priming) pode também ser empregada com bastante sucesso nas condições de estresses, como temperaturas elevadas.  O condicionamento osmótico consiste de uma hidratação controlada das sementes, suficiente para promover atividade pré-metabólica, sem permitir a emissão da radícula. Em geral, o tratamento consiste em embeber as sementes em uma solução osmótica, sob certa temperatura, por um determinado período de tempo e fazer em seguida uma secagem das mesmas para o grau original de umidade. Isto torna este tratamento vantajoso, uma vez que as sementes podem ser manuseadas e/ou armazenadas; a possibilidade de armazenar as sementes em escala comercial por determinado período após o tratamento, sem a perda do benefício do mesmo, constitui fato altamente desejável. 
    O condicionamento osmótico tem sido utilizado principalmente em sementes de hortaliças e flores, com o objetivo de melhorar a velocidade de germinação, a uniformidade das plântulas e algumas vezes a germinação total, especialmente em condições edafoclimáticas adversas, como em temperaturas altas. Em alface, por exemplo, este tratamento permite a germinação das sementes em condições de altas temperaturas (acima de 30°C), evitando assim a termo-inibição e a termodormência. Em geral, este tratamento não é padronizado e exige uma metodologia adequada para cada espécie, cultivar e até para lotes de sementes.
    Assim, estudos devem ser intensificados visando o sucesso do condicionamento osmótico das sementes; fatores como o agente osmótico empregado, potencial osmótico da solução, temperatura, período do tratamento, aeração, luz e condições de secagem e armazenamento das sementes após o tratamento devem ser mais bem identificados.  Além disso, características das sementes, como genótipo e qualidade fisiológica inicial, poderão ainda afetar os resultados obtidos.

Produção de sementes de beringela


Custo das Sementes de Hortaliças
    Com a enorme demanda por produtos de melhor qualidade, uma crescente utilização de novas cultivares de polinização aberta ou híbridos em várias hortaliças tem sido observada nos últimos anos. A utilização de sementes híbridas, por exemplo, geralmente possibilita aos produtores a obtenção de maior produtividade e uniformidade, bem como produtos de qualidade superior. As empresas de sementes praticamente “abandonaram” o melhoramento genético de cultivares de polinização aberta em várias hortaliças, pois para essas a utilização de híbridos possibilita maior retorno econômico dos investimentos de P&D. 
    Neste contexto, a utilização de sementes melhoradas em hortaliças é bastante alta, quando comparada às grandes culturas. O olericultor, na maioria das vezes, recorre à empresa produtora para a aquisição das sementes, uma vez que é inviável a multiplicação dessas sementes híbridas para uso próprio. E mesmo naquelas espécies, nas quais se utilizam cultivares de polinização aberta (alface ou cenoura, por exemplo), a tecnologia de produção, bem como as condições climáticas exigidas para a produção de sementes são bastante diferentes da produção do produto comercial (cabeça de alface ou raiz de cenoura); mais uma vez, o produtor recorre às empresas de sementes.
    E estas sementes, são caras? Verificando-se o preço pago no comércio, principalmente de algumas sementes híbridas, sim, o preço das sementes é elevado. Tanto é, que algumas sementes estão sendo comercializadas por unidades e não mais por peso, onde o produtor adquire embalagens com 500, 1000 ou 2000 sementes, por exemplo. O produtor profissional sabe o quanto custa este insumo básico. Ao contabilizar os gastos com a mão de obra, insumos, irrigação, máquinas, transporte, necessários à produção e comercialização de uma determinada hortaliça, ele certamente verá que as sementes representam, na maioria das vezes, uma parcela pequena do custo total de produção.
    Vale salientar o gasto reduzido de sementes para formação da lavoura, principalmente naquelas espécies onde se utiliza o transplante de mudas (gasta-se cerca de 100 a 200 g para se formar um hectare de tomate, por exemplo). Além de oferecer, a cada ano, novas cultivares, geneticamente superiores, e com inúmeras vantagens, as empresas de sementes têm também oferecido alguns tratamentos de sementes (seed enhancements), os quais visam um maior desempenho no estabelecimento da cultura, seja na estufa (transplante) ou no campo (semeadura direta). 
    Estes tratamentos permitem uma maior segurança no manuseio das sementes (peliculização, por exemplo), um melhor controle de microrganismos (tratamentos térmicos ou químicos), uma maior e mais rápida germinação e uma emergência mais uniforme (condicionamento osmótico), e/ou uma melhor distribuição das sementes (peletização). A agregação de um ou mais desses tratamentos ao lote de sementes permite a obtenção de um produto diferenciado. Embora, na maioria das vezes, o custo da semente “tratada” possa ser mais elevado, a utilização destas sementes por parte dos produtores poderá trazer benefícios no estabelecimento da lavoura, com consequências positivas na produtividade e qualidade dos produtos. 
    Finalmente, o alto preço destas sementes tem contribuído para algumas mudanças tanto na forma de estabelecimento (produção de mudas) como na condução das culturas (cultivo protegido), onde o emprego de novas tecnologias (ferti-irrigação, mulching, etc.) tem sido crescente, contribuindo assim para aumentos na produtividade e na qualidade dos produtos olerícolas. 

Comentário final
    Neste artigo foram apresentados alguns dos vários desafios para o sistema de produção de sementes de hortaliças no Brasil, e certamente existem outros. O crescimento da população, a crescente urbanização, as pressões crescentes para a preservação do meio ambiente e da saúde humana, a melhoria na dieta alimentar, a globalização, etc, exigirão da olericultura nacional e consequentemente do mercado de sementes um redirecionamento, seja na pesquisa geradora de novas tecnologias ou na produção. Tudo isto permitirá um maior e mais eficiente sistema de abastecimento interno de sementes de hortaliças. 

Agradecimentos
    Os autores expressam seus agradecemimentos aos colegas Maria Esther Fonseca, Leonardo Boiteux, Sabrina Carvalho e Silmar Peske por algumas informações disponibilizadas neste texto. 


    Também colaborou com esta matéria:
    Paulo César Tavares de Melo
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