Universidade de 400 anos na Bolívia deve se tornar a mais nova depositante do Banco de germoplasma global de Svalbard
Uma universidade de 400 anos na Bolívia está prestes a se tornar a mais nova depositante do banco de germoplasma global de Svalbard, graças ao apoio do Governo da Noruega, canalizado pelo Crop Trust.
Fundada em 1624, a Universidad Mayor Real y Pontificia de San Francisco Xavier de Chuquisaca em Sucre, Bolívia, é uma das universidades mais antigas das Américas. Este ano, ela se junta a dezenas de outras instituições, novas e antigas, que estão guardando coleções de sementes para a posteridade no banco de germoplasma global de Svalbard.
O Monteagudo Agrobiodiversity Genebank do Instituto Agroecología y Seguridad Alimentaria (Instituto de Agroecologia e Segurança Alimentar – IASA) da universidade recebeu apoio financeiro do Projeto Biodiversidade para Oportunidades, Meios de Vida e Desenvolvimento (BOLD) para regenerar amostras de sementes da diversidade de milho e feijão que ele contém. A IASA está agora enviando essas sementes para o Ártico para conservação de longo prazo.
Este será o primeiro depósito em Svalbard da Bolívia.
"Sinto-me honrada em carregar alto o nome do nosso país", disse Martha Serrano Pacheco, Diretora da IASA. "Acima de tudo, dar este presente à nossa universidade em seu 400º aniversário."
Revertendo tendências e protegendo sementes
O milho e o feijão sustentam a segurança alimentar na Bolívia e estão intimamente ligados aos povos indígenas da região, incluindo os quíchuas e os guaranis.
"Para nós, a diversidade de culturas não é apenas comida. É a nossa cultura", diz Alfredo José Salinas, professor de tecnologia de sementes da IASA. "Os povos indígenas cultivam as mesmas variedades ano após ano, e cada raça nativa de milho significa algo diferente e especial para eles."
Da esquerda para a direita: Manuel Jiménez (responsável pelas relações com comunidades indígenas); Martha Serrano (líder do projeto); Jimena Quintanilla (estagiária); Alfredo Salinas (coordenador do projeto); Beri Bonglim (Crop Trust); Lizbeth Surubí (estagiária); José Milton Chocaya (voluntário do projeto); e Herlan Julio Rojas (bolsista). Foto: Luis Salazar/Crop Trust.
Da esquerda para a direita: Manuel Jiménez (responsável pelas relações com comunidades indígenas); Martha Serrano (líder do projeto); Jimena Quintanilla (estagiária); Alfredo Salinas (coordenador do projeto); Beri Bonglim (Crop Trust); Lizbeth Surubí (estagiária); José Milton Chocaya (voluntário do projeto); e Herlan Julio Rojas (bolsista). Foto: Luis Salazar/Crop Trust.
Mas a diversidade dessas culturas nas mãos dos agricultores vem diminuindo à medida que eles começam a recorrer a variedades modernas e de maior rendimento.
"Minha família costumava cultivar muito milho roxo quando eu era criança", disse Francisco, um ex-aluno universitário da comunidade Wasi Wasi. "Mas não mais. Agora eles cultivam apenas milho branco, que dá rendimentos maiores."
Para evitar perder suas colheitas por causa da seca e das geadas no início da estação, os agricultores estão cada vez mais sendo forçados a abandonar o milho ou se concentrar em variedades de estação curta.
"Infelizmente, longos períodos de seca durante o período de floração significam que o produtor acaba com espigas vazias", disse o melhorista de plantas Heriberto Reynoso Montes. "As chuvas estão se tornando mais irregulares e vêm mais tarde, o que significa que a semeadura também deve ser feita mais tarde. Mas então as baixas temperaturas durante o inverno afetam a produção."
"Estávamos mudando, perdendo o interesse em nossa comida e nos concentrando em dinheiro", disse Vicente Ferreira, o Capitão Guarani, líder daquela Nação. “Começamos a comer arroz e macarrão, pão de trigo e outros alimentos que vêm de fora.”
Então as comunidades agrícolas locais decidiram reagir. Quando viram que estavam perdendo sua diversidade e cultura, começaram a coletar sementes, e a universidade apoiou seus esforços. Agora, 125 famílias agrícolas estão registradas como “Guardiões das Sementes” e uma associação de produtores locais de sementes foi estabelecida.
Graças aos seus esforços, cerca de 274 acessos de milho e 226 de feijão estão agora protegidos nos bancos de germoplasma da universidade em Monteagudo e Yotala e em Iboperenda, em cooperação com um banco de sementes do governo departamental. Os bancos de germoplasma atualmente não têm instalações para armazenamento de longo prazo, o que significa que as amostras de sementes precisam ser regeneradas com frequência para manter sua viabilidade. O Crop Trust forneceu freezers e pacotes de papel-alumínio para armazenamento local de longo prazo de amostras de sementes, o que aumentará a longevidade das sementes armazenadas.
Back-Ups na Bolívia e no Ártico
Os Guardiões de Sementes Locais, a equipe do banco de genes e os agricultores desempenharam um papel fundamental na regeneração e caracterização de sementes de milho e feijão do banco de genes, com o apoio da BOLD.
Amostras das sementes regeneradas serão depositadas no Banco Nacional de Germoplasma de Tolarapa, Bolívia, e armazenadas no banco de germoplasma global de Svalbard para guarda segura a longo prazo. Elas também serão mantidas nas coleções ativas dos bancos de genes locais.
"Ter cópias de segurança em Svalbard não é apenas guardar sementes; estaremos salvaguardando uma Nação Indígena — nossa etnia, nossa cultura, nossos costumes, tudo", disse Ferreira.
Além de trabalhar com comunidades locais, o projeto está dando aos estudantes universitários a oportunidade de entender a importância da diversidade de culturas e os desafios de conservá-la para as gerações futuras.
“Em nome da universidade, posso dizer que somos muito gratos ao Crop Trust por fornecer suporte substancial ao nosso banco de genes”, disse Eric Mita Arancibia, o vice-reitor. “Este projeto não está apenas protegendo sementes para a humanidade e para o futuro; também estamos gerando e compartilhando conhecimento técnico com nossa sociedade.”
“O mais gratificante é saber que, graças ao BOLD, demos uma oportunidade única aos nossos alunos e agora qualquer um deles pode se especializar em conservação da diversidade de culturas”, disse Serrano. “Espero que eles possam seguir um caminho mais amplo do que o que seguimos.”
Subject:Sementes
Author:Crop Trust
Publication date:23/10/2024 12:05:15