A mosca-branca-de-prata é uma das principais pragas das culturas nos trópicos e subtrópicos. Depois de estudar seu genoma, o INRAE e o CNRS identificaram 49 genes vegetais transferidos para o próprio genoma do inseto. Um número tão grande de genes transferidos entre plantas e um inseto nunca havia sido detectado. Essas descobertas abrem as portas para novas pesquisas sobre as relações entre plantas e insetos que podem levar a métodos inovadores de controle de pragas e reduzir o uso de pesticidas.

   A guerra entre plantas e insetos herbívoros remonta a milhões de anos e levou os dois protagonistas a uma corrida armamentista. À medida que as plantas implantam sinalização e erguem barreiras físicas e químicas, os insetos desenvolvem estratégias inteligentes para contornar esses obstáculos. Mas os genes envolvidos na adaptação dos insetos às vezes têm uma origem surpreendente. Pela primeira vez, estudos recentes de 2020 e 2021 (Lapadula et al., 2020 e Xia et al., 2021) mostraram a transferência de dois genes vegetais para o genoma da mosca-branca (Bemisia tabaci), com um gene que dá à mosca branca a capacidade de neutralizar as toxinas produzidas pelas plantas como mecanismo de defesa. Intrigados com essa descoberta, dois cientistas – um do INRAE ​​e outro do CNRS – procuraram saber quantos genes derivados de plantas foram encontrados no genoma da mosca-branca, que foi totalmente sequenciado em 2016.

   Ao realizar uma análise de bioinformática, os pesquisadores identificaram 49 genes de plantas no genoma da mosca-branca derivados de 24 eventos independentes de transferência de genes horizontais. A maioria desses genes apresenta características de funcionalidade, ou seja, são expressos em insetos e possuem sequências com sinais de pressão evolutiva, desempenhando assim um papel potencial nos insetos. 

   Os resultados dos pesquisadores também mostram que a maioria dos genes identificados, como aqueles envolvidos na produção de enzimas que quebram as paredes das células vegetais, desempenham um papel conhecido nas relações entre as plantas e seus parasitas. Isso provavelmente reflete o resultado de um processo de seleção natural de genes de plantas em insetos, que pode ter permitido que a mosca-branca se adaptasse a uma grande variedade de espécies de plantas. A origem e o mecanismo por trás dessas transferências ainda são desconhecidos, mas todos remontam a vários milhões de anos.

   Esta é a primeira vez que tantas transferências de genes entre plantas e insetos foram identificadas. Este estudo abre as portas para novas pesquisas sobre as relações planta-praga, bem como métodos de controle de pragas de culturas. Compreender o papel dos genes transferidos para plantas e insetos pode levar a métodos inovadores de controle de pragas baseados no melhoramento de plantas (seleção varietal) que podem reduzir o uso de pesticidas.

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