Melhorias no Sistema da Semente

Edição X | 05 - Set . 2006
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    A ideia de melhoria do sistema da semente, que caracterizei como o melhor sistema de entrega no artigo anterior, parece ser contraditória. Se uma coisa é a melhor, como ela pode se tornar "mais melhor"? Em termos de design - forma e função - a semente é de fato o melhor sistema de entrega ou quase isso, com pouca necessidade ou objetivo de melhoria. Porém, em termos de um veículo para entrega do ciclo de uma planta até a geração próxima, junto com aditivos, a semente não é perfeita. Ela tem a fraqueza que, às vezes, leva a falhas catastróficas na entrega de qualquer coisa. Algumas fraquezas da semente estão relacionadas a nossos esforços por melhorar ou diversificar o sabor, digestibilidade, valor nutritivo e outros atributos organolépticos dos produtos que foram entregues, por exemplo, feijão, arroz, milho. Os problemas na qualidade da semente associados ao milho verde super doce e algumas das variedades de feijão verde são exemplos  familiares de fraquezas da semente, associadas com melhorias na qualidade comestível do produto, que são sementes.                
    Algumas fraquezas das sementes são as consequências das forças envolvidas na mecanização da colheita, manejo, secagem, e processamento. Os problemas da qualidade das sementes de amendoim descascadas mecanicamente e sementes de algodão mecanicamente colhidas e deslintadas com ácido são exemplos familiares de fraquezas das sementes relacionadas à mecanização. Algumas fraquezas das sementes são associadas a práticas ruins de produção de sementes: climas desfavoráveis, época errada e procedimentos e manejo inadequados na produção das sementes. Finalmente, algumas fraquezas das sementes são o resultado de práticas de semeadura que impõem severo estresse em suas capacidades de desempenho: condições de solos demasiadamente úmidos, secos, frios ou quentes demais.  
                    
    “Melhorar o sistema da semente, quando praticável, é uma tarefa extremamente   difícil, que requer muito tempo e esforço.” 
                     
    Melhorias de nível fácil                 
   Melhorar o sistema da semente, quando praticável, é uma tarefa extremamente difícil, que requer muito tempo e esforço. Algumas melhorias bastante práticas, efetiva e relativamente fáceis, entretanto, estão disponíveis para corrigir as fraquezas associadas a práticas ruins de produção de sementes, dano mecânico,  estresses ambientais adversos durante a maturação, colheita e semeadura. Muitos destes foram discutidos em artigos anteriores.     
               
    Melhorias de nível imediato                     
    Há outras melhorias do sistema de sementes de nível imediato disponíveis para certos tipos de sementes que requerem mais recursos, conhecimento, e/ou especialização. Estas   incluem a umidificação das sementes para minimizar o dano mecânico e evitar danos por embebição, permeação das sementes com várias substâncias fitoativas para controlar ou postergar a germinação e o crescimento precoce da muda, o uso de coberturas (coatings) de semente para programar o desempenho da semente e a acentuação do desempenho da semente por aquecimento e tratamentos mecânicos e, especialmente, por priming e osmocondicionamento.  
               
    Melhorias Fundamentais               
   As melhorias fundamentais no sistema de sementes têm sido visadas, discutidas e debatidas apenas com resultados marginais. A maioria delas envolve ou deveria envolver mudanças genéticas através de cruzamentos convencionais ou protocolos de biotecnologia. A principal dificuldade tem sido ganhar a atenção dos melhoristas ou geneticistas. Não tem sido fácil. Falta de atenção à qualidade da semente, sentindo que ela não é tão importante quanto o rendimento ou a resistência a uma doença, ou uma praga que a agenda de objetivos do   cruzamento está cheia demais para assumir qualquer atributo da qualidade da semente,   provavelmente, quantitativamente herdado tem sido as posições mais comuns dos melhoristas de plantas com relação às melhorias na qualidade das sementes.                  
    Se e quando a atenção de um melhorista é ganha, esses devem estar  convencidos de que são necessárias melhorias específicas, que as fontes de variabilidade para a melhoria estão disponíveis e que o objetivo da melhoria da semente pode ser agrupado à melhoria no rendimento, resistência a doenças, precocidade, produzir qualidade e outros objetivos das linhas principais da cruza. Em alguns casos, um melhorista, simplesmente, tem pouca compreensão do que é a qualidade da semente e sua importância na produção da lavoura. Lembro do meu horror ao ler um trabalho de pesquisa falando da perda de fotosintato na síntese de materiais indigeríveis da cobertura de sementes de soja, fontes de variabilidade que permitiriam reduzir a cobertura da semente pela metade ou mais e o aumento no rendimento que se poderia obter.                  
   Numa discussão particular com o autor, ele admitiu que nunca tinha pensado sobre o efeito do afinamento da cobertura da semente de soja sobre a qualidade da semente, especialmente, o dano mecânico e a deterioração no campo. Sou obrigado a acrescentar que alguns melhoristas mostraram-se receptivos a ideias para melhorias inerentes à qualidade da semente e lhes deram muito tempo inclusive experimentos extensivos. As ideias de redução da deterioração das sementes de soja e algodão no campo através da vantagem da variabilidade de sementes duras nas espécies, receberam atenção adequada por melhoristas respeitados, durante muitos anos. Porém, consequentemente, tornou-se bastante claro que os baixos níveis de dureza da semente de algodão e soja tinham sido selecionados por especialistas leigos e cientistas, durante muitos anos por boas razões. E a razão seria: aumentando o nível de dureza da semente, nas duas espécies, diminuiriam os efeitos da deterioração no campo.                   
    Entretanto, complicou muito a semeadura e o estabelecimento de estandes. Um dos problemas na alteração das propriedades inerentes das sementes para melhorar sua qualidade, no caso de grãos, legumes em grãos e oleaginosas, é o efeito de tais alterações sobre o uso final do produto, que é a semente. O desenvolvimento de uma casca muito dura da semente de feijão-miúdo, feijão, grãos de bico, a fim de melhorar a qualidade da semente por meio da redução das infestações, protegeria contra os insetos, porém, aumentaria, significativamente, o tempo de cozimento e o uso de combustível caro e/ou escasso. O cruzamento de feijão verde com o desenvolvimento mais rápido e maior dos feijões do que das paredes da vagem, melhoraria a qualidade da semente de feijão, mas seria à custa do sabor e da qualidade de consumo.                  
    Similarmente, voltar ao milho doce normal ou mesmo milho de campo para o consumo de milho verde, não é uma solução fácil para os problemas de qualidade da semente do milho verde super doce.      
                 
    “As melhorias no sistema de sementes têm sido visadas, discutidas e debatidas apenas com resultados marginais. A maioria delas envolve ou deveria envolver mudanças genéticas através de cruzamentos convencionais ou protocolos de biotecnologia.”           
         
    Um outro obstáculo às melhorias do sistema de sementes é que os cientistas e tecnólogos de sementes tendem a pensar e acessar tais melhorias de formas muito específicas e restritivas, relacionando-as à semente e ao desempenho da semente. Há melhorias holísticas a caminho, tanto na área convencional quanto biotecnológica, que poderiam ter efeitos extremamente benéficos sobre o sistema vegetal como um todo, incluindo a semente e seu desempenho. Alguns exemplos: resistência a doenças que afetam as sementes e as mudas bem como o crescimento da planta; tolerância ao sal; tamanho e peso maiores da semente; tolerância à seca; tolerância a outros estresses tais como calor, frio, aeração limitada. Os achados de alguns desses trabalhos poderiam resolver alguns dos mais comuns e difíceis problemas de estabelecimento de estandes relacionados a estresses micro ambientais no solo.                 
    Antes de começar este artigo, gastei a melhor parte de uma tarde revisando listas de   aplicativos para teste de OGM em campo, nos EUA, na esperança de que meu otimismo sobre a atenção dada aos atributos da qualidade da semente pelas companhias de biotecnologia fosse válido. Após procurar, exaustivamente, tive de admitir que o meu otimismo era infundado. Havia apenas três materiais, em centenas, com uma categoria de "fenótipo" de semente específica: 2 com a germinação melhorada da semente e 1 com qualidade alterada da semente, todos em milho. Duas referências adicionais aos atributos específicos da qualidade da semente eram: vigor da semente e da muda na beterraba e resistência a pestes de armazenagem em feijão-miúdo. Muitos dos materiais, entretanto, concentravam-se em fenótipos com resistência à seca, tolerância ao sal, e tolerância ao estresse, com o potencial de melhorias holísticas, como discutido acima.                  
   Estas coisas são certas. As fáceis melhorias do sistema de sementes aumentaram ou estão aumentando a probabilidade de que o sistema de melhoria da semente chegue onde deve chegar com aquilo que o fazendeiro ou o usuário da semente espera. Algumas das melhorias imediatas estão sendo exploradas por algumas empresas de melhoramento de sementes numa ampla variedade de tipos de sementes. As melhorias mais fundamentais do sistema de sementes ainda, não estão na lista.   

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