Os agentes e a governança nas cadeias de produção

Edição XX | 04 - Jul . 2016

    Esse assunto não se esgota. Para começar, o termo ‘agente’ nos remete aos cenários hollywoodianos. Mas não se trata disso. Tampouco sobre psicologia, onde a teoria do agente principal é uma área importante de discussão. Me refiro aqui a algo bem terreno, mas que influencia mais a vida das pessoas que a fábrica de sonhos do tio San. 

    Entre as diferentes abordagens conceituais, me atenho a abordar a importância e os aspectos relativamente evidentes da coordenação das cadeias agroindustriais, tendo como elemento central a figura de determinado agente, 

    A ideia é apresentar uma discussão leve e acessível sobre o mercado, os agentes e a importância que esses entes assumem para que o sistema possa funcionar e cumprir o seu papel.


O Mercado e as Transações

    Parece óbvio que o sistema apenas entra em curso quando a conhecida relação demanda e oferta entra em operação. Dito de outro modo, ele, o mercado, consiste na troca de bens e serviços entre agentes econômicos. Visto de forma simples, é possível imaginarmos sem esforço que nas cadeias produtivas, independente de qual produto que seja, deve sair do seu processo produtivo e, ao ser desdobrado, faz chegar aos diferentes consumidores os produtos de consumo.

    Do  mesmo  modo, é de se considerar que há um elemento  interessante nesse contexto, cujo papel e seus desdobramentos podem conferir segurança para toda a estrutura. Esse elemento são as transações entre os diferentes agentes que ocorrem ao longo de todo o processo da cadeia e paralelo a ele, nos processos de apoio, como o que ocorre com o sistema financeiro, por exemplo.

    Sem transação a cadeia se rompe e não cumpre os papéis de gerar riqueza aos players e atender às demandas de mercado. Ao mesmo tempo, quando a relação de troca é tênue, a capacidade competitiva da cadeia como um todo se torna fraca, ficando sensível a qualquer ataque competitivo de agentes de outras cadeias de produção ou às intempéries do próprio mercado. 

    A concorrência se dá em algum lugar, mas muitas vezes longe do ambiente onde a maioria das organizações opera ou o produto é originado. Isso, de imediato, nos faz perceber a importância de os agentes entenderem o seu real papel na cadeia: manter as transações genuínas entre todos os agentes funcionando. 
    Esse aspecto parece mais seguro e consistente quanto maior é o tamanho da cadeia. O desdobramento e, por conseguinte, o aumento do número de elos na cadeia, amplia a complexidade do sistema, mas ao mesmo tempo amplia as transações e pulveriza o controle e a importância relativa de algum agente em particular. 

Quem são os Agentes
    De modo geral, há pelo menos quatro grupos de agentes, em algum momento também chamados de mercados. O primeiro deles, iniciando pelo fluxo da produção, em direção ao mercado final, estão os produtores, ou sistema produtivo.
    Esses agentes dificilmente são capazes de coordenar, e por isso, com algum nível de raridade, poucos agentes em especial, dentro desse grupo, tendem a assumir a coordenação de determinada cadeia de produção. Esse grupo normalmente se apresenta pulverizado, de difícil governança.
    Por consequência, a Logística, outro grupo de agentes que desempenha papel preponderante, não parece inclinado a buscar protagonismo, dado que, mesmo com algum nível de organização, depende do sucesso econômico dos demais agentes e elos para que possa locupletar a sua contribuição, bem como ter reconhecida, inclusive pelo contexto econômico, a sua importância. 
    A indústria por sua vez, de longa data, tem ocupado espaço em relevo, ao mesmo tempo em que, por diferentes circunstâncias, foi capaz de ditar boa parte das regras do sistema, normalmente apoiado na transformação e agregação de valor dos produtos.
    Nos últimos anos tem perdido importância competitiva, principalmente se comparado à capacidade produtiva de outros países cujo sistema industrial é melhor estruturado. Ademais, dentro do próprio sistema, está perdendo espaço na maioria das cadeias para o grupo de agentes que vem à sua jusante: a distribuição.
    A distribuição, apoiado, próximo e bem relacionado com o consumidor, o principal ente capaz de fazer todo o sistema funcionar, cada vez mais tem se imposto como agente capaz de ditar necessidades e processos ao longo da cadeia, a começar pelo processo de produção.
    É um dos agentes em particular, se não o único, capaz de entender efetivamente o consumidor e as demandas do mercado a ser atendido, e, por consequência, viabilizar, com um fluxo de informações ágil e claro para os demais agentes a montante, o atendimento consistente dessas demandas.
    Informação, esse provavelmente seja o seu ativo mais importante. Por essa característica, os agentes que habitam nesse lócus apenas são capazes de se sustentar quando forem igualmente capazes de ler as necessidades e tendências dos mercados que atendem. Por esse motivo têm um papel preponderante na organização e coordenação do sistema.

Quem é o Principal
    O sistema apenas logra êxito se os objetivos de cada conjunto de agentes são atendidos. Caso contrário, a relação se rompe e todos acabam sendo prejudicados, quando não excluídos ou substituídos por algum sistema/cadeia mais eficiente e profissional. 
    Mas o negócio em si não funciona assim tão tranquilamente como poder-se-ia supor. Embora haja defesa insistente de alguns em favor do mercado, e de outros dos agentes do Estado, é verdade que cada um contribui com sua parcela.
    Embora pareça algo próximo do óbvio, o fato de a distribuição ter papel contundente e protagonista, vale dizer que determinadas cadeias são coordenadas, ou no mínimo, influenciadas decisivamente por algum agente em particular.
    Mais do que isso, em determinadas regiões ou circunstâncias, chegam a ser dependentes desses agentes-principais, o que obviamente não representa garantia de sustentabilidade. Pelo contrário, frequentemente representam vulnerabilidade pela dependência que representam.
    Quando esse papel, em determinado nível, é exercido por alguma firma/agente em particular muitas vezes é contestado e até severamente criticado, principalmente pelo nível de regramento que acaba estabelecendo, dada a sua importância na cadeia. Mas é importante que nos lembremos de que boa parte deles cumpre o importante papel de, exatamente pela sua capacidade de alinhar estratégias, interesses e ações, fazer o sistema funcionar.
    Por fim, vale lembrar de que esse papel de agente coordenador apenas não carrega a imagem pública funesta quando é exercido por um agente econômico de viés social, como uma cooperativa, por exemplo. Mas, nesse caso, assumem-se as mesmas eventuais dificuldades de sustentabilidade de outro agente econômico, requerendo dela, mais do que nunca, maturidade gerencial. Mas esse é papo para um ensaio à parte. Quem sabe um dia.


Até a próxima.
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