Congresso da Federação Internacional de sementes conecta as diferentes esferas do globo na Turquia

Edição XXIX | 03 - Mai . 2025
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
   O Congresso da ISF (International Seed Federation) de 2025, realizado em Istambul, Turquia, de 19 a 21 de maio, foi novamente um evento de grande relevância para a indústria global de sementes. 

   O congresso reuniu mais de 1.600 delegados, um número recorde, e contou com um volume expressivo de negociações comerciais, com destaque para a venda de stands e mesas de negócios. 

   Com o título “Descobrindo ousados horizontes”, o evento teve como foco abordar a resiliência das sementes e a contínua evolução de sua indústria, promovendo conexões globais, trocando ideias inovadoras e apresentando produtos transformadores. 

   A ISF, que representa 96% do comércio internacional de sementes desde 1924, enfatizou a importância de Istambul como uma cidade que conecta a Europa e a Ásia, simbolizando a união de culturas, história e inovação. 

Turquia, país sede do Congresso da ISF em 2025

   A Turquia está se consolidando como um polo de inovação no setor de sementes, com mais de 1000 empresas atuantes no país em 2025. A combinação de condições climáticas favoráveis, como o clima subtropical temperado em regiões como o paralelo 31, e investimentos em tecnologia posicionam o país como um ator relevante na segurança alimentar global.

   Além disso, a sua posição geográfica estratégica, como um hub entre Europa, Ásia e Oriente Médio, facilita o comércio internacional. As exportações de sementes turcas cresceram significativamente, passando de US$ 17,3 milhões em 2002 para US$ 326,7 milhões em 2023. Os principais destinos incluem países da Europa, Ásia, África e Américas, com destaque para sementes de cereais, girassol e hortaliças, ocupando a 11ª posição no ranking mundial, com exportações para cerca de 103 países, o qual alcançou um valor de aproximadamente US$ 340 milhões em 2023.

   Segundo Michael Keller, secretário geral da ISF, “a tecnologia de sementes e máquinas se desenvolveu muito desde o último evento da associação na Turquia em 2009, assim como a importância do país no mercado sementeiro e agrícola em geral, o qual têm hoje 4 vezes mais fatia de mercado do que há 16 anos atrás”.

Temas de importância no Congresso da ISF

   O congresso foi palco para discussões sobre avanços tecnológicos e sustentabilidade na produção de sementes, reforçando o compromisso com a qualidade e a inovação no setor e, adiantando as discussões esperadas na COP 30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que será realizada em Belém, Pará, Brasil, em novembro de 2025. Uma oportunidade para o Brasil reforçar sua liderança em sustentabilidade, principalmente do setor agrícola, afinal “a resiliência climática começa com as sementes”, afirmou o Dr, Stefan Schmitz, Diretor executivo do fundo global para a diversidade de culturas.

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Youth Delegates

   Com destaque especial, mais de 500 jovens participantes do Projeto de Youth Delegates da ISF estiveram presentes no evento. Conhecido como o “Next Generation Agriculture Impact Network (NGIN)”, a iniciativa vem sendo voltada para envolver jovens profissionais e estudantes do setor de sementes e agricultura em atividades da associação internacional, promovendo sua participação ativa em eventos globais, uma oportunidade de futuros líderes do setor para aprenderem com especialistas e contribuírem para os próximos anos da indústria de sementes.

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Tarifas e Barreiras

   “A inovação não acontece em um vácuo”, enfatizou Kent Nnadozie (Secretário do Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos de Plantas para Alimentação e Agricultura da FAO) durante o discurso de abertura do evento em Istambul.

   Para que o setor agrícola mundial e, a indústria de sementes continue a evoluir, é importante que as diversas barreiras sejam reduzidas. Há décadas, as tarifas sob o comércio internacional, têm se mantido em uma média de apenas 1,4% sob o mercado sementeiro, variando de 0 a 5% dentre os 10 principais países importadores no mundo.

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   O atual aumento das tarifas pode trazer diversos atrasos ao crescimento do setor e suas negociações internacionais. No entanto, segundo Michael Keller, “as decisões e barreiras sem embasamento científico têm afetado muito mais a indústria de sementes do que tarifas nas últimas décadas. Afinal, talvez o setor sementeiro seja o mais regulamentado por aí, e os atrasos políticos são sempre os mais custosos”.

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   “O comércio internacional alivia nossos problemas de produção de sementes. Se não houver comércio, a escassez irá certamente aumentar. Isto é importante para a segurança alimentar, afinal nenhuma nação é autossuficiente em sementes”, afirma Antonio Villarreal, secretário geral da ANOVE (Associação Nacional de Melhoristas Vegetais da Espanha).

   “Há muitos países na África sem empresas de sementes para aumentar a oferta de novas variedades aos agricultores. Em alguns lugares, há pesquisa pública, mas as sementes não chegam ao agricultor por falta de um mercado privado”, afirma Keller. “O Kênia é um bom exemplo de evolução graças ao estabelecimento de leis favoráveis. Já Nairobi, está em um nível alto de urgência”, enfatiza o secretário geral da ISF.

   Ainda segundo ele, “A diversidade é essencial, pois não existe solução que abrange todas as culturas e regiões do mundo. O agricultor está trocando suas variedades cultivadas cada vez mais rápido, sendo crucial haver um setor sadio e sem barreiras”.

Resiliência e Pesquisa

   “A edição de genes tem se tornado cada vez mais poderosa, principalmente por desbloquear o potencial de algumas variedades, especialmente na África, onde as espécies menos comuns são tão necessárias”, afirmou Cary Fowler, do Svalbard Global Seed Vault, o qual já atinge um recorde de 1.135.000 variedades no banco de germoplasma na Noruega.

   O Projeto de Resiliência de Sementes, liderado pela ISF em Ruanda e complementado pela iniciativa “Sementes para Resiliência do Crop Trust” é um exemplo importante no continente, sendo um passo vital para a construção de uma agricultura resiliente. Ao melhorar o acesso a sementes de qualidade, capacitar agricultores e fortalecer bancos genéticos, esses projetos reduzem os impactos no ambiente, como secas e pragas, além de atender às necessidades nutricionais por meio de culturas diversificadas.

   Segundo o Dr, Stefan Schmitz, “um marco crucial dentro deste tema foi o estabelecimento do Protocolo de Nagoya, um acordo internacional vinculado à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), adotado em 29 de outubro de 2010 em Nagoya, Japão. Ele estabelece uma base legal para regular o acesso a recursos genéticos (como plantas, animais e microrganismos) e conhecimentos tradicionais associados, garantindo que os benefícios derivados de seu uso sejam compartilhados de forma justa e equitativa com os países e comunidades que os fornecem”. 

   Na indústria de sementes, o Protocolo de Nagoya é especialmente relevante porque muitas empresas dependem de recursos genéticos vegetais para desenvolver novas variedades (como as sementes híbridas ou resistentes ao clima usadas no Seed Resilience Project na África). O protocolo exige que empresas de sementes, como as da Turquia, obtenham permissão para acessar recursos genéticos de outros países e compartilhem seus benefícios com os provedores. Da mesma forma, a Turquia, que possui alta biodiversidade agrícola, também se beneficia diretamente ao fornecer recursos genéticos para programas globais de melhoramento vegetal.

   Cary Fowler, como defensor da conservação de recursos genéticos, afirma que “um dos pilares do Protocolo de Nagoya é a preservação da biodiversidade agrícola”. O cofre de Svalbard, embora não diretamente vinculado ao protocolo, armazena duplicatas de sementes de países signatários, incluindo aqueles que implementam o Nagoya, ajudando a proteger recursos genéticos para uso sustentável.

   No entanto, umas das discussões de bastante interesse no congresso da ISF foi: Como construir um cenário de retorno de valor e recompensa pelo investimento em diversidade e biossegurança? O protocolo de Nagoya é uma boa base inicial, porém parcerias com instituições públicas e privadas para pesquisa e inovação precisam continuar a crescer por todo o mundo.

   Com o banimento dos neonicotinoides em 2018 na Europa, a agricultura ficou ainda mais sob pressão. Com isso a Pesquisa e desenvolvimento de compostos biológicos para o controle de pragas e doenças receberam ainda mais atenção para seu rápido desenvolvimento. Neste aspecto, as sementes também podem ajudar muito, afinal representam um dos meios mais eficientes de levar tecnologias melhoradas ao agricultor.

Práticas ilegais em sementes

    O comércio ilegal de sementes ainda representa uma ameaça significativa para a agricultura, incluindo a biodiversidade e a segurança alimentar. Sementes de baixa qualidade, muitas vezes não certificadas, geralmente têm resistência reduzida a pragas e doenças, além de não serem adaptadas às condições locais, levando a perdas de produtividade. Principalmente na África, onde pequenos agricultores dependem de sementes confiáveis para sua subsistência.

   Segundo Diego Risso, Diretor executivo da URUPOV, “há pessoas que sabem estar cometendo práticas ilegais e há pessoas que apenas desconhecem as leis. Assim, combater práticas ilegais envolve ações práticas, que necessitam até mesmo de penalidades. Porém, alguns países como o Uruguai também olham por outro lado, usando de incentivos para que os agricultores usem sementes certificadas”.

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   Países como a Turquia implementaram leis rigorosas, como a Lei de Gestão de Recursos Genéticos (2018), para coibir o comércio ilegal, alinhando-se ao Protocolo de Nagoya. A fiscalização de mercados e certificação de sementes é essencial.

   O comércio ilegal pode criar dependência de fontes não confiáveis, enfraquecendo sistemas formais de sementes e a autossuficiência agrícola, como a da Turquia, que alcança 97% de autossuficiência em sementes certificadas.

   Com o avanço da tecnologia, sistemas de rastreamento, como códigos QR e certificação digital, estão sendo cada vez mais adotados para garantir a autenticidade das sementes.

Comunicação

   Segundo Claire Taylor, profissional de comunicação no ramo agrícola, o termo “fake News” se aplica à disseminação proposital de dados falsos, enquanto que a desinformação significa apenas dados não precisos ou desatualizados. 

    Por isso, segundo Adrian Bell, criador do Podcast Brotes de Ciência, “mais importante do que ter um artigo publicado em um periódico acadêmico, é ter a informação precisa em mãos quando for necessário”.

   “Vemos cada vez mais uma desconexão entre as cidades e os ambientes de produção agrícolas, com enquetes demonstrando que os cidadãos residindo em grandes metrópoles tem cada vez menos conhecimento sobre como os alimentos são feitos”, comentou Claire.

   Para Michael Keller, “a ISF ainda pode se esforçar mais para ajudar associações de pequenos países com um comércio limitado e regional a se relacionar melhor com seus próprios governos e entidades. Neste aspecto, muito depende do impacto da nossa comunicação”!

   O próximo congresso anual da ISF de 2026 está programado para acontecer em Lisboa, Portugal. Na ocasião, é esperado que Lorena Basso, executiva da Semillas Basso na Argentina e, seja nomeada Presidente da instituição.

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