Foi verificada a ocorrência de quebra da base da haste da soja (QBHS) em Porto Nacional, TO, na safra 2024/25. A área em questão é caracterizada por um solo argiloso (40% de argila), cultivado por vários anos e com forte grau de compactação nas camadas de 10 a 60 cm e, as chuvas após semeadura (20/11/2024) foram constantes até 28/01/25, após essa data ocorreu redução na precipitação e aumento da temperatura até final do ciclo. Este padrão de muita chuva por 60 -70 dias após a semeadura, seguido por estresse hidrico é um dos fatores determinantes na ocorrência da QBHS.
Cavitação ampla consiste na formação de bolhas de ar nos vasos do xilema (embolia), mas também inclui os efeitos das alterações das células e vasos do xilema.
Assim, plantas com e sem sintomas foram remetidas para o professor Dr. João Paulo Rodrigues Marques da FZEA-USP em Piracicaba, SP, para análise das células do xilema. Os resultados evidenciaram a existência do fenômeno fisiológico da cavitação, ou seja, a quebra do fluxo de água entre as raízes e a parte aérea em decorrência do rompimento das células e vasos do xilema.
Os dados evidenciaram a relação entre QBHS e a deficiência do sistema radicular, em solos compactados (com a raiz pivotante recurvada e as raízes secundárias afetadas por Pratylenchus brachyurus), debilitando a capacidade do sistema radicular de suprir a parte aérea das plantas com água, especialmente durante a fase de enchimento de grãos, principalmente nos períodos de deficiência hídrica.
As análises anatômicas no laboratório foram fundamentais para evidenciar que plantas com sintoma de QBHS apresentam variações associadas ao xilema. Nestas plantas, em resposta a cavitação, a haste é composta por xilema secundário, atividade do câmbio que após ativado produz tecidos vasculares secundários.
Do ponto de vista quantitativo, há diferenças significativas entre a quantidade de xilema secundário e o diâmetro dos elementos de vaso, diretamente relacionado com a diferença entre as hastes de plantas sintomáticas e assintomáticas.
A QBHS está intimamente ligada ao desequilíbrio entre a perda de água por transpiração na parte aérea e o seu fornecimento deficiente pelo sistema radicular. Desta forma, qualquer alteração física, compactação, incidência de nematoides e fungos imposta ao sistema radicular pode gerar o desequilíbrio fatal. Observamos na Tabela 2 que, as plantas com sintomas ocorreram na área com maior compactação, se comparado às plantas sem sintomas nas áreas com baixo grau de compactação. O sintoma de QBHS ocorreu no grau de compactação maior do que 2931 KPa, nas camadas entre 10 e 30 cm.
A genética da cultivar também pode estar associada a QBHS, particularmente quando há desequilíbrio entre grandes volumes da parte aérea e sistema de raiz insuficiente. No estudo, foi constatado que plantas de genótipos com sintomas apresentavam um maior volume de parte aérea em comparação à plantas de genótipos assintomáticos, na área compactada.
Normalmente, as plantas de lavouras semeadas no final de setembro ou início de outubro recebem chuvas frequentes, apresentando um bom crescimento vegetativo, mesmo com o sistema radicular deficiente. Eventualmente, lavouras em diferentes épocas ou locais de cultivo também podem receber chuvas frequentes no início do seu desenvolvimento e, assim manifestam o sintoma de QBHS pela mesma causa. A presença de sistema radicular pouco desenvolvido associada a veranicos ou dias sem chuvas logo após a emergência das plântulas, manifestam o sintoma do QBHS nas plantas juvenis e principalmente adultas. Nestas condições, a parte aérea bem desenvolvida tem alta capacidade de transpiração e perda de água superior a capacidade do sistema radicular fragilizado de suprir a demanda da parte aérea. A consequência disso é o rompimento das células e vasos do xilema, responsáveis por receber a água fornecida pelas raízes e, por conduzi-la até a parte aérea, caracterizando assim o fenômeno fisiológico da cavitação ampla.
As células e vasos do xilema danificadas podem provocar a curvatura e o rompimento parcial da haste, caracterizando o sintoma do QBHS. Desta forma, a quebra do fluxo de água do sistema raiz-vasos do xilema-transpiração pode ser uma das causas determinantes da QBHS, como resultado da cavitação ampla.
CONCLUSÕES E AÇÕES PARA MITIGAR A OCORRÊNCIA DA QUEBRA DA BASE DA HASTE DA SOJA (QBHS), NAS LAVOURAS.
1 – Manter as áreas com palhadas e descompactadas (lembrando que as duas safras (safrinha), são realizadas em solo úmido, suscetíveis à compactação). A compactação do solo aliada a períodos chuvosos de 60 a 70 dias após a semeadura seguidos de estresse hídrico e aumento da temperatura, são os carrascos do bom desenvolvimento da soja;
2 – Usar produtos biológicos e/ou químicos para eliminar nematoides que afetam o sistema radicular;
3 – Evitar cultivares de soja com alta massa vegetativa, pois podem induzir o desequilíbrio da raiz-parte aérea no fornecimento de água, durante o período de estresse hídrico. Nestas condições, o uso de produtos para controlar o crescimento pode ser benéfico;
4 – Há necessidade de ampliação das pesquisas na linha de cavitação, principalmente para definir parâmetros que auxiliem na seleção de cultivares resistentes.
5 – Em termos matemáticos, temos: QBHS = fluxo de água da raiz < transpiração. Assim, qualquer fator que atue na alteração e redução do sistema radicular contribui para colapsar as células e vasos do xilema, gerando a indesejável QBHS.
*Os demais autores deste artigo foram:
Lucas Silvério, Dr. – Pesquisador, Genética Soy Rogério de Andrade Coimbra – Professor, UFMT – Campus Sinop Sheila Bigolin, Drª – Sementes Oilema Pedro Meloni Gilioli – Estudante, UNESP