Gestão e Agronegócio: O que virá

Edição XVII | 01 - Jan . 2013

    Todo ensaísta tem um pouco de futurólogo. Se não tiver, por falta de competência técnica, faz de conta que possui e pronto. Existe uma ânsia incontida do ser humano de que olhando de onde se está e como as informações “privilegiadas” de que supomos dispor seremos capazes de enxergar o que os demais não percebem. E isso se intensifica exatamente no final ou no início de cada ano, assim como por encanto, talvez em função dos sortilégios do Natal.

    Mas isso não ocorre sem razão. De outro lado, o leitor interessado no agronegócio, por exemplo, tem esperança, por mais velada que seja, de que alguém escreva sobre o que virá pela frente, principalmente em relação ao clima e o mercado. Exatamente duas áreas de prognóstico controverso e de alta probabilidade de insucesso. Assim, ao se arriscar a prognosticar o que virá no agronegócio, assume-se temeridade dupla.

    Com coragem contida proponho algumas observações do presente e também para o ano que se inicia. É bom lembrar, entretanto, que no agronegócio, o de produção pelo menos, o ano agrícola está mais para o meio do que para encerrar este ou começar outro. Mas de qualquer sorte, vamos utilizar com cautela o ano civil, adotado pelo restante das organizações como balizador temporal das atividades.


    Mais Mercado do que Clima

    Há algum tempo, o sentido lógico de ano bom e ruim na agricultura se atinha à questão climática, considerando o jugo da sorte e o empirismo como era tratada. Normalmente, as informações eram incipientes, coletadas apenas através da observação dos produtores e menos afeitas a indicadores emprestados da cientificidade.

    Agora, o clima e os seus riscos são bastante conhecidos em quase todas as regiões onde a agricultura é praticada ou se pretende praticar. À custa de mapas pluviométricos detalhados, isoietas, simuladores e outras ferramentas do gênero, muita informação e conhecimento estão disponíveis para melhorar o nível de assertividade na implantação de culturas e criações.

    Contudo, o clima sozinho não tem mais o peso nas decisões como há algum tempo, posto que as informações de mercado assumiram importância suficiente para, junto com as estratégias de gestão, colocar o produtor no azul, crescendo, ou na berlinda.

    O mercado é uma variável dependente do clima e da demanda, aos quais, por isso, está intimamente ligado. Mas essa interdependência não é diretamente proporcional, uma vez que também a estratégia de gestão pode fazer com que, mesmo em anos de clima desfavorável, o produtor possa obter bons resultados – assim como ano de clima excepcional também não é garantia de sucesso e lucratividade.

    Isso significa que, diferente do que antes, observar o clima requer atenção às principais regiões produtoras da sua atividade, e entender, por consequência, a sua influência sobre o mercado do seu negócio. Num resumo raso seria ‘entender o global para atuar no local’. O ano que se inicia deverá ser característico para confirmar ou refutar essa máxima, principalmente em função do histórico recente que experimentamos no país, de clima complicado em algumas regiões, compensado por preços acima da média ou nunca antes imaginados.


    Poderá ser um bom ano
    O grande diferencial (e não é segredo) para continuar em frente com solidez é não exagerar na dose de otimismo em anos de fartura. Inebriar-se com o bom período e as boas perspectivas têm sido a derrocada de muitos produtores e gestores no agronegócio.
    Reconhecer a fragilidade dos negócios agrícolas, a falta de controle sobre um conjunto significativo de variáveis, além de que o mercado, embora obedeça à boa parte das leis da economia, ainda não apresenta a transparência que se espera, é fundamental para guiar as decisões. Devem servir de parâmetro para definir as atividades gerenciais, principalmente no médio e longo prazo. 
    Um aspecto seguro para definir o planejamento do ano que está entrando é ter em mente que sempre se deve alocar estratégias de curto, médio e longo prazos, simultaneamente, mas é fundamental reconhecer que cada uma delas dependerá de onde e como o produtor utilizá-las. Diz respeito principalmente à saúde financeira e econômica, facilitando a decisão de quais estratégias serão priorizadas. É exatamente esta condição prévia que poderá consolidar 2013 como um bom ano.
    As expectativas de mercado são boas para a maioria das atividades, mas é importante destacar que elas apenas se confirmarão caso o produtor esteja preparado internamente para aproveitar as oportunidades que surgem. Os sinais são positivos, principalmente do ponto de vista da conjuntura de demanda de alimentos, mas 2013 em diante ainda é uma incógnita, com poucos cenários seguros.
    Por outro lado, os custos também devem se manter aquecidos por um longo período e não há grandes evidências no front que apontem para o seu arrefecimento no curto prazo. Com o mercado aquecido, as cadeias cumprem seu papel de se autorregularem e acabam nivelando os custos por cima, na esteira da melhora de margem comercial dos produtos. Quando os preços recuam, a queda nos custos não é proporcional, como já foi discutido aqui em outra oportunidade.
    A União por sua vez, tem demonstrado muita dificuldade em operacionalizar os pacotes de apoio, principalmente os logísticos e tributários. A inoperância nessas duas áreas também não dá sinais de melhora efetiva. Apenas alguns benefícios aqui e acolá, mas nada que possa animar seguramente qualquer produtor.
    O que é inconteste, por sua vez, e deverá chamar a atenção de qualquer agente, mas principalmente os do agronegócio, é a definitiva implementação do Sistema Público de Escrituração Fiscal – SPED, com forte influência sobre todo o ambiente tributário e fiscal, tanto das empresas como dos produtores, pessoas físicas.
    Reside aí um dos grandes gargalos de boa parte dos produtores e, em 2013 (aqueles que ainda não se adaptaram), terão poucas oportunidades de postergar suas divergências, principalmente de evolução do patrimônio. Provavelmente, seja esta a principal questão a ser debatida e ainda não equalizada no setor.
    2013 promete, mas requer atenção redobrada para manter o carro nos trilhos e em velocidade segura.
    Até a próxima.



Compartilhar