A produção de grãos e a dinâmica do mercado de sementes

Edição XVII | 01 - Jan . 2013
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    O crescimento da produção de grãos, nos últimos 15 anos, ocorreu devido à introdução de novas cultivares e híbridos com maior potencial de rendimento, como também pela utilização de novas áreas de cultivo, tomadas principalmente da pecuária. Assim, em 2007, o país produziu ao redor de 75 milhões de toneladas de grãos, entre soja e milho, em uma área de 25 milhões de hectares. Enquanto, em 2012/13, a projeção é de 153 milhões de toneladas, sendo 80 milhões de soja e 73 milhões de milho, em uma área de 40 milhões de hectares para essas duas culturas. Pelos números, constata-se que o aumento da produção ocorreu pelo aumento de produtividade e pelas novas áreas de cultivo agregadas. 

    No país são cultivadas pouco mais de 70 milhões de hectares entre todas as espécies, correspondendo a menos de 10% do território nacional; havendo também mais de 100 milhões de hectares com pastagens e outras 100 milhões para cultivo de grãos ainda não utilizadas. Assim, pelo uso das inovações tecnológicas com sementes de alta qualidade das variedades melhoradas, que propiciam o aumento de produtividade (maior produção por área cultivada), não há necessidade de se utilizar, no Brasil, os recursos naturais primorosos.


    No período de 2007 a 2012 o país passou a utilizar de forma intensiva várias inovações tecnológicas, entre elas os materiais geneticamente modificados – que em soja alcançam mais de 80% da área e em milho mais de 70% –, o tratamento industrial de sementes, que já alcança mais de 90% para milho e 40% para soja, e o emprego de híbridos simples de milho que está ao redor de 30%. Estas inovações, junto com o melhoramento vegetal, foram as ferramentas utilizadas pelos agricultores brasileiros para duplicar, num período de cinco anos, a produção de grãos no país.

    O Brasil possui clima propício para ter mais de um cultivo por ano na mesma área, como soja seguida  de milho, bem como variedades e tecnologia desenvolvidas e adaptadas localmente, permitindo estimar que a produção de grãos deva continuar a aumentar por vários anos.


    A produção de soja e milho é realizada praticamente em todo o país, que possui uma distância de norte a sul de 5.700 km, envolvendo vários sistemas de cultivo e tamanho da propriedade. Deste modo, além da necessidade da criação e desenvolvimento de materiais adaptados às diferentes regiões, há também a cultura, costume, crenças e o sistema de vida dos agricultores, que devem ser considerados nos programas de promoção dos materiais. Por exemplo, em soja, há 22% da produção é realizada por agricultores e/ou empresas que investem mais de 600 milhões de dólares por ano para o cultivo, enquanto para milho há somente 4% dos agricultores que investem esta soma para a produção de grãos. Na categoria de pequenos agricultores, que gastam menos de 100 mil dólares/ano, há 40% em soja, enquanto para milho este percentual é de 67% (tabela no texto). 

    Como pode ser observado anteriormente, o milho predomina na pequena propriedade, enquanto a soja na grande propriedade, demandando assim diferentes estratégias de promoção e uso de sementes. O pequeno agricultor é mais arraigado à sua propriedade, enquanto as grandes propriedades tendem a ser exploradas de forma empresarial.   



    Sementes

    O negócio de sementes, no período de 2007 a 2012, cresceu na mesma intensidade que o negócio de grãos, demonstrando a confiança das empresas com programas de melhoramento vegetal e os produtores de sementes e dos agricultores para com esta tão importante matéria-prima (em meu entendimento, semente não é insumo).  


    O negócio de sementes no país é predominantemente privado, graças à plataforma legal que contempla a lei de proteção de cultivares, lei de patentes (para materiais GM), à produção e o comércio de sementes e à lei de biossegurança. Atualmente, menos de 15% das cultivares de soja utilizadas pelos agricultores são oriundas de programas públicos; em milho, esse percentual é inferior a 5%; em trigo situa-se ao redor de 30%; em arroz irrigado alcança 40%; e no algodão menos de 10%. Assim, parte da criação e desenvolvimento de variedades é pública; entretanto, a produção e comércio das sementes para os agricultores é 100% privada.  


    O negócio de sementes de soja

    Estamos utilizando a soja para ilustrar o negócio de sementes, devido às peculiaridades do número de empresas de melhoramento vegetal, ao número de produtores de sementes e à forma de comercialização.

    As empresas de melhoramento vegetal possuem a sua associação denominada Braspov (Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais), que congrega mais de 20 empresas, fazendo parte da Abrasem que, por sua vez, abarca todas as associações sementeiras do país. A Braspov, junto com a Abrasem, são membros da Internacional Seed Federation (ISF), entidade que congrega, em termos globais, os obtentores vegetais e produtores e comerciantes de sementes. 

    A criação das empresas de melhoramento vegetal deveu-se à Lei de Proteção de Cultivares implementada em 1997, com base na convenção da UPOV de 1978. Esta lei viabilizou o melhoramento vegetal pela iniciativa privada, que agrega anualmente novas e melhores cultivares de soja, que possibilitam, em média, um acréscimo de produtividade de 2,5% por ano. Neste sentido, o país possui uma produtividade média de soja de 3t/ha, sendo a maior entre os principais produtores mundiais de soja. 

    A taxa de utilização de sementes (TUS) de soja pelos agricultores é de 67%, ou seja, dos 25 milhões de hectares cultivados com soja, 16,75 milhões são cultivados com sementes que passaram por um sistema de controle de qualidade. Este percentual de TUS ainda pode aumentar, pois há regiões em que o uso é bastante baixo. As empresas de sementes e as empresas de melhoramento vegetal investem tempo e dinheiro para promover o uso de sementes de alta qualidade das variedades melhoradas, o que tem ocasionado o aumento da TUS. Neste sentido, estima-se que, em média, cada produtor de sementes realiza 10 dias de campo por ano, em que participam centenas de agricultores que não medem esforços para acompanharem as inovações tecnológicas referentes a sementes. 

    A TUS de 67% para soja é desdobrada, em termos de comercialização, para 49% na forma de licenciamento e 18% na forma de verticalização. A forma de licenciamento consiste em permitir que o produtor de sementes comercialize uma cultivar de soja criada, desenvolvida e protegida por um programa de melhoramento vegetal. Esta permissão significa, em termos médios, um pagamento (royalty) de 10% do valor da semente ao dono da variedade, por parte de quem produziu e comercializou a semente. Enquanto no sistema de comercialização vertical, a empresa obtentora da cultivar realiza todas as fases, da criação da cultivar à comercialização das sementes. 

    Em termos de grandeza dos produtores de sementes de soja no país, tem-se que há 12 empresas que produzem e comercializam mais de 400.000 sacas de sementes de 40kg por ano e 180 empresas que comercializam menos de 100.000 sacas/ano. Em termos percentuais, as 12 maiores empresas de sementes representam 34% do total, e as 180 menores representam 31%. 


    Nos últimos anos houve alto investimento por parte dos produtores de sementes em termos de combinadas colhedoras especiais para semente, secadores para possibilitar a colheita na época oportuna, unidades de beneficiamento de sementes com maior capacidade, unidade de tratamento de sementes (tratamento industrial) e utilização do frio dinâmico para minimizar o processo de deterioração de sementes. Esta tendência mostra que o setor está se profissionalizando, requerendo pessoal treinado e grandes investimentos, o que tira do mercado quem não deseja investir e se atualizar.

    O Brasil possui dimensão continental, ocasionando que o tamanho do produtor de sementes da região do cerrado brasileiro tenda a ser diferente daqueles da região sul. No cerrado, onde 23% da comercialização das sementes são de forma verticalizada, oito empresas produtoras de sementes possuem 42% do mercado, enquanto no sul, onde 48% dos agricultores utilizam semente salva, 110 produtores de sementes comercializam 45% da produção. A TUS na região sul está crescendo, entretanto de forma um pouco lenta, apesar do grande esforço dos produtores e obtentores de sementes. Isto se deve a costumes e tradições que passam de gerações a gerações.     

    A dinâmica da comercialização de sementes passa pela criação e desenvolvimento de novas cultivares, pela produção das sementes e pela comercialização propriamente dita. Neste sentido, há no país uma forte tendência de os distribuidores atuarem na comercialização de sementes, o que se deve à importância que este elo da cadeia está reservando à semente. Atualmente, o cartão de visitas de uma distribuidora apresenta com letras destacadas que esta comercializa sementes das melhores cultivares. A semente em primeiro lugar, depois vêm as outras coisas. 

    Os distribuidores, geralmente, comercializam agroquímicos, fertilizantes e sementes, sendo que, em termos de grandeza, o negócio de sementes representa a menor fatia. Entretanto, sua participação nas empresas está crescendo de forma acelerada. Tornou-se comum o treinamento em sementes dos técnicos das empresas de distribuição, sobre aspectos científicos e tecnológicos, pois são eles que irão atender o agricultor no caso de alguma reclamação sobre a semente. Nestes casos, os conhecimentos de sementes são essenciais para fundamentar as causas de uma falha no estabelecimento de um bom estande de plantas.


    Conclusão

    Podemos concluir que:
1. A produção de grãos no país continuará a crescer por vários anos, para tranquilidade daqueles que necessitam de alimento a um preço adequado; 
2. O aumento de produtividade é o foco das empresas de melhoramento vegetal e dos produtores e distribuidores de sementes; 
3. O sucesso do negócio de sementes requer tecnologia e acesso ao mercado;
4. O negócio de sementes envolve empresas de sementes locais de distribuidores.

    "O Brasil cultiva 25 milhões de hectares de soja, com uma TUS de 67%, propiciando um pujante negócio de sementes desta espécie. Envolve várias empresas de melhoramento vegetal privadas e algumas públicas, sendo que as privadas participam com mais de 85% da área cultivada com suas cultivares. A forma de comercialização das sementes, que é 100% realizada pela iniciativa privada, envolve o licenciamento de cultivares com 75% do negócio e a verticalização, as quais se utilizam de forma crescente das empresas de distribuição de insumos agrícolas. O Brasil, com sua dimensão continental e diversidade cultural e de costumes, requer para cada região estratégias específicas de promoção e uso de sementes." 

    Resumo da apresentação de André Savino no Congresso Internacional de Sementes da ISF-ABRASEM, realizado no Rio de Janeiro, em 2012
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