Riscos e Consequências

Edição XII | 04 - Jul . 2008
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    O risco é difuso. Sob um ponto de vista abrangente, amplo, há um elemento de risco em cada decisão que tomamos. Mesmo quando a perspective se restringe aos propósitos deste artigo, reconhecemos que há um certo grau de risco inerente à implementação de novas tecnologias, aventuras novas, de fato, para a maioria das decisões operacionais e/ou de negócios. E cada atividade traz consequências.
    Na maioria dos casos, as consequências (felizmente) são previstas ou esperadas. O gerenciamento do risco envolve a avaliação dos tipos e da natureza dos riscos envolvidos e, então, o estabelecimento de planos e tomada das medidas apropriadas para minimizar as consequências ou perdas. Admito que estas percepções de risco estão muito mais relacionadas à idade. Como a maioria dos jovens de hoje, eu de fato não tinha tempo algum para identificação e análise de riscos na minha juventude. Tudo parecia não apenas possível como factível. Porém, estando consciente de que a maioria dos leitores deste artigo está entre a juventude e a maturidade, minha geração, temo que muitos considerem que o “risco” seja um tema usado demais nos meus artigos recentes. De fato o foi, e eu reversei isto após este artigo.


    Um assunto grandioso
    A atual e crescente crise mundial de alimentos cria uma interessante, porém consternadora situação para uma crítica de riscos e consequências. A crise parece ser consequência de políticas governamentais, de más interpretações de riscos e da confluência de desenvolvimentos e eventos cuja possibilidade ou potencial devem ser reconhecidos, e se reconhecidos, devem receber muito mais atenção.
    Obviamente, é simplista culpar a crise alimentar, como muitos estão fazendo, atribuindo-a ao desvio de sementes de grãos e oleaginosas dos alimentos e usos alimentícios para produção de etanol e outros biocombustíveis como alternativas aos combustíveis fósseis. Atualmente, pelo menos, a crise parece mais intimamente ligada à acessibilidade do que à disponibilidade.


    “O gerenciamento do risco envolve a avaliação dos tipos e da natureza dos riscos envolvidos e, então, o estabelecimento de planos e tomada das medidas apropriadas para minimizar as consequências ou perdas.”
 
    Os preços dos alimentos estão subindo devido a várias situações e circunstâncias: a demanda por uma maior quantidade, variedade e melhor qualidade dos itens alimentícios está crescendo nos países que estão se desenvolvendo rapidamente, com populações enormes, como a China e a Índia; a produção de grãos em alguns países que produzem em excesso está abaixo da média devido a condições de crescimento desfavoráveis; o aumento enorme no custo dos combustíveis fósseis aumentou dramaticamente os custos de energia, requerendo operações de campo e insumos essenciais de produção, como combustíveis, fertilizantes, pesticidas, maquinário e assim por diante.
   O momento de elevação destes fatores, que são ou deveriam ser conhecidos, sobre os preços das commodities e alimentos foi então reforçado e acelerado pela retirada e/ou comprometimento de quantidades substanciais de grãos e oleaginosas dos canais de alimentos e rações para produzir biocombustíveis. O efeito psicológico da conversão de “comida em combustível” provavelmente teve um grande efeito sobre os preços dos alimentos, como a queda real no abastecimento.
    As consequências desta convergência de fatores econômicos, decisões políticas e atenção insuficiente aos riscos podem ser somadas simplesmente como o "melhoramento de poucos em detrimento de muitos". Produtores de grãos e oleaginosas, fornecedores de insumos agrícolas e os destiladores de etanol e outros biocombustíveis foram ricamente recompensados, enquanto os muitos prejudicados são consumidores confrontados pelo aumento nos preços dos alimentos que força o orçamento alimentar da classe média e dificulta cada vez mais a vida das classes menos favorecidas, tanto nos países menos desenvolvidos quanto nos desenvolvidos.
 
    Produção orgânica
    Vamos agora nos voltar para exemplos e casos menos estressantes de riscos e consequências. Há um aumento constante na produção e no comércio, isto é, na demanda por vegetais e outros alimentos orgânicos. Havia muitos céticos, incluindo eu mesmo, quando o interesse na produção e em produtos alimentares orgânicos surgiu, cerca de 20 anos atrás. A produção de alimentos orgânicos foi rejeitada por muitos de nós como uma moda de "faz bem, sente bem" de alguns poucos ambientalistas sinceros e dedicados que desapareceria com a realidade de baixa qualidade dos produtos, lucros pequenos e incertos e preços altos.      
    De fato, muitos de nós olharam a produção orgânica como um tipo de modismo na agricultura de subsistência, mas menos do que de subsistência, já que não há dependência real da receita da produção. Oh, mas estávamos enganados, muito enganados. Alguns tomadores de risco avaliaram o mercado, interesses, comprometimento e a psicologia dos consumidores para com alimentos ambientalmente amigos e benignos à terra, e concluíram que os riscos eram gerenciáveis e muito inferiores às oportunidades.
   Eles fizeram investimentos e se tornaram empreendedores de alimentos orgânicos. Muitos, porém nem todos, tiveram sucesso. A maioria dos supermercados agora oferece seções de vegetais e frutas orgânicas frescas, bem como alimentos processados. As consequências do estabelecimento de uma indústria de alimentos orgânicos foram favoráveis em sua maioria, tanto para produtores quanto consumidores. Uma variedade considerável de alimentos organicamente produzidos está agora disponível para aqueles que têm um forte laço com as questões ambientais. Há poucos fatores capazes de afetar a viabilidade da produção orgânica em longo prazo.
 
    Controle mais complexo de ervas daninhas?
    O título de um artigo numa revista agrícola chamou minha atenção: Controle de ervas daninhas fica mais complexo. Esta pareceu uma afirmação muito irônica, em vista do fato de que a simplificação do controle de ervas daninhas é a razão maior para o difuso e crescente uso de variedades transgênicas com eventos para resistência a herbicidas, então li abaixo do título.
    O primeiro parágrafo iluminava a ironia: "Os dias de recuar o tanque, encher de glifosato e pulverizar sobre o solo para um controle excelente de ervas daninhas estão oficialmente atrás de nós". O controle de ervas daninhas está se tornando mais complexo comparado à simplicidade que era o padrão desde a liberação de variedades tolerantes a herbicidas de soja, milho, algodão, e outras culturas. Porém, ele ainda não voltou à complexidade do sistema de prescrição de muitos produtos químicos e aplicações bem agendadas e retorno incerto dos tempos pré-biotecnologia. A razão de tal "maior complexidade" é o desenvolvimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato.
   O desenvolvimento da resistência a herbicidas em ervas daninhas não era inesperado e de fato foi um dos riscos reconhecidos e aceitos na estratégia das variedades tolerantes a herbicidas. As consequências imediatas são o controle inadequado em áreas com ervas daninhas resistentes a herbicidas, o uso de herbicidas adicionais, a necessidade de um melhor manejo e os custos de produção mais altos.
     As empresas de biotecnologia estão desenvolvendo variedades transgênicas combinando com vários eventos tolerantes a herbicidas, para permitir o uso de misturas de vários  herbicidas diferentes de amplo espectro, que deveria dar conta do problema, pelo menos no futuro próximo.
 
    Arroz GM
    Variedades de arroz tolerantes a herbicidas foram liberadas e estão em produção, mas a tolerância foi obtida sem recorrer às tecnologias transgênicas. As variedades transgênicas tolerantes a herbicidas foram e estão sendo desenvolvidas, porém ainda não foram liberadas devido a temores do risco de cruzar com tipos de arroz daninho nocivo, isto é, arroz vermelho, e a aversão dos importadores aos produtos GM. Ainda, quantias pequenas de arroz GM foram detectadas vários anos atrás em duas variedades comerciais de arroz de grão tipo longo  exportadas para a Europa. Isto causou um furor nos mercados exportadores e na indústria de arroz dos EUA.
     A(s) causa(s) das contaminações ainda estão sob investigação, mas parecem ter sido o cruzamento resultante entre uma variedade GM experimental e uma variedade comercial cultivada nas proximidades, em um caso, e uma mistura mecânica acidental, num segundo caso. O estado da Califórnia (EUA), maior exportadora de arroz, reavaliou os riscos e as prováveis consequências da contaminação com arroz GM e sua Comissão do Arroz recentemente votou no sentido de apoiar uma moratória sobre todo o teste de campo de variedades e linhas de arroz GM para a atual e as futuras estações.
     O caso do arroz GM é um caso no qual riscos rigorosamente avaliados, amplamente aceitos, materializaram-se apesar dos grandes esforços para preveni-los. Não há vencedores, só perdedores.
 
    “OS RISCOS SÃO DIFUSOS, MAS TAMBÉM DESAFIADORES, E A TOMADA DE RISCO COM ANALISE É UMA DAS MAIS IMPORTANTES PORTAS PARA O PROGRESSO E ADENTRADA PELOS MEMBROS MAIS AVENTUREIROS DA RAÇA HUMANA.”                       
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