A Evolução da Indústria Sementeira Durante os Últimos 40 Anos

Edição XII | 04 - Jul . 2008
Bernard Le Buanec-b.lebuanec@orange.fr
    Na época em que finalizei meu primeiro ano na faculdade, por ocasião do meu estágio no laboratório de Fisiologia Vegetal do Instituto Francês de Pesquisa Agronômica, INRA, em agosto de 1961, a UPOV ainda não tinha sido criada e o código genético ainda não estava completamente decifrado. Desde aqueles tempos até hoje em dia, muitos eventos de grande significância têm influído no desenvolvimento da indústria sementeira.

    A lista é extremamente heterogênea, com eventos técnicos e regulatórios, os quais têm impactado na indústria sementeira nos últimos 40 anos. Apesar de todas merecerem um tratamento individual aprofundado, a única possibilidade é eu fazer uma menção superficial sobre todos esses assuntos.
 
    Desenvolvimento dos híbridos
    Hoje em dia, é um fato aceito que para muitas culturas o uso de híbridos é garantido, situação que não era a mesma 40 ou 50 anos para trás. Como todos sabem, os primeiros híbridos F1 comercializados em grande escala pertencem ao milho, os quais foram desenvolvidos nos EUA. Mas, diferentemente da crença comum, no início da década de 1960, com a exceção dos EUA, os híbridos eram cultivados só em 21% da área agrícola mundial plantada com milho.
    Além de aumentar a produção para os agricultores, os híbridos têm mudado a indústria sementeira de três formas:
             • Necessidade do produtor de adquirir semente todos os anos;
             • Desenvolvimento de produtores de sementes especializados, às vezes localizados em diferentes regiões do mundo;
             • Aumento no valor da semente.
   Os diferentes processos através dos quais a semente é submetida antes de ser adquirida pelo produtor têm-se tornado extremamente sofisticados para todas as culturas em geral, particularmente no caso das olerícolas. O caso da alface constitui um bom  exemplo. A importância do tratamento de sementes pode também ser observada através da evolução das vendas globais relacionadas ao tratamento de sementes.
   O resultado desta evolução é que a semente que é comercializada já não mais é material reprodutivo exclusivamente, mas um pacote de tecnologia. Isso implica em um impacto no preço pelo qual a semente é vendida para o produtor. Além disso, para algumas culturas deve-se considerar a adição às sementes de micronutrientes e de inoculantes microbianos.
 
    Biotecnologia vegetal
    O terceiro aspecto que quero abordar tem a ver com o desenvolvimento da Biotecnologia em plantas, e em particular com a engenharia genética e a seleção assistida por mercadores moleculares.
    A taxa de adoção de variedades GM em nível mundial não tem precedente, quando comparada com qualquer outra tecnologia agrícola. Em termos de valor no mercado de sementes, incluindo o valor da venda da semente biotecnológica, além de qualquer taxa tecnológica que possa ser considerada, os valores podem ser observados na tabela no texto.
   É interessante observar o impacto da engenharia genética no preço da semente, comparando o preço de uma variedade convencional (não GM) em relação à sua contraparte GM. Na tabela no texto são apresentados os valores para algumas culturas em determinados países, mas sem a intenção de aprofundar informação.
  
    Seleção assistida por marcadores moleculares
  Conforme já foi mencionado, o uso de marcadores do DNA foi publicado pela primeira vez em 1983, enquanto que a publicação marco nesta área, com certeza, é a de Paterson e seus colegas, em 1988. Provavelmente já perceberam que utilizo a expressão 'Seleção Assistida por Marcadores Moleculares' e não unicamente 'Seleção Assistida por Marcadores'. Já a seleção assistida por marcadores não tem nada de novidade e os melhoristas de plantas vêm tentando desde sempre achar marcadores capazes de predizer o comportamento final, ou seja, o fenótipo da variedade na lavoura.
     A seleção assistida por marcadores moleculares, a qual estabelece um vínculo entre um ou mais marcadores de DNA e um caráter de herança complexa, é um novo desenvolvimento que está atraindo investimentos muito pesados. Na verdade, esses marcadores permitem poupar um tempo considerável na seleção de um caráter desejável. Com relação a este aspecto, vou fazer uso da vantagem do palestrante de fazer comentários: é frequente ler muitas publicações referentes ao mito do fenótipo, da seleção direcionada pelo genótipo e assim por diante.
    Além desses desenvolvimentos técnicos, principalmente a produção de híbridos e tecnologia e biotecnologia de sementes, tem-se experimentado em nível mundial mudanças drásticas nas áreas de legislação e regulamentação ambiental, segundo o apresentado nas projeções iniciais. Por questão de tempo disponível para minha apresentação, não posso me estender sobre o assunto, mas farei alguns comentários breves em relação ao protocolo de Biossegurança de Cartagena e a respeito da regulamentação da avaliação de alimentos e rações elaboradas a partir de culturas transgênicas.
    Elas são tão complicadas, exigentes e onerosas - US$10 milhões por cultura/caráter - que empresas de tamanho pequeno ou mediano, e mesmo as instituições públicas de pesquisa, ficam excluídas de fato. Essas mudanças técnicas e regulamentares têm tido um impacto dramático na indústria sementeira.

    Desenvolvimento dos mercados sementeiros
   Começando com o mercado de sementes, verifica-se na tabela no texto minha própria estimativa a respeito do mercado de sementes para o período 1979 - 2007 para os países selecionados: Durante o período considerado, o mercado de sementes tem-se multiplicado quase que por três, a partir de aproximadamente US$ 13 bilhões para US$ 36 bilhões. Deve ser apreciado que o grande incremento de 2007 foi parcialmente devido ao baixo valor do dólar norte-americano e, portanto, não reflete a verdadeira evolução, em particular no que diz respeito aos países europeus. Aliás, mais importante do que isso é observar a diferença entre os países.                                                                                                                                                                                                                                                                                       
    Com a exceção da Polônia, país no qual a transição política determinou uma explosão da categoria de semente salva, todos os países têm experimentado um aumento. O posicionamento está bem correlacionado com a importância da agricultura como atividade nesses países, bem como a aceitação das novas tecnologias e a velocidade no  desenvolvimento dos países emergentes.
   A partir do seu vínculo com a globalização, o desenvolvimento do comércio internacional de sementes tem sido bem mais rápido do que o desenvolvimento do mercado global de sementes. No período compreendido entre 1979 a 2006, o comércio internacional de sementes tem-se multiplicado por um fator de cinco.
    Em parte, o crescimento tem respondido à especialização de regiões específicas para a produção de híbridos, quanto ao desenvolvimento da entressafra como estratégia de produção. Em relação a esse ponto, o exemplo do Chile é particularmente ilustrativo.
  
    Evolução das empresas de sementes
    No final da década de 1960, a maioria das grandes empresas de sementes eram gerenciadas num esquema familiar, sendo que muitos de nós ainda lembramos nomes como Pioneer, Dekalb, Asgrow, VanderHave, Vilmorin, Tezier, RoyalSluis, Funk, Sluis e Groot e outras tantas. Com a aquisição da Asgrow pela Upjohn, em 1968, iniciou-se um processo de consolidação, com várias ondas e vários atores.
    Os atores tem mudado em intervalos regulares, alguns aparecendo e sumindo logo depois de uns poucos anos, enquanto que outros continuaram a se desenvolver através do crescimento interno e externo. Um dos efeitos mais importantes desta evolução tem sido a concentração da indústria, a partir de 18% do mercado, em 1985, para quase 45%, em 2007, se considerarmos as 15 empresas mais importantes.
    É interessante notar que o aumento na concentração foi devido principalmente às cinco empresas mais importantes, que representaram em 2007 quase que 35% do mercado global. Numa escala global, esse nível de concentração pode ser considerado ainda baixo se comparado com a indústria da fitossanidade, porém muda, se considerar a situação para cada cultura em particular. No caso do mercado de sementes de beterraba, as três empresas mais importantes são responsáveis por mais de 90% do mercado.
   No caso do milho, as cinco empresas mais importantes representam ao redor de 85% do mercado e as cinco empresas mais importantes do mercado de olerícolas têm uma fatia de aproximadamente 70% do mercado de sementes, e estes são só alguns exemplos:
              • A evolução de tecnologias como as que têm sido mencionadas, as quais demandam investimentos pesados em pesquisa e produção;
              • O aumento da necessidade de rapidez em todas as áreas do negócio, o que causa a perda de especialização para algumas atividades que demandam uma integração vertical das empresas;
              • Múltiplas pressões vinculadas a um ambiente crescentemente competitivo.

    A necessidade de investimento pesado em pesquisa e desenvolvimento fornece dois tipos de informação:
              • O nível global de investimento, o qual atinge quase US$ 800 milhões por ano em algumas empresas; e
              • A estratégia da empresa e do departamento de pesquisa.

    Este tipo de evolução, como todas as coisas, gera vantagens e desvantagens. Mas, pela segurança das empresas de sementes num mundo com mecanismos regulatórios em constante aumento, as vantagens, com certeza, são bem mais importantes.
    Com relação às diferenças no valor da semente híbrida, em comparação com a não híbrida, os valores são variáveis em função da espécie e do país analisado. Para a semente de canola, o preço da semente híbrida é o dobro do que para a não híbrida; para milho, a diferença é superior a cinco vezes; e no caso do arroz, a diferença pode chegar a até dez vezes o preço da semente não híbrida.                                                                Ainda que muitas vezes a quantidade de sementes a semear seja menor no caso dos híbridos, a mudança de plantar semente convencional para a híbrida tem contribuído de forma muito significativa para o aumento da grandeza do negócio sementes. Pode-se falar que a expansão da utilização de cultivares híbridas tem sido um fator essencial no desenvolvimento da indústria sementeira. 

   
 
    Evolução da comunicação global e do ambiente regulatório da indústria sementeira.

   
           

   
 
    Evolução do mercado de sementes no mundo.
    

   
   
    Fases na criação de Cultivares.

   Em minha opinião, isso não é correto, uma vez que o melhorista está sempre procurando o fenótipo, que será finalmente aquele disponibilizado para o agricultor. Os marcadores moleculares são simplesmente ferramentas, concordo que essenciais, na seleção dos fenótipos. A realidade é que, com essa ferramenta, o melhoramento de plantas adquire duas faces diferentes: a predição, através dos marcadores moleculares, e a observação, através do fenótipo.
   
    
    Valor relativo das sementes GM em função de alguns fatores.

   
   
    Aumento do negócio sementes por países desde 1979.
   
 
    Concentração do Negócio Sementes.
    Esta concentração, facilitada pela globalização, responde a várias causas:
   
 
    Ano de adoção de híbridos por espécie.

   Para finalizar minha apresentação, é bom dar uma olhada na comunicação global e o ambiente regulatório da nossa indústria. Há 40 anos, esse ambiente era bastante simples. Hoje em dia, é incrivelmente mais complexo. Esse novo ambiente criou uma mudança não muito óbvia, porém muito importante, no que diz respeito ao gerenciamento das empresas de sementes.
   
   
    Evolução da exportação de sementes do Chile em milhões US$.

   Devido à complexidade dos assuntos com os quais temos de lidar e ao aumento dos casos de responsabilidade legal, as empresas de sementes têm necessitado criar  departamentos jurídicos e de assuntos governamentais. Esses departamentos podem envolver centenas de empregados e hoje já fazem parte também de empresas de tamanho mediano e pequeno.


Discurso Inaugural do Congresso da Federação Internacional de Sementes, Praga, República Checa, 26 de maio de 2008. 

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