A Dormência da Semente

Edição II | 02 - Mar . 1998
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Há dois fatores conhecidos que podem impedir a germinação das sementes: a dormência e a deterioração. A dormência é um dos fenômenos mais interessantes do reino vegetal, recurso para a sobrevivência das espécies quando em condições adversas. Funciona pelo retardamento e distribuição da germinação das plantas no tempo, assim aumentando a probabilidade de algumas sementes germinar quando ocorrerem condições favoráveis. Muito importante, esse retardamento germinativo mantém a espécie no estágio de semente, ou seja, na fase do ciclo da planta em que sua resistência à adversidade é maior.

   Esse mecanismo de sobrevivência depende de quatro características:
1. Deve prevenir a germinação quando as sementes encontram condições favoráveis para germinar;
2. Sua intensidade ou o período de retardamento deve variar entre as sementes dentro da população;
3. Ser liberada por algum mecanismo climático estimulado por um tipo de gatilho;
4. Deve inibir ou retardar o processo de deterioração que leva as sementes à morte.

Retardamento - O principal problema da sobrevivência em regiões temperadas é o inverno. Se as sementes produzidas e dispersas por uma espécie durante o verão não estiverem dormentes elas germinarão com clima adverso, o que frequentemente ocorre. As plântulas são neste caso mortas pelas baixas temperaturas. Por isso a germinação de uma população de sementes com diferentes graus de dormência é retardada até a próxima estação quente, assegurando assim que a germinação de algumas sementes irá ocorrer em clima favorável, sobrevivendo a espécie. 
                            
     De igual importância, em regiões semiáridas e tropicais, o problema é a seca prolongada. Sem dormência, as sementes dispersas próximo do fim da estação chuvosa germinarão com a umidade restante no solo. Contudo, morrerão em plântula quando a seca chegar. Todavia, com a dormência, a germinação é retardada até o início da próxima estação propícia, tornando assim viável o desenvolvimento e reprodução do vegetal.             
                
     Em outras regiões climáticas também enfrenta a planta desafios na luta pela sobrevivência. Em zonas áridas, a incerteza e infrequência das chuvas constituem os obstáculos e neste caso a dormência dura até que a quantidade até o término do ciclo vital. Já em áreas densas nas florestas falta luz em nível do solo. Para contornar o contratempo, a semente só se desenvolve quando o calor do fogo reduzir a copa o suficiente para permitir uma adequada entrada de luz.        
   A dormência não é comum e provavelmente inexistente em espécies de trópicos úmidos, pois as condições são permanentemente favoráveis, e as sementes produzidas durante o ano nem mesmo secam e já começam a produzir novamente. Essas sementes, chamadas recalcitrantes, germinam ou morrem pela secagem. O milho é citado como primeiro exemplo de uma planta que não sobrevive sem a intervenção do homem. Isso por não possuir a característica de dormência e de distribuição adaptada para a sobrevivência. Ele tem sobrevivido somente porque suas sementes são armazenadas de uma estação para outra.         
      
 Liberação - A dormência não seria um mecanismo de sobrevivência importante se não fosse liberada por um estímulo ambiental. A natureza se manifesta de diversas maneiras, fazendo com que a planta durma para sobrepor aos mais diversos obstáculos. A dormência de espécies em clima temperado é liberada pela exposição das sementes a um período de frio e calor.  

     “A dormência é o principal mecanismo de sobrevivência da semente em condições adversas.”   
             
    A efetividade da combinação de frio úmido ou seco e quente para estimular a dormência certamente valida o mecanismo de dormência liberado por um estímulo climático. Essas respostas gerais, entretanto, fornecem poucas informações sobre as causas e mecanismos de dormência que retardam e distribuem a germinação no tempo. Assim, deve ser reconhecido que outros mecanismos efetivos também são utilizados para superar a dormência, indicando que outros componentes ambientais que interferem no processo ainda não estão claros.     
           
 Inibição - A efetividade da dormência para sobrevivência das espécies depende não somente do retardamento da germinação, mas também da inibição do processo de deterioração nas sementes. Essa proteção começa quando as sementes ainda estão na planta. A dormência previne a germinação de sementes na planta durante os períodos chuvosos antes que sejam dispersas e colhidas. Frequentemente as sementes sofrem uma severa perda de vigor devido à exposição à condições úmidas e quentes antes da colheita, fenômeno chamado de deterioração de campo. Ele é o principal problema da semente em regiões tropicais úmidas.         
                       
     A proteção da capacidade germinativa pela dormência continua após a dispersão ou a colheita. Está bem documentado que a longevidade se relaciona com a intensidade de dormência e seu mecanismo operativo. Sementes com dormência profunda possuem vida longa. E tratamento que reduzem a dormência, como a escarificação ou alta temperatura reduzem sua longevidade. A segunda parte deste trabalho abordará as implicações agronômicas e ecológicas da dormência.  

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