A Dormência da Semente (II)

Edição II | 03 - Mai . 1998
James Delouche-JCDelouche@aol.com
   A dormência previne a viviparidade, ou seja, a germinação ou a deterioração das sementes nas plantas que se desenvolvem em ambientes com chuvas frequentes, alta umidade e temperatura, após elas terem completado a maturidade fisiológica e antes delas se dispersarem ou serem colhidas. A relação entre a dormência e a deterioração das sementes no campo é ilustrada com algodão e soja, duas culturas das mais importantes.

   Algodão - a qualidade da semente produzida nas condições de sequeiro é reduzida no campo pela chuva, alta umidade e temperatura, que ocorrem entre a abertura do fruto e a colheita. No Sudeste dos Estados Unidos, faixa algodoeira, a frequência e severidade da deterioração das sementes no campo resultou na mudança no local de produção, da zona úmida do Sudeste, para a zona seca do Oeste na década dos anos 70. A produção de algodoeiro no Oeste dos Estados Unidos é feita em condições de irrigação, assim minimizando a deterioração das sementes. Em condições naturais, a qualidade das sementes de algodão é mantida por duas formas de dormência que operam sequencialmente para eliminar ou prevenir duas oportunidades de germinação: durante o desenvolvimento do fruto e durante o desenvolvimento das sementes. O primeiro é através do ácido absíssico (ABA). Este é um composto hormonal desenvolvido na semente e nas estruturas envolventes dos frutos em nível suficiente para prevenir a germinação das sementes no fruto (viviparidade) quando sua umidade está acima do nível crítico para germinação, o qual poderia ser terminal para a subsistência da espécie. O conteúdo de ABA começa a declinar, especialmente nas sementes, quando o fruto abre, provavelmente como resultado da desidratação à medida que as sementes perdem umidade nos frutos abertos.             
            
     Algumas das sementes retiradas dos frutos frescos recentemente abertos se mantém sem germinar por alguns meses. Isto é uma indicação de que em certas circunstâncias, o ABA continua a prevenir e retardar a germinação após a dispersão das sementes. Contudo, na natureza, as sementes secas permanecem nos frutos abertos por longos períodos, antes da dispersão pelo vento e/ou pela chuva.  

     “A qualidade das sementes de algodão é mantida por duas formas de dormência.”
                
     À medida que o conteúdo de ABA declina com a desidratação das sementes, a segunda forma de dormência começa. É a impermeabilidade à água (sementes duras), que protege contra a deterioração no campo. Esse mecanismo se desenvolve quando o grau de umidade da semente é reduzido para valores inferiores a 11%. Ambos tipos de dormência na semente do algodoeiro têm sido diminuídos pelo cruzamento e o melhoramento da cultura. Sementes duras têm sido praticamente eliminadas, uma vez que persistentes e interferem com a emergência e o estabelecimento das plantas no campo. A semente de soja também é muito susceptível à deterioração de campo.     
                       
    Contudo, em condições naturais, as sementes são protegidas contra o processo de deterioração. A germinação é preservada pelo desenvolvimento de sementes duras, e na medida em que elas perdem umidade após da maturidade fisiológica. Considerando que o tegumento da semente se torna impermeável só quando a umidade estiver inferior a 14%, é possível que o ABA também a proteja antes de se converter em dura.

   Arroz Vermelho – conhecido como uma das plantas daninhas mais severas na produção de arroz. Há três características importantes dessa invasora: 1. Alto perfilhamento e vigor de planta; 2. Deiscência precoce das sementes; 3. Profunda dormência das sementes. A primeira assegura uma alta competitividade e produção abundante de sementes. A segunda assegura que a maior parte das sementes permanecem no campo aumentando a infestação. A profunda dormência das sementes, assegura à sobrevivência e à distribuição da germinação em longo período de tempo. A perda da dormência no arroz vermelho e cultivado é influenciada pela temperatura. As sementes expostas a temperaturas de 35 - 45°C antes da colheita perdem a dormência em poucos dias após a secagem e o armazenamento, mas, no entanto, persistem até meses quando a temperatura for menor do que 10 °C. 

   As sementes das variedades cultivadas têm pouca dormência, a qual é superada pela temperatura quente antes da colheita, propiciando que as unidades caídas no solo durante a colheita germinem após a primeira chuva. 
                          
     A maioria das sementes de arroz vermelho, porém, caídas no solo antes de perder a dormência, permanecem lá e não germinam durante as chuvas subsequentes. Quando o campo é cultivado após a colheita, as sementes das variedades cultivadas, caídas na superfície do solo e que não têm dormência, germinam, emergem e sucumbem pela geada em climas temperados. As sementes dormentes de arroz vermelho que não estão muito profundas no solo perdem a dormência quando expostas a temperaturas frias, tornando-se germináveis quando o arroz é plantado na seguinte safra.                                
    As sementes de arroz vermelho que permanecem nas camadas mais profundas do solo, podem germinar, porém não o fazem devido a insuficiência de oxigênio. Durante o verão, a dormência é restabelecida, ou induzida de tal forma que as sementes dormentes nas camadas mais profundas do solo, quando trazidas à superfície pela ação dos tratos culturais, não germinam. A dormência nas sementes do arroz vermelho é superada quando as condições se tornam adequadas para emergência, crescimento das plantas, desenvolvimento das sementes e maturação, quer dizer, no período apto para plantar o arroz, e é induzida em condições inadequadas para o crescimento e o desenvolvimento, isto é, após a colheita e antes de estabelecimento da época fria.
 
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