A Dormência da Semente (III)

Edição II | 04 - Jul . 1998
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    A natureza foi criativa e conservadora ao dividir os mecanismos de controle da dormência nas sementes. Na forma evolutiva, a dormência pode ocorrer um bloqueio total, ou restrição imposta pela cobertura das sementes aos requisitos para a germinação, ou pela dormência embrionária. O eixo embrionário não pode assumir o crescimento ativo até que a condição interna seja superada. A dormência imposta pela cobertura da semente e a dormência do embrião interagem e se envolvem com fatores secundários. 

   Tegumento -A regulagem da absorção de água e oxigênio, essenciais para a germinação, é uma das maiores funções do tegumento, cuja impermeabilidade constitui um dos mecanismos mais comuns na dormência, presente em sementes de espécies como feijões, ervilhas, soja, trevos e algodão. Essas sementes têm sido chamadas de “duras” e não absorvem água. A dureza das sementes é condicional e não absoluta em muitas espécies. No feijão, soja e algodão, por exemplo, a porcentagem de sementes duras pode crescer com a exposição do lote a condições de menor umidade relativa, e descer em um regime oposto.                             
     
   A “reversibilidade” da dureza sugere que o nível de permeabilidade se relaciona com o de hidratação dos constituintes químicos, ou de tecidos especializado, hipótese reforçada pela condição de dureza só ser atingida quando a umidade da semente desce a níveis relativamente baixos, inadequados para formação de camadas impermeáveis Na natureza a liberação da dureza das sementes parece resultado da interação de condições ambientais, como as flutuações diurnas e sazonais da temperatura e umidade relativa, atividade dos microorganismos e química dos solos em contato com as sementes. Para eliminar a dureza usa-se a escarificação mecânica; impactos sobre uma superfície dura; lavagem com ácidos; imersão em água quente; calor seco; baixas temperaturas; e solventes orgânicos.                       
    A escarificação mecânica e ácida são as mais comuns e efetivas, a primeira aplicada rotineiramente em escala comercial em espécies tais como trevos, alfafa, cornichão e estilosantes, geralmente antes da comercialização, porque tem efeito adverso no armazenamento. Não há evidências conclusivas de que a dormência em muitas espécies de leguminosas é causada pela restrição da absorção do oxigênio pelo tegumento. As sementes com dormência absorvem água na mesma quantidade que as demais mas não germinam. A germinação pode ser induzida pela ruptura do tegumento, perto do eixo embrionário, com a ponta de agulha. Outros fatores e condições têm sido aplicados na dormência das espécies leguminosas e parece que interagem com a restrição do tegumento para absorver oxigênio, como inibidores, reação fitocromática, deficiências e/ou desequilíbrios hormonais.                           
     
   Muitos tratamentos têm sido utilizados para superar a dormência nas gramíneas no nível experimental. Incubação de sementes embebidas a 5 – 10 0C por vários dias antes de colocá-las em condições favoráveis para germinação; o uso de solução de nitrato de potássio, 0,1 – 0,2% e temperaturas alternadas são efetivas para espécies de clima temperado. Registra-se que o calor seco (40 – 45 C) pelo máximo de 10 dias, é eficiente para muitas pastagens sub-tropicais e tropicais. Tratamentos com giberelina, são também efetivos para algumas espécies, e lavagem com ácido sulfúrico por 1 a 20 minutos é útil e efetivo para superar a dormência em muitas das pastagens de clima tropical.                           

   Embrionária - Qualquer ruptura da casca pode induzir a germinação das sementes com dormência imposta pela cobertura quando as condições para a germinação sejam previstas. Este tratamento não é eficiente no caso de dormência embrionária. Os embriões nus podem permanecer sem germinar por muitos meses em condições de alta umidade. A dormência clássica dos embriões ocorre nas sementes de árvores e arbustos de clima temperado. Em algumas espécies, a dormência é confinada só a plúmula, em outras, a radícula, e todavia em outras, nos dois lugares.  
             
     “As sementes com dormência podem absorver água na mesma quantidade.”  
             
     O tratamento mais comum para superar essa dormência é estratificação a baixa temperatura, ou armazenamento das sementes embebidas a 2 –5 0C por períodos até de 90 dias antes da semeadura. Esta dormência pode ser superada, em algumas espécies, com tratamentos de giberelina. Em algumas espécies, a dormência embrionária está combinada com sementes duras. Os mecanismos específicos da dormência embrionária são complexos e não bem esclarecidos. O ácido abcísico (ABA) parece estar envolvido em espécies, especialmente nas de climas temperados. Os inibidores têm sido implicados em muitas espécies. Em alguns casos, o inibidor está localizado na casca e em outros pode estar no embrião.  
             
   Fitomelhoramento - A dormência é geralmente desestimulada, mas a ausência pode ser desastrosa especialmente em climas quentes e úmidos. Algum grau de dormência, pode prevenir a germinação na planta e a deterioração das sementes. Os fitomelhoristas devem balançar a prontidão da germinação, com baixo nível de dormência, e a manutenção da qualidade no campo e no armazém. Em climas quentes e úmidos a dormência é necessária. A exploração das funções da dormência com tratamentos “artificiais” melhora a resposta das sementes. A germinação pode ser regulada, encapsulando (ou simplesmente tratando) as sementes com substâncias que bloqueiam a absorção de água, até que o solo atinge certo nível de temperatura. Ou o encapsulamento pode diminuir a taxa de absorção de água, prevenindo danos em condições de muito frio. Este tratamento serve para retardar a emergência e permitir o sincronismo de flores fêmeas e machos na produção de híbridos. 

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