Princípios de Secagem

Edição III | 02 - Mar . 1999
Leopoldo Baudet-lmbaudet@ufpel.edu.br
Francisco Amaral Villela-francisco.villela@ufpel.edu.br
    As sementes não amadurecem todas ao mesmo tempo, assim, quando se colhe com 12-13% de umidade, algumas estão mortas pela espera no campo. A secagem possibilita a colheita da semente com umidade mais alta, proporcionando ao produtor melhor qualidade e maior potencial de armazenamento.

   Na época atual, a qualidade tem-se constituído no principal elemento de competitividade nos diversos mercados agrícolas. No mercado de grãos e sementes, de alta competitividade, estes produtos devem ser conservados durante períodos variáveis, ficando expostos a uma série de fatores adversos que podem comprometer seriamente sua qualidade.
   As condições impostas para a conservação dos grãos e sementes, por melhores que sejam, não melhoram a qualidade que os mesmos apresentavam na ocasião da colheita, como também não chegam a deter totalmente a deterioração, apenas podem retardá-la a níveis aceitáveis. Esse nível considerado aceitável depende das circunstâncias de uso, sendo utilizado como critério comum a maximização dos lucros da empresa produtora. Neste critério, o lucro, que é o valor do produto menos os custos de produção e conservação, dependerá da eficácia do método de conservação utilizado pelo produtor.
    Por exemplo, em milho deixado secar no campo as perdas podem chegar a 20% na época em que atinge 13% de umidade. Considerando o produtor ter pago todos os custos de produção, o grão deixado no campo pode facilmente tirar do agricultor até 50% do seu lucro.

    A decisão de secar nem sempre é uma questão de escolha. Isto é particularmente verdadeiro em climas de alta umidade. O milho seca ao redor de 0,75% ao dia, desde que forma os grãos até que atinge cerca de 25% de umidade. Normalmente não é afetado pelas condições climáticas nesse estágio. Porém, abaixo deste ponto, condições climáticas adversas se constituem no fator principal. Milho na faixa de 20-25% seca a uma média de 0,5% ao dia, se o clima for favorável. Porém, se as condições de alta umidade persistirem, pode levar mais de um mês ou até mesmo nem secar, permanecendo com um alto grau de umidade no campo.
   Para a maioria dos agricultores, a secagem artificial é uma medida saudável para melhorar seu lucro. O grão é armazenado, comercializado e transportado com um teor de água relativamente baixo. Como representa a única solução prática e lucrativa para o manuseio de grandes volumes de grãos, a secagem artificial constitui um desafio para o agricultor e para a indústria, que devem maximizar a eficiência das técnicas de secagem.
    Mais do que a secagem de grãos, a secagem de sementes é, na prática, uma operação mais crítica e que requer um maior gerenciamento da qualidade. Isto porque nas sementes, tanto a viabilidade (germinação e vigor) quanto a identidade genética (pureza varietal) devem ser pre- servadas. A viabilidade das sementes pode ser reduzida consideravelmente pela demora na secagem ou pela má operação do sistema de secagem.     Já a pureza varietal da semente a ser semeada é um dos fatores mais importantes para os agricultores na produção de um determinado cultivo. Desta maneira, é necessário também um controle rigoroso para manter a identidade e pureza varietal durante todas as operações de pós-colheita, onde se inclui a secagem. No futuro, com o crescimento do mercado das variedades geneticamente avançadas ou produto da biotecnologia, se verá um movimento em direção a produtos com maior valor agregado e produtos especializados, tornando o mercado cada vez mais diferenciado. Em razão disso, na secagem e no armazenamento, tanto para as sementes como para os grãos, deverão ser tomadas as mesmas precauções.
    A secagem é o processo de remoção da umidade dos grãos, para fazê-los menos hospitaleiros aos organismos vivos que vivem dentro da massa de sementes ou grãos. A secagem é uma cópia da natureza, onde as sementes são conservadas no campo, de uma temporada à outra pela secagem. As sementes maduras e úmidas cedem umidade para a atmosfera e são trazidas a um estágio onde há uma boa probabilidade de retenção de sua viabilidade até a próxima temporada de crescimento.
    As sementes tipicamente maduras ou no ponto de maturação fisiológica não podem ser colhidas, já que encontram-se com teores de água muito elevados para uma colheita e debulha eficientes. Porém, as sementes devem ser colhidas quando ainda seu grau de umidade é muito alto (ao redor de 20%), de modo a armazenálas com segurança, evitando-se que condições desfavoráveis no campo acelerem o processo de deterioração.
   Independente do cultivo que se está produzindo, à medida que amadurece há um ponto no qual pode-se alcançar o máximo de eficiência na colheita (isto é, teor de água do grão com o qual a colheita pode ser conduzida com a menor perda no campo). Este é o teor de água ótimo para a colheita, quando as sementes podem ser debulhadas mecanicamente (em torno de 20% de umidade). Acima ou abaixo do nível considerado ótimo podem ocorrer perdas: se as sementes estão muito úmidas, haverá perdas devido à falhas de debulha e sementes imaturas, ou mesmo danos mecânicos em sementes suscetíveis. Se as sementes estão muito secas, poderá ocorrer perdas pela debulha natural, danos mecânicos e principalmente, deterioração a campo.

 
 A diferença de umidade entre as sementes é grande antes do processo de secagem
 
    A deterioração a campo é maior em áreas onde condições de alta umidade e temperatura ocorrem durante a época de colheita. Nestas condições, quanto maior o espaço de tempo em que as sementes ficam no campo sem serem colhidas, menor será seu poder germinativo. Chuvas e também o orvalho causam aumentos e flutuações de umidade nas sementes, provocando sérias reduções na sua qualidade. O principal objetivo da secagem artificial é, portanto, permitir colher mais cedo, a fim de minimizar os efeitos prejudiciais das condições climáticas adversas, danos mecânicos e ataques de fungos e insetos para maximizar a quantidade e peso das sementes colhidas. Graus de umidade recomendáveis para a colheita de sementes a fim de minimizar esses efeitos são: trigo 16-19%; cevada 17-23%; aveia 20-22%; arroz 20- 23%; milho granel 18-20%; milho em espiga 30-35%; soja 16-18%; feijão 14-20%; azevém 35-40%.
    Não deve-se esquecer que, dentre as propriedades dos grãos, o teor de água ou grau de umidade (que é a fração de água no grão expressa em porcentagem) é a característica de maior importância, devido a quatro razões principais:
a) sua mensurabilidade, que afeta a quantidade comerciável de grãos;
b) seu valor de mercado, considerando que o mercado tem estabelecido estandares e que o excesso de umidade é penalizado no preço;
c) seu efeito na operação de colheita; e
d) seu efeito no potencial de armazenamento.

   Todos os grãos e sementes contêm água na sua estrutura física e a trocam com o ar circundante. Quase todas as operações de póscolheita envolvem aumento ou perda de umidade. Os grãos e sementes são materiais higroscópicos, ou seja, têm a capacidade de ceder ou ganhar umidade do ambiente circundante. Isto é função da chamada pressão de vapor de umidade. Se as sementes estão úmidas, se estão com alta pressão de vapor de umidade quando expostas ao ar seco, as moléculas de água vão migrar das sementes para o ar, perdendo umidade até atingirem o equilíbrio, mantidas as mesmas condições. Este é o Ponto de Equilíbrio Higroscópico, que varia segundo a espécie e determina até quanto as sementes podem secar e que umidade atingirão durante o armazenamento.
    Nos sistemas de secagem o ar é usado para transportar a umidade apanhada da massa de sementes ou grãos para fora do sistema. Um sistema de secagem com ar quente forçado serve também para aquecer as sementes de maneira tal que:
a) a umidade interna migre para a superfície externa da semente, e
b) a umidade da periferia da semente seja evaporada, para assim reduzir o grau de umidade da massa que está sendo secada. O ar deve ser movimentado através da massa de sementes para realizar sua função: se o ar não passa, também não seca.

   Mas quais devem ser as características do ar de secagem? Como foi dito anteriormente, a secagem envolve uma diferença de pressões de vapor de umidade entre as sementes e o ar. Para que a semente perca umidade, o ar deve estar com baixa pressão de vapor, o que na prática significa que deve ter baixa umidade relativa, ou seja, deve ter uma grande capacidade de reter ou absorver umidade (“sedento”), a qual deve retirar da massa de sementes.
    O ar que existe no ambiente e que respiramos é uma mistura de muitos gases, principalmente Nitrogênio (71%) e Oxigênio (20%). Os restantes 9% são constituídos por água em forma de vapor, cuja proporção pode mudar. A quantidade de vapor de água que o ar pode conter está determinada pela sua temperatura: em geral, quanto maior a temperatura ou quanto mais quente o ar, mais água pode conter. Assim sendo, ao aquecer o ar, diminui-se sua umidade relativa, aumentando sua capacidade de reter umidade, tornando-o sedento para apanhar a umidade da massa de sementes ou grãos que está para secar.
    A operação e escolha de um equipamento para secagem de grãos ou sementes devem ser baseadas no entendimento que o produtor tem dos princípios de secagem e nos fatores que influenciam o desempenho do secador.
    Basicamente, a secagem é como evaporar água de uma toalha molhada. O ar passa através da massa de sementes para apanhar a água. Tanto o ar como as sementes estão trocando água. O grau de umidade em equilíbrio determina quanta água a semente vai ceder. A umidade relativa e a temperatura determinam quanta água o ar irá absorver. Para evaporar a água se requer energia. Se não agregase energia, a temperatura do ar cai. Sempre que se utiliza energia para desempenhar uma tarefa, deve-se considerar a eficiência de sua utilização. A eficiência na secagem se define como a razão entre a quantidade de água evaporada da semente (saída) para a potência do ventilador, mais a da energia calórica, quando usada (saída).
    Na realidade, nenhum sistema de secagem com ar quente forçado opera a uma eficiência de 100%. Provavelmente, num futuro próximo, os fabricantes de secadores possam alcançar este nível de eficiência, mas os esforços se concentram, sem dúvida, em maximizar a utilização da energia disponível. A energia calórica pode ser obtida de várias fontes: sol, eletricidade, combustíveis fósseis, gás natural, casca de arroz, sabugo de milho, etc. Assim sendo, o produtor deve considerar o sistema mais apropriado à suas necessidades, levando em conta que os fabricantes de secadores têm condições de projetar fornalhas ou queimadores que empreguem a energia mais barata em cada caso.
    Na secagem de grãos, a temperatura dos mesmos durante o processo – com exceção da cevada – não é um fator limitante como no caso das sementes. Como devem permanecer vivas, as sementes não podem alcançar temperaturas maiores de 45°C durante a secagem. Temperaturas maiores (até 70°C) podem ser usadas no ar de secagem em secadores intermitentes, ou contínuos adaptados para intermitentes, onde as sementes e o ar estão se movimentando e a exposição das sementes ao ar quente é menor. Isto quer dizer que, em secadores estacionários (silos secadores), em que as sementes não se movimentam durante o processo, a temperatura máxima do ar de secagem deve ser a máxima permitida para a massa de sementes, ou seja, 45°C. No caso de grãos, a temperatura de secagem pode ser bem maior do que as recomendadas para sementes, podendo ainda serem utilizados secadores contínuos, nos quais o produto úmido deve secar numa só passagem pelo secador, empregando-se temperaturas de até 120°C no ar de secagem.
    Além da recomendação de colher as sementes mais cedo, minimizando perdas em quantidade e qualidade, é importante lembrar aos produtores que, por estarem muito úmidas, as sementes devem ser submetidas à secagem artificial o mais rapidamente possível, aguardando não mais do que 24 horas com umidades acima de 16%. Se o produtor possui boa estrutura de silos armazenadores (regulador de fluxo ou pulmão), com sistema de ventilação ou aeração, as sementes úmidas poderão aguardar mais tempo, mantendo- se os ventiladores sempre ligados.

SECAGEM INTERMITENTE


    A adequação de processos operacionais, visando sua utilização na produção de sementes, tem sofrido um incremento significativo nas últimas décadas, possibilitando a obtenção de sementes de maior qualidade, a um custo cada vez mais baixo.
   A operação de secagem representa um ponto de estrangulamento na produção de sementes, no momento em que a quantidade do produto úmido ultrapassa a capacidade do sistema de secagem. Dentre as possíveis alternativas de solução, pode-se destacar o superdimensionamento da unidade de secagem para enfrentar os períodos de pique, a otimização do desempenho dos secadores intermitentes e o emprego da seca-aeração, que proporciona, além do aumento da capacidade de secagem, economia de energia e melhor preservação da qualidade do produto.
    Durante sua formação até a maturidade fisiológica, a semente perde água de forma lenta, associada ao comportamento da fase de enchimento do grão. Após a maturidade fisiológica, desligada da planta-mãe, o teor de água vai decrescendo de maneira mais acelerada, sendo bastante afetado pelas condições ambientais reinantes, capazes, muitas vezes, de comprometer a qualidade de sementes para fins de semeadura.
    Assim sendo, e considerando a produção comercial de grandes volumes de sementes, torna-se imperativo o uso da secagem artificial, em particular do método intermitente, quanto ao suprimento de ar aquecido, que, se corretamente empregado, não provoca danos às sementes.
    Os secadores intermitentes são formados, na sua grande maioria, por duas câmaras: uma de secagem, onde verificam-se as trocas de calor e de água durante a interação entre o ar aquecido e o produto, e uma de equalização, onde o produto continua sua movimentação, contudo, sem que ocorra a passagem do ar. Dessa forma, o produto fica exposto ao ar aquecido por determinados períodos de tempo, intercalados por períodos sem aquecimento.
    No período de equalização, parte do calor recebido na câmara de secagem e não aproveitado na evaporação da água, se transfere para o interior do produto, favorecendo o transporte da água para a superfície. Essa água é novamente removida na passagem pela câmara de secagem, tendo em conta que o produto recircula pelo sistema secador-elevador até alcançar a umidade final desejada.
    Em grãos, elevadas temperaturas do ar de secagem (acima de 100-120ºC) podem causar elevação demasiada na taxa de retirada de água e/ou excessivo aquecimento, aumentando de forma acentuada os danos térmicos, como por exemplo, a redução da porcentagem de grãos inteiros em arroz e o escurecimento dos grãos em milho.


 Secador comercial tipo intermitente.






Diagrama do processo de secagem intermintente.
 
   Por outro lado, baixas temperaturas (inferiores a 50-60ºC) determinam um substancial aumento no número de passagens do grão pelo sistema secador- elevador, podendo acarretar maior danificação mecânica, especialmente, em grãos mais suscetíveis, como é o caso de soja e feijão.
   Em sementes, em razão da intermitência, é possível o emprego de temperaturas do ar aquecido, que alcançam até 70 a 80ºC – valores superiores aos utilizados na secagem estacionária (40 a 45ºC) –, sem, entretanto, ocasionar excessivo aquecimento da semente, que, em geral, não atinge temperaturas acima de 40 a 43ºC, dependendo de diversos fatores, entre eles, modelo de secador, condições operacionais de secagem, características do produto, espécie e cultivar. Desta forma, a secagem intermitente apresenta elevada velocidade de secagem, sendo possível a remoção de 1 a 2 pontos percentuais de água por hora, conforme, principalmente, a cultura, a temperatura do ar de secagem e o modelo de secador empregado.
   A análise comparativa mostra que o método intermitente apresenta um custo de secagem por tonelada do produto, 20 a 30% superior à secagem estacionária, em virtude da menor eficiência térmica daquele método.
   Por outro lado, exibe maior capacidade de secagem, sendo possível a secagem de três a quatro cargas por dia, dependendo da espécie, da umidade inicial da semente, do modelo de secador e das condições operacionais de secagem. Assim, por exemplo, sementes de arroz com umidade inicial de 20% podem ser secadas até 13%, num período de quatro a seis horas, sem causar efeitos prejudiciais aos atributos físicos e fisiológicos das sementes.
    À semelhança da secagem contínua, o emprego de elevadas temperaturas do ar aquecido causa diminuição acentuada na umidade relativa do ar, aumentando sua capacidade de retenção de água, sem, contudo, causar excessivo aquecimento do produto, ocorrência esta freqüente naquele método de secagem, em virtude do período de arrefecimento, na câmara de equalização.
    Nos secadores intermitentes há necessidade de reduzir a temperatura do ar de secagem na fase final do processo, a fim de evitar o aumento da temperatura da massa de sementes acima de determinados limites, o que pode causar redução na qualidade fisiológica da semente, em particular no vigor, que afetará a emergência em campo, especialmente sob condições ambientais desfavoráveis.
    O método intermitente, empregado em larga escala na secagem de arroz comercial, vem se constituindo numa alternativa viável para sementes de trigo, aveia, soja, milho e azevém, entre outras espécies.
   Não obstante a resistência de determinados produtores com relação ao emprego da secagem intermitente em sementes, esta vem se constituindo numa solução para a secagem de grandes volumes de sementes, colhidas com elevada umidade, principalmente nas regiões e/ ou épocas onde as condições climáticas prevalecentes não são favoráveis à permanência no campo, por longos períodos, após a maturidade fisiológica.

 
SECAGEM ESTACIONÁRIA DE SEMENTES

        
    A secagem pode ser definida tecnologicamente como o processo de condicionar as matérias primas agropecuárias pela redução da água a um determinado teor, correspondente ao equilíbrio com o ar ambiente, preservando- as de alterações qualitativas.
   Embora demande grande parte da energia utilizada na produção, em se tratando de sementes a secagem permite a obtenção de um produto de elevada qualidade ao possibilitar antecipação da colheita, contribuindo para a minimização de danos causados por insetos, roedores, pássaros, doenças, debulha natural e condições ambientais adversas.
    Entre os métodos de secagem artificial, segundo a movimentação das sementes nos secadores, inclui-se a secagem estacionária. Consiste, basicamente, no insuflamento de ar aquecido continuamente, na maioria das situações, através de um volume de sementes que permanece estático. A secagem processa-se em camadas com a formação de zonas de secagem; a região onde mais efetivamente se a cedência de água das sementes para o ar é denominada de frente de secagem.
    Os secadores estacionários mais comumente utilizados para secagem de sementes são os silos com distribuição axial ou radial de ar. Para os primeiros, estão aceitavelmente determinados os cuidados operacionais para evitar secagem excessiva na camada próxima à entrada do ar quente e a demora de secagem das mais distantes. Assim é que, para sementes com 16 a 18% de água, são recomendados fluxos de ar entre 8 a 10m³.min-1.t -1, temperatura do ar máxima de 43,3°C, umidade relativa do ar mínima de 40% e altura da massa de sementes não superior a 1,5m, para sementes com tamanho similar ao da soja.
    Nos secadores com distribuição radial, de crescente utilização no Brasil, particularmente em espécies com sementes mais suscetíveis às danificações mecânicas, o ar move-se do centro para a periferia da massa; deste modo, o processo ocorre com o caminhamento horizontal da frente de secagem.
   Contrariamente ao que ocorre no uso de silos secadores com distribuição axial, há certa carência de informações sobre a secagem de sementes nos silos com distribuição radial de ar. Seguem-se algumas considerações apoiadas em trabalhos de pesquisa recentemente desenvolvidos.

    Fluxo do ar de secagem
   O fluxo do ar deve ser suficiente para não tornar-se saturado antes que deixe a massa de sementes; pode ser elevado até que seja capaz de absorver toda a água evaporada das sementes. A partir desse ponto, a movimentação da água, do interior para a superfície das sementes, torna-se o principal fator a influenciar o tempo de secagem.



 
Na secagem estacionária há necessidade de usar-se um conjunto de secadores.  
 
    Por outro lado, a elevação do fluxo demanda aumento na resistência ao caminhamento do ar ao longo da massa (pressão estática); a pressão estática se eleva com o aumento da espessura da massa a ser seca, entre outros fatores. Há, portanto, necessidade de compatibilizar o fluxo de ar com a massa de sementes a secar, visando a eficiência do processo.
    Nos silos secadores com distribuição radial de ar, atualmente comercializados no país, a reduzida espessura da massa, em geral 0,60m, proporciona baixa pressão estática tornando exeqüível o emprego de fluxos entre 20 a 30m³.min-1.t-1, o que, por sua vez, reduz o tempo de secagem e possibilita secagem mais uniforme da massa. Dados recentes de pesquisa em sementes de milho e soja, sob condições de operação comercial, revelaram pressões estáticas da ordem de 20 a 40mm de coluna d’água (mm ca), valores considerados baixos para os fluxos acima referidos.

    Velocidade de secagem
    A secagem em silos, de lotes que correspondem à massa com 0,60 a 1,20m de espessura, é considerada relativamente rápida, ocorrendo, geralmente, em torno de 20 horas. Nas condições tropicais e subtropicais brasileiras o teor de água das sementes, após a colheita, necessita ser rapidamente reduzido a 13% ou inferior; assim, ciclos de secagem entre 9 a 12 horas são tidos como mais adequados.
    A velocidade de secagem, dependente do caminhamento da frente de secagem, resulta da taxa de evaporação da semente, relacionada à velocidade de movimentação da água do seu interior para a superfície. Se excessiva, representada por 2% de água.h- 1, pode gerar injúrias às sementes quando alcançada através de expressivo fornecimento de energia calórica à massa.
    A elevação do fluxo de ar contribui mais acentuadamente para o aumento da velocidade de secagem do que a da temperatura. Resultados recentes indicaram velocidades de secagem entre 0,41 a 0,87% de água.h-¹ em sementes de soja durante 12 horas operacionais, e 0,20 a 0,52% de água .h-¹, em sementes de milho em 9 horas de secagem (média ponderada da massa), dependendo do fluxo e da temperatura do ar empregado na secagem, em equipamento com espessura da massa de 0,60m.
    Existe uma relação inversamente proporcional entre velocidade de secagem e a umidade relativa do ar. Embora a utilização de ar de secagem com baixa umidade relativa possa provocar fissuras e trincas na cobertura protetora das sementes, essa ocorrência não tem sido verificada nos silos secadores comerciais com distribuição radial de ar, provavelmente, em decorrência do elevado fluxo empregado, aliado à circulação livre do ar desde sua insuflação até sua saída da massa.

    A temperatura de secagem
   A temperatura de secagem deve ter como referência a massa de sementes; assim, valores entre 40 a 43°C são considerados como máximos e, acima dos quais, danos físicos ou químicos podem ser gerados. No entanto, em função da diferença entre as temperaturas do ar insuflado e as da massa de sementes depender do tipo de secador, espécie considerada e resistência ao movimento do ar, torna-se necessário estabelecer o padrão de temperatura para cada tipo de secador e para cada espécie.
 

Diagrama de funcionamento de um secador com distribuição radial do ar.
 
    Nos silos secadores com distribuição radial de ar a temperatura da massa decresce à medida que amplia-se a distância das sementes ao cilindro central de insuflação do ar. Para cada distância, a temperatura cresce, com o andamento da secagem, em magnitudes que se ampliam com a redução da distância. Desse modo, a fração da massa próxima ao cilindro central se apresenta como mais crítica quanto à temperatura das sementes. Entretanto, dados de pesquisa indicam tendência à estabilização da temperatura das sementes dessa porção após 6 horas do início da secagem, aproximadamente, com valores situados entre 6 a 20% abaixo da temperatura do ar insuflado, dependendo da espécie, da temperatura e do fluxo de ar utilizado.

    Gradientes de temperatura e de umidade
   O caminhamento radial da frente de secagem e alterações na condição do ar, à medida em que este percorre a massa, concorrem para originar diferenças de temperatura e de grau de umidade entre sementes diferentemente distanciadas em relação à entrada do ar de secagem. Ambos são diminuídos com redução da temperatura e espessura da massa e elevação do fluxo de ar.
    Considerando camadas extremas da massa em relação ao cilindro de insuflação de ar, tem sido observado, sob condições de operação comercial, que o gradiente de temperatura aumenta, em geral, até a sexta hora de secagem, tendendo à estabilização ou redução com a continuidade do processo. Valores de até 12ºC foram observados em sementes de milho e soja, sem maiores conseqüências à sua qualidade.
   O gradiente de umidade depende da umidade relativa, da temperatura e do fluxo de ar, do teor de água e espessura da massa e da capacidade de transferência de água das sementes para o ar. Inicialmente crescente com o desenvolvimento do processo, o gradiente de umidade tende à redução ao final da operação de secagem, atingindo valores máximos próximos a 4%.
 

O ventilador pode ser considerado o coração de um secador.
      
    A ausência de efeitos prejudiciais à qualidade das sementes, de ambos os gradientes, tem sido atribuída à mistura suficiente das diferentes camadas, decorrente de características próprias do mecanismo de descarga do silo secador, para equalizar a distribuição da temperatura e umidade pela massa.

    Considerações finais
   A dinâmica do processo de secagem com ar aquecido concorre para tornar complexo o seu estudo, pela dificuldade em isolar os efeitos dos fatores envolvidos no processo de secagem, particularmente em condições comerciais, em razão da interação entre eles.
    Embora informações recentes de trabalhos de pesquisa, considerando ciclos de secagem de nove horas, para sementes de milho, e 12 horas para sementes de soja, em silos secadores radiais com espessura da massa de 0,60m, tenham indicado vantagens da elevação do binômio fluxo/temperatura do ar até valores próximos a 24m3.min- 1. t - 1/44ºC e 28m3.min-1.t-1/46ºC, respectivamente, tanto sob o aspecto da física da secagem quanto da manutenção da qualidade fisiológica das sementes, o momento atual ainda não permite definições refinadas da combinação mais adequada de ambos os parâmetros para a realização da secagem nos equipamentos referidos.

 
Autores desta matéria: Dr. Leopoldo Baudet - UFPel, Dr. Francisco A. Villela - UFPel, Dr. Cláudio Cavariani - UNESP – Botucatu.  

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