Fatos e Ficções sobre as Sementes I

Edição III | 03 - Mai . 1999
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Durante este século, a pesquisa tem estabelecido muitas “verdades” sobre a natureza e função das sementes. Apesar da abundância desses “conceitos”, alguns mitos importantes persistem. Ironicamente, algumas das verdades sobre as sementes, aceitas por longo tempo, vêm sendo transformadas em mitos, especialmente em nosso entendimento sobre a parte genética e a sua expressão, no melhoramento das variedades e na tecnologia de produção. Em conseqüência, alguns destes mitos emergem como fatos. Esta situação é normal em outras áreas, como na economia e na psicologia, revelando que há alguma verdade no conteúdo dos mitos, e alguns mitos ou ficções em muitas das verdades. No meu envolvimento em ensino e pesquisa dediquei muito tempo à análise de alguns dos mitos e fui levado a questionar alguns dos fatos sobre as sementes. Gostaria de compartilhar algumas destas experiências neste artigo.
     As sementes pequenas são de qualidade inferior às sementes grandes – Esta frase, muito veemente, é aceita pela grande maioria dos agricultores. Em tempos passados, quando o tamanho da semente de milho foi mais importante na comercialização das sementes do que hoje, as empresas tinham dificuldade para comercializar as sementes pequenas. A situação persistiu, apesar das evidências de que o tamanho das sementes de milho comercializadas não tinham um efeito significativo na produtividade. Em termos econômicos, as sementes pequenas constituem melhor compra que as grandes, pois há um maior número de sementes/peso. A discriminação sobre as sementes pequenas não é só no milho. A variação do tamanho das sementes de soja e outras leguminosas varia entre safras e localidades.
   Todos os anos (antes da minha aposentadoria), e hoje ocasionalmente, eu e meus colegas temos de responder a muitos telefonemas de agricultores questionando o valor de determinada variedade, que segundo eles, é menor que o “normal”. Ao fazer a semeadura, os agricultores têm notado “as sementes mais pequenas” e reclamam, pois pensam que a semente foi mal rotulada ou mal selecionada, e que aquilo que foi empacotado seja parte do refugo que foi separado da boa semente durante a limpeza. Freqüentemente, o agricultor não fica satisfeito com a nossa resposta de que a semente é boa para semear, apesar do tamanho inferior ao normal, e insiste no envio de uma amostra para que a examinemos e testemos, e nós atendemos.
 
    ”O tamanho da semente produzida é determinada pela interação da genética com o ambiente.”
 

    A análise do grau de verdade ou ficção no conceito “as sementes pequenas são inferiores às sementes grandes para semear” impõe que ele seja redefinido em termos menos ambíguos e mais rigorosos, tais como: as sementes pequenas, dentre a população de sementes produzidas por uma variedade, são inferiores no valor de semeadura em relação às sementes grandes dessa população. Esta hipótese foi examinada criticamente para soja, durante as década de 60 e 70, em nosso laboratório, por vários estudantes de Ph. D., tais como o Dr. C. T. Wetzel. Sua pesquisa indicou que há pouco de verdade e muito de ficção nesse conceito. 
    As sementes pequenas dentro da população – que incluem sementes com rugas e obviamente imaturas – são inferiores em qualidade às sementes maiores. O interessante é que as sementes “muito grandes” na população, são também de qualidade inferior. Este fato é acadêmico e de pouco interesse biológico, porque as sementes mais pequenas e enrugadas e de qualidade inferior são eliminadas durante a limpeza, e a percentagem de sementes grandes, de inferior qualidade no lote de sementes, é geralmente tão baixa, que chega a ser insignificante. Há evidências de que a relação entre o tamanho e a qualidade, e o valor de semeadura, válida para a semente de milho, também se aplica para soja. Para outros tipos de sementes, o balanço entre verdade e ficção é grandemente favorável à verdade. A superioridade da semente grande na cultura do amendoim, está bem estabelecida e se reflete no preço, o qual decresce na proporção em que o tamanho decresce. Agricultores tradicionais da Índia, Turquia e outros países produtores de trigo, favorecem as sementes grandes e bem formadas, e gastam muito tempo manuseando as suas sementes para obter uma alta concentração desse tipo de semente.
     Não há dúvida de que o conceito, segundo o qual as sementes pequenas têm baixa qualidade, é uma manifestação tirada do mais básico ponto de vista. Os agricultores não gostam de semear sementes pequenas porque pensam que elas vão gerar sementes pequenas. Sei que isso é o pensamento comum porque tenho gasto muita retórica em cartas e telefonemas, argumentando que o tamanho do grão ou da semente produzida é determinado pela interação genética e ambiental e não pelo tamanho da semente semeada.
   Percebe-se que a relação entre o tamanho da semente e a qualidade é normalmente confundida com a forte e constante relação existente entre densidade da semente e qualidade. A qualidade aumenta, e a densidade também aumenta. Há também uma boa relação entre o tamanho da semente e a densidade: as sementes pequenas numa população são normalmente de menor densidade do que as sementes maiores. Devido a estas relações e interações, não nos deve surpreender que o tamanho das sementes e a densidade sejam confundidos na sua relação, especialmente, com o tamanho e a qualidade. A qualidade mais baixa dentro da população é da semente mais leve dentre as sementes mais pequenas.

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