
Vigor de Sementes
Edição III | 03 - Mai . 1999 O que é vigor de semente? Qual a sua
importância para a agricultura? Estas são as duas perguntas tradicionalmente
feitas por todas as pessoas que se depararam com esse conceito pela primeira
vez.
Para entendermos o conceito de vigor de
sementes, um outro conceito deve ser explicado primeiramente – é o que se
refere à Deterioração da Semente.
Deterioração pode ser sumarizada como sendo a perda da capacidade da semente em
produzir uma plântula normal, isto quer dizer, com raízes e parte aérea bem
desenvolvidas, quando em processo de germinação e emergência. A perda dessa
capacidade é resultante de alterações físicas, fisiológicas e bioquímicas que
ocorrem na semente durante seu ciclo de vida.
Alterações de ordem física estão relacionadas
com a descoloração, o enrugamento e as trincas no tegumento, bem como as
picadas de insetos, quebras e perdas de partes da semente resultantes das
operações de colheita e de seu manuseio, as quais são facilmente observadas
durante uma análise visual. As alterações fisiológicas e bioquímicas são
causadas por condições adversas relativas ao ambiente em que as sementes se
encontram. A temperatura e a umidade relativa do ar são condicionantes
ambientais que basicamente contribuem para alterar o curso do processo de
deterioração, acelerando-o ou retardando- o.
No processo de germinação, as alterações
fisiológicas são facilmente caracterizadas pelo baixo percentual de germinação
das sementes, crescimento lento das plântulas e produção de plântulas anormais.
As alterações bioquímicas estão relacionadas
com o funcionamento dos sistemas enzimáticos envolvidos nos processos de
digestão, mobilização e utilização das reservas da semente para constituir
novos tecidos na plântula em desenvolvimento.
Com as informações básicas e fundamentais
para se conhecer o complexo processo de deterioração que ocorre na semente,
torna- se fácil entender que Vigor é o inverso da Deterioração. Isto é, quanto maior o vigor, menor a
deterioração da semente e vice-versa.
Com base nessa premissa, pode-se conceituar
vigor como sendo: a soma de atributos que confere à semente o potencial para
germinar, emergir e resultar rapidamente em plântulas normais, sob ampla
diversidade de condições ambientais.
Em decorrência da conceituação de vigor,
denota-se a sua importância para a agricultura, que é o rápido e uniforme
estabelecimento da população adequada de plântulas no campo, quando nos
referimos à produção de grãos; e a obtenção de mudas no viveiro, quando nos
referimos à espécies hortícolas, ornamentais, florestais e extrativas.
A qualidade dessas plântulas, quer seja no
campo ou no viveiro, reflete o possível retorno econômico do capital investido
para sua produção. Portanto, vigor é o atributo de qualidade que melhor
expressa o desempenho da semente, no que concerne ao seu ciclo vital de
reprodução e propagação da espécie.
Avaliação
Com base no conhecimento do processo de
deterioração, os testes para avaliar o vigor da semente foram sendo
desenvolvidos através de trabalhos de pesquisa e paulatinamente introduzidos na
rotina de controle de qualidade das sementes.
Uma síntese do processo de deterioração da
semente foi proposta por Delouche e Baskin em 1973, no trabalhomarco que
revelou para o mundo científico da tecnologia de sementes as bases do teste de Envelhecimento Acelerado, sob o título “Accelerated aging techniques for
predicting the relative storability of seed lots”:
·
Semente no estádio de maturação fisiológica
·
Degradação das membranas celulares
·
Redução de atividades respiratórias e
biossintéticas na semente
·
Processo lento de germinação da semente
·
Menor taxa de crescimento e de
desenvolvimento da plântula
·
Menor uniformidade e desempenho
·
Maior sensibilidade a adversidades ambientais
·
Redução da emergência de plântulas no campo
·
Aberrações morfológicas (plântulas anormais)
·
Perda do poder germinativo
·
Morte da semente
A queda do vigor antecede a redução da
germinação. Portanto, sementes com valores percentuais de germinação próximos,
podem apresentar níveis distintos de vigor.
Os testes de vigor têm por finalidade
distinguir os níveis de qualidade fisiológica que as sementes possuem, o que
não é possível detectar no teste de germinação, em virtude de que seu resultado
limita-se apenas ao relato do percentual de plântulas normais, sem estabelecer
critérios de classificação para plântulas normais quanto ao seu
desenvolvimento.
A variação da qualidade da semente se
refletirá durante o período de armazenamento e na época da semeadura, durante a
emergência das plântulas, resultando em desuniformidade na população no campo,
ou mesmo, limitando o seu estabelecimento, ou na qualidade comercial do produto
quanto à sua apresentação no caso de plantas olerícolas.
Os testes de vigor, através de medições
diretas ou indiretas, estimam o comportamento provável da semente, decorrido o
processo de deterioração, ou em função do estado atual da máquina metabólica,
ou de partes constituintes da semente. Além disso, tais testes estimam também
qual o provável desempenho das sementes quando postas para germinar e emergir,
que é a função fundamental que uma semente deve desempenhar para a reprodução
da espécie e produção de alimentos.
Os testes de vigor, em decorrência de suas
características, foram classificados por McDonald, em 1975, no seu trabalho “A
review and evaluation of seed vigor test”, publicado nos Proceedings of the
Association of Official Seed Analysts, da seguinte forma:
1)
testes físicos: avaliam aspectos morfológicos ou características físicas das
sementes, possivelmente associadas com o vigor. Exemplos: tamanho, peso,
densidade e coloração da semente;
2)
testes fisiológicos: avaliam atividade fisiológica específica, cuja
manifestação depende do vigor. Exemplos: classificação do vigor das plântulas
normais no teste de germinação, primeira contagem da germinação, velocidade de
germinação ou de emergência das plântulas, transferência de matéria seca dos
tecidos de reserva para o eixo embrionário, teste de exaustão e comprimento de
plântula;
3)
testes bioquímicos: avaliam alterações no mecanismo metabólico das sementes,
associadas com o seu vigor, tais como: a taxa respiratória, produção de ATP,
teste de tetrazólio, condutividade elétrica, lixiviação de potássio e
descarboxilase do ácido glutâmico;
4)
teste de resistência: avaliam o desempenho das sementes durante o processo de
germinação, após terem sido submetidas às condições ambientais de estresse,
como germinação à baixa temperatura, imersão em água quente ou soluções tóxicas
à semente, envelhecimento acelerado, deterioração controlada e teste de frio.
Os testes de vigor têm sido amplamente
utilizados nos programas de controle de qualidade da semente, permitindo
avaliá-la em cada etapa da produção, fornecendo parâmetros para estabelecer
procedimentos que resultem na produção de sementes de alta qualidade, quer seja
nas operações de pré-colheita, colheita, secagem, beneficiamento,
armazenamento, tratamento e semeadura da semente. Recentemente, seu uso tem
sido intensificado nos programas de melhoramento genético, que visam a obtenção
de genótipos com características de alta qualidade de semente, conferida por
algum atributo fisiológico ou constitucional do tecido, como: baixa taxa de
infecção da semente por fungos, devido à baixa permeabilidade da vagem; baixo
índice de dano mecânico, devido ao elevado teor percentual de lignina do
tegumento.
O Comitê de Vigor da Abrates – Associação
Brasileira de Tecnologia de Sementes, com o apoio de dezesseis profissionais
que atuam como professores e pesquisadores na Área de Sementes, elaborou e
publicou o livro Vigor de Sementes – Conceitos e Testes. O
objetivo primordial dessa obra é oferecer à indústria brasileira de sementes,
às Universidades e aos profissionais que atuam no ensino e na pesquisa em
tecnologia de sementes, as informações básicas e fundamentais sobre o vigor de
sementes, seus recentes avanços em termos de conceituação e os testes mais
convenientes para sua avaliação, atualmente utilizados para as diferentes
espécies.
Nesse livro, são abordados a importância e
utilização dos testes de vigor e as metodologias dos seguintes testes: vigor
baseado no desempenho das plântulas, envelhecimento acelerado, condutividade
elétrica, teste de frio, deterioração controlada, germinação à baixa
temperatura, e teste de tetrazólio para determinação do vigor de sementes das
espécies de algodão, amendoim, feijão, milho e soja. Essa obra vem contribuir
para consolidar o conhecimento e uso desse atributo na avaliação da qualidade
fisiológica da semente.
Francisco Kryzanowsky (Autor do texto, Ph.D.,
pesquisador da Embrapa) considera o vigor como a maior expressão da qualidade
fisiológica da semente.
Para José França Neto (co-autor do texto,
Ph.D., pesquisador da Embrapa) o vigor é uma importante ferramenta das empresas
de sementes.