A uniformidade é uma caraterística essencial das variedades
Não há dúvida de que a uniformidade é um dos três critérios especificados na definição de variedade na certificação de sementes, no controle da comercialização e na aplicação das leis dos direitos do melhorista, na maioria dos países – distinção, uniformidade e estabilidade. Tenho estado muitas vezes ligado, e muitos dos leitores certamente também, nas complexas e longas discussões entre produtores de sementes, inspetores de certificação, melhoristas e outros, acerca de como deve ser a uniformidade para alcançar a definição correta.
Muitas outras discussões podem ser geradas por conceitos similares, porém diferentes, sobre os critérios de uniformidade para uma variedade, tais como: uma boa variedade é uniforme, ou, uniformidade é uma caraterística importante de uma variedade.
Estes conceitos foram totalmente verdadeiros durante a primeira metade do século, quando o conceito de linha pura foi dominante na agricultura. Os melhoristas queriam desenvolver, e os agricultores queriam semear, variedades muito uniformes, linhas puras que produzissem populações de plantas idênticas no campo.
Uma planta “fora de tipo” ou variante, foi óbvia e invariavelmente eliminada na depuração. Um número substancial de plantas “fora de tipo” era considerado como uma forte evidência de plantas voluntárias no campo, ou descuidada mistura de sementes com outras variedades, e o campo era rejeitado para certificação. Contudo, durante os últimos 40 anos, o fato tem sido cada vez menos importante, chegando em alguns casos a constituir uma ficção. Há mais de 20 anos, um melhorista de algodão me disse que tinha cruzado uma variedade para a heterogeneidade, em lugar da homogeneidade, exceto para qualidade de fibra e maturidade. Perto da mesma época, um melhorista de soja insistia que a maioria das variantes da sua nova variedade não tinham conseqüências econômicas, quando eram consideradas as vantagens no rendimento e resistência às doenças, sobre outras variedades do mesmo grupo de maturação. Nas suas próprias palavras, ele disse: “Professor, o que o agricultor precisa são de bons retornos (ingressos) e não de campos de soja bonitos!”. O pessoal da área de Certificação suspendeu temporariamente a comercialização desta variedade, mas a pressão dos agricultores e vendedores resultou no levantamento da ordem.
“A uniformidade deve ser “descritível, previsível, e econômica e comercialmente aceitável”, no lugar de ser estrita e inflexível.”
Os agricultores que semearam a variedade ficaram muito felizes com o seu desempenho e ignoraram as diferenças na altura das plantas, cor da pubescência e até a cor das flores. “Nós tomamos essa variedade junto com o melhorista antes da safra seguinte e revimos os descritores, para permitir 18 variantes diferentes. Repito... 18”.
Para crédito do melhorista, a maioria das variantes foram eliminadas nos 2-3 anos seguintes, através de seleção de linha por planta e depuração da semente básica, de tal forma que no terceiro ano de produção os descritores foram revistos outra vez para eliminar a maioria das variantes. Entretanto, a variedade chegou a ser muito popular entre os sojicultores e foi semeada em vários estados, com excelente retorno econômico.
Legalmente, a uniformidade é um critério essencial para uma variedade, mas em termos de produtividade e produção econômica, sustentabilidade, risco e outros critérios de interesse, uma boa variedade pode ser relativamente desuniforme, em lugar de uniforme. Ou, dito de outra forma, em alguns casos, uniformidade não é um critério importante para uma variedade. Como foi sugerido previamente, é importante considerar a uniformidade em termos relativos, em lugar de considerá-la em termos absolutos – algumas vezes utilizados por inspetores de certificação muito ciumentos. Uma variedade deve ser uniforme em algumas caraterísticas, tais como tempo de maturação e resistência à doenças sérias, mas pode ser muito variável nas caraterísticas que não afetam a produtividade, tais como pubescência, cor, forma ou altura da planta.
Um conceito mais moderno e flexível de uniformidade de uma variedade está nascendo para suplantar o ponto de vista amplamente aceito, mas muito pouco aplicado, de que a diversidade genética é muito desejável nos sistemas de produção, tanto de monocultura como de culturas consorciadas.
O alcance das metas de sustentabilidade nos sistemas de produção e a preservação da diversidade genética requer diversidade de espécies cultivadas nos sistemas, diversidade genética das variedades nas espécies componentes do sistema e diversidade genética dentre as variedades individuais semeadas em monocultura. O critério de uniformidade para uma variedade deve ser interpretado dentro de uma visão liberal, pois essa variação deve ser “descritível, previsível, e econômica e comercialmente aceitável”, no lugar de ser estrita e inflexível.