Germinação das Sementes

Edição III | 05 - Set . 1999
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
    Após definir a cultura que irá implantar em determinada safra, a preocupação seguinte do agricultor será a de escolher a cultivar ou híbrido que melhor se adapte às suas condições de cultivo, para obter o maior retorno econômico. Para que a cultivar ou o híbrido escolhido expressem todo o potencial genético, nele embutido pelo melhorista, dentro das condições de solo, de clima e de tecnologia de produção do agricultor, é necessário empregarse sementes de alta qualidade.
    A alta qualidade das sementes é conseguida como resultado da soma de várias características, de natureza genética, física, fisiológica e sanitária. A manutenção destas características, deve ser a grande preocupação do produtor de sementes, pois em função disto o usuário poderá realmente ter em suas mãos sementes que possibilitarão o ganho esperado, com a cultivar preferida pelo agricultor.
    A qualidade genética, que é aquela própria da cultivar ou do híbrido, é observada pelas características da planta, como a sua altura, o seu ciclo, a cor das flores, a cor dos frutos, a composição química dos grãos, a produtividade, a resistência à doenças, etc. Na realidade, são estas características que fazem com que o agricultor faça a escolha da cultivar ou do híbrido, por proporcionarem melhores resultados em produtividade, rentabilidade econômica e/ou facilidade de comercialização, pela procura do produto pelos consumidores ou utilização na agroindústria. Portanto, na multiplicação de sementes a manutenção destas características é importantíssima para que o produtor possa ver a sua cultura uniforme pela utilização de sementes de alta qualidade genética.
   As características relacionadas à qualidade física, fisiológica e sanitária das sementes são em geral mais facilmente observadas e conhecidas. Assim, a presença de impurezas, de sementes trincadas, de sementes quebradas, de sementes de outras espécies, de sementes chochas (todas relacionadas à qualidade física), de sementes mofadas ou com manchas causadas por fungos (relacionadas à qualidade sanitária) ou a não-germinação das sementes ou a germinação com obtenção de plântulas fracas (relacionadas à qualidade fisiológica) podem ser observadas no simples manuseio das sementes ou pelo insucesso causado pela não-germinação e emergência de plântulas nas semeaduras realizadas pelo agricultor no campo ou na produção de mudas. Outras vezes, estas características indesejáveis podem não estar tão visíveis, somente sendo detectadas por meio da análise de sementes realizada em laboratório. Neste, sob condições controladas e com pessoal treinado, consegue- se avaliar a qualidade com o uso de métodos padronizados.
    A qualidade fisiológica das sementes, avaliada por meio da capacidade germinativa e pelo potencial de vigor, pode ser afetada por vários fatores, incluindo aqueles que caracterizam a qualidade física e sanitária das sementes. Desta maneira, as sementes com qualidade física ou sanitária prejudicada, ou seja, com danos, trin- cas, as mais leves, ou as com fungos, terão o vigor afetado e a germinação às vezes diminuída.
    A capacidade germinativa das sementes, que vem impressa em termos de porcentagem de germinação na sua embalagem, é aquela que foi obtida em laboratório, sob condições controladas de temperatura, de umidade e de aeração. Estas condições, consideradas adequadas, são diferentes de uma cultura para outra. Exemplificando: para o milho, a germinação é melhor em temperaturas mais elevadas (25 – 30oC) do que as de trigo (20oC); sementes de arroz necessitam de umidade maior que as de soja.
   No campo, em semeaduras feitas à profundidade correta, se as condições do solo forem também adequadas, próximas àquelas fornecidas em laboratório no teste de germinação, o valor de porcentagem de emergência de plântulas obtido, será semelhante ao conseguido no laboratório, portanto àquele que consta na sacaria das sementes. Entretanto, nem sempre tem-se as melhores condições para a germinação no campo, porque se a semeadura for realizada logo após as chuvas, a umidade do solo estará adequada, mas a temperatura poderá estar mais baixa. No decorrer da semeadura, se a temperatura se eleva, ficando mais adequada, o teor de água do solo diminui, tornando-se menos adequado. Nestas condições menos favoráveis, irá ocorrer um atraso na germinação, havendo primeiro uma demora na emergência das plântulas, seguida da emergência de plântulas fracas, onde algumas não sobreviverão, ocasionando diminuição na porcentagem de emergência, com diminuição conseqüente no estande da cultura, resultando então em falhas.     Estas falhas de plantas diminuirão o estande ou a população de plantas, com reflexos bastante negativos na produtividade de grãos, bem conhecidos na cultura do milho.
    A demora e a diminuição na porcentagem de germinação e de emergência de plântulas, em condições não adequadas de campo, serão maiores quanto menor for o vigor do lote de sementes. A diferença do vigor, outra característica fisiológica da semente, é melhor observada entre os lotes quando as semeaduras são realizadas em condições não favoráveis, ou seja quando se têm temperaturas não adequadas (altas ou baixas), falta ou excesso de água no solo, semeaduras superficiais ou profundas demais, solos compactados ou com formação de crostas duras de terra após a semeadura, etc. O lote contendo sementes mais vigorosas tem maior chance de germinar e originar plântulas normais em condições menos favoráveis de campo do que o lote menos vigoroso. Os lotes de sementes com altas porcentagens de germinação são mais vigorosos que aqueles que apresentam germinação próxima aos padrões mínimos exigidos pela legislação para a sua produção ou comercialização, principalmente em espécies cujas sementes são mais sensíveis, como as de soja. As empresas produtoras de sementes realizam ou podem realizar análise de sementes visando controlar melhor a qualidade fisiológica de seus lotes através de testes de vigor.
    A pesquisa tem demonstrado que a qualidade fisiológica das sementes é máxima por ocasião da maturidade fisiológica, quando se tem a máxima capacidade germinativa e o máximo potencial de vigor das sementes. Uma vez atingida a maturidade fisiológica, as sementes, como todo o organismo vivo que alcançou o seu ponto máximo, tendem a diminuir a qualidade, por sofrer o fenômeno da deterioração, que em seu início é imperceptível, mas que no decorrer do tempo irá se manifestando de maneira cada vez mais intensa, ocasionando reflexos negativos ao vigor das sementes, que culminarão com a não-germinação, ou seja, a morte das sementes.
    A rapidez com que ocorre a deterioração das sementes após a maturidade fisiológica é função da espécie e da cultivar, e das condições de adversidades sofridas pelas sementes tanto na fase de produção no campo como após colhidas, durante o beneficiamento e o armazenamento. As sementes de soja, em função da estrutura e da composição química, necessitam de maiores cuidados, pois a deterioração delas ocorre de forma mais rápida que as sementes de arroz, milho e trigo, principalmente em condições inadequadas de manuseio e de ambiente.
    A colheita normalmente é realizada bem após a maturidade fisiológica, pois nesta as sementes estão ainda muito úmidas (teor de água de 30 a 50%) e as plantas apresentam ainda folhas verdes. Portanto, quanto mais tempo demorar a realização da colheita, à espera de um teor de água adequado para a operação, mais chances têm as sementes de sofrerem adversidades do ambiente (chuvas, temperaturas elevadas, ataques de insetos e de microorganismos, ...) e, conseqüentemente, de ocorrer a deterioração de forma mais rápida. Isto poderá resultar na necessidade do descarte das sementes por não atingirem o mínimo de germinação exigido pelo padrão de sementes.

    
    Germinador com controle de temperatura e umidade é essencial para o teste de germinação.
 
    As sementes que alcançaram a qualidade necessária, definida pelos padrões de sementes da espécie em questão, uma vez, devidamente embaladas, ficam armazenadas, aguardando o momento de sua utilização para semeadura. Durante esta fase de armazenagem, que pode ser feita pela empresa produtora de sementes, pelo comerciante ou pelo próprio agricultor, as sementes, continuam deteriorando-se, com intensidade maior ou menor, dependendo das condições de armazenamento e das condições do lote de sementes. Assim sendo, quanto maior o período de armazenagem, a perda da qualidade fisiológica será maior. Por outro lado, se as sementes sofrerem adversidades, a ponto de terem o vigor afetado, apresentarão menor capacidade de se conservarem e estarão mais sujeitas à ação do ambiente desfavorável do armazém, que por sua vez irá ocasionar maior deterioração e perda de vigor destas sementes armazenadas.
   Todavia, a queda de qualidade é normalmente desprezível, não chegando a afetar a capacidade de germinação, pois este tempo de armazenagem é de poucos meses. Mas, com certeza, o vigor das sementes continuará diminuindo, porque o processo de deterioração tem prosseguimento.
   Se o período de armazenagem coincide com as estações mais frias e secas do ano, as condições ambientais para a manutenção da qualidade fisiológica são melhores, ao contrário do que ocorre nos períodos quentes e úmidos, quando a deterioração da sementes tende a ser favorecida. A deterioração será ainda maior se ocorrer ataque de pragas ou de microorganismos durante o armazenamento, sendo que este ataque é favorecido por condições de temperatura e umidade relativa elevada.
    Portanto, é importante lembrar que durante toda a vida da semente, desde a sua maturidade fisiológica até o momento de sua utilização para semeadura, ela está sujeita à perda da qualidade fisiológica. Esta perda, como foi visto, será tanto mais rápida quanto mais adversidades ou condições desfavoráveis tenha sofrido, e será maior quanto mais tardar o momento da semeadura, ou seja, quanto mais tempo a semente ficar armazenada. Este comportamento é comum em sementes de todas as espécies e cultivares, mas há diferenças entre estas quanto à rapidez do processo de perda, pois existem aquelas que toleram mais as adversidades e que têm a capacidade de se conservarem por maior período de tempo.

    
    Teste de germinação sobre papel filtro.
  
    Desta forma, para se saber exatamente a condição da qualidade fisiológica de um lote de sementes, em um determinado momento, como por exemplo, por ocasião da semeadura, será necessário realizar a análise das sementes. Usualmente, a qualidade é avaliada pelo teste de germinação, em condições de laboratório, sendo os resultados expressos em termos de porcentagem de germinação. Além do teste de germinação, existem outros testes disponíveis, que procuram avaliar o potencial do vigor das sementes, para melhor caracterizar a sua qualidade fisiológica.
 
 
João Nakagawa, autor desta matéria, é professor na F. C. A. - UNESP/ BOTUCATU – SP.

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