Arquitetura das Sementes

Edição III | 06 - Nov . 1999
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Durante certas palestras entediantes, fico refletindo sobre a arquitetura das sementes e em como a natureza as projetou maravilhosamente. Rabisco desenhos de sementes que poderiam aumentar sua utilidade para os seres humanos. Contudo, meus desenhos geralmente resultam inferiores àqueles da natureza.
     A natureza foi extraordinária com relação ao design das sementes, sendo que assegurar a dispersão e a disseminação parece ter sido a principal característica para seleção do “design”. A segurança na disseminação das sementes, além de aumentar a variação das espécies, também aumenta muito a probabilidade de povoamento de uma área maior.

     Design para disseminação
    As sementes variam de tamanho, desde as quase microscópicas até os imensos cocos. O tamanho pequeno favorece a disseminação pelo vento, enquanto o grande facilita a disseminação pela água. Na realidade, porém, meu gramado é testemunha de que todos os tipos de sementes podem ser disseminados pela água, uma vez que, como a água de drenagem dos terrenos adjacentes passa por ele, meu gramado está sempre infestado pelas plantas invasoras dos vizinhos!
     Minha apreciação da adequação do “design” das sementes para disseminação aumentou quando August Raspet, aerofísico reconhecido internacionalmente, ao saber que eu era botânico pediu-me para revisar um trabalho sobre a aerodinâmica de certa semente alada. Dr. Raspet atribuiu depois alguns dos conceitos incorporados a seus designs de decolagem e aterrissagem de aeronaves a sua análise das sementes aladas.

     Redesign para semeadura
    O algodão é cultivado devido às suas fibras que se prolongam pela epiderme do tegumento da semente. Na natureza, as fibras facilitam a disseminação das sementes, porém os homens logo as reconheceram como um material ideal para tecidos e começaram a cultivar o algodão. Inicialmente, a separação das fibras da semente era feita manualmente, sendo depois inventada a máquina descaroçadora de algodão, a qual, contudo, não remove toda a fibra da semente, permanecendo o línter, que faz com que as sementes se enredem umas nas outras. Elas não se movimentam em um fluxo livre como as de outros tipos de sementes, não podendo ser limpas, processadas e semeadas mecanicamente como estas. Nos anos 50, produtores dos EUA quiseram adotar a semeadura mecanizada para o algodão, tentando diversos métodos, tais como o uso de deslintadores ácidos, para modificar a forma das sementes de modo a deixá-las individualizadas e torná-las de fluxo livre. Desta forma, re-desenhamos a semente de algodão para adaptá- la ao nosso objetivo – cultivo mecanizado. Esta modificação, contudo, é mecânica e realizada após a maturação da semente de algodão, não afetando sua forma natural.
   As sementes de milho também foram redesenhadas e selecionadas para propriedades que são convenientes para nosso uso, como a concentração das sementes em uma espiga, mas que resultaram na perda completa do design natural das sementes para disseminação. Desta forma, alega-se que as espécies conhecidas de milho somente podem sobreviver se forem cultivadas.

     “O homem pode modificar a forma das sementes para efeitos de semeadura, comercialização e armazenamento.”

    Muitas espécies de Poaceae utilizadas como forrageira possuem sementes com apêndices que são importantes para sua dispersão e disseminação mas que tornam extremamente difíceis a colheita, a limpeza, a semeadura e até mesmo a análise em laboratório. Vários métodos têm sido desenvolvidos para re-desenhar as sementes, através da remoção de estruturas acessórias, para deixá-las individualizadas. Isto é necessário para uma ressemeadura eficiente, porém em alguns casos, esta não é tão efetiva como a natural. Uma das espécies de Stipa desenvolveu um mecanismo engenhoso para dispersão e auto-semeadura. A semente tem a forma de um projétil, apresentando uma longa arista higroscopicamente sensível, a qual “movimenta- se” com as flutuações diárias de umidade, em rotações alternadas, fazendo com que a semente perfure e introduza a si mesma para dentro do solo, desta forma auto-semeando- se. Quem trabalha com espécies florestais iria apreciar muito sementes como a Stipa, uma vez que freqüentemente precisam regenerar espécies florestais em áreas inacessíveis. A semeadura aérea é a principal opção para tais áreas, porém as sementes de muitas espécies não são adequadas a este procedimento. Uma alternativa efetiva tem sido usada, na qual a semeadura é realizada em tubos que, quando as plântulas estão desenvolvidas, são jogados de um avião, fazendo com que estas sejam enterradas no solo.
     Comentei acima apenas algumas maneiras pelas quais redesenhamos sementes para adaptá-las à mecanização e melhorar sua semeadura. Existem muitas outras formas pelas quais as sementes estão sendo redesenhadas, tais como o revestimento e o descascamento, com excelentes resultados em termos de melhoria na semeadura, mas com alguns prejuízos na germinação, emergência e potencial de armazenamento. Estes serão discutidos posteriormente, juntamente com alguns dos desenhos que tenho feito durante certos períodos muito longos de tédio. 

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