O Assunto OGM

Edição IV | 03 - Mai . 2000
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Variedades transgênicas ou OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), como são comumente denominadas, estão atualmente entre os assuntos mais discutidos e debatidos, tendo a discussão tornado-se cada vez mais calorosa e irracional.
   Meus comentários sobre as novas sementes, em Sementes do Próximo Milênio, continuam oportunos e mais ou menos definitivos, porém têm havido algumas mudanças nas circunstâncias e participantes da discussão. A Monsanto, provavelmente a maior criadora de transgênicos, concordou na fusão com uma grande companhia farmacêutica suecoamericana. Desde que esta consolidação foi anunciada, tem havido uma considerável especulação no sentido de que a comercialização das variedades transgênicas da Monsanto terá seu ritmo diminuído, e que sua pesquisa em biotecnologia e as atividades de criação e desenvolvimento serão direcionadas para drogas medicinais e produtos vegetais com benefícios específicos para a nutrição e saúde. Observa-se que a validade desta especulação não foi confirmada.
     O cancelamento da oferta da Monsanto para adquirir a Delta and Pine Land Co., companhia de sementes e de melhoramento de algodão, resultou num dos mais importantes fatores em sua decisão de fundir-se com a companhia farmacêutica. A dissolução da “união” antes que ela se concretizasse foi fácil, porém pode tornar-se cara, uma vez que a Delta iniciou um processo de cerca de um bilhão de dólares contra a Monsanto.
     O aspecto mais interessante da dissolução da fusão entre a Monsanto e a Delta é o destino do muito discutido sistema genético terminator para proteger a propriedade da tecnologia que impediria os agricultores de guardar as sementes. Antes da Monsanto retirar sua oferta de aquisição da Delta, foi anunciada a decisão de cancelar planos para comercializar a tecnologia do terminator. Esta tecnologia foi desenvolvida pelo Departamento de Agricultura dos EUA e pela Delta and Pine Land, que, conjuntamente, possuem a patente. A retirada da Monsanto da união com a Delta, portanto, torna seu anúncio para renunciar à tecnologia do terminator, da qual ela não tem o controle, essencialmente sem sentido. Não estou informado das presentes intenções da Delta e do Departamento de Agriculturados EUA, porém dada a reação mundial contra a tecnologia do terminator, acredito que eles irão suspender os planos para a sua comercialização. Estes eventos, contudo, não vão significar uma moratória no desenvolvimento de tecnologia de sistemas de proteção. A abordagem mais provável é o desenvolvimento de sistemas que irão resultar na inativação da caracter transgênico, como por exemplo, resistência a herbicida, sem perda de viabilidade das sementes produzidas. Este tipo de abordagem seria justo e deve ser aceito por todas as partes.   
 
    “Não poderíamos alimentar a população de hoje com a agricultura de ontem, e não poderemos alimentar a população de amanhã com a agricultura de hoje.”

   Neste meio tempo, aquisições e fusões nas indústrias químicas e biotecnológicas continuam, ainda que a situação a curto prazo dos produtos de OGMs não esteja clara. A Companhia ADM, processadora de alimentos, declarou sua intenção de manter separados produtos alimentícios transgênicos e não transgênicos, com a implicação de que haverá um prêmio para produtos não-GM. A Frito-Lay Co., processadora de produtos para consumo baseados em grãos e batata, anunciou que não estaria adquirindo ou utilizando produto de variedades transgênicas. Estes anúncios estão causando muitas considerações por parte dos produtores que tentam decifrar seus efeitos em termos de arranjos para armazenamento em separado, preços, e assim por diante. Isto é muito estressante para os agricultores americanos que são atualmente confrontados com outros problemas sérios, como o da prolongada seca.
     Parece não haver quase dúvida de que será exigida a rotulagem para ingredientes alimentícios produzidos a partir de OGMs, como já é o caso na União Européia e outros países. Enquanto a decisão não é tomada, parece improvável que os EUA continue a discordar da rotulagem para produtos OGMs. Espero que possam ser logo concluídos acordos com relação aos OGMs, acordos estes que sejam racionais, fundamentados na ciência, e que levem em consideração os receios e necessidades das pessoas. Devemos ter em mente as palavras de Sir Robert May, na AGBIOT’ECH 99, em Londres, “Não poderíamos alimentar a população de hoje com a agricultura de ontem, e não poderemos alimentar a população de amanhã com a agricultura de hoje”. Não resta dúvida de que a biotecnologia e os OGMs, com as apropriadas salvaguardas, representarão uma parte significativa da agricultura de amanhã.
     Existem, é claro, preocupações outras, além da segurança do consumo de produtos com relação ao uso de variedades transgênicas. Mais cedo ou mais tarde, os tipos de arroz vermelho selvagens, por exemplo, vão cruzar com variedades resistentes a herbicidas e algumas invasoras de controle muito difícil vão surgir a partir dos híbridos gerados por estes cruzamentos. Esta possibilidade, assim como os efeitos potenciais das “super” invasoras, insetos e doenças devem ser levados em conta e adequadamente analisados para qualquer resolução satisfatória da presente controvérsia.  
 
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