Evolução das sementes

Edição IV | 06 - Nov . 2000
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Nesta era de genética recombinante e variedades transgênicas, parece fora de moda falar (ou escrever) sobre os caracteres evolutivos das sementes em termos de Darwinismo clássico, o qual lida com adaptação e sobrevivência. As sementes mostram muitos caracteres notáveis que contribuem para a sobrevivência e disseminação de suas espécies. Exemplos disso são as expansões aladas das sementes de Ulmus spp. e o “paraquedas” das sementes de Taraxacum officinale que auxiliam na disseminação das espécies e, assim, contribuem para sua sobrevivência. A dormência de sementes distribui a germinação no tempo, aumentando a probabilidade de que algumas plântulas encontrem condições favoráveis para sobrevivência das espécies.                         
     Existem alguns caracteres evolutivos das sementes muito importantes, que são geralmente desprezados ou mal entendidos. Realmente, estes caracteres poderiam ser colocados dentro da categoria de “fatos e ficção sobre sementes” devido a que muitas das percepções sobre eles são “ficção”. Para meus propósitos neste ensaio, estes caracteres podem ser introduzidos em forma de uma pergunta.  
   
    As condições ambientais afetam a qualidade das sementes produzidas?       
  A resposta evolutiva a esta pergunta é não, porém com várias ressalvas. As plantas têm a notável capacidade de ajustar sua produção de sementes, ao nível de recursos disponíveis para seu crescimento, desenvolvimento e reprodução. Plantas que se desenvolvem em solos não férteis ou sob temperatura subótima, ou ainda sob deficiência de umidade, ajustam-se a estas condições não favoráveis através da redução do número de sementes por planta e não por meio da redução na qualidade das mesmas. Em termos de sobrevivência, é aparentemente mais vantajoso produzir uma menor quantidade de sementes de boa qualidade do que muitas sementes de qualidade inferior.    

     “O número de sementes por planta é um importante componente do rendimento, juntamente com o número de plantas por unidade de área.”    

    Desta forma, a produção em termos de quantidade é menor, mas sua qualidade é boa.                       
   Quando eu lecionava, costumava colocar esta questão para meus alunos. Cerca de metade destes respondia não. Muitos dos outros alunos que respondiam sim a esta pergunta justificavam sua resposta com algumas das muitas ressalvas mencionadas no início. “E as condições de seca que causam pré-maturação e término do enchimento da semente e resultam em sementes enrugadas, imaturas?”, alguns alunos poderiam perguntar.     “As sementes enrugadas, imaturas, não são de qualidade baixa?” Sim, elas são. Eu tinha então que discutir os diferentes efeitos de deficiências crônicas e agudas. Deficiências crônicas resultam em menor número de flores e menor número de sementes estabelecidas, reduzindo, portanto, o número de sementes. Contudo, quando alguma deficiência, tal como uma temperatura muita baixa ou muito alta, ou, ainda, seca, ocorre após o número de sementes ser estabelecido, a planta pode somente responder continuando com o enchimento das sementes, a partir de uma fonte adequada, com muito enrugamento destas, ou mesmo com o aborto de algumas sementes. Se a resposta é o aborto de sementes, então as sementes que permanecem geralmente amadurecem adequadamente e são de boa qualidade.                     
     Outros alunos referiam-se ao fato de que chuvas freqüentes e temperaturas altas antes da colheita causam a deterioração a campo das sementes. Isto é verdade, mas a deterioração a campo é principalmente um evento de pós-maturação. Após a maturação, as sementes são, na realidade, armazenadas no campo, de forma que a deterioração a campo não é considerada como um efeito do ambiente sobre a qualidade das sementes no sentido evolutivo. Outros caracteres de sobrevivência assumem o controle após a maturação, tais como a “dureza”, isto é, impermeabilidade da cobertura da semente à água, ou algum outro mecanismo de dormência.                            
   Alguns poucos alunos geralmente referiam-se ao fato de que, se as condições ambientais não afetam a qualidade das sementes produzidas, por que então determinado professor enfatizava a importância de selecionar- se os campos mais produtivos como condição necessária para a produção de sementes. Esta situação não é um paradoxo. Existem boas razões para que se produzam sementes nas melhores terras. Produzir sementes em 50 hectares, em vez de em 100 hectares, reduz em 50% o trabalho de inspeção, o roguing, e outras atividades no campo, além de reduzir o trabalho de colheita. Há também muito menos riscos associados com a produção sob condições próximas às ótimas.                           
     No próximo ensaio, será discutida uma outra questão relacionada a este assunto: “A qualidade das sementes utilizadas afeta a qualidade das sementes produzidas?”.
 
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