A Chave é a Cultivar
Escolhendo o Milho / Algodão - Manejo e Variedades
Edição IV | 06 - Nov . 2000 Em todas as agências
estaduais de certificação de sementes que visitei nos Estados Unidos, vi,
sempre de forma destacada, um poster com a seguinte frase: A chave é a
cultivar, Em outro cartaz, invariavelmente ao lado, destaque para a semente
certificada: observe a embalagem, veja o selo (lacre) e a etiqueta. A mensagem das
agências certificadoras sempre foi a de que o consumidor, ao observar uma
embalagem de semente certificada – etiqueta roxa (registrada) ou azul
(certificada), primeira ou segunda geração da básica – estaria diante de
semente de uma variedade (cultivar) superior, produzida dentro de um sistema
com rígido controle de gerações. Cultivar esta, cuidadosamente escolhida para o
sistema por um colegiado superior, altamente capacitado. A genética em primeiro
lugar, a qualidade intrínseca da semente valorizada de forma especial e
fundamental para a agricultura. Outras qualidades inerentes e extrínsecas à
semente eram também destacadas, porém não da mesma forma. Afinal, para
enfrentar a concorrência, nas mesmas condições e padrões, somente através de
uma cultivar superior, de elite, como hoje se diz.
Em síntese, o que, através
de décadas, a Associação das Agências Oficiais de Certificação de Sementes dos
Estados Unidos (AOSCA), formada pelas agências estaduais e que congrega também
as agências certificadoras do Canadá e México, destacou e evidenciou aos
agricultores é que certificada é sempre semente de uma cultivar superior às
demais e com todas as outras características de qualidade oferecidas por aquelas.
Se a semente certificada apresenta maior custo que a semente comercial, devido
às taxas cobradas pelo sistema (inscrição, inspeções, amostragem e análise,
etiquetas e certificado de garantia), há necessidade de apresentar vantagem comparativa:
melhor variedade e, conseqüentemente, melhor qualidade e maior produtividade.
Aqui, a certificação de
sementes escolheu outro caminho, a começar pela taxa exigida pela produção de semente
certificada: semelhante a da semente fiscalizada (comercial). Isto é, a
prestação de serviço na certificação é subsidiada. Os produtores e consumidores
de semente fiscalizada pagam a conta. Apoio oficial ao sistema. Com relação às
cultivares, a grande diferença. Apesar do que está previsto na legislação, as
cultivares não são eleitas para o sistema de certificação, levando-se em conta,
inclusive, o interesse do Estado; são aceitas todas as cultivares indicadas pelos
obtentores vegetais, desde que haja semente de classe anterior. Isto é, a
cultivar não é considerada e valorizada como a chave do sistema, diferentemente
da AOSCA.
Ainda com relação à cultivar
e devido a ela, apesar de alertados, muitos produtores estão deixando ou irão
deixar a atividade. Não estavam convencidos de que a cultivar é a chave do
sistema. Alertados, não se dispuseram a ingressar no melhoramento genético. Nem
se articularam com obtentores vegetais privados e vão apostar nas cultivares de
instituições públicas, concorrendo em licitações com outros colegas. A
tendência é a diminuição do número de produtores de sementes daquelas espécies
protegidas, na proporção em que as cultivares não protegidas saírem de
recomendação. Agora, vários produtores irão reunir- se em fundações, consórcios
ou implementar empresas de melhoramento genético, o que irá aumentar a
concorrência. Alguns produtores, no entanto, estão ligados ainda a mais de um
obtentor de cultivares, porque foram valorizados por estes ou por acreditarem
que sem a fonte da cultivar vão deixar de existir como sementeiros.
Em função da lei de proteção
de cultivares, as empresas de melhoramento genético vão partir para aumentar sua
participação no mercado, faturar mais e aumentar seu conceito ante o cenário do
agronegócio e fora dele. Produtores de Sementes e Obtentores Vegetais deverão
estar cada vez mais associados, articulados e formando parcerias fortes. A busca
de maior fatia de mercado através de estratégias de marketing, será uma
constante. Eficiência e prestígio estarão em jogo. Afinal, a cultivar é a chave
dos sistemas de produção de sementes e dará sustentabilidade às pesquisas para
outras tecnologias, se for o caso, exceção feita às empresas públicas.
Portanto, em produção e comercialização de sementes a palavra-chave é e continuará
sendo: cultivar.
ESCOLHENDO O MILHO
A baixa produtividade de
grãos de milho, obtida no Brasil e no Rio Grande do Sul, deve-se a limitações no
manejo da cultura e a fatores ambientais, e não ao baixo potencial de
rendimento de grãos das variedades indicadas para cultivo. A indicação de
cultivares de milho é realizada após avaliações efetuadas em experimentos
conduzidos nas diversas regiões produtoras. No estado do Rio Grande do Sul, na
safra 2000/ 2001, foram indicadas para cultivo 136 cultivares, das quais 115
são híbridos, 15 são variedades melhoradas e seis são milhos especiais. Portanto,
o produtor de milho dispõe de uma série de genótipos para implantação da
lavoura. A escolha de uma ou mais cultivares para semeadura vai depender de
alguns fatores, como os relacionados abaixo:
Nível de tecnologia a ser
adotado
De acordo com o grau de
melhoramento genético, dois grupos de cultivares de milho são disponíveis para
os agricultores: híbridos e variedades. Em áreas tecnificadas, com uso adequado
de insumos (adubos, herbicidas, inseticidas, irrigação, etc), onde se espera
obter rendimentos de grãos elevados, a utilização de híbridos tem dado maiores respostas.
O maior potencial de rendimento de grãos dos híbridos deve-se ao chamado vigor
híbrido ou efeito de heterose que se manifesta na geração F1. O vigor híbrido é
determinado ao se cruzar duas ou mais linhagens onde grande quantidade de genes
permanece em heterozigose. Na geração seguinte (F2) ocorre segregação gênica,
com muitas plantas podendo ser portadoras de genes desfavoráveis recessivos na condição
homozigótica. Desta forma, para pleno uso do vigor híbrido, recomenda-se a
aquisição de se- mente a cada ano de cultivo. A redução do potencial de
produtividade de plantas da segunda geração em relação à da primeira é de 10 a 15%.
Os híbridos de milho podem
ser simples, duplos, simples modificados, triplos e triplos modificados. Os processos
de obtenção dos diferentes tipos de híbridos encontram-se descritos em matéria
publicada na Revista SEEDNews, ano IV, n.º 5. Dos 115 híbridos indicados para
cultivo no estado do Rio Grande do Sul, na safra 2000/2001, 27 são simples, sete
simples modificados, 33 duplos, 47 triplos e um é triplo modificado. Na escolha
do tipo de híbrido a ser utilizado deve-se levar em consideração o nível de
tecnologia a ser adotado. Os híbridos simples e simples modificados, por terem
base genética mais estreita, são mais sensíveis às condições ambientais e
expressam melhor seu potencial à medida que se melhoram as condições de
ambiente.
As variedades melhoradas de
milho resultam de algumas técnicas de melhoramento que não conduzem ao estado
de homozigose. Diferentemente dos híbridos, as variedades não se baseiam na
utilização da heterose para atingir seu potencial de rendimento de grãos. No
entanto, apresentam maior potencial de rendimento de grãos e uniformidade de planta
em relação às variedades comuns de polinização aberta. Quando comparadas com os
híbridos, têm menor potencial de rendimento de grãos e menor uniformidade de
planta, mas são mais estáveis sob condições desfavoráveis de ambiente. As
sementes das variedades melhoradas podem ser usadas por dois a três anos sem
redução significativa do potencial de rendimento, dispensando, portanto, a
aquisição anual.
Independentemente do nível
de tecnologia a ser adotado, a escolha da cultivar de milho vai depender também
do tamanho da área cultivada. Em lavouras de tamanho médio ou grande, deve-se
recomendar o uso de mais de uma cultivar, com características de planta e de
ciclo distintas.
Região de cultivo, época
de semeadura e sistemas de cultivo
As cultivares de milho indicadas
para cultivo no Rio Grande do Sul podem apresentar ciclo superprecoce, precoce
ou normal. A maior diferença de ciclo entre elas verifica-se no subperíodo emergência
ao florescimento. Em regiões mais frias, o ciclo das cultivares se alonga
devido à ocorrência de temperatura de ar mais baixa. Nessa condição, deve-se
indicar o uso de cultivares superprecoces e precoces em relação às de ciclo
normal.
Na semeadura do cedo
(agosto/ setembro), as cultivares de ciclo superprecoce e precoce são mais
adequadas por tolerarem temperaturas de solo mais baixas que as de ciclo normal
durante o subperíodo semeadura- emergência. Do mesmo modo, na semeadura do
tarde (de zembro/janeiro) deve-se dar preferência à utilização de cultivares
precoces ou superprecoces como estratégia de escape de ocorrência de geadas precoces
no outono, que interrompem o processo de enchimento de grãos.
Em áreas de várzea, em
sistemas de rotação com arroz irrigado, devese considerar na escolha das
cultivares, aspectos como tolerância ao acamamento e quebramento, colmos vigorosos,
baixa estatura e baixa inserção de espiga. De modo geral, as cultivares
superprecoces e precoces têm dado melhores resultados nessas áreas. Para essas
condições, são indicadas 24 cultivares de milho para a safra 2000/2001.
Quando o milho participa
como primeira cultura de um sistema de sucessão, deve-se utilizar cultivares precoces
ou superprecoces para reduzir seu ciclo de desenvolvimento e, conseqüentemente,
não retardar muito a época de semeadura da cultura em sucessão. As sucessões
milho e feijão do tarde e milho e batata de safrinha constituem-se em exemplos
de sistemas em que é recomendado o uso de cultivares de milho de ciclo mais
curto.
Objetivo do cultivo
A escolha da cultivar de
milho vai depender do objetivo da produção, se para grãos ou para silagem. Para
silagem, as cultivares superprecoces e precoces produzem um produto de melhor
qualidade devido à maior proporção de grãos na planta. As cultivares de ciclo
normal, por apresentarem maior estatura de planta e maior produção de massa
verde, originam maior volume de produção, porém com menor qualidade.
O tipo e a distribuição do
endosperma influenciam as características dos grãos de milho e, em conseqüência,
a sua forma de utilização. O grão de milho é composto por dois tipos de
endosperma: endosperma córneo, duro ou vítreo, formado por grande número de
grãos de amido pequenos e poligonais, e endosperma mole ou farináceo, composto
por grãos de amido maiores e arredondados. Conforme o tipo e a distribuição de
endosperma nos grãos, as cultivares podem ser classificadas nos seguintes
grupos:
·
Duro - por ser composto principalmente por endosperma córneo ou
vítreo, este tipo de grão apresenta melhores condições de armazenamento e
germinação.
· Pipoca - também pode ser considerado um milho duro, diferindo apenas
pelo fato de que os grãos são bem menores que os do milho duro comum. Para a
safra 2000/2001, são indicadas três cultivares de milho pipoca.
· Dentado - as laterais dos grãos são compostas por endosperma
duro, enquanto o centro é formado por endosperma mole. Pelo fato do endosperma
mole contrair-se mais que o duro durante o processo de perda de umidade, há formação
de uma depressão na parte superior do grão, semelhante a um alvéolo dental. As
cultivares diferenciam- se quanto ao grau de dentamento do grão. A maior parte
apresenta grãos semiduros ou semidentados. Os grãos dentados são mais moles e
de fácil trituração, sendo mais indicados para fornecimento “in natura” aos
animais. No entanto, eles requerem maior cuidado no armazenamento que os grãos
mais duros.
· Doce - um gene específico previne ou retarda a conversão normal do
açúcar em amido durante o desenvolvimento do endosperma. Devido a este
processo, os grãos de milho doce apresentam-se enrugados na maturação. Este
tipo de milho é cultivado principalmente para consumo humano no estado de grãos
leitosos. O cultivo de milho doce apresenta duas grandes restrições: baixa
produtividade de grãos, devido ao baixo vigor de planta, e elevada incidência
de pragas. A sua grande vantagem em relação ao milho comum está na maior
qualidade para consumo, devido ao maior teor de açúcar dos grãos e ao maior
tempo de duração da espiga em condições de consumo após colheita.
Além do tipo e da
distribuição do endosperma, a cor e a qualidade dos grãos de milho são
características que devem ser levadas em consideração na escolha da cultivar. A
maioria das cultivares de milho apresenta grãos com coloração amarela, amarelo-alaranjada,
vermelho-alaranjada e alaranjada. No entanto, há três cultivares indicadas para
cultivo que tem pericarpo e endosperma com coloração branca. A vantagem desta
característica é possibilitar a mistura da farinha de milho à de trigo, dentro
de certos limites, sem alterar a cor da farinha de trigo. Esta característica é
importante na comercialização desse produto. Com relação à qualidade nutritiva
dos grãos de milho, são disponíveis para cultivo na safra 2000/2001 duas cultivares
que têm em média 0,5% mais óleo e com proteína de qualidade superior, com maior
teor de aminoácidos essenciais, especialmente lisina e triptofano, e de
vitaminas. Essas cultivares são especialmente indicadas na alimentação infantil
e recuperação de desnutridos e na alimentação de peixes, suínos, aves e
eqüinos, entre outros.
Estes são os principais
critérios que devem nortear o produtor na escolha de cultivares de milho para uma
determinada região e sistema de cultivo. Além disto, o produtor tem que
considerar as características de clima e solo de sua região e a intensidade de
uso de outros insumos, como fertilizantes e defensivos.
ALGODÃO - MANEJO e VARIEDADES
Eng. Agr. Rodrigo Stechow,
autor desta matéria, é responsável técnico por campos de produção de algodão.
O algodão representa uma
alternativa excelente para rotação de culturas com soja, sendo uma opção
economicamente viável em anos de soja com preços baixos. É uma cultura que
possibilita um incremento de renda para as pessoas envolvidas com o meio rural,
pois é necessário um investimento no mínimo cinco vezes maior por hectare do
que o investimento no cultivo de um ha de soja ou milho, e possibilita que
desde o trabalhador braçal (capina manual) até o engenheiro agrônomo mais
qualificado tenham seu papel no desenvolvimento da cultura. Tendo em vista
estes fatores, considera-se a cultura do algodão uma cultura “social”.
Relação custo-benefício do manejo diferenciado de uma variedade
resistente em relação a uma suscetível à virose.
Além disso, é uma cultura
que possibilita maiores investimentos em insumos corretivos de solo, como
calcário e adubos químicos, aumentando a “poupança” do agricultor, que é seu
solo corrigido adequadamente, principalmente em solos de cerrado, que
necessitam de altas doses de fertilizantes para tornaremse produtivos.
Algodão em Campo Verde
Atualmente, Campo Verde é o
município com a maior área plantada de algodão no estado de Mato Grosso. Na
safra 99/2000, foram 33.000 ha e, para a safra 2000/ 2001, é prevista uma área
de aproximadamente 55.000 ha, sendo que a área total de lavouras cultivadas no
município, entre soja, arroz, milho, sorgo e algodão é de 130.000 ha.
A variedade de algodão mais
utilizada na região (ITA–90/Fundação MT) é suscetível às viroses transmitidas
pelo pulgão, necessitando mais aplicações de inseticidas, porém possui um
elevado potencial produtivo.
A segunda variedade mais
utilizada (DeltaOpal) é resistente às viroses transmitidas pelo pulgão, não
necessitando tantas aplicações de inseticidas. É uma variedade que está
crescendo na região, pois se obteve boas produtividades, rendimentos de fibra
superiores e qualidade de fibra excelente. Considerando a relação
custo-benefício, se esta variedade for bem manejada, possibilita um lucro
líquido 10% superior às variedades suscetíveis à virose. O “gargalo” desta
variedade é o manejo, que deve ser conduzido racionalmente com o “MIP” (Manejo
Integrado de Pragas), pois, caso contrário, ela perderá a sua finalidade
principal que é possibilitar o menor uso de inseticidas, aumentando a receita
líquida da atividade.
O manejo integrado têm sido
uma boa ferramenta de condução da cultura de algodão e seu uso tem aumentado
por ser seguro e ter relação custo/benefício satisfatória, além de contribuir
para a manutenção e sustentação de novas e antigas tecnologias. Os programas de
controle de pragas do algodoeiro visam altas produtividades e colheitas
precoces. Entre as medidas indiretas de controle, temos a seleção de variedades
resistentes ou tolerantes a pragas, patógenos ou plantas daninhas; ou a
diversificação de variedades.
Produção
A rentabilidade da atividade
de produção de algodão está baseada em aspectos de custos de produção, genética
(variedades), agronomia, ambiente e de beneficiamento da fibra, onde controle
de pragas tem como objetivo básico garantir produtividades rentáveis.
A maioria dos produtores da
região de Campo Verde utiliza o “cultivo mínimo”, usando como cobertura de solo
a cultura do milheto para posterior dessecação e plantio direto. Com relação à
colheita e beneficiamento, o município conta hoje com 18 usinas de
beneficiamento de algodão (algodoeiras), com máquinas modernas e eficientes,
sendo que deverão surgir mais algumas este ano para suprir a demanda originada
pelo aumento da área cultivada.
O custo de produção é
bastante variável e muda conforme o manejo e administração de cada propriedade,
mas, como regra geral, pode-se dizer que o custo de produção por hectare, para
variedades resistentes a viroses, fica em torno de US$ 1.200.
Quanto à produtividade, a
região de Campo Verde é privilegiada, obtendo- se médias de 4.050kg até
4.950kg/ha. Outro diferencial desta região é a qualidade da fibra. Segundo
classificadores experientes, sua fibra é a de melhor qualidade do estado de
Mato Grosso, talvez pelas condições climáticas, com clima sempre ameno,
predominando baixas temperaturas e lavouras com altitudes variando de 750 a 900
metros.
A disponibilidade de
diversas variedades para o produtor faz parte da evolução da produção de
algodão no Brasil. Resolvem-se velhos problemas e surgem outros que antes eram
secundários. Estes problemas exigem novas informações e mudanças na condução
dessas novas variedades, mantendo vivo o dinamismo da agricultura. O anseio por
variedades regionalizadas, que atendam necessidades específicas dos diferentes
agricultores, faz com que se valorize cada vez mais a informação.