A Chave é a Cultivar

Escolhendo o Milho / Algodão - Manejo e Variedades

Edição IV | 06 - Nov . 2000
Antonio Eduardo Loureiro da Silva-diretoria@apassul.com.br
    Em todas as agências estaduais de certificação de sementes que visitei nos Estados Unidos, vi, sempre de forma destacada, um poster com a seguinte frase: A chave é a cultivar, Em outro cartaz, invariavelmente ao lado, destaque para a semente certificada: observe a embalagem, veja o selo (lacre) e a etiqueta. A mensagem das agências certificadoras sempre foi a de que o consumidor, ao observar uma embalagem de semente certificada – etiqueta roxa (registrada) ou azul (certificada), primeira ou segunda geração da básica – estaria diante de semente de uma variedade (cultivar) superior, produzida dentro de um sistema com rígido controle de gerações. Cultivar esta, cuidadosamente escolhida para o sistema por um colegiado superior, altamente capacitado. A genética em primeiro lugar, a qualidade intrínseca da semente valorizada de forma especial e fundamental para a agricultura. Outras qualidades inerentes e extrínsecas à semente eram também destacadas, porém não da mesma forma. Afinal, para enfrentar a concorrência, nas mesmas condições e padrões, somente através de uma cultivar superior, de elite, como hoje se diz.             
   Em síntese, o que, através de décadas, a Associação das Agências Oficiais de Certificação de Sementes dos Estados Unidos (AOSCA), formada pelas agências estaduais e que congrega também as agências certificadoras do Canadá e México, destacou e evidenciou aos agricultores é que certificada é sempre semente de uma cultivar superior às demais e com todas as outras características de qualidade oferecidas por aquelas. Se a semente certificada apresenta maior custo que a semente comercial, devido às taxas cobradas pelo sistema (inscrição, inspeções, amostragem e análise, etiquetas e certificado de garantia), há necessidade de apresentar vantagem comparativa: melhor variedade e, conseqüentemente, melhor qualidade e maior produtividade.                    
   Aqui, a certificação de sementes escolheu outro caminho, a começar pela taxa exigida pela produção de semente certificada: semelhante a da semente fiscalizada (comercial). Isto é, a prestação de serviço na certificação é subsidiada. Os produtores e consumidores de semente fiscalizada pagam a conta. Apoio oficial ao sistema. Com relação às cultivares, a grande diferença. Apesar do que está previsto na legislação, as cultivares não são eleitas para o sistema de certificação, levando-se em conta, inclusive, o interesse do Estado; são aceitas todas as cultivares indicadas pelos obtentores vegetais, desde que haja semente de classe anterior. Isto é, a cultivar não é considerada e valorizada como a chave do sistema, diferentemente da AOSCA.              
   Ainda com relação à cultivar e devido a ela, apesar de alertados, muitos produtores estão deixando ou irão deixar a atividade. Não estavam convencidos de que a cultivar é a chave do sistema. Alertados, não se dispuseram a ingressar no melhoramento genético. Nem se articularam com obtentores vegetais privados e vão apostar nas cultivares de instituições públicas, concorrendo em licitações com outros colegas. A tendência é a diminuição do número de produtores de sementes daquelas espécies protegidas, na proporção em que as cultivares não protegidas saírem de recomendação. Agora, vários produtores irão reunir- se em fundações, consórcios ou implementar empresas de melhoramento genético, o que irá aumentar a concorrência. Alguns produtores, no entanto, estão ligados ainda a mais de um obtentor de cultivares, porque foram valorizados por estes ou por acreditarem que sem a fonte da cultivar vão deixar de existir como sementeiros.                               
    Em função da lei de proteção de cultivares, as empresas de melhoramento genético vão partir para aumentar sua participação no mercado, faturar mais e aumentar seu conceito ante o cenário do agronegócio e fora dele. Produtores de Sementes e Obtentores Vegetais deverão estar cada vez mais associados, articulados e formando parcerias fortes. A busca de maior fatia de mercado através de estratégias de marketing, será uma constante. Eficiência e prestígio estarão em jogo. Afinal, a cultivar é a chave dos sistemas de produção de sementes e dará sustentabilidade às pesquisas para outras tecnologias, se for o caso, exceção feita às empresas públicas. Portanto, em produção e comercialização de sementes a palavra-chave é e continuará sendo: cultivar.     

 
    ESCOLHENDO O MILHO   
 
 
    A baixa produtividade de grãos de milho, obtida no Brasil e no Rio Grande do Sul, deve-se a limitações no manejo da cultura e a fatores ambientais, e não ao baixo potencial de rendimento de grãos das variedades indicadas para cultivo. A indicação de cultivares de milho é realizada após avaliações efetuadas em experimentos conduzidos nas diversas regiões produtoras. No estado do Rio Grande do Sul, na safra 2000/ 2001, foram indicadas para cultivo 136 cultivares, das quais 115 são híbridos, 15 são variedades melhoradas e seis são milhos especiais. Portanto, o produtor de milho dispõe de uma série de genótipos para implantação da lavoura. A escolha de uma ou mais cultivares para semeadura vai depender de alguns fatores, como os relacionados abaixo:   
      
    Nível de tecnologia a ser adotado    
   De acordo com o grau de melhoramento genético, dois grupos de cultivares de milho são disponíveis para os agricultores: híbridos e variedades. Em áreas tecnificadas, com uso adequado de insumos (adubos, herbicidas, inseticidas, irrigação, etc), onde se espera obter rendimentos de grãos elevados, a utilização de híbridos tem dado maiores respostas. O maior potencial de rendimento de grãos dos híbridos deve-se ao chamado vigor híbrido ou efeito de heterose que se manifesta na geração F1. O vigor híbrido é determinado ao se cruzar duas ou mais linhagens onde grande quantidade de genes permanece em heterozigose. Na geração seguinte (F2) ocorre segregação gênica, com muitas plantas podendo ser portadoras de genes desfavoráveis recessivos na condição homozigótica. Desta forma, para pleno uso do vigor híbrido, recomenda-se a aquisição de se- mente a cada ano de cultivo. A redução do potencial de produtividade de plantas da segunda geração em relação à da primeira é de 10 a 15%.                             
    Os híbridos de milho podem ser simples, duplos, simples modificados, triplos e triplos modificados. Os processos de obtenção dos diferentes tipos de híbridos encontram-se descritos em matéria publicada na Revista SEEDNews, ano IV, n.º 5. Dos 115 híbridos indicados para cultivo no estado do Rio Grande do Sul, na safra 2000/2001, 27 são simples, sete simples modificados, 33 duplos, 47 triplos e um é triplo modificado. Na escolha do tipo de híbrido a ser utilizado deve-se levar em consideração o nível de tecnologia a ser adotado. Os híbridos simples e simples modificados, por terem base genética mais estreita, são mais sensíveis às condições ambientais e expressam melhor seu potencial à medida que se melhoram as condições de ambiente.                    
   As variedades melhoradas de milho resultam de algumas técnicas de melhoramento que não conduzem ao estado de homozigose. Diferentemente dos híbridos, as variedades não se baseiam na utilização da heterose para atingir seu potencial de rendimento de grãos. No entanto, apresentam maior potencial de rendimento de grãos e uniformidade de planta em relação às variedades comuns de polinização aberta. Quando comparadas com os híbridos, têm menor potencial de rendimento de grãos e menor uniformidade de planta, mas são mais estáveis sob condições desfavoráveis de ambiente. As sementes das variedades melhoradas podem ser usadas por dois a três anos sem redução significativa do potencial de rendimento, dispensando, portanto, a aquisição anual.                 
    Independentemente do nível de tecnologia a ser adotado, a escolha da cultivar de milho vai depender também do tamanho da área cultivada. Em lavouras de tamanho médio ou grande, deve-se recomendar o uso de mais de uma cultivar, com características de planta e de ciclo distintas.   
                 
    Região de cultivo, época de semeadura e sistemas de cultivo   
   As cultivares de milho indicadas para cultivo no Rio Grande do Sul podem apresentar ciclo superprecoce, precoce ou normal. A maior diferença de ciclo entre elas verifica-se no subperíodo emergência ao florescimento. Em regiões mais frias, o ciclo das cultivares se alonga devido à ocorrência de temperatura de ar mais baixa. Nessa condição, deve-se indicar o uso de cultivares superprecoces e precoces em relação às de ciclo normal.                  
   Na semeadura do cedo (agosto/ setembro), as cultivares de ciclo superprecoce e precoce são mais adequadas por tolerarem temperaturas de solo mais baixas que as de ciclo normal durante o subperíodo semeadura- emergência. Do mesmo modo, na semeadura do tarde (de zembro/janeiro) deve-se dar preferência à utilização de cultivares precoces ou superprecoces como estratégia de escape de ocorrência de geadas precoces no outono, que interrompem o processo de enchimento de grãos.
    
   
      
    Em áreas de várzea, em sistemas de rotação com arroz irrigado, devese considerar na escolha das cultivares, aspectos como tolerância ao acamamento e quebramento, colmos vigorosos, baixa estatura e baixa inserção de espiga. De modo geral, as cultivares superprecoces e precoces têm dado melhores resultados nessas áreas. Para essas condições, são indicadas 24 cultivares de milho para a safra 2000/2001.            
    Quando o milho participa como primeira cultura de um sistema de sucessão, deve-se utilizar cultivares precoces ou superprecoces para reduzir seu ciclo de desenvolvimento e, conseqüentemente, não retardar muito a época de semeadura da cultura em sucessão. As sucessões milho e feijão do tarde e milho e batata de safrinha constituem-se em exemplos de sistemas em que é recomendado o uso de cultivares de milho de ciclo mais curto.   
  
    Objetivo do cultivo    
    A escolha da cultivar de milho vai depender do objetivo da produção, se para grãos ou para silagem. Para silagem, as cultivares superprecoces e precoces produzem um produto de melhor qualidade devido à maior proporção de grãos na planta. As cultivares de ciclo normal, por apresentarem maior estatura de planta e maior produção de massa verde, originam maior volume de produção, porém com menor qualidade.        
   O tipo e a distribuição do endosperma influenciam as características dos grãos de milho e, em conseqüência, a sua forma de utilização. O grão de milho é composto por dois tipos de endosperma: endosperma córneo, duro ou vítreo, formado por grande número de grãos de amido pequenos e poligonais, e endosperma mole ou farináceo, composto por grãos de amido maiores e arredondados. Conforme o tipo e a distribuição de endosperma nos grãos, as cultivares podem ser classificadas nos seguintes grupos:        
·         Duro - por ser composto principalmente por endosperma córneo ou vítreo, este tipo de grão apresenta melhores condições de armazenamento e germinação.      
·       Pipoca - também pode ser considerado um milho duro, diferindo apenas pelo fato de que os grãos são bem menores que os do milho duro comum. Para a safra 2000/2001, são indicadas três cultivares de milho pipoca.       
·        Dentado - as laterais dos grãos são compostas por endosperma duro, enquanto o centro é formado por endosperma mole. Pelo fato do endosperma mole contrair-se mais que o duro durante o processo de perda de umidade, há formação de uma depressão na parte superior do grão, semelhante a um alvéolo dental. As cultivares diferenciam- se quanto ao grau de dentamento do grão. A maior parte apresenta grãos semiduros ou semidentados. Os grãos dentados são mais moles e de fácil trituração, sendo mais indicados para fornecimento “in natura” aos animais. No entanto, eles requerem maior cuidado no armazenamento que os grãos mais duros.       
·       Doce - um gene específico previne ou retarda a conversão normal do açúcar em amido durante o desenvolvimento do endosperma. Devido a este processo, os grãos de milho doce apresentam-se enrugados na maturação. Este tipo de milho é cultivado principalmente para consumo humano no estado de grãos leitosos. O cultivo de milho doce apresenta duas grandes restrições: baixa produtividade de grãos, devido ao baixo vigor de planta, e elevada incidência de pragas. A sua grande vantagem em relação ao milho comum está na maior qualidade para consumo, devido ao maior teor de açúcar dos grãos e ao maior tempo de duração da espiga em condições de consumo após colheita.          
  
    Além do tipo e da distribuição do endosperma, a cor e a qualidade dos grãos de milho são características que devem ser levadas em consideração na escolha da cultivar. A maioria das cultivares de milho apresenta grãos com coloração amarela, amarelo-alaranjada, vermelho-alaranjada e alaranjada. No entanto, há três cultivares indicadas para cultivo que tem pericarpo e endosperma com coloração branca. A vantagem desta característica é possibilitar a mistura da farinha de milho à de trigo, dentro de certos limites, sem alterar a cor da farinha de trigo. Esta característica é importante na comercialização desse produto. Com relação à qualidade nutritiva dos grãos de milho, são disponíveis para cultivo na safra 2000/2001 duas cultivares que têm em média 0,5% mais óleo e com proteína de qualidade superior, com maior teor de aminoácidos essenciais, especialmente lisina e triptofano, e de vitaminas. Essas cultivares são especialmente indicadas na alimentação infantil e recuperação de desnutridos e na alimentação de peixes, suínos, aves e eqüinos, entre outros.            
    Estes são os principais critérios que devem nortear o produtor na escolha de cultivares de milho para uma determinada região e sistema de cultivo. Além disto, o produtor tem que considerar as características de clima e solo de sua região e a intensidade de uso de outros insumos, como fertilizantes e defensivos.  
 

    ALGODÃO - MANEJO e VARIEDADES
    Eng. Agr. Rodrigo Stechow, autor desta matéria, é responsável técnico por campos de produção de algodão. 
 
    O algodão representa uma alternativa excelente para rotação de culturas com soja, sendo uma opção economicamente viável em anos de soja com preços baixos. É uma cultura que possibilita um incremento de renda para as pessoas envolvidas com o meio rural, pois é necessário um investimento no mínimo cinco vezes maior por hectare do que o investimento no cultivo de um ha de soja ou milho, e possibilita que desde o trabalhador braçal (capina manual) até o engenheiro agrônomo mais qualificado tenham seu papel no desenvolvimento da cultura. Tendo em vista estes fatores, considera-se a cultura do algodão uma cultura “social”.

    
    Relação custo-benefício do manejo diferenciado de uma variedade resistente em relação a uma suscetível à virose.
      
 
    Além disso, é uma cultura que possibilita maiores investimentos em insumos corretivos de solo, como calcário e adubos químicos, aumentando a “poupança” do agricultor, que é seu solo corrigido adequadamente, principalmente em solos de cerrado, que necessitam de altas doses de fertilizantes para tornaremse produtivos.     

    Algodão em Campo Verde     
    Atualmente, Campo Verde é o município com a maior área plantada de algodão no estado de Mato Grosso. Na safra 99/2000, foram 33.000 ha e, para a safra 2000/ 2001, é prevista uma área de aproximadamente 55.000 ha, sendo que a área total de lavouras cultivadas no município, entre soja, arroz, milho, sorgo e algodão é de 130.000 ha.           
   A variedade de algodão mais utilizada na região (ITA–90/Fundação MT) é suscetível às viroses transmitidas pelo pulgão, necessitando mais aplicações de inseticidas, porém possui um elevado potencial produtivo.         
    A segunda variedade mais utilizada (DeltaOpal) é resistente às viroses transmitidas pelo pulgão, não necessitando tantas aplicações de inseticidas. É uma variedade que está crescendo na região, pois se obteve boas produtividades, rendimentos de fibra superiores e qualidade de fibra excelente. Considerando a relação custo-benefício, se esta variedade for bem manejada, possibilita um lucro líquido 10% superior às variedades suscetíveis à virose. O “gargalo” desta variedade é o manejo, que deve ser conduzido racionalmente com o “MIP” (Manejo Integrado de Pragas), pois, caso contrário, ela perderá a sua finalidade principal que é possibilitar o menor uso de inseticidas, aumentando a receita líquida da atividade.            
    O manejo integrado têm sido uma boa ferramenta de condução da cultura de algodão e seu uso tem aumentado por ser seguro e ter relação custo/benefício satisfatória, além de contribuir para a manutenção e sustentação de novas e antigas tecnologias. Os programas de controle de pragas do algodoeiro visam altas produtividades e colheitas precoces. Entre as medidas indiretas de controle, temos a seleção de variedades resistentes ou tolerantes a pragas, patógenos ou plantas daninhas; ou a diversificação de variedades.    
      
    Produção     
    A rentabilidade da atividade de produção de algodão está baseada em aspectos de custos de produção, genética (variedades), agronomia, ambiente e de beneficiamento da fibra, onde controle de pragas tem como objetivo básico garantir produtividades rentáveis.                    
   A maioria dos produtores da região de Campo Verde utiliza o “cultivo mínimo”, usando como cobertura de solo a cultura do milheto para posterior dessecação e plantio direto. Com relação à colheita e beneficiamento, o município conta hoje com 18 usinas de beneficiamento de algodão (algodoeiras), com máquinas modernas e eficientes, sendo que deverão surgir mais algumas este ano para suprir a demanda originada pelo aumento da área cultivada.               
    O custo de produção é bastante variável e muda conforme o manejo e administração de cada propriedade, mas, como regra geral, pode-se dizer que o custo de produção por hectare, para variedades resistentes a viroses, fica em torno de US$ 1.200.                  
    Quanto à produtividade, a região de Campo Verde é privilegiada, obtendo- se médias de 4.050kg até 4.950kg/ha. Outro diferencial desta região é a qualidade da fibra. Segundo classificadores experientes, sua fibra é a de melhor qualidade do estado de Mato Grosso, talvez pelas condições climáticas, com clima sempre ameno, predominando baixas temperaturas e lavouras com altitudes variando de 750 a 900 metros.                   
    A disponibilidade de diversas variedades para o produtor faz parte da evolução da produção de algodão no Brasil. Resolvem-se velhos problemas e surgem outros que antes eram secundários. Estes problemas exigem novas informações e mudanças na condução dessas novas variedades, mantendo vivo o dinamismo da agricultura. O anseio por variedades regionalizadas, que atendam necessidades específicas dos diferentes agricultores, faz com que se valorize cada vez mais a informação.

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