Pesquisa Científica
Edição VIII | 02 - Mar . 2004 “A pesquisa científica requer, freqüentemente,
elevados investimentos, tanto no que se refere à formação de pesquisadores, quanto
às condições materiais para o seu desenvolvimento.”
A
pesquisa científica exige, muitas vezes, trabalho árduo do pesquisador. Mas nem
sempre os resultados revelam esses fatores. Recente pesquisa de opinião sobre a
percepção pública da ciência revelou importantes informações sobre o grau de
compreensão do conhecimento científico e tecnológico e, também, sobre o consumo
da informação científica nas sociedades consultadas. Entretanto, esse
levantamento indicou que prevalece a imagem da ciência como fonte de melhoria
da vida humana. Porém a grande maioria das pessoas ouvidas consideram-se pouco
informadas sobre ciência e tecnologia, confirmando resultados de pesquisas
anteriormente realizadas em diversos países.
Investimentos
em ciência e tecnologia, sejam dos governos, sejam da iniciativa privada, bem
como a persistência e competência dos pesquisadores, podem determinar altos
níveis de eficiência econômica e de produtividade.
A
produção de conhecimento não ocorre isoladamente pois compreende construção coletiva
da comunidade científica, sendo um processo continuado de busca, que pode ser
corroborado ou contestado por pesquisas subseqüentes, daí o caráter hipotético permanente
de seus resultados. O trabalho científico requer, além de rigor, criatividade. Não
se trata apenas de conhecimento acumulado, mas também de colaboração no
desenvolvimento da ciência. Nesse caminho, exige-se lógica e competência.
A
pesquisa científica não é uma atividade caótica, é uma investigação sistemática
que contém critérios e instrumentos adequados. Exige um espírito crítico permanente
com o mundo político, social e econômico que a envolve. A clareza e a exatidão
são requisitos essenciais à pesquisa e compõem o método científico, que
proporciona ao pesquisador a orientação geral para o planejamento, a execução e
a interpretação dos resultados. A seriedade, a honestidade e o conjunto
aprimorado de conhecimento do pesquisador concorrem para o estabelecimento e à
confiabilidade da pesquisa.
O método
científico é um conjunto de processos pelos quais se constrói a ciência. Envolve
técnicas e procedimentos que vão prescindir da inteligência do pesquisador, para
a compreensão dos fenômenos. Toda investigação decorre de algum problema observado.
O pesquisador ao utilizar a imaginação criativa e o conhecimento disponível
propõe a hipótese, ou seja, a solução provisória que norteará o processo de
investigação.
A
experimentação compreende o conjunto de procedimentos para a verificação da hipótese,
buscando estabelecer relações. A eficiência do método empregado e a precisão dos
dados coletados são componentes essenciais para o sucesso da pesquisa. O pesquisador,
utilizando formação e maturidade intelectual bem como capacidade de análise,
comparação e síntese, elabora as conclusões.
Na área
agronômica, os objetivos da pesquisa são muito amplos, mas fundamentalmente refletem
busca de benefícios econômicos com vista à satisfação das necessidades e
progresso da sociedade. A produção científica nas últimas décadas pode ser considerada
extraordinária. Os avanços em biotecnologia, por exemplo, tornaram possível a
modificação genética com a alteração, adição ou remoção de determinadas características
de uma planta. Cabe salientar, que em muitos países os princípios da biossegurança
monitoram a pesquisa, quantificando e regulando riscos e benefícios, levando em
consideração a bioética.
Os
resultados da pesquisa, ao serem incorporados no processo produtivo, elevam a
produtividade dos fatores de produção, que por sua vez, expandem o produto
total da agricultura. O retorno social e econômico da pesquisa científica e
tecnológica ninguém questiona, porém dados concretos são apresentados para sua
comprovação.
No
Brasil, de 1971 a 2001, a cultura da soja cresceu 1700%. No último ano, o país exportou
26 milhões de toneladas, tornando-se o maior exportador mundial de grãos desta
leguminosa. Uma das causas do crescimento no cultivo de soja nas últimas
décadas é o uso de cultivares melhoradas portadoras de genes capazes de
expressar alta produtividade, ampla adaptação e boa resistência a fatores
adversos. O desenvolvimento de cultivares de soja com adaptação edafo-climáticas
das principais regiões do país e o uso de sementes de alta qualidade influenciaram
diretamente no sucesso da lavoura.
Processo
de marcação de plantas para minimizar a variação dos dados
Proteção
da flor masculina e feminina de milho: fruto do esforço científico
Na
cultura da batata, quase 80% da semente de alta sanidade utilizada no Brasil é importada,
a um custo anual de U$ 9 milhões. A batata semente importada representa 35 a
40% do custo de produção da lavoura por hectare. A par desta situação, foi
desenvolvida uma técnica de aproveitamento do broto para a produção de
minitubérculos, utilizando como matéria-prima a batata semente importada. O uso
de minitubérculos reduz 40% o custo no plantio, o que possibilitara a
diminuição do número de importações.
Técnicas
moleculares baseadas na análise de proteínas e DNA têm sido aplicadas nas
pesquisas agrícolas, o que tem permitido rápidos avanços nos estudos sobre qualidade
de sementes. As isoenzimas apresentam variações em função dos estádios de
desenvolvimento ou deterioração das sementes e podem ser utilizadas como marcadores
de dormência, germinação e deterioração das sementes. Os métodos baseados em
PCR (reação em cadeia da polimerase), tais como RAPD, ALFP e SSR, que utilizam
o DNA, têm sido preferencialmente usados para identificação, caracterização de
cultivares e determinação de pureza genética em lotes de sementes. A análise de
imagens, apesar do elevado custo dos equipamentos, a partir de radiografias de
raios - X, já é uma realidade para a determinação da qualidade das sementes,
que assegura grande precisão. As
imagens radiográficas são examinadas uma a uma de modo ampliado, indicando detalhadamente
as condições das sementes. Posteriormente, as sementes submetidas aos raios-X
são levadas ao teste de germinação e desta forma, é possível o estabelecimento
de possíveis relações entre as imagens e as ocorrências na germinação.
A imagem
digital de raios-X serve para avaliar a morfologia do eixo embrionário e tecido
de reserva. É utilizada para identificar danos mecânicos, de secagem e ataque de
insetos, além dos danos externos e internos. Também permite observar danos por umidade
e por percevejo. Em sementes de arroz, a grande vantagem do teste de raios- X é
a identificação das fissuras ocasionadas pela secagem com altas temperaturas.
“PESQUISA CIENTÍFICA: Trabalho,
criatividade, confiabilidade, abrangência, recursos e benefícios.”
A
pesquisa na área de sementes, além de exigir todo rigor científico, pode ser
também ser muito trabalhosa, principalmente a de campo. Exemplo disto é o
estudo da maturidade fisiológica em uma determinada espécie. Todos os cuidados
de preparo de solo e manejo da cultura, assim como, preventivamente, controles
de pragas e as doenças devem ser rigorosamente seguidos.
No
momento da antese, as plantas devem ser marcadas para o estudo. O número de plantas
usado é variável, em função do número de sementes por planta, das avaliações a
serem executadas e da precisão requerida no experimento e pode atingir 4000 a
5000 plantas. As colheitas devem ser realizadas em intervalos de 4 a 7 dias e
deverão cobrir todo o período reprodutivo da cultura. A cada colheita, um
número de plantas deve ser coletado para as avaliações planejadas, a fim de
acompanhar a maturação das sementes. No laboratório, o material proveniente de
cada colheita é submetido a determinação de teor de água, tamanho ou volume,
massa seca, germinação e vigor, empregando um grupo de testes e composição
química. As chuvas, ataque de doenças, animais, ventos fortes e outras condições
adversas são freqüentes na fase de campo e podem inviabilizar o experimento, caso
contrário, o grande volume de dados deve ser tabulado, analisado e
interpretado.
A
conclusão, por exemplo, de que o máximo vigor das sementes de sorgo é alcançado
aos 45 dias após a fecundação, com umidade em torno de 30%, não dá a idéia do
volume de trabalho executado. A pesquisa científica não é barata, mesmo a de
simples execução ou realizada em períodos curtos tem custos elevados, pois envolve
equipamentos, reagentes, materiais biológicos e mão-de-obra especializada.
Os
grandes projetos realizados em rede de cooperação científica envolvem grandes investimentos.
A pesquisa sobre o genoma da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da praga do
amarelinho, que ataca a laranja, foi orçada em U$ 15 milhões. O custo da
pesquisa é uma limitação ao desenvolvimento científico e tecnológico. Há um
relativo consenso que os países em desenvolvimento investem pouco em pesquisa
agrícola, com exceção de algumas nações asiáticas, evidenciando assim que a produção
científica está na dependência direta dos investimentos aplicados, e que o
insuficiente apoio governamental configura- se como um dos principais fatores
de inibição de maior desenvolvimento científico e tecnológico de um país. Embora se possa pretender a
universalização do conhecimento científico e tecnológico, é inegável que sua
recepção, apropriação e utilização são processos localizados socialmente e
dependentes tanto das especificidades culturais de cada sociedade, quanto da
realidade social, histórica e concreta destas sociedades.
De
qualquer forma, embora exista disponibilidade de recursos necessários à
pesquisa científica, pesquisadores capacitados, criativos e dispostos a abraçar
o árduo labor científico, há necessidade de outros mecanismos capazes de
permitir que a sociedade usufrua plenamente dos resultados alcançados pela pesquisa.
RESUMO
A pesquisa
utiliza procedimentos lógicos e sistemáticos na compreensão e transformação da realidade,
a fim de elaborar novos conhecimentos.
Essa
atividade requer do pesquisador curiosidade, conhecimento científico,
criatividade e persistência. A adequação metodológica e a isenção na análise
interpretativa dos dados asseguram um componente indispensável, a
confiabilidade da pesquisa. A contribuição da pesquisa agrícola tem permitido
ganhos substanciais de produtividade pela otimização no uso de sementes e máquinas,
pela eficiência no controle fitossanitário e pelo aprimoramento das tecnologias
de secagem e armazenamento. A exemplo disso, no Brasil, nas últimas três
décadas, a produção de soja apresentou aumentos expressivos, decorrentes do
desenvolvimento de cultivares adaptados às regiões de produção, acompanhados da
utilização de sementes de alta qualidade. Os resultados de pesquisa, no
entanto, nem sempre refletem o esforço despendido, o investimento realizado e,
às vezes, nem mesmo sua importância na construção do conhecimento.
Esta
matéria foi solicitada aos Professores Nilson Lemos de Menezes, da Universidade
Federal de Santa Maria, e Francisco Amaral Villela, da Universidade Federal de
Pelotas, ambos pesquisadores bolsistas do Conselho Nacional de Pesquisas
Tecnológicas (CNPq), para sensibilizar os leitores da SEED News sobre o
trabalho envolvido, a criatividade, a confiabilidade dos resultados e os
recursos necessários para obter-se um produto ou desenvolver um processo.