Os Três Componentes do Desempenho das Sementes

Edição VIII | 05 - Set . 2004
James Delouche-JCDelouche@aol.com
   O desempenho das sementes é determinado por três componentes interativos que constituem uma espécie de triângulo do desempenho: herança genética, qualidade fisiológica e meio ambiente. A herança é o "dote" genético recebido dos "pais". A qualidade fisiológica da semente refere-se à capacidade de desempenhar sua função primária de propagação.                
    Enquanto o ambiente, com relação à agricultura, apresenta três aspectos pertinentes: o edáfico, relacionado ao solo; o biótico, que consiste nas bioformas, como, por exemplo, insetos, microorganismos, invasoras, etc; e o climático, que compreende os fatores que controlam o desenvolvimento de uma variedade de planta, tais como o suprimento de água, a temperatura e a luminosidade. O componente ambiental, como já foi considerado em ensaios anteriores, será comentado apenas para ilustrar algumas das interações com os demais componentes.                
     Há muito tempo, quando ainda estava na escola em Louisiana, participei de um concurso de rendimento e fui persuadido pelo meu orientador a plantar um novo tipo de milho – o milho híbrido. Plantei uma parcela em um campo próximo da estrada e esta começou a chamar bastante atenção pelo seu vigor, tornando- se evidente seu potencial para um extraordinário rendimento. Porém, não venci o concurso.                
    Não chegamos nem mesmo a colher a parcela, uma vez que insetos e podridões haviam invadido as espigas e transformado nosso "rendimento" em "farelo" de grãos e sementes apodrecidas. Outros pioneiros na adoção de milho híbrido na quente e úmida Louisiana tiveram experiências similares: ótimas lavouras, mas quase nenhuma colheita.               
     A explicação para essas desastrosas experiências foi:
 1) a variedade utilizada não era bem adaptada;
 2) a palha não cobria a ponta da espiga, proporcionando assim fácil acesso aos insetos e microorganismos;
 3) a colheita foi atrasada por muitos dias fazendo com que houvesse tempo suficiente - sob condições quentes e úmidas - para que os insetos e microorganismos atacassem os grãos.    
                
    Podemos tirar dessa história várias lições pertinentes para a presente discussão:
 1) a boa herança genética de uma variedade de planta não garante resultados superiores;
 2) condições ambientais favoráveis e bom manejo da cultura são necessários para a realização do potencial genético de uma variedade; e 3) boa herança genética combinada com um meio ambiente não limitante, juntamente com um manejo apropriado, consiste em uma combinação imbatível que pode produzir resultados extraordinários.        
       
   O melhoramento vegetal científico, iniciado no começo do século XX, logo levou ao reconhecimento de que melhorar a herança genética das variedades cultivadas por meio da aplicação sistemática da ciência genética era a forma mais acessível, econômica e poderosa de aumentar sua produtividade e adaptabilidade. Muitos dos mais importantes avanços para o aumento da produtividade durante os últimos 100 anos foram obtidos por meio do desenvolvimento de variedades com características superiores adaptadas a diferentes ambientes e níveis de insumos. Indiscutivelmente, o primeiro verdadeiramente dramático melhoramento foi o desenvolvimento do milho híbrido.     
            
    “O primeiro grande avanço do melhoramento de plantas foi a criação do milho híbrido.”

    Nos anos 60, um outro ciclo de grandes aumentos na produtividade foi gerado pelo desenvolvimento das variedades de trigo e arroz da chamada revolução verde. E, mais recentemente, melhorias dramáticas nas variedades cultivadas têm sido alcançadas por meio da aplicação da biotecnologia, especialmente pela transferência de características desejáveis para variedades cultivadas melhoradas.                
    O melhoramento de plantas científico acelerou grandemente a transição de uma agricultura baseada na espécie vegetal para uma agricultura baseada na variedade ou cultivar. Os agricultores começaram a cultivar variedades específicas de trigo, arroz e de outras culturas, em lugar das variedades nativas locais. Porém, os benefícios esperados a partir da troca para uma nova variedade estavam totalmente dependentes da obtenção de um suprimento autêntico de suas sementes e então procedimentos adicionais tiveram que ser desenvolvidos para garantir aos agricultores que as sementes por eles adquiridas para o cultivo de uma variedade desejada eram autênticas. A garantia necessária foi obtida por meio da criação do sistema de certificação, que desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da agricultura moderna baseada na variedade.                
   Há algumas semanas, constatei assombrado a sofisticação das técnicas de laboratório e análises atualmente necessárias para satisfazer às garantias com relação à identidade genética das cultivares. Fiquei impressionado com a habilidade dos analistas e com sua determinação em manter o mesmo passo do desenvolvimento dos variados produtos da biotecnologia.
    Acredito que, apesar das atuais controvérsias, a poderosa combinação de biotecnologia e melhoramento de plantas tradicional irá responder plenamente ao desafio de fornecer alimentos nutritivos para a crescente população mundial a partir de uma área de terra cultivável cada vez menor.
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