O
Paraguai, país mediterrâneo com 406,7 mil km2, apresenta duas regiões com
capacidades agroecológicas muito diferentes: a região ocidental, que ocupa
cerca de 60% do país e cuja principal atividade é a pecuária, e a região
oriental, onde se encontrava a maior parte dos bosques tropicais com madeira de
alto valor comercial, que, a partir de 1945, foram dando lugar aos campos
agro-pastoris desta região. Nessa última é produzida a quase totalidade dos
cultivos agrícolas para consumo e para exportação.
O
principal cultivo em termos de superfície é a soja, ainda que o algodão
continue ocupando, econômica e socialmente, um lugar preponderante no país.
Produção
de sementes
A
indústria de sementes nacional passou a apresentar um desenvolvimento mais
expressivo a partir da década de 80, implementando-se normas de fiscalização da
produção, inclusive com um sistema de certificação de qualidade por meio do uso
de selos aplicados temporariamente pela Direção de Sementes, entre os anos
1991-92, sistema que voltou a ser implementado a partir de 1999, em um acordo
entre o DISE e a Aprosemp. Este acordo levou a uma diminuição do comércio de "bolsa
branca" e a uma grande melhoria na qualidade das sementes produzidas. O
trabalho conjunto do setor público e privado, por sua vez, diminuiu a entrada
de sementes de países vizinhos sem a devida autorização e fiscalização. Atualmente,
a produção nacional de sementes supre 35% das necessidades dos principais cultivos.
Cifras
do comércio de sementes
Na
década passada, o uso de sementes próprias chegava a 50% do total utilizado
pelos agricultores, sendo os outros 50% repartidos igualmente entre a produção
interna e a importação. Através do esforço do setor, essa situação foi
revertida, sendo que atualmente estamos superando amplamente às sementes
importadas. Porém, isso não deve fazer com que nos acomodemos, já que ainda
existe uma fração importante de sementes de diferentes espécies com déficit de
provisão. O valor estimado das importações de sementes chega a US$ 13,9 milhões
anuais, soma essa que poderia formar parte do PIB nacional. O valor do produto
dos "sementeiros" nacionais alcança 24,4 milhões de dólares, enquanto
o valor total do que é semeado gira em torno de 70 milhões de dólares.
· Autosuficiência
- Deve constituir-se num dos principais objetivos, tanto para os produtores como
para o setor governamental, fazer com que a produção de sementes a ser
utilizada para semeadura seja obtida internamente, principalmente para aqueles
cultivos em que contamos com tecnologia, capacidade de produção e
competitividade.
·
Elevar
o nível de penetração da semente fiscalizada.
· Regularização
da semente geneticamente modificada (GM). O ingresso das sementes de soja
transgênicas (soja RR), que atualmente estima-se ocupar 60-70% da superfície
ocupada com soja, levou a uma drástica redução no comércio de sementes, uma vez
que aumentou a produção própria.
·
Enfatizar
a produção para exportação daqueles cultivos nos quais temos qualidade e competitividade.
·
Facilitar
o comércio entre os países da região.
Atualmente,
o comércio fluído dos países vizinhos para o nosso país não tem encontrado reciprocidade.
O Mercosul deve funcionar em uma "via de mão dupla" para os sócios da
região.
Sementes
GMs
Devemos
reconhecer que, devido à facilidade de introdução ilegal de produtos em nosso país,
com a semente GM não foi diferente, particularmente com a soja. As primeiras
sojas biotecnológicas (soja RR) introduzidas no Paraguai vieram da Argentina.
Variedades não adaptadas às nossas condições foram cultivadas com pouco
sucesso; porém, o constante ingresso de novos materiais genéticos que estavam sendo
liberados no mercado do país vizinho, com características mais adequadas a nossas
latitudes, permitiu que o agricultor paraguaio identificasse materiais de alta
produtividade, que, no entanto, ainda são produzidos na ilegalidade.
No
Paraguai, os produtores e comerciantes de sementes consideramos inadequada a
situação a que nos submetem os organismos governamentais em razão do não
reconhecimento de uma tecnologia que já está inserida em nosso país e é
utilizada por uma grande parte dos agricultores. Não podemos continuar sendo o
país onde a ilegalidade esteja institucionalizada.
Ao
liberar-se a soja RR, entrará em vigor a lei de sementes que prevê estas
situações e deverão ser "legalizadas" as variedades que estão sendo
utilizadas no mercado, que não estão registradas e que têm "seus
proprietários" intelectuais.
Em
alguns aspectos, podemos afirmar que a região já se apresenta como um
"bloco produtivo" ante o comércio mundial. Esta situação nos facilita
em variados aspectos, como a apresentação de reclamações em setores que nos
afetam de maneira comum, como é o caso da semente de soja transgênica. Da mesma
forma, nos permite trabalhar de maneira conjunta na detecção e pesquisa de
doenças nas diferentes cultivares, propagadas geralmente através de sementes, e
buscar processos de eliminação que sejam factíveis para todos.
Propostas
do setor
·
Regularização
dos transgênicos através da Lei de Sementes, a fim de colocar a biotecnologia na
legitimidade.
·
Harmonização
de sistemas de avaliação e registros; e que os mesmos sejam homologados por
todos os países do Mercosul.
·
Integração
com setores de pesquisa, obtendo sinergias entre o caudal de conhecimentos, e o
know-how entre produtores e comerciantes.
Parte
legal
O
Paraguai foi um dos primeiros a contar com uma legislação sobre Sementes e
Proteção de Cultivares (1994), ainda que as regulamentações inerentes tenham
sido sancionadas entre 1999 e 2000.
Registro
Nacional de Cultivares Comerciais (RNCC)
As
variedades, para serem utilizadas comercialmente, devem ser inscritas neste
registro, cumprindo os requisitos de distinção, homogeneidade e estabilidade
(DHE), e terem passado por testes de avaliação agronômica por, no mínimo, dois
anos. Para inscrição nesse registro, exige-se, além da DHE, que os materiais
tenham o caráter de novidade e contem com denominação adequada, tudo isso
seguindo as linhas e critérios estabelecidos no Convênio da UPOV.

Área
dos principais cultivos no Paraguai
O
Paraguai estendeu a proteção a todos os gêneros e espécies vegetais, tendo
aberto até esta data oito espécies (algodão, alysycarpus, Digitaria milanjiana,
Digitaria natalensis, mandarina, soja, tomate e trigo), com 66 variedades protegidas,
sendo 15 nacionais e 51 estrangeiras, do Brasil (35), Argentina (10) e EUA (6).
Exercem seus direitos quatro obtentores nacionais e sete estrangeiros.
Registro
Nacional de Produtores de Sementes (RNPS)
Encontram-se
registradas 94 empresas produtoras de sementes, entre pequenas, médias e grandes,
que produzem em conjunto cerca de 60.000 t anuais de sementes certificadas,
sendo as principais espécies: soja, trigo, aveia negra, algodão, sésamo, milho,
arroz e forrageiras. Também tem-se registrado uma quantidade interessante
de produção de sementes comuns de adubos verdes utilizados em sistemas
mecanizados de semeadura direta, como aveia, nabo forrageiro, crotalária,
lupino, e outras espécies mais adaptadas a pequenas propriedades, como mucuna
cinza, mucuna anã, lupino, ervilha forrageira, etc.
Registro
Nacional de Comerciantes de Sementes (RNCS)
Este
registro tem inscritos 169 comerciantes de sementes distribuídos em todo o
país, que sob supervisão de engenheiros agrônomos, constituem-se no principal
canal de abastecimento de sementes e são quem assume a responsabilidade pela
qualidade da semente entregue ao comprador final. Exige-se que todos os lotes
de sementes a serem comercializados contem com o boletim de análise de sementes
emitido por um laboratório habilitado.
Registro
Nacional de Laboratórios de Sementes (RNLS)
Existem
cinco laboratórios de análise de sementes que foram habilitados para
funcionamento pelos padrões de credenciamento de laboratórios por acordo em
nível de Mercosul.
Comentários
finais
Atualmente,
está vigente no Paraguai toda a normativa que permite a produção de sementes de
acordo com os procedimentos e padrões utilizados em nível internacional. A isso
soma-se o esforço das empresas produtoras de sementes que vêm utilizando, nos
últimos anos, as melhores instalações de processamento e armazenamento
disponíveis na região. Toda esta dinâmica, resultante da aplicação dos acordos
regionais que facilitam o comércio de sementes contribuiu notavelmente para o
desenvolvimento da indústria nacional. A presença de importantes referenciais
de todo o Continente, obriga a assumir com maior responsabilidade o papel que
cabe ao produtor de sementes, insumo que constitui fator elementar da
agricultura.
Palestra
apresentada no Seminário Panamericano de Sementes, Assunção/Paraguai