Os empresários do agronegócio ainda carregam a pecha de chorões. Embora personagens de um setor que tem demonstrado, na história recente, enorme capacidade de transformar um segmento ultrapassado – do Jeca Tatu – em um setor de excepcional importância socioeconômica e elevada competência produtiva e inovativa, eles ainda têm dificuldade em se reconhecer como tal. É muito difícil, mesmo em tempos de fartura, encontrar alguém da área se dizendo satisfeito com as margens ou feliz com os preços, por exemplo. Imagina agora. Deve fazer parte da estratégia da classe.
O termo que mete medo
A palavrinha que mais impõe medo nas pessoas no momento é crise. Pelo que tenho visto, mete muito mais medo do que deveria e é dada importância adicional ao que ela naturalmente tem. Existe uma certa fobia em falar que estamos em crise. Na prática, a falta de personalidade de boa parte dos gestores é tão grande que nem sequer querem pronunciá-la.
Chegou-se ao nível de ela ser uma palavra proibida. Nota-se que nos cumprimentos, ou mesmo nos quebra-gelos entre gestores e empresários ou entre amigos, ela é evitada, e quando for o caso de alguém corajosamente pronunciá-la, é imediatamente tomado por pessimista ou com falta de criatividade para sair da incômoda situação.
É como se uma palavrinha de duas sílabas fosse capaz o suficiente para influenciar nossas decisões e nossa maneira de ser e agir, definindo nosso presente e futuro. Não é a palavra em si que interessa e sim nossas reflexões, decisões e ações sobre as suas implicações. Isso sim é importante.
Ademais, as crises vão e vêm. Como todos sabem (embora não acreditem), de tempos em tempos elas dão o ar da graça, assim como também é claro que elas não duram para sempre. Então é melhor estarmos preparados para quando esses momentos chegarem. E eles chegarão.
Importante mesmo é tomar ciência de que ela está aí. Não há mal algum, pelo contrário, é fundamental reconhecer que existe uma crise de dimensões ainda não muito claras em curso. Por isso, é cada vez mais importante que haja planejamento e estratégias de mitigação de crises, pensando como um processo. Se esconder e fazer de conta com neologismos é que verdadeiramente nunca foi uma grande estratégia para ninguém.
O que fazer e o que não fazer
Duas decisões peremptoriamente descartadas nesse momento: a última coisa a ser feita é se encolher e se esconder. Se acovardar, se apequenar e parecer ainda menor e mais fraco do que você já é, frente às dificuldades. Se a sua empresa já não tem aquele tamanho para aparecer e parecer melhor, então ela precisa ser e parecer melhor.
O segundo erro crasso é enxugar mão-de-obra, demitindo os melhores, os mais caros, mas que normalmente são também aqueles que trazem os melhores resultados. Se é necessário enxugar o pessoal, demita os piores, não os melhores. Esta é a hora de premiar aqueles que mais se esforçam e os que contribuem com a eficácia da empresa. Livre-se dos incompetentes.
Por isso, se ainda há alguma reserva financeira e percebendo a mínima possibilidade de continuar, pelo menos dois aspectos devem ser fortemente considerados (a assumir) nesses momentos de depressão econômica e falta de confiança.
A primeira é ser melhor que os outros em algum aspecto que seja relevante para o mercado (leia-se cliente). Se você ainda não descobriu no que sua empresa é melhor que as demais, então realmente temos um grande problema. Trate rapidamente de identificar ou criar um diferencial. Nesse sentido, o momento é de investir em inovação, treinamento, performance, qualidade ou algo que permita sua empresa fazer a diferença no mercado em algum aspecto. Isso vai justamente facilitar a adoção da segunda estratégia.
Essa diz respeito a fazer sua empresa aparecer e se destacar na multidão. Ao contrário do que se observa com frequência nas pequenas e novas. Em síntese, é hora de fazer o marketing funcionar como um sistema e tornar-se conhecido, destacando o que se tem de melhor, e tem valor, significado, para aquele cliente que se pretende atender.
As duas se complementam. Muitos empresários fazem apenas uma ou ainda nenhuma delas. Poucas vezes há lucidez dos empreendedores em fazer a dobradinha funcionar. Normalmente por falta de visão e, em alguns e raros casos, porque a empresa já está na lona, sem recursos e nem crédito para investir em qualificação, inovação ou marketing, nada é feito.
Nesse caso, subliminarmente jogam a toalha (embora não reconheçam), fazendo o pseudopapel do avestruz: escondem a cabeça no buraco, esperando a tempestade passar. Quando isso ocorrer, pode ser tarde e a empresa ser varrida do mapa.
Mas também é verdade que em tempos de crise, frequentemente novas oportunidades surgem. Contudo, também há dificuldade em percebê-las, uma vez que há a preocupação natural de antes tentar evitar o pior com a empresa e o negócio que já se tem. Mas é bom continuar olhando para os lados e para cima e não apenas para o seu umbigo.
A pressão sobre os novos negócios
Mesmo a contragosto de muitos e ante a malversação e corrupção de outros tantos, o Brasil tem evoluído com intensidade nos últimos anos. Nossa pequena memória histórica nos impede muitas vezes de ver isso. Mas um sinal evidente do avanço é a proeminência do empreendedorismo de oportunidade em detrimento do empreendedorismo por necessidade.
Num país como o Brasil, a reboque da falta de incentivo, da pressão tributária e burocrática do Estado, uma notícia dessas sempre é uma ótima notícia. Pode significar muitas coisas boas, mas requer também muitos cuidados que nem sempre são tomados.
Com a atual conjuntura desfavorável, esses detalhes têm destaque indelével, e é bem possível que em breve isso vá mudar um pouco, empurrando muita gente para empreender, como última alternativa, depois de não encontrar outra melhor oportunidade de trabalho.
Os que se encorajaram recentemente também tendem a sofrer mais com a nova situação. Novos empreendimentos possuem fragilidades que empresas e negócios constituídos e consolidados já não possuem.
Mas, se não foram realizados os serviços de preparação para esses momentos, que compreendem principalmente manter o caixa em dia, o saldo no azul e uma reserva em mãos, ainda há algumas outras estratégias para colocar em prática. Vamos olhar para a frente, já que é lá que reside o amanhã.
Por isso, entender o atual momento e reconhecer a dificuldade é questão central, e não apenas lamentar, no modelo das carpideiras ou do ‘Maria vai com as outras’. Quando o lamento se soma à concretude da análise, pode servir para reunir forças e desenhar estratégias. Se não, não tem utilidade alguma, a não ser aumentar o desalento.
Voltamos às sugestões anteriores, de não se encolher e se acovardar, reduzir custos nos itens de menor retorno, evitar demitir os melhores, investir em inovação e treinamento e com isso tentar se destacar na multidão, adotando o marketing como um grande aliado, investindo nele, mas com seletividade redobrada, já que não há recurso para esbanjar.
Até a próxima.