A Velocidade das Mudanças

Edição IX | 06 - Nov . 2005
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Olhando do início do século 21 para trás, nosso ponto no tempo, então considerando o presente, e tentando discernir o futuro, é evidente que a taxa de mudança aumentou tanto e tão rápido que o próprio tempo e as eras usadas para medi-lo e caracterizá-lo aceleraram, que as eras estão acelerando. Vamos considerar o passado. A era da idade da pedra começou quando os primeiros humanos começaram a usar ferramentas de pedra lascada, cerca de 700.000 anos atrás, e continuou com poucas mudanças até cerca de 10.000 anos atrás. A era agrícola, que começou cerca de 10.000 anos atrás, continuou com mudanças importantes porém não revolucionárias, até cerca de 1900.                    
    A revolução industrial, aclamada por alguns como a entrada de uma fase pós-industrial, não começou no oeste da Europa até a metade do século 18 (1700). E a era das comunicações não começou com a invenção da internet e do telefone celular como muitos da geração mais jovem poderiam crer. Ao invés disso, ela começou no início dos anos de 1700, com o desenvolvimento do transporte ferroviário, navios a vapor, e o telégrafo elétrico, e continuou durante os últimos 150 anos ou mais num passo acelerado.                   
    Atualmente, estamos totalmente imersos nas eras digital, da informação e biotecnológica, que emergiram apenas algumas décadas atrás e estão avançando numa velocidade desorientada e perturbadora. Tentando dar uma espiadinha no futuro há mais de 20 anos atrás (1983), escrevi um longo ensaio de 8 partes sob o título “Mudança de Mares”. Expliquei que um bom significado de “Mudança de Mares” seria uma profunda e permanente mudança na psiquê humana e/ou em termos e condições de sociedade, e então afirmei que: “Estamos em meio a uma mudança de mares - a mais drástica e perturbadora mudança na experiência do homem desde que ele montou máquinas e força para transformar qualquer matéria prima na infra-estrutura de uma sociedade industrial.” Quando escrevi estas palavras, pensei que pudesse estar exagerando a situação, numa retórica dramática demais, mas agora em retrospecto penso que as palavras que usei realmente subestimaram- na.                    
   Duas coisas estimularam estas reflexões sobre a aceleração da mudança e das “eras” através da história registrada, e especialmente durante os dois últimos séculos e décadas. Uma é a obsolescência do meu computador e a necessidade de trocá-lo de novo, pela quarta vez. A segunda coisa que estimulou estas reflexões foi uma linha do tempo das culturas biotecnológicas nos EUA publicada em uma das revistas comerciais. Comecei com o famoso estudo de Crick e Watson descrevendo a dupla estrutura em hélice do DNA, publicada na Nature em 1953.                    
    O próximo passo crítico não fora dado até 20 anos atrás quando em 1973 Cohen e Boyer desenvolveram técnicas de engenharia genética básicas. Os  desenvolvimentos então aceleraram com a patente da primeira forma de vida (um microorganismo) em 1980, a primeira transformação genética das células vegetais, e as primeiras patentes emitidas para plantas GM em 1983. Desde então, os eventos aceleraram ainda mais rapidamente.                    
   Minha visão de 1983 era razoavelmente precisa em termos de progresso técnico, porém um tanto turva quanto a prioridades e produtos. Pensei mais idealística do que economicamente, que a transferência do mecanismo simbiótico da fixação do nitrogênio de leguminosa para cereais teria alta prioridade e seria alcançada em 2000, que seria dada alta prioridade à crescente eficiência fotossintética, tolerância ao estresse incluindo salinidade, e o valor nutritivo dos produtos vegetais. Porém, as resistências a herbicidas e insetos, que na minha visão eram inferiores, tornaram-se as grandes geradoras de lucro para os retornos dos custos de grandes investimentos e, espera-se, para o financiamento de uma pesquisa mais idealista e menos economicamente lucrativa, que estava além da minha visão. Também dei uma posição mais alta e projetei uma exploração mais precoce e ampla a tais inovações biotecnológicas como “sementes sintéticas”, micro-propagação e outras tecnologias de cultura de tecidos.                  
   No parágrafo final do meu longo ensaio, identifiquei algumas tendências e previ outras. Algumas poucas se tornaram corretas, enquanto outras se tornaram errôneas. Algumas das boas previsões foram que os insumos necessários à produção poderiam ser fornecidos por poucas, porém grandes empresas, que o desenvolvimento das variedades nos países  agricolamente avançados seria feito pelo setor privado e que haveria grande encolhimento no número de empresas de sementes. Erroneamente, previ que a importância da certificação da semente e o controle mercadológico diminuiriam.   
               
    “O tempo parece ter apressado. Uma nova era surge, passa velozmente, atinge seu pico e é substituída por uma era mais nova antes de eu compreender seu significado e propósito. Porém, talvez este seja o resultado da combinação da minha idade acelerada com a aceleração da mudança. Meus netos não parecem dividir comigo essa confusão com as rápidas mudanças nas comunicações e na retenção de informações e processamento.”
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