Pensamentos e Reflexões sobre Armazenamento de Sementes

Edição IX | 03 - Mai . 2005
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    A longevidade das sementes e a dormência foram por muito tempo meus primeiros e, talvez, mais duradouros interesses em biologia de sementes.               
   Meu interesse acadêmico em longevidade de sementes mudou rapidamente para um interesse aplicado e de solução de problemas no armazenamento de sementes, quando me uni ao grupo de Tecnologia de Sementes da Universidade Estadual de Mississippi (MSU), em 1957. Os produtores e as empresas de sementes vinham enfrentando decréscimos substanciais e "inesperados" na germinação dos lotes de sementes durante o armazenamento e estavam buscando assistência técnica para reduzir suas perdas em sementes. Muitos deles recorreram ao grupo de tecnologia de sementes da MSU, que estava, na época, emergindo como o principal centro de tecnologia de sementes no país. Recordei que estávamos literalmente acossados com requerimentos e visitas pessoais dos produtores e empresas de sementes procurando orientação, informação e assistência técnica para minimizar as perdas no armazenamento de sementes.                
    Após quase um ano de visitas com os produtores e empresas de sementes, inspeções das suas instalações, revisões de muitos registros de amostragens e testes, inspeções e consideráveis discussões sobre o assunto, achamos que muitos, provavelmente a maioria, dos problemas de germinação detectados no armazém ou nos canais de distribuição se originavam durante operações que precediam a embalagem. Começamos a reconhecer e apreciar os muitos fatores, econômicos, técnicos, biológicos e profissionais, envolvidos no que estava sendo chamado de "problemas do armazenamento de sementes". A agricultura tinha começado a mudar rápida e profundamente em muitos países e a agricultura tornou-se muito mais mecanizada, técnica, diversificada e orientada pelo mercado.               
    Muitos tipos e variedades de sementes em grandes quantidades foram produzidos por um crescente número de produtores e empresas. Inexperiência e falta de conhecimento, isto é, profissionalismo inadequado, tanto da parte das empresas de sementes como os cooperantes, tornou-se o fator principal na maioria dos problemas de qualidade carimbados como "problemas do armazenamento de sementes". Como resultado da inexperiência, falta de conhecimento e inadequada supervisão das operações, as sementes foram sujeitas a uma variedade de danos físicos e fisiológicos. Em alguns casos, os danos eram tão severos que seus efeitos eram óbvios, a germinação era imediatamente reduzida. Em muitos outros casos, contudo, os efeitos dos danos não apareciam imediatamente, porém, eram dissimulados e latentes. Eles iniciavam os processos deteriorativos que não afetavam a germinação até bem mais tarde, quando as sementes estavam no armazém ou nos canais de distribuição e comercialização.                
    As sementes eram submetidas a muitos tipos e níveis de danos. Sementes de soja de alta qualidade eram difíceis de produzir, manusear e armazenar na maioria das áreas, especialmente em climas quentes e úmidos. Quando o grupo de tecnologia de sementes da MSU se envolveu na assistência técnica em países em desenvolvimento, no final da  década de 50, encontrou logo "problemas de armazenamento de sementes" que eram muito mais freqüentes, severos, complexos e limitantes que nos EUA e outros países com climas temperados. A rápida deterioração das sementes nos trópicos e sub-trópicos úmidos era e ainda é o maior impedimento para o uso de sementes melhoradas para o desenvolvimento da agricultura. Grande parte da assistência ao desenvolvimento de programas de sementes nos países tropicais e subtropicais durante as décadas de 1960 e 1970 tinha que ser focada em produzir sementes de qualidade aceitável sob condições quentes e úmidas.   
             
    “Quando o grupo da MSU se envolveu na assistência técnica encontrou logo problemas de armazenamento.”
               
   Os problemas de armazenamento de sementes nos EUA, outros países com climas temperados e nos trópicos e sub trópicos úmidos foram reduzidos a níveis manejáveis pelos métodos provados, usados para resolver e/ou gerenciar todo tipo de problemas: treinamento e educação, pesquisa, profissionalismo dos supervisores e responsáveis técnicos, adaptação, desenvolvimento e adoção de tecnologias eficientes.              
   Estou contente e satisfeito de ter sido um membro do grupo de tecnologia de sementes da MSU que contribuiu de muitas formas durante a segunda metade do último século para melhorar a qualidade das sementes fornecidas aos agricultores nos EUA e em muitos outros países ao redor do mundo. Refletindo nestes tempos me dou conta de quanto afortunado foi escolher a longevidade e dormência de sementes como meu primeiro, principal e mais longo interesse em biologia de sementes, por terem conduzido ao desenvolvimento de conceitos e tecnologias que contribuíram significativamente para melhorar a qualidade e desempenho das sementes. Esses e contribuições relatadas por outros serão o assunto de mais pensamentos e reflexões em longevidade, armazenamento e dormência de sementes, nos próximos ensaios.

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