A teoria
da amostragem é um estudo das relações existentes entre uma população e as amostras dela extraídas.
Em
estatística, uma das maneiras segundo a qual se pode obter uma amostra representativa, é o processo denominado amostragem
aleatória, de acordo com o qual, cada
elemento de uma população tem a mesma probabilidade de ser incluído na amostra.
Quando nos deparamos com o assunto qualidade de sementes, quase que de imediato usamos a palavra amostragem para explicar alguma
ação, pois faz parte do processo de controle
da qualidade.
A
uniformidade nos procedimentos e informações detalhadas são fundamentais na amostragem de um campo de sementes, de um
lote de sementes, assim como no laboratório, na retirada das amostras de trabalho. Uma amostragem incorreta pode levar à tomada de decisões incorretas,
descartando um produto de alta qualidade ou aprovando outros de qualidade
inferior, resultando no insucesso de um empreendimento. A amostragem é
fundamental em todos os estágios da avaliação da qualidade das sementes, a
partir da sua obtenção, produção, no processo de recebimento, no beneficiamento,
na análise e, finalmente, na Fiscalização do Comércio.
O
crescente aumento da produção de grãos no Brasil, além da expansão da fronteira agrícola, é resultado do aumento da produtividade,
consequência da maior qualidade das sementes oferecidas ao produtor. Os
melhoristas, graças às novas cultivares que têm desenvolvido, cada vez mais
produtivas, melhor adaptadas e resistentes às doenças, em muito contribuem para
o sucesso da agricultura brasileira. Mas para chegar ao agricultor, esses novos
materiais precisam ser multiplicados em grande escala, gerando volume
disponível para atender as necessidades. Nesse processo de multiplicação, os
materiais passam por constantes avaliações da qualidade, para identificação e
preservação das características favoráveis.
Do
estágio inicial, quando em pequenos volumes, poucas parcelas, sob o constante controle do melhorista, todo material já
passa por avaliações para controle da qualidade. Processo simplificado, população pequena onde
quase é possível observar cada indivíduo
quanto às suas características desejáveis e indesejáveis. A partir daí,
no processo de multiplicação, com o
aumento dos volumes e das áreas, essa observação individual se torna impossível.
No
campo, além da extensão das áreas, a maioria delas, quando de uma mesma
espécie, numa mesma região, atingem uma mesma fase de desenvolvimento e
precisam ser inspecionados num período
de tempo curto e sem que cada planta possa ser observada individualmente. O técnico precisará realizar
uma inspeção completa, que lhe permita, com
segurança, determinar a aceitação ou não da área para produção de
sementes. Então, essa inspeção envolverá
uma estimativa para a qualidade, baseada na coleta de amostras, sobre as quais estará a decisão da aceitação ou rejeição.
Essas amostras serão áreas da lavoura, tomadas
ao acaso dentro de um percurso pré-estabelecido, cujo tamanho estará em função do limite de tolerância para os fatores a
serem observados.
A
amostragem para inspeção de campo, como qualquer outra amostragem, está sujeita
a limitações. O procedimento de inspeção deve levar em conta o tempo, a
aleatoriedade, tendenciosidade, mas, acima de tudo, permitir uma estimativa
bastante próxima da qualidade do campo. Neste caso, a amostragem deve levar em
conta a uniformidade do campo, ser representativa
da área e possibilitar uma avaliação precisa dos fatores indesejáveis, dentro
da precisão requerida. Se em um lote de sementes todos os indivíduos fossem
iguais, teríamos um lote perfeitamente homogêneo e bastaria tirar uma única
amostra para a sua correta avaliação.
“No processo de multiplicação, com o aumento
dos volumes e das áreas, a observação individual se torna impossível.”
É
considerado como lote de sementes uma quantidade específica destas, fisicamente
identificada, na qual cada porção é, dentro de tolerâncias permitidas, homogênea
e uniforme para as informações contidas na sua identificação.
A
uniformidade está relacionada com a probabilidade de um componente ocorrer em uma amostra, de um determinado tamanho ser
constante através de todo o lote. Em um lote de sementes uniforme haverá uma
diferente mas constante probabilidade associada com cada componente. Isso nos
leva a concluir que se os componentes de um lote de sementes estão distribuídos de forma aleatória em todo
o lote, uma amostra representativa tirada de
qualquer um dos pontos não deve ser significativamente diferente de
outra amostra representativa tirada de
qualquer outro ponto.
Quanto à
semente da espécie em questão, podem existir variações em relação ao grau de umidade,
tamanho, forma, peso, nível de danos, viabilidade e outros. Já o material
estranho pode ser extremamente variável e estar composto por sementes de outras
espécies cultivadas e/ou silvestres e
por material inerte (resíduos, palhas e torrões).
A
uniformidade pode ser então considerada como uma característica dinâmica, sendo influenciada a partir da colheita, onde
normalmente é mais uniforme, passando pelo transporte, beneficiamento e durante
o armazenamento. No armazenamento, as qualidades fisiológica e sanitária estarão mais sujeitas
a alterações, tanto dentro dos recipientes individualmente como dentro de todo
o lote.
Para o
planejamento das técnicas da amostragem é preciso levar em consideração todas as possibilidades de variação, a
finalidade da amostragem e a etapa que está sendo realizada. São definidos os seguintes tipos
de amostras:
·
Amostra
Simples - é uma pequena porção tomada de um ponto do lote.
·
Amostra
Composta - é resultante da combinação e mistura de todas as amostras simples
tomadas do lote.
·
Amostra
Submetida - é a amostra recebida pelo laboratório para a execução dos testes. Ela
deve possuir um tamanho especificado nas Regras para Análise de Sementes e pode
incluir toda ou uma sub-amostra da Amostra Composta.
·
Amostra
Oficial - amostra retirada por Fiscal, para fins de fiscalização.
·
Amostra
de Identificação - amostra com a finalidade de identificação do lote.
·
Amostra
de Trabalho - é uma sub-amostra tomada da Amostra Submetida no laboratório, na
qual um teste de qualidade será realizado.
·
Sub-amostra
- é parte de uma amostra obtida pela sua redução, usando métodos de amostragem prescritos.
Uma
amostra é obtida de um lote de sementes pela tomada de pequenas porções, de forma aleatória, em diferentes locais do
lote e combinando-as. Desta amostra, amostras menores são obtidas por uma ou
mais divisões.
![](/storage/articles/images/1032/15608295225d085e5209c51.png)
Amostragem
em diferentes etapas do negócio sementes
A
finalidade da amostragem em um determinado volume de sementes é obter uma amostra de tamanho adequado para os testes que
se pretende realizar, nas quais estejam presentes
os mesmos componentes do volume total e em proporções semelhantes, e que a probabilidade de qualquer componente estar presente
na amostra deve ser determinada somente
pelo grau de ocorrência no lote.
Cada
característica da qualidade de um volume de sementes está baseada na amostragem
executada segundo procedimentos previamente descritos. A quantidade de sementes que compõe uma amostra, sobre a qual
os indivíduos serão examinados, é extremamente
pequena quando comparado ao volume que representa. Quando um resultado é expresso como um simples número para um lote
de sementes, presume-se que não exista nenhum
tipo de heterogeneidade, isto é, não haja variação significativa nas diferentes
partes desse lote de sementes. Por mais
criteriosos que sejam os procedimentos empregados nas análises, os resultados
somente irão indicar a qualidade das sementes contidas na amostra examinada.
Portanto,
todo cuidado deve ser dispensado pelo amostrador, no armazém, assim como pelo
analista, no laboratório, a fim de que essas amostras sejam representativas, respectivamente, do lote de sementes e da
amostra recebida pelo laboratório. Se um lote é heterogêneo acima da
tolerância, a amostra dele retirada não será representativa. O amostrador deverá
estar atento para possíveis diferenças visuais entre as amostras simples, o que caracterizaria a heterogeneidade do lote.
A coleta
de amostras de sementes, em qualquer das etapas, somente deve ser executada por pessoas treinadas e
autorizadas, que saibam da responsabilidade e importância dessa operação, considerando:
·
tipo
de semente quanto a tamanho, forma e se tem tratamento químico ou revestimento;
·
tipo
de recipiente onde estão acondicionadas as sementes;
·
acesso
aos recipientes que compõem o lote;
·
acesso
às informações completas sobre o lote;
·
dispor
de instrumento (amostrador) apropriado para a amostragem;
·
dispor
de um divisor de amostras;
·
dispor
de embalagens para acondicionar as amostras.
Amostragem
no fluxo da semente
Na
prática, é conveniente fazer a amostragem durante o beneficiamento, por ocasião
do ensaque, podendo ser feito manualmente ou usando um amostrador automático,
mas sempre levando em consideração que
em ambos os casos é importante que toda a secção transversal do fluxo de sementes seja uniformemente
amostrada e que as sementes que entram no amostrador não sejam jogadas para
fora novamente. Várias amostras simples devem
ser retiradas a intervalos regulares de tempo para que possam representar a
totalidade do lote.
Amostragem
manual ou com instrumentos (amostrador)
Em
certas situações, com sementes palhentas, a amostragem manual pode ser o único método satisfatório. As amostras
simples devem ser tomadas retirando-se as mãos cheias de sementes de diferentes
posições ao acaso, cuidando em manter os dedos firmemente fechados sobre as
sementes, para que nenhuma escape. É necessário retirar amostras simples das
camadas mais profundas da embalagem, mesmo que isso signifique a necessidade de
esvaziá-lo parcialmente primeiro.
O uso de
instrumentos (amostrador) é viável quando as sementes deslizam facilmente, sendo então retiradas porções de sementes da parte
superior, do meio e do fundo de cada recipiente.
Deve ser tomado o cuidado para que as amostras não sejam retiradas das partes mais acessíveis e convenientes do lote.
Amostragem
a granel
A
granel, significa que a semente não está contida em recipientes como sacos. As dificuldades para essa amostragem irão depender
das condições como ela está armazenada. Se
a profundidade do recipiente ou local onde está armazenada a semente não
ultrapassar 2- 5 metros, o uso de um instrumento (amostrador), de tamanho
compatível, pode ser necessário.
Contudo, os métodos e principalmente os cuidados devem ser os mesmos
dispensados para qualquer amostragem.
![](/storage/articles/images/1032/15608295225d085e520a4d0.png)
Amostragem
de plantas
Uma
hectare de milho possui 50 mil plantas e, considerando que a área máxima para inspeção da qualidade são 50 ha, vamos ter 2.500.000
plantas, as quais também, por motivos óbvios, devem ser amostradas. No caso de
plantas, a intensidade da amostra envolve a tolerância do contaminante e um fator
aceito universalmente, consistindo em o que tamanho da amostra deva ser tal
que, encontrando-se três contaminantes, o campo ainda pode ser colhido para
semente. Assim, considerando uma tolerância, de 0,2% (2 contaminantes em 1000
plantas), deveremos amostrar 1.500 plantas. Assim, cada planta amostrada representará
1.667 plantas. Quanto menor a tolerância, maior o número de plantas a serem
amostradas.
Amostragem
no laboratório
A
amostra submetida, recebida no laboratório de análise de sementes, geralmente
necessita ser reduzida a uma amostra de trabalho igual ou maior que o tamanho
prescrito para cada espécie e teste a ser realizado. A amostra submetida, após ser inicialmente
bem misturada, passa por divisões
sucessivas, usando métodos e instrumentos específicos, para obtenção das
amostras de trabalho. Amostras duplicatas e sub-amostras devem ser retiradas
independentemente da amostra submetida, sendo o remanescente novamente
homogeneizado, antes que outra amostra ou sub amostra seja retirada.
![](/storage/articles/images/1032/15608295225d085e520ab1d.png)
Importância
Para
termos uma ideia da importância da amostragem, utilizemos o teste de
germinação. Considerando que um lote de sementes de soja tenha 20 t. e que 6
sementes pesam 1 g, esse lote terá aproximadamente 120.000.000 sementes. Como
salientado no texto, não vamos testar todas as sementes e sim fazer uma
amostragem de tal forma que as sementes a serem utilizadas no teste de
germinação representem todo o lote. Assim como o teste de germinação utiliza
uma Amostra de Trabalho de 400 sementes, o resultado obtido nessa determinação
irá representar as 120 milhões de sementes do lote. Caso a amostragem não seja realizada
corretamente, essa relação não será verdadeira, com prejuízo para todos.
Amostrador
A Lei nº
10.711, regulamentada em 2004, instituiu que o Mapa deverá credenciar, junto ao
Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), as pessoas físicas que
comprovem qualificação técnica em amostragem, para exercerem a atividade de
amostrador de sementes, as quais serão autorizadas a executar a amostragem dos
lotes de sementes destinados à
certificação.
Importante
também nesse momento de atualização das Regras para Análise de Sementes, que as diferenças existentes,
quando se comparam os valores adotados pelo Brasil em relação à International Seed Testing Association
(Ista), quanto a tamanhos máximos de lotes, de amostras submetidas e de
trabalho, sejam compatibilizadas, assim como, que todos os técnicos envolvidos
na atividade de produção de sementes, inclusive aqueles responsáveis pela
amostragem oficial, estejam conscientes de que os resultados obtidos no
laboratório se referem à amostra analisada e que esta precisa ser
representativa do lote.