A edição de genes poderia reduzir a aplicação de inseticidas na agricultura europeia em até 80 porcento
Pesquisadores suecos calculam que se os produtores de cereais tivessem acesso comercial a cultivos melhorados com edição de genes, poderiam coletivamente poupar até 70 milhões de euros na utilização de inseticidas só para o trigo e que uma batata resistente à requeima poderia reduzir a utilização de inseticidas em mais de 80%; Isto, desde que a legislação da União Europeia seja flexibilizada.
Num estudo recente publicado na revista "Plant-Environment Interactions", cientistas da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas (SLU) revelaram o enorme potencial da edição genética para transformar a agricultura na Europa, particularmente no que diz respeito à redução do uso de inseticidas. Este avanço poderá constituir um marco nos esforços para tornar a agricultura mais sustentável e menos dependente de produtos químicos nocivos.
O estudo, intitulado «Edição do Genoma como Ferramenta para Reduzir o Uso de Inseticidas na Agricultura Europeia», analisa como as técnicas de edição de genes, como o CRISPR-Cas9, podem ser usadas para melhorar a resistência das culturas a pragas e doenças (reduzindo significativamente a aplicação de inseticidas). Esta abordagem poderia não só diminuir significativamente a necessidade de aplicação de inseticidas, mas também contribuir para melhorar a saúde do solo e a biodiversidade, reduzindo a poluição química.
Regulamentações europeias e agricultura sustentável
A Comissão Europeia estabeleceu metas para reduzir a utilização de inseticidas químicos, e uma forma de atingir essas metas no sector agrícola é criar culturas resistentes a doenças. No estudo em questão, os pesquisadores perguntaram se as tecnologias modernas de melhoramento, por exemplo a edição de genes utilizando nucleases dirigidas ao local (SDN), como a popular CRISR/Cas9, podem contribuir para estes objetivos.
Esta questão foi acentuada pelas recentes propostas legais na União Europeia (UE) e noutras jurisdições em todo o mundo para isentar as plantas geneticamente editadas dos regulamentos rigorosos que normalmente se aplicam às culturas geneticamente modificadas (GM) clássicas. Utilizando estatísticas oficiais sobre o cultivo de culturas e a utilização de inseticidas para dois exemplos de culturas habitualmente cultivadas na Suécia (trigo e batata), os pesquisadores calcularam que os produtores de cereais poderiam poupar coletivamente até 70 milhões de euros na utilização de inseticidas apenas para o trigo e que um total de 100 milhões de euros seriam poupados. Sendo ainda que a batata (editada ou cisgénica) resistente à requeima poderia reduzir a utilização de inseticidas em mais de 80%; isto desde que a legislação da União Europeia seja modificada.
Dado o imenso potencial das culturas geneticamente editadas, analisamos mais detalhadamente a proposta legal atualmente em negociação na UE sobre as chamadas novas técnicas genómicas (NBTs), que incluem tanto a edição do genoma como as inserções direcionadas de cisgene (gene em espécies sexualmente compatíveis).
A proposta legislativa europeia para NBTs promete facilitar a implementação de culturas melhoradas por estas técnicas na agricultura europeia. No entanto, os pesquisadores afirmam que a proposta tem várias limitações técnicas e, se implementada, dificultarão esse desenvolvimento. Para ter em conta as diferenças no tamanho e na complexidade do genoma entre as diferentes espécies de plantas, eles instam os decisores políticos a contar o número máximo de alterações permitidas para uma planta cultivada com NBT de categoria 1 por conjunto básico de cromossomas, o que permite um maior número de modificações em espécies poliplóides.
Além disso, para facilitar o uso de genes R (resistência), as inserções de cisgenes mediadas por Agrobacterium em regiões que não perturbam um gene existente ou alteram a atividade de genes vizinhos devem ser qualificadas como plantas melhoradas por NBTs de categoria 1 com estes relativamente pequenos.
Os pesquisadores suecos acreditam que a legislação para os NBTs permitirá um melhoramento genético impactante para o futuro e facilitará a redução do uso de inseticidas na Europa.
