Agricultores protestaram em toda a Holanda quando os legisladores votaram na terça-feira propostas para reduzir as emissões de poluentes prejudiciais, um plano que provavelmente forçará os agricultores a cortar seus rebanhos de gado ou parar completamente o seu trabalho.

   O governo diz que as emissões de óxido de nitrogênio e amônia, que o gado produz, devem ser drasticamente reduzidas perto de áreas naturais que fazem parte de uma rede de habitats protegidos para plantas e animais selvagens ameaçados de extinção que se estende por toda a União Europeia de 27 países.

   Enquanto os tratores se reuniam do lado de fora do prédio do parlamento, o primeiro-ministro Mark Rutte disse que os agricultores têm o direito de protestar, mas não de infringir a lei.

   A coalizão governista quer reduzir as emissões de poluentes, predominantemente óxido de nitrogênio e amônia, em 50% em todo o país até 2030. Os ministros chamam a proposta de "transição inevitável" que visa melhorar a qualidade do ar, da terra e da água.

   Eles alertam que os agricultores terão que se adaptar ou enfrentar a perspectiva de fechar seus negócios.

   "A mensagem honesta... é que nem todos os agricultores podem continuar seus negócios", e aqueles que o fizerem provavelmente terão que cultivar de maneira diferente, disse o governo em comunicado este mês ao divulgar metas de redução de emissões.

   O gado produz amônia em sua urina e fezes. O governo no passado pediu aos agricultores que usem ração para seus animais que contenha menos proteína como forma de reduzir as emissões de amônia. O problema é agravado na Holanda, conhecida por suas práticas agrícolas intensivas, com um grande número de animais mantidos em pequenas áreas de terra.

   No entanto, conforme escreveu o Eng. Agr. Eduardo Allgayer Osorio, os ambientalistas esquecem que a vaca não produz metano espontaneamente. Liberado pelo arroto da vaca (e não pelo “pum” como é erroneamente divulgado) o metano resulta da fermentação anaeróbica do pasto consumido. Para crescer, o capim capta o CO2 do ar, num processo de reciclagem do carbono que, num sistema de manejo adequado, resulta empatado em quantidade de carbono equivalente, como bem demonstra o Projeto Pecus, conduzido por mais de 300 pesquisadores da Embrapa e de outras instituições em todos os biomas brasileiros, demonstrando que na criação animal bem conduzida o balanço de carbono equivalente pode inclusive ser positivo (mais oxigênio disperso no ar do que carbono retido na forma de metano), especialmente quando são adotados processos que integram lavoura-pecuária-florestas. Além disso, o metano tem uma vida útil relativamente curta quando comparada com a do CO2, que se mantém estável na atmosfera por séculos. Cabe considerar que em toda a atividade antrópica algum impacto ambiental ocorre. O simples ato de respirarmos joga CO2 na atmosfera. Vamos parar de respirar para evitar poluir o ar?

   Não são apenas os agricultores que estão sendo visados. No passado, o governo também reduziu o limite nacional de velocidade máxima nas rodovias de 130 quilômetros por hora (80 milhas por hora) para 100 kmh durante o dia, como forma de reduzir o óxido de nitrogênio criado pelos motores dos veículos.

   O governo foi forçado a agir após uma série de decisões judiciais que bloquearam projetos de infraestrutura e construção por temores de que causassem emissões que violassem as regras ambientais. Está dando às autoridades provinciais um ano para encontrar maneiras de cumprir as metas de redução de emissões.

   Cerca de 40.000 agricultores se reuniram na semana passada no centro agrícola da Holanda central para protestar contra os planos do governo. 

   Na segunda-feira e na terça-feira, os agricultores novamente levaram seus protestos às rodovias lotadas, dirigindo lentamente pelas estradas ou parando completamente. Alguns despejaram fardos de feno nas estradas e pequenos grupos se manifestaram em prefeituras e prefeituras, em alguns casos iniciando fogueiras do lado de fora dos prédios.

   Os agricultores argumentam que estão sendo injustamente apontados como poluidores, enquanto outras indústrias, como aviação, construção e transporte, também estão contribuindo para as emissões e enfrentam regras menos abrangentes. Eles também dizem que o governo não está dando a eles uma visão clara de seu futuro em meio às reformas propostas.

   O governo publicou um mapa com metas de redução em todo o país com base na proximidade de áreas designadas como parte da rede “Natura 2000 da EU” de habitats de plantas e animais vulneráveis ​​e ameaçados de extinção. Existem sites “Natura 2000” nos 27 estados membros, cobrindo 18% da área terrestre do bloco e 8% do seu território marinho.

   Em seu site, a Comissão Europeia diz que a conservação e o uso sustentável das áreas “Natura 2000” estão “em grande parte centrados nas pessoas que trabalham com a natureza e não contra ela. No entanto, os Estados-Membros devem garantir que os sítios sejam geridos de forma sustentável, tanto ecológica como economicamente.”

   Agricultores holandeses argumentam que outros países da UE não estão reprimindo a indústria agrícola com tanta força quanto a Holanda. Durante um protesto na segunda-feira, um grupo de agricultores de uma região holandesa da “Natura 2000” perto da fronteira alemã ergueu bandeiras e um sinal de “Bem-vindo à Alemanha” para simbolicamente torná-la parte do país vizinho.

   A agricultura – da pecuária leiteira ao cultivo em campos e estufas – é uma parte significativa da economia holandesa.

   De acordo com um grupo nacional de lobby agrícola, LTO, existem quase 54.000 empresas agrícolas na Holanda, com exportações totalizando 94,5 bilhões de euros em 2019.