Novo gênero de nematoide no Brasil é descoberto em folhas de corda de viola
Uma equipe de nematologistas brasileiros que inclui o pesquisador Cláudio Marcelo Gonçalves Oliveira, do Instituto Biológico (IB-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, descreveu um novo gênero e espécie de nematoide foliar, o Monteironema caresi, que parasita plantas do gênero Ipomoea, popularmente conhecidas como corda-de-viola. Ao nomear a nova espécie, os pesquisadores reconheceram a trajetória de duas grandes personalidades da Nematologia brasileira, os professores Ailton Rocha Monteiro e Juvenil Cares.
O nematoide foi descoberto em folhas de plantas do gênero Ipomoea (especificamente Ipomoea cairica e Ipomoea syringifolia, conhecidas como cipó-mil-homens) que apresentavam manchas angulares cloróticas a necróticas. As coletas ocorreram em 20 de fevereiro de 2019, no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, Minas Gerais. O local é caracterizado por microclimas mais frios e úmidos, próximos a lagos e bordas de florestas, o que favorece a presença de parasitas foliares. Os sintomas observados nas plantas hospedeiras incluem manchas delimitadas pelas nervuras das folhas, sem formação de galhas típicas de outros anguinídeos.
O nematoide foi extraído incubando pedaços de folhas em água, e sua identificação envolveu microscopia de luz, microscopia eletrônica de varredura (SEM) e análises moleculares.
Os resultados mostraram que o nematoide não se enquadrava em nenhum dos gêneros conhecidos da família Anguinidae, grupo que inclui espécies parasitas de folhas, caules, sementes e flores. As análises moleculares confirmaram que se tratava de uma linhagem independente, justificando a criação de um novo gênero e uma nova espécie: a Monteironema caresi.
O nome do gênero Monteironema é uma combinação de "Monteiro", em homenagem ao professor brasileiro Ailton Rocha Monteiro (da ESALQ-USP, um taxonomista pioneiro em nematologia no Brasil), e "nema" (do grego, significando "fio" ou "nematoide"). O epíteto específico caresi honra o professor Juvenil Enrique Cares (da Universidade de Brasília), outro mestre na área de nematologia. Essa nomeação reflete o reconhecimento a contribuições históricas para o estudo de nematoides parasitas de plantas no país.
O nematoide é um parasita foliar, com faixa de hospedeiros limitada às Ipomoea spp. mencionadas. Testes biológicos mostram embriogênese em 5 dias a 25°C (ovos em forma de bastão, 17×49 μm, divisão celular até eclosão J2).
Os adultos de M. caresi medem de 0,4 a 0,9 milímetro e ocorrem em três formas distintas: fêmeas semi-obesas, fêmeas imaturas e machos delgados. Apresentam corpo fusiforme, cutícula finamente estriada e um estilete (estrutura usada para perfurar tecidos vegetais) curto e robusto. O sistema digestivo e reprodutivo possuem combinações de características únicas, reforçando sua distinção em relação a outros gêneros da família. Não forma galhas espirais ou crustaformeria, diferentemente de outros anguinídeos. Sua descoberta preenche lacunas taxonômicas na Anguinidae, destacando convergências morfológicas e a necessidade de dados moleculares. Embora não seja de importância agrícola imediata (hospedeiros não são culturas principais), representa um marco na nematologia brasileira, homenageando pioneiros e contribuindo para revisões na família, com potencial para estudos ecológicos em plantas invasoras.
Os autores da descrição são Dalila Sêni Buonicontro (da Universidade Federal de Viçosa), Taynara Gomes De Souza, Andressa Rodrigues Fonseca, Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira e possivelmente outros colaboradores. O artigo foi publicado na Russian Journal of Nematology em Novembro de 2025.
“Os próximos passos envolvem a condução de estudos em casa de vegetação para verificar se a nova espécie também parasita outras plantas e se o nematoide ocorre em outras áreas, além de Viçosa”, complementa o pesquisador do IB.