As Últimas Fronteiras da Indústria de Sementes?

Edição X | 06 - Nov . 2006
James Delouche-JCDelouche@aol.com
   Sei que é um estilo pobre começar um artigo explicando seu título, mas sinto que isso é necessário. As “últimas fronteiras da indústria de sementes” no título se referem às áreas decrescentes do mundo que não têm uma porção substancial da organização, infra-estrutura e métodos requeridos para fornecer as sementes melhoradas necessárias para avançar no setor agrícola e dar garantia de alimentos. Na década de 50, as fronteiras da indústria sementeira eram extensas e se expandiam, ao invés de diminuir. Exceto no Oeste da Europa, Nova Zelândia e em um ou dois países africanos (por exemplo, África do Sul) e América do Sul (por exemplo, Argentina), o resto do mundo era uma fronteira da indústria sementeira.                 
   A União Soviética certamente deveria ser incluída também como uma exceção, porém de tipo bem diferente. Sob seu sistema econômico centralmente planejado e operado, algumas fazendas do estado e/ou coletivas receberam a tarefa de produzir sementes para distribuição a outras fazendas, porém este sistema certamente não era eficiente, responsável, nem dava resultados. Também deve-se observar que o segmento de sementes de leguminosas da indústria sementeira era uma exceção geral. O mercado de sementes de leguminosas foi bem além da fronteira e já era comercializado em níveis variáveis em muitos dos países, já na década de 50.   
                 
    As fronteiras começam a ceder                 
    As fronteiras da indústria sementeira atingiram seu pico e começaram a ceder nos anos 60. Índia, Coréia do Sul, Argentina, Chile e Brasil avançaram além da fronteira e começaram a solucionar seriamente a tarefa de construir indústrias sementeiras para suas necessidades e tipo de agricultura específicas. Políticas relacionadas aos sistemas de fornecimento de sementes foram estabelecidas e/ou reformadas, sanções apropriadas e legislação regulamentadora foram decretadas, serviços governamentais tais como fornecedores, certificação e análise de sementes foram estabelecidos e muito, mas muito cautelosamente, o setor privado obteve permissão para participar. Muitos países como, por exemplo, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Indonésia, Egito e outros na África do Norte, Quênia, Turquia, Colômbia, Costa Rica e outros na América do Sul mudaram a fronteira da indústria sementeira, e no final das décadas de 60 e 70, com o estímulo  da “revolução verde”, houve expansão do trigo e variedades de arroz e o rápido aumento na adoção de variedades híbridas de milho, sorgo, e milheto.          Embora os desenvolvimentos fossem frequentemente lentos e esporádicos e geralmente desequilibrados, a maioria dos países com economia de mercado agrícola substancial tinham estabelecido indústrias sementeiras relativamente bem supridas de recursos, e com funcionamento relativamente bom para as lavouras comerciais mais importantes, em torno dos anos 90, com uma substancial participação do setor privado. As principais exceções são países no Oeste de África e na porção Sub-Saara e parte do Leste de África. Estas exceções foram unidas por muitos dos novos países independentes (NPIs) a partir da dissolução da URSS nos anos 90.                 
   Com a independência, os NPIs tiveram cortados seus suprimentos de sementes (e variedades) e insumos de produção. Minha impressão é que estas duas exceções constituem as últimas fronteiras para o desenvolvimento da indústria sementeira, mas posso ter ignorado outras, e é por isso que há um ponto de interrogação no final do título. Reconheço que há muito trabalho de desenvolvimento por fazer nas indústrias sementeiras em muitos países e uma contínua necessidade por sintonia fina e adaptações das indústrias sementeiras nos países da América do Norte e Oeste da Europa, Austrália e outros com indústrias sementeiras altamente profissionalizadas.                   
    A última edição da SEED News lista alguns dos impedimentos a um maior desenvolvimento das indústrias sementeiras: o uso contínuo e indiscriminado de sementes salvas; a pirataria de variedades protegidas e patenteadas; cuidados excessivos e atrasos na aceitação de variedades GM; problemas na coleta de royalties e taxas tecnológicas. A falta de variedades produtivas, adaptadas, a carga de regras e procedimentos fitossanitários, problemas de registro de variedade e teste podem ser somados à lista. Porém, tais impedimentos são, em sua maioria, passíveis de solução através de mudanças nas prioridades políticas, administrativas, e decisões políticas. 
                   
    Marcos do progresso                 
    Comecei a pensar sobre o assunto desta edição várias semanas atrás, enquanto lia algumas revistas sobre o Mercado de sementes, incluindo a SEED News, e novos artigos sobre esforços renovados para fazer algo pelo setor agrícola e economia africanos e pelos problemas de segurança alimentar nos NPIs. Nosso marco de progresso em qualquer indústria é a organização de associações de classe. Muitas associações nacionais e regionais de sementes foram organizadas durante os últimos 25 anos na Ásia, América do Sul, e África do Norte, e outras estão florescendo agora. Elas foram iniciadas através da tomada de pequenos passos, como clubes sementeiros informais organizados na Tailândia e na Indonésia nos anos 70.                  
    As associações sementeiras nacionais formadas na Índia, Paquistão, Brasil, Argentina, China e outros países tornaram-se advogados poderosos da modernização e progresso na agricultura. As associações regionais foram então formadas: a Associação Sementeira da Ásia e Pacífico, a Federação Latino Americana de Associações Sementeiras e, bem recentemente, a Associação Sementeira das Américas. Então, há a Federação Internacional de Sementes (FIS), que tem desempenhado o papel de guarda-chuva e liderança para as associações nacionais e regionais de sementes por muitos anos.                 
    Uma associação africana de Sementes foi organizada durante os anos 90, porém não floresceu conforme esperado e necessário. Um outro marco do progresso no desenvolvimento de uma indústria sementeira é o grau de envolvimento do setor privado e das forças de mercado em suas operações. Na maioria, mas não em todos os países mencionados acima na Ásia, América do Sul e África do Norte, a indústria sementeira é orientada pelo mercado e o setor privado está bastante envolvido.
                       
    Modelos apropriados                   
 
   Países da América do Norte e Oeste da Europa, assim como aqueles mais progressivos na Ásia e América do Sul, serviram e continuam servindo de modelos para os que estão progredindo mais lentamente. Às vezes os modelos selecionados eram apropriados, mas em muitos casos eles não o eram. O modelo precoce de vilas de sementes em alguns estados indianos não era apropriado para outros estados e, como se viu, não era apropriado nem mesmo para o estado no qual foi originado. A concentração de modelos de atividades com sementes teve sucesso em vários estados da Índia, porém falhou completamente quando exportado para Indonésia e Nepal.                 
    O modelo de indústria sementeira do Norte da Europa, rigoroso e firmemente regulado, mostrou ser inadequado para muitos países da Ásia e América do Sul, enquanto o modelo dos EUA, bastante liberal, mostrou-se igualmente impróprio para muitos países em desenvolvimento. Isto nos leva aos pontos principais desta matéria, os quais podem ser encaixados em duas questões. Primeiro, os países menores, com poucos recursos e fracos em tecnologia, na África, e os agora independentes países que antes compunham a URSS (NPIs) e   que acabaram de se desvencilhar de um sistema econômico centralmente planejado, conseguem ir além das fronteiras em direção à arena agrícola progressiva? Segundo, se as transições são possíveis, elas vêm de modelos apropriados a estas tarefas obviamente difíceis?      
                   
    “Na maioria, mas não em todos os países mencionados na Ásia, América do Sul e África do Norte, a indústria  sementeira é orientada pelo mercado e o setor privado está bastante envolvido.”    
                 
   Creio que os NPIs, com uma agricultura praticamente de subsistência, podem se mover em direção ao fluxo de modernização agrícola e de produtividade. Fazendeiros armênios podem e estão reaprendendo a cultivar trigo ao invés de vegetais de inverno para Moscou e Leningrado; fazendeiros do Uzbequistão podem reaprender a produzir produtos alimentícios ao invés de algodão, e assim por diante. Estas transições levarão tempo, porém são modelos relativamente bons nos NPIs maiores, Turquia e Leste da Europa.                  
    Mudar os países africanos menores e pobres em recursos além das fronteiras será uma tarefa muito mais difícil. Houve muitas tentativas, quase todas fracassadas, ao longo de muitos anos e a custos consideráveis. Os pequenos países do Oeste Africano e Sub- Saara são diferentes. A agricultura de cultivos alimentícios é muito diferente do que nos países da Ásia e da maioria daqueles da América do Sul. Não há bons modelos. Por exemplo, não há animais de trabalho, os recursos do solo são escassos, o manejo de irrigação e água essencialmente inexiste, muitos dos tipos de cultivos introduzidos e variedades desenvolvidas não eram apropriados para os fazendeiros pequenos que trabalham para subsistência, muitos dos cultivos importantes são propagados vegetativamente, e os mercados para qualquer produção em excesso são pequenos, locais e facilmente saturadas.                    
    As frequentes secas e a guerra civil somam muito às dificuldades e agigantam as deficiências. Ainda sou otimista sobre quanto, com tempo e paciência, os renovados esforços e investimentos na melhoria da produção de alimentos e segurança na África podem produzir avanços substanciais no fornecimento de alimentos e no status econômico da pobreza rural.
    Estes objetivos limitados, entretanto, não serão atingidos com atenção no curto prazo, expectativas fora da realidade e modelos inadequados que caracterizaram muitos dos esforços de desenvolvimento no passado. O modelo para desenvolvimento de sistemas adequados de fornecimento de sementes para estes países terá de ser feitos em cima das boas e das más experiências na região.   

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