Atividades conjuntas da ABRATES e ISTA obtêm pleno sucesso

Edição XI | 04 - Jul . 2007
Silmar Teichert Peske-silmar@seednews.inf.br
             O governo brasileiro, através do Ministério da Agricultura, Pecuária e  Abastecimento (Mapa), teve a feliz ideia de convidar a ISTA para realizar o seu congresso de 2007 no Brasil e, uma vez aceita a proposta, indicou a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates) para a promoção e realização. Como o evento coincidiu com o congresso que a Abrates realiza de dois em dois anos, decidiu-se por um evento em conjunto, denominado de XV Congresso Brasileiro de Sementes e 28° ISTA Congress. Tal iniciativa fez com que o presidente da Abrates fizesse parte da diretoria da ISTA como segundo  vice presidente.                                                                                                                                         O evento consumiu praticamente três anos de preparação, mas valeu a pena, pois se conseguiu trazer para o Brasil o que o mundo possui de mais avançado em termos de ciência e tecnologia de sementes, e as reuniões técnicas dos 16 comitês da ISTA. Sempre é importante aproveitar as oportunidades que aparecem; assim, alguns workshops pré-eventos foram programados para que renomados cientistas, professores e tecnólogos também compartilhassem suas experiências. Foram realizados quatro workshops, nas áreas de Identificação Varietal, Germinação e Tetrazólio, Vigor, e Desafios Estatísticos e Análise de Sementes - todos com professores participantes de comitês técnicos da ISTA.
              Um empreendimento como este envolve muitos detalhes e só uma equipe bem organizada consegue realizá-lo. A ferramenta que se utiliza para determinar seu sucesso é baseada no tripé boa programação, número de participantes e captação de recursos. A programação esteve a cargo da ISTA, que conseguiu trazer palestrantes de renome e fazer uma boa seleção dos 36 trabalhos a serem apresentados em plenário. O aspecto motivacional e a captação de recursos esteve praticamente a cargo do vice-presidente da ISTA e presidente da Abrates e sua equipe da UFPel e da Abrasem.
              Merece registro a receptividade obtida pelo evento nos países do Mercosul, uma vez que Uruguai, Argentina e Bolívia montaram estandes para promover seus programas de  sementes e servir de ponto de encontro. Em termos de captação de recursos, houve forte apoio das mais de 25 empresas que montaram estandes, bem como das empresas que colocaram suas marcas nos diversos itens que compuseram o ambiente do evento.
              Algo que merece comentário é a experiência obtida como membro da diretoria da ISTA nos últimos três anos, graças ao suporte que tive da Abrates, da Abrasem e da UFPel – esta última em especial, pois, como professor, tive que ser substituído mais do que uma vez, e os colegas sempre estiveram prontos para ajudar. Estes anos foram frutíferos e creio haver contribuído para com a entidade, a região e para com o país, que está em vias de ter o seu primeiro laboratório de sementes credenciado na Ista e outros em vias de começar o processo de credenciamento. O Brasil possui mais de 240 laboratórios de análise de sementes, para os quais as regras de análise de sementes da ISTA são um grande referencial.
             Como presidente da Abrates, gostaria de registrar que a  entidade possui entre seus objetivos dois que se destacam: a Revista Brasileira de Sementes e a realização, de dois em  dois anos, do  Congresso Brasileiro de Sementes, que agora foi realizado junto com a ISTA, de reconhecida atuação no mundo sementeiro, o que demonstra a confiança e o reconhecimento internacional de nossa associação.


                                               
                     
               Igualmente, gostaria de relatar uma conversa mantida com um grupo de colegas sementeiros durante um dos almoços. Ao saudá-los e expressar a satisfação de encontrá-los no evento, a resposta veio rápida: “Contente estamos nós em poder participar e usufruir de tão importante evento, pois não é todos os dias que temos a oportunidade de ter contato direto com o que o mundo está pesquisando”. A observação foi um combustível que elevou em alguns graus o nosso ego e fez crescer nosso entusiasmo.
             A iniciativa de uma entidade internacional de renome como a ISTA, em conjunto com uma forte entidade nacional como a Abrates, conseguiu trazer para o congresso mais de 1000 participantes, dos quais, mais de 300 estrangeiros, procedentes de 59 países. A troca de informações e experiências entre os participantes foi um dos pontos altos do evento.
                     
 
                       
 
                     
 
                                       
 

                                                             Uma visão geral do simpósio
                                                                                                                              Julio Marcos Filho
            O Brasil é um país cujas regiões não exibem contrastes climáticos extremos e  apresentam excelentes condições para a produção de grãos, hortaliças, frutas, forrageiras, essências florestais, tanto de clima tropical como temperado. A importância estratégica do setor agropecuário, como propulsor do desenvolvimento econômico do Brasil é inegável. A contribuição da cadeia do agronegócio para a composição do PIB brasileiro tem variado de 26% a 32% nos últimos anos, embora haja condições para atingir níveis superiores. O país é um dos mais destacados produtores mundiais das principais culturas de importância econômica, sendo responsável por proporção significativa do total produzido no mundo. A produtividade média da maioria das culturas é similar ou superior à média mundial e tem mostrado crescimento significativo, principalmente na última década.
               A indústria brasileira de sementes é bem desenvolvida e, até meados dos anos 1990, envolvia a participação de empresas produtoras nacionais e internacionais ativas e  competitivas. A partir de então, várias companhias nacionais foram incorporadas por companhias estrangeiras, mas, mesmo nessa situação, em 2006 a Associação Brasileira de Produtores de Sementes contava com 554 membros, cada um representando uma empresa.
           O mercado brasileiro tem importância significativa e representou cerca de 7,5% do mercado mundial de sementes, em 2005/2006, considerando  principalmente a comercialização de  grandes  culturas, hortaliças e gramíneas forrageiras tropicais. Esta breve apresentação da agricultura e da indústria brasileira de sementes permite estimar a pujança dessas atividades. Apesar dessa situação, não é surpreendente que o tema central deste Simpósio tenha enfatizado a Diversidade em Tecnologia de Sementes.
              Em primeiro lugar, as relações entre a palavra diversidade e grande parte das atividades referentes à Ciência e Tecnologia de Sementes se manifestam de inúmeras maneiras, representando o dinamismo e a amplitude de oportunidades para abordagens distintas como, por exemplo: a variabilidade genética e morfológica de sementes de diferentes  gêneros e espécies vegetais; a variada gama de manifestações de processos vitais, diretamente afetados pelo genótipo; as alternativas para o controle biológico; os diferentes procedimentos adotados durante a produção de sementes, nas etapas pré e pós-colheita; a amplitude de problemas enfrentados para a produção de sementes de alta qualidade; as variações nos níveis de tecnologia adotados em diferentes regiões, além de vários outros aspectos.
                   
                                                           Participantes do simpósio
   

                                                   Dr. Silmar Peske, presidente do evento.

            Paralelamente, uma das prioridades atuais da humanidade, ressaltadas em todos os continentes, é a preservação da biodiversidade, no que diz respeito à flora, à fauna e ao ecossistema, constantemente ameaçados pela exploração desordenada de recursos naturais. A biodiversidade não é distribuída de maneira uniforme nas diferentes regiões do mundo, sendo mais ampla nos trópicos. Os recursos naturais brasileiros credenciam sua importância internacional e a posição de destaque do país como detentor de 25% da biodiversidade mundial.
              Consequentemente, não poderia ser mais adequada a ideia de escolher esse tema para uma reunião internacional sobre sementes sediada no Brasil. O Simpósio de Sementes ISTA 2007, com 1092 inscrições representando mais de 40 países, foi realizado em conjunto com o XV Congresso Brasileiro de Sementes. Foram submetidos 394 trabalhos ao Simpósio, dos quais 36 foram destinados à apresentação em sessões orais, precedidos por palestras proferidas pelos coordenadores das respectivas sessões, e 358 distribuídos em duas sessões de pôsteres, reunindo os mesmos temas propostos para as sessões orais. A maioria das pesquisas foi conduzida na América do Sul (50,1%); em seguida, posicionaram-se a Ásia (27,7%), a Europa (12,1%) e outros (7.4%).
            Considerando os países de origem dos primeiros autores de cada trabalho, verificou-se tendência  semelhante à observada no Simpósio realizado em Budapeste/2004, ou seja,  predomínio de trabalhos brasileiros (42,8% do total), seguindo-se a Índia (15,8%), a Argentina (6,6%), o Irã (6,4%) e a França (2,8%). Esses dados permitem identificar, de maneira consistente, as regiões onde há predominância da pesquisa ativa em sementes, considerando-se as representadas neste Simpósio. A distribuição dos assuntos abordados é apresentada na tabela a seguir, onde podem ser efetuadas comparações com os Simpósios anteriores (Pretoria, Angers e Budapeste).
             Verifica-se que o número de trabalhos submetidos tem aumentado gradativamente, mas a posição predominante dos estudos dirigidos à Fisiologia de Sementes não tem se alterado. O segundo tema, em ordem de frequência de apresentação de trabalhos, tem sido a Análise de Sementes, mas a principal abordagem nessa área tem sido dirigida à avaliação do vigor e ao estudo de alternativas para a condução de testes de germinação, ou seja, assuntos estreitamente associados à fisiologia de sementes. Estas tendências não foram alteradas desde o 23° Congresso da ISTA, realizado em Buenos Aires/Argentina, em 1992. Observam-se, também, oscilações periódicas na intensidade das pesquisas sobre produção, patologia e secagem/armazenamento.
                
                     
                                          Dr. Julio Marcos Filho, no momento de sua palestra

                   
                    Jitka Koctianek, apresentando um dos trabalhos vencedores, intitulado, The impact of provenance, season and season differences on the seed longevity of nine Australian native species

                No presente Simpósio, os trabalhos (orais e pôsteres) foram divididos em seis sessões ou áreas, a saber:
                1. Diversidade dentro e entre lotes e espécies de sementes - Esta sessão incluiu 53 trabalhos, correspondendo a 13,5% do total. Houve predomínio de estudos sobre métodos para a identificação de sementes, baseados em características morfológicas, marcadores moleculares e análise computadorizada de imagens. Deve ser destacado o crescimento do número de trabalhos envolvendo a avaliação da qualidade de sementes de espécies nativas.
                2. Problemas associados à domesticação de espécies não cultivadas - Esta área compreendeu 26 trabalhos (6,7% do total), com maior impacto para as pesquisas visando à definição de exigências para a germinação de várias espécies, de procedimentos para superar a dormência e de mecanismos de tolerância à dessecação. Todos esses aspectos realmente são fundamentais para balizar a domesticação de espécies nativas e a manutenção da diversidade genética. Foi notada a inserção de número razoável de trabalhos envolvendo sementes de plantas medicinais e florestais nativas.
                3. Diversidade em  organismos contaminantes  -  Registraram-se 41 trabalhos (10,5%) nesta sessão, que  incluiu, quase que  exclusivamente, pesquisas relacionadas à patologia de sementes, com rara apresentação das referentes a insetos e plantas silvestres (invasoras). Os trabalhos foram dirigidos a um número relativamente amplo de espécies. Verificou-se decréscimo relativo de comunicações envolvendo o tratamento químico de sementes e acréscimo das que destacaram alternativas para o controle biológico e utilização de métodos físicos, como a termoterapia, contrariando tendência observada no Simpósio anterior, realizado em Budapeste. Também merecem menção as pesquisas sobre métodos de detecção de  microrganismos associados às sementes, incluindo o uso de marcadores moleculares, e estudos sobre a sanidade de sementes produzidas sob o sistema orgânico.
                4. Desenvolvimento, dormência e germinação de sementes: fisiologia e metodologia  –  Esta sessão incluiu 104 trabalhos (26,6%), voltados principalmente a estudos sobre maturação, germinação, relações entre proteínas e vigor de sementes e procedimentos para a superação da dormência, também envolvendo o uso de marcadores moleculares e a obtenção de informações básicas. Algumas pesquisas focalizaram efeitos de reguladores de crescimento sobre processos fisiológicos em sementes de espécies cultivadas.
                 Verificou-se crescimento do número de trabalhos com espécies medicinais e florestais, com destaque para a tolerância de sementes à dessecação.
                     

                 5. Vigor e revigoramento - Foram submetidos 106 trabalhos (27,1% do total), dos quais mais de 50% focalizaram diferentes aspectos do vigor de sementes. Foi evidenciada a maior concentração de pesquisas sobre diferentes aspectos do desempenho fisiológico de sementes e a sua avaliação em laboratório, procurando adaptar métodos tradicionais visando à determinação do vigor em espécies menos estudadas; foram pouco frequentes as tentativas de desenvolvimento de novos procedimentos. Essa constatação demonstra o grau de prioridade conferido ao assunto pelos pesquisadores, que procuram fornecer subsídios para a adoção de procedimentos para o estabelecimento adequado do estande, providência crucial para a obtenção de alta produtividade agrícola.
                As pesquisas sobre condicionamento fisiológico procuraram elucidar efeitos desse tratamento e o uso de procedimentos eficientes para controlar a possível reversão dos efeitos benéficos após a secagem ou durante o armazenamento. Nesses trabalhos também foi evidenciada a utilização crescente de recursos da análise computadorizada de imagens para estudos sobre o vigor das sementes.
             6. Armazenamento e conservação de sementes  -  Compreendeu a inscrição de 61 trabalhos (15,6%). Merecem destaque as pesquisas sobre: métodos de secagem, fatores que afetam a conservação de sementes ortodoxas e recalcitrantes, métodos para a determinação do grau de umidade, tolerância de sementes à dessecação e conservação de recursos genéticos.
            Houve acréscimo do número de pesquisas sobre o  armazenamento de sementes de espécies florestais e de frutíferas, em comparação a Simpósios anteriores. A palavra diversidade pode ser utilizada novamente para enfatizar a amplitude de variação dos temas abordados nos trabalhos apresentados, incluindo tanto aspectos básicos como os tecnológicos, abrindo caminhos para novas abordagens e para a resolução de problemas enfrentados durante as diversas etapas da produção de sementes pré e pós-colheita, em diferentes países ou regiões.
                 As pesquisas se dirigiram principalmente às espécies de importância econômica (grãos, hortaliças, forrageiras e florestais), com menor intensidade para as frutíferas e floríferas. Além disso, notou-se tendência para o aumento do número de trabalhos conduzidos com espécies ainda não cultivadas ou exploradas com menor intensidade, representadas por medicinais e nativas.
               O conhecimento mais profundo do processo de germinação e de mecanismos de bloqueio metabólico que caracterizam a dormência são aspectos muito importantes tanto para a utilização racional como para a preservação de espécies nativas, das medicinais e de outras com elevado potencial, também justificando o tema Diversidade escolhido para este Simpósio. Esta preocupação não é exclusividade brasileira e isto foi revelado na origem das pesquisas apresentadas em diferentes sessões.

                     
                      Os alunos da Universidade Federal de Pelotas prestigiaram o evento

               O interesse significativo por temas como a identificação de cultivares e preservação da pureza genética, reflete o dinamismo dos programas de melhoramento genético vegetal. Ao mesmo tempo, a atenção para outros temas permite vislumbrar algumas das principais prioridades para a pesquisa em sementes. Por exemplo,
·         o manejo das sementes pós-colheita;
·         o controle biológico de patógenos;
·         o uso de marcadores moleculares em estudos dos mais variados aspectos da tecnologia de sementes;
·         os problemas associados à produção de sementes orgânicas;
·         a elucidação de mecanismos da expressão de genes relacionados à germinação e ao vigor de sementes;
·         as relações entre proteínas e processos fisiológicos em sementes;
·         a análise computadorizada de imagens apoiando estudos de diversos aspectos da tecnologia de sementes.
             O aprimoramento de procedimentos para a avaliação do componente fisiológico da qualidade da semente e a estimativa do potencial de desempenho em campo e durante o armazenamento constitui prioridade permanente. Essas pesquisas, focalizando espécies menos conhecidas, em diferentes regiões do mundo, ao lado da produção de conhecimento mais detalhado dos processos de germinação, dormência e deterioração poderão promover mudanças importantes no direcionamento do aproveitamento racional e preservação de recursos naturais.
                Evidentemente, a análise mais profunda do conteúdo deste simpósio poderia conduzir à obtenção de informações mais amplas e consistentes. No entanto, no exame aqui efetuado ficou demonstrado, pelos trabalhos apresentados, que as diferentes regiões do mundo estão representadas por pesquisadores altamente capacitados para manter o inegável dinamismo e o desejável padrão de qualidade da pesquisa com sementes.
               A importância fundamental da continuidade da pesquisa com sementes torna-se cada vez mais importante, diante do alto grau de refinamento dos métodos de melhoramento genético e da nítida evolução da tecnologia de produção agrícola, garantindo o  estabelecimento de genes interessantes à humanidade, em meio à competitividade determinada pelo ambiente.
 
               “Portanto, sob o ponto de vista biológico, as sementes representam a continuidade da vida. Sob o ponto de vista tecnológico, a semente é o meio mais eficiente para a transferência dos avanços da genética para o campo, interligando a pesquisa e o produtor. Pelo menos por esses dois motivos, o dinamismo da pesquisa com sementes é irreversível e sempre permite antever progressos significativos a curto e médio prazos, como símbolo da diversidade.”

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