Riscos, Recompensas E Perdas

Edição XII | 03 - Mai . 2008
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Na maioria das atividades ou empreendimentos de índole econômica, uma parte dos participantes, indivíduos, instituições ou empresas deverão experimentar riscos, outros até poderão afastá-los e outros poderão até atuar como prognosticadores. Enquanto os tomadores de riscos andam à procura de recompensa ou vantagens, aqueles aversos aos riscos colocarão especial cuidado em evitar perdas ou penalidades no desenvolvimento das atividades, enquanto que os prognosticadores simplesmente adiarão a tomada de decisões ou permanecerão indecisos.
    Na época em que iniciei o ensino básico (com 12 anos de idade), virei tomador de riscos. Como membro do Clube 4-H, um clube de atividades agrícolas para jovens, fui persuadido pelo agente de extensão de nosso clube para plantar aproximadamente 2 ha de milho híbrido, para participar num concurso intermunicipal da cultura. Nessa época, nenhum dos agricultores de nossa região tinha visto ou plantado milho híbrido e só alguns poucos tinham ouvido comentários a respeito do mesmo.
    Apesar do agente de extensão ter visto milho híbrido uma vez, durante uma visita no estado de Iowa e outros estados da região centro-oeste dos EUA, feita na safra anterior, ele tinha ficado muito impressionado. Assim, falou para o meu pai, uma pessoa conservadora e com muitas restrições aos riscos, que o milho híbrido seria a melhor escolha para mim. Os resultados da minha experiência como tomador de riscos com o milho híbrido na região central do estado de Lousiana têm sido relatados em um artigo prévio, sob um contexto diferente. No início, as notícias foram tremendamente boas.
    A minha lavoura de milho híbrido resultou  tão vigorosa, uniforme e produtiva que atraiu a atenção dos vizinhos e de agricultores de outras áreas, além de um repórter do jornal local.
 
    “Os indivíduos dispostos a aceitar e tomar riscos são, usualmente, mas nem sempre, os líderes, enquanto que aqueles que evitam os riscos geralmente não ultrapassam a categoria de seguidores.”
 
    Minha ilusão como possível ganhador do concurso intermunicipal incluiu uma viagem para a capital do estado, onde participaria num concurso de abrangência estadual, no qual ganharia um dos três melhores prêmios com um conjunto de medalhas, troféus, e provavelmente até, minha foto no jornal. Então, um dia que retornei da escola tarde, percebi que meu pai estava junto com o agente de extensão observando minha lavoura de milho híbrido. Corri onde eles estavam para cumprimentá-los, mas fiquei abalado pelas más notícias.
     A lavoura tinha tanta infestação e danos por pragas de insetos e lagartas que não valia à pena colhê-la. Logo, meu pai resolveu colocar gado e suínos na lavoura para que aproveitassem o que pudessem, ao mesmo tempo em que fez arranjos necessários com os vizinhos para repor o milho perdido no meu empreendimento com milho híbrido. A partir dessa data, ele não voltou a confiar inteiramente na palavra do agente de extensão, e eu finalizei a minha ideia de virar um grande tomador de riscos. Porém, devo esclarecer prontamente que o principal problema foi a falta de adaptabilidade do milho híbrido ao clima quente e úmido da região central do estado de Lousiana.    
    Quando finalmente variedades híbridas foram desenvolvidas e liberadas, alguns anos depois, tanto meu pai quanto os nossos vizinhos rapidamente mudaram para elas, recebendo como recompensa colheitas extremamente produtivas.
 
    Avaliação e gerenciamento dos riscos
   A atitude de tomar riscos parece ser um dos requisitos mais importantes para o progresso. Os indivíduos dispostos a aceitar e tomar riscos são, usualmente, mas nem sempre, os líderes, enquanto que aqueles que evitam os riscos geralmente não ultrapassam a categoria de seguidores. O risco tem-se constituído num caráter muito rígido e com múltiplas dimensões nas atividades da economia globalizada de hoje em dia. Entretanto, o gerenciamento do risco tem evoluído e se convertido numa disciplina de forte relevância e especialização na agricultura, atividade caracterizada pela frequência de impactos e riscos de diferentes origens.  
   Até os agricultores primitivos experimentaram a necessidade de se converter em tomadores de riscos, devido às incertezas associadas ao clima e pragas. Todavia, os agricultores atuais devem se converter em grandes tomadores de risco ao se verem confrontados com aspectos tão complexos como as características dos mercados, preços, novas tecnologias e regulamentações a respeito da mão-de-obra. Tudo isso demanda a dedicação de tempo e esforço para avaliar e gerenciar os riscos em proporção similar ou maior às atividades diretamente relacionadas às lavouras.
 
   Oportunidades múltiplas
   O interesse atual em biocombustíveis, os problemas com a preservação ambiental e as melhorias nas economias de alguns países que são importadores de alimentos e rações têm originado uma série de oportunidades tanto para os agricultores dos países fortes nesse setor, quanto de países com setores agrícolas de menor importância. Safras com rendimentos médios baixos, também têm contribuído na geração dessas oportunidades, de forma a providenciar alternativas para recuperação de perdas nas safras anteriores.
    Aqueles produtores que reconheceram, em tempo e forma, a importância do gerenciamento dos riscos deveriam obter renda suficiente para investimentos e manutenção da infra-estrutura produtiva, tanto no que diz respeito ao uso da terra quanto da obsolência do maquinário. Além disso, o cuidado pelo tempo de lazer e as atividades em família poderão ser atendidos. Nesse contexto, as grandes decisões estarão relacionadas às espécies a serem semeadas e às possíveis misturas, por exemplo milho, soja, trigo, cana-de-açúcar, sorgo, arroz, feijão, algodão, culturas orgânicas, quais os investimentos mais rentáveis, quais os equipamentos com a melhor relação entre consumo de combustível e o trabalho realizado, e a consideração de novas tecnologias, como o GPS.
     A contratação de serviços de consultoria com experiência na avaliação e gerenciamento dos riscos é mais um componente desse contexto. Se bem que ainda há necessidade de tomar muitas decisões importantes e difíceis, com certeza, muitos agricultores refletirão sobre as palavras de Kerry: “Eu gosto, eu vivo disso e não faria de uma forma diferente."

    Redução dos riscos
    A exploração de biotecnologias complexas para o desenvolvimento de culturas com caracteres relacionados à alta produção tem disponibilizado para os agricultores uma ótima oportunidade para reduzir os riscos. Como era de se supor, os líderes foram os que assumiram os riscos. Eles pegaram as oportunidades oferecidas e descobriram que eram capazes de reduzir as perdas por pragas e simplificar seu controle, reduzir a dependência dos agroquímicos e beneficiar o ambiente.
    Por sua vez, os que evitaram os riscos e a maioria dos outros incrédulos se tornaram seguidores ao observar os altos benefícios com perdas mínimas associadas às novas  biotecnologias. Alguns países têm resistido ao uso de variedades transgênicas e restringido ou até proibido a importação de produtos originados de culturas transgênicas. Porém, essa resistência parece perder força com a passagem do tempo, aumentando sua aceitação. A falta de comprovação de existência de problemas associados ao consumo de produtos elaborados a partir de culturas transgênicas, a maior eficiência de produção das espécies transgênicas, o menor impacto ambiental do seu uso, a crescente pressão pelo suprimento de alimentos e os aumentos nos preços têm sido fatores que contribuíram à aceitação desses produtos.
    A liberação das variedades transgênicas que apresentam tolerância a estresse do ambiente (estiagem, frio ou calor) e os caracteres para obtenção de produtos com elevado valor nutritivo e rendimento industrial irão fazer sua parte para diminuir ainda mais a resistência à aceitação desses e outros produtos transgênicos. A agricultura de hoje em dia está posicionada numa convergência verdadeiramente extraordinária, na qual os usos tradicionais das culturas para propósitos de alimentação humana e animal, proteção e fonte de fibras são acrescentados pela possibilidade de serem utilizadas como biocombustíveis.
    Essa alternativa permitirá o desenvolvimento de equipamentos de maior eficiência na utilização de combustíveis, sistemas de rotação de culturas, evolução na logística e gerenciamento da informação, exploração da biotecnologia e globalização. A agricultura de grãos se acha no processo de redução significativa dos riscos que durante muito tempo caracterizou sua atividade. Entretanto, a longevidade desta tendência não está completamente clara, e ainda menos garantida. Ainda existem riscos significativos e outros, muito provavelmente, farão sua aparição no curto prazo; esses tipos de riscos serão o tema central da minha próxima contribuição.

Compartilhar