Visita ao Brasil

Edição VII | 01 - Jan . 2003
James Delouche-JCDelouche@aol.com
   Minha mais recente visita ao Brasil foi em novembro último. Durante a viagem, fiquei lembrando de minhas visitas anteriores, e a viagem ao Brasil da qual recordo mais vividamente é a primeira visita, em 1964. Eu e um colega fomos de Campinas até Pelotas, para um seminário de sementes na Universidade Federal (UFPel). Não levamos agasalhos, imaginando que Pelotas era mais quente do que Campinas.               
   Nossa ignorância ficou óbvia à medida que nos aproximávamos de Pelotas e a temperatura ia ficando cada vez mais baixa. Não havia aquecimento na enorme sala utilizada para o seminário. Embora eu e meu colega estivéssemos usando apenas camisa, tentamos agir como se o frio não nos afetasse, pois estávamos embaraçados por termos sido tão tolos. Quando a situação ficou insuportável, fui até a rua procurar um pouco de sol e notei um grupo de trabalhadores ao redor de uma fogueira. Corri para o fogo, desesperado para sentir-me aquecido!               
    Os trabalhadores cederam-me um bom lugar próximo ao fogo e ofereceram-me uma bebida quente - meu primeiro chimarrão. Em minha visita deste ano trouxe blusões e casacos como se fosse viajar para a Tierra del Fuego... O objetivo da visita deste ano era participar do Salão de Sementes, Mudas e Novas Tecnologias, na Universidade de Passo Fundo (UPF). Foi minha primeira visita àquela cidade e fiquei bastante impressionado com a agricultura, bem como com o campus da UPF. Apresentei uma palestra sobre Deterioração e Vigor de  Sementes, que me pareceu ter sido muito bem recebida pelos participantes. De Passo Fundo, eu e Silmar Peske fomos até Pelotas, onde visitei a SEEDNews e apresentei um seminário na UFPel para um grande grupo de estudantes. Como não estava frio e eu ainda estava usando uma jaqueta, não tive que sair em busca de uma fogueira...               
    As mudanças ocorridas desde minha primeira visita são espantosas. Pelotas é hoje uma cidade moderna. A UFPel conta agora com excelentes programas de graduação nas mais diversas áreas. O grupo de ciência e tecnologia de sementes tem programas que atingem diversos países. O cultivo de arroz, assim como o de trigo, são altamente mecanizados e inteiramente comerciais, enquanto a soja tornou-se um cultivo de extrema importância. Cumprimento o governo do Brasil pela Embrapa, que desempenhou um papel crítico no desenvolvimento da agricultura do país. As mudanças  na infra-estrutura são talvez as mais notáveis – o sistema de rodovias, os aeroportos, e assim por diante.               
    Mas, felizmente, algumas coisas não mudaram: a gentileza, o otimismo, o bom humor e a natureza afetuosa do povo brasileiro, assim como o fato de que seja onde for que os amigos se reúnam, existe animada conversa, boa bebida e excelente comida.  
             
    “Interessou-me muito o fato de que grande parte das sementes de soja são classificadas por tamanho e tratadas com protetores químicos.”    
            
    Umas poucas observações a respeito de sementes               
    A indústria de sementes do RS está bem organizada e muito moderna, disponibilizando para os agricultores sementes de alta qualidade. Interessou-me muito o fato de que grande parte das sementes de soja são classificadas por tamanho e tratadas com protetores químicos. De volta aos Estados Unidos, procurei descobrir o que nossa indústria de sementes de soja está fazendo neste sentido e soube que apenas uma ínfima quantidade de sementes de soja é classificada por tamanho. A maior parte das sementes de soja, contudo, são processadas na mesa de gravidade ou separador por densidade.               
    Em espécies de sementes ou em lotes onde existe uma considerável variabilidade no tamanho das sementes, o separador por gravidade realmente separa as sementes com base em ambos, tamanho e densidade. Assim, algumas das sementes menores pesadas são descartadas junto com aquelas sementes de baixa densidade ou quebradas. Não existem evidências de que sementes pequenas, maduras, sejam inferiores a sementes de tamanho maior. Na realidade, existem algumas evidências de que as sementes menores apresentam melhor emergência do que sementes grandes em solos pesados. Assim, imagino que as vantagens de classificar-se sementes por tamanho no Brasil estão relacionadas a uma melhoria na plantabilidade e nas diferenças substanciais no número de sementes por unidade de peso. Um quilograma de sementes pequenas poderia semear de 1,5 a 2 vezes a área que pode ser semeada com um peso equivalente de sementes maiores.               
    Com relação ao tratamento com protetores de sementes, as informações que obtive indicam que menos de 10% das sementes de soja são tratadas e que, geralmente, o tratamento é realizado a pedido do agricultor e após a venda da semente. A razão mais óbvia pela qual somente uma pequena quantidade de sementes de soja seja tratada nos Estados Unidos, apesar das evidências dos efeitos benéficos do tratamento, é o grande risco associado ao tratamento. Sementes tratadas que não são vendidas, não podem ser economicamente “guardadas” para uso na próxima safra e não podem ser encaminhadas para o mercado de grãos. O uso mais comum de sementes tratadas de soja é no plantio direto, onde existe grande quantidade de resíduos de plantas sobre o solo e o leito de semeadura não está bem preparado.              
    Voltando ao assunto inicial: obrigado aos amigos brasileiros por uma visita  inesquecível!  

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