
Agregando Valor à Semente de Soja
Edição VII | 05 - Set . 2003 A semente de alta qualidade influi
diretamente no sucesso da lavoura e contribui significativamente para que
níveis de alta produtividade sejam alcançados. Sementes de baixa qualidade comprometem
a obtenção de estande de plantas adequado, influindo diretamente na
produtividade da lavoura.
Em situações com população de plantas
abaixo da recomendada para a cultivar, haverá a necessidade do replantio, e tal
prática está associada com prejuízos referentes ao aumento do custo de produção
e os riscos inerentes a essa prática, como troca de cultivar, perda da melhor
época de semeadura, problemas de eficiência de herbicidas ou riscos de
sobreposição de produto na área e ocorrência de toxidez, e problemas de
adubação – fatores esses que contribuem para uma menor produtividade.
A produção de sementes de elevada qualidade
requer a adoção de um bom programa de controle de qualidade (CQ). A não
utilização poderá resultar na produção de sementes com qualidade inferior,
principalmente quando as sementes são produzidas em regiões tropicais e
subtropicais.
A adoção, pelos produtores, de técnicas de
controle de qualidade na produção de sementes visa suprir de informações que
auxiliem no processo de tomada de decisão, tendo em vista superar limitações
impostas pelos diversos fatores que podem afetar a qualidade das sementes. A
qualidade das sementes de soja, por exemplo, pode ser influenciada por diversos
fatores, que podem ocorrer durante a fase de produção no campo, na operação de
colheita na secagem, no beneficiamento, no armazenamento, no transporte e na semeadura.
Tais fatores abrangem extremos de temperatura durante a maturação, flutuações
das condições de umidade ambiente, incluindo secas, deficiências na nutrição
das plantas, ocorrência de insetos, além da adoção de técnicas inadequadas de colheita,
secagem e armazenamento.
Diversos patógenos podem também afetar a
qualidade das sementes de soja. Phomopsis spp., Colletotrichum truncatum,
Cercospora kikuchii e Fusarium spp. são alguns dos patógenos mais
freqüentemente associados com as sementes de soja. Apesar de serem fatores
distintos, a ação e a interação de todos esses fatores fisiológicos, físicos,
entomológicos e patológicos contribuem para um resultado comum: a deterioração
das sementes, processo natural que envolve a interação de mudanças citológicas,
fisiológicas, bioquímicas e físicas das sementes e que resultam na perda do
vigor e da viabilidade das mesmas.
O controle de qualidade envolve ações do
governo através de legislação específica, análise e certificação de sementes.
Isto engloba uma série de procedimentos, que permitem que os programas de produção
de sementes sejam monitorados e orientados para que métodos adequados sejam
seguidos, visando garantir a pureza genética das cultivares. Esse sistema
assegura que apenas sementes de origem e qualidade conhecidas sejam
comercializadas.
O controle de qualidade abrange todas as
fases de produção: campo, colheita, secagem, beneficiamento, armazenamento e
comercialização. No controle interno de qualidade, empresas de sementes,
através de uma série de atividades sistemáticas durante todas as fases de
produção de sementes, podem averiguar a qualidade, para identificar e corrigir
possíveis problemas, visando proteger a boa reputação da empresa, bem como a
satisfação dos consumidores. O objetivo desse tipo de CQ é produzir e comercializar
sementes de altas qualidades física, fisiológica, sanitária e genética. Um bom
sistema de CQ fornece informações para corrigir possíveis problemas, auxilia na
tomada de decisões, reduz contaminações ambientais, através da redução de uso de
agroquímicos no controle de pragas e doenças. O CQ interno também evita
problemas com o sistema oficial de controle de qualidade.
“Um
bom sistema de controle de qualidade se auto financia.”
Um bom sistema de CQ se auto financia. Ele
auxilia o produtor de sementes a detectar e adotar medidas para corrigir
problemas de qualidade de sementes. O sistema de CQ provê informações aos
produtores de sementes, que contribuirão para evitar as perdas de qualidade,
bem como a rejeição de lotes de sementes de boa qualidade mas inadequadamente
avaliados através, apenas, do teste de germinação, como por exemplo a ocorrência
de Phomopsis por excesso de umidade na maturação em condições de clima tropical
e subtropical.
O CQ reduz os custos de preparo das sementes,
previne falhas de estandes e problemas de baixa emergência de plântulas em
campo. Tais problemas podem resultar na reposição de sementes para os
agricultores, em virtude da necessidade de replantio, atividade essa que está
relacionada com sérias perdas e prejuízos aos sojicultores.
O sistema de CQ interno inclui várias fases:
·
fase
exploratória: inicia-se
com a seleção de cultivares adaptadas, regiões adequadas para produção de
sementes, seleção de bons cooperados e de material inicial para multiplicação de
origem conhecida. Para ser um multiplicador de sementes, o agricultor deve ter
um bom conhecimento dos aspectos tecnológicos da produção da espécie, ter
equipamentos de campo de boa qualidade, tratores, implementos e colhedora com
amplos recursos de regulagem de velocidade de trilha e quantidade de área
suficiente, requerida para a produção de sementes.

Dano mecânico
·
fase
de semeadura: acompanhar,
nas áreas selecionadas para a produção de sementes, as operações de pré-semeadura
e de semeadura, bem como avaliar a emergência de plântulas no campo. As
inspeções são também conduzidas, visando avaliar as condições de isolamento,
ocorrência de ervas daninhas e de plantas voluntárias.
·
fases
vegetativa e de colheita:
três inspeções de campo adicionais são efetuadas nessas fases: durante o
estádio vegetativo da lavoura, para avaliar a incidência de doenças, a
ocorrência de insetos (em particular o percevejo), a ocorrência de ervas
daninhas e a presença de plantas fora do padrão; no florescimento, para
identificar e remover plantas fora do padrão, com relação ao ciclo, a altura e a
cor de flor; pré-colheita, visando a avaliação de mistura de cultivar, através de
alguns descritores genéticos, como a cor da pubescência e o ciclo da planta.
Atenção especial deve ser dada para a ocorrência de percevejos, responsáveis
pela ocorrência de haste verde na lavoura de soja e, por conseguinte, de sementes
verdes.
Também
deve ser feita a detecção das doenças causadas por patógenos Transmitidos por
sementes, doenças de final de ciclo, Cercospora kikuchii e Septoria glycines,
bem como Fusarium, já que estas últimas podem propiciar a ocorrência de
sementes esverdeadas, por causarem a maturação forçada de semente. Os grãos
esverdeados são imaturos e de baixa qualidade fisiológica. Essa inspeção
possibilita decidir se o campo será colhido para grão ou para semente.
Outro
aspecto importante é fazer, durante a operação de colheita, o monitoramento da
ocorrência de dano mecânico. Lotes com mais de 3% de bandinhas são impróprios para
serem utilizados para semente, devido a alta taxa final de dano mecânico imposto
à semente. O acompanhamento da taxa de deterioração por umidade da semente
ainda no campo, através do teste de tetrazólio (TZ), é um importante indicativo
para a tomada de decisão do aproveitamento do campo para semente.
·
fase
de preparo da semente: o
CQ é executado durante as etapas de recepção, pré-limpeza, secagem, limpeza, classificação,
embalagem e armazenamento;
· fase
de acabamento: o CQ é
executado durante a análise da semente, identificação dos lotes,
comercialização, distribuição, e durante o período em que as sementes
permanecem com os distribuidores, para venda aos consumidores.
Certificação de sementes e o controle
de qualidade
O sistema de certificação assegura padrões
de qualidade, quanto às sua origem, purezas física e genética e qualidades
fisiológica e sanitária. Isso é feito para atender as demandas dos produtores
de sementes.

Padrão
de campo para semente
Através do sistema de certificação, o
processo de renovação de classes de sementes é feito sistematicamente. A adoção
do sistema no programa de produção de sementes evita a utilização de sementes
de classes inferiores, as quais contribuem para o aumento da percentagem de mistura
de cultivares, que resulta num produto final de qualidade inferior. A mistura
de cultivares pode afetar a cultura da soja em diversos aspectos, tais como:
a) perda na colheita, devido a falta de
uniformidade de maturação das plantas no momento da colheita;
b) a qualidade do grão para uso industrial
pode ser afetada pela presença de plantas fora de padrão, devido a mistura de
grãos verdes, altamente úmidos e ardidos.
A semente é um utilíssimo instrumento para
a difusão de tecnologia. A falta de renovação de classes na sua produção pode
retardar o acesso dos agricultores às novas cultivares, distribuídas através do
sistema de certificação. Essas novas cultivares poderão contribuir com os novos
avanços genéticos, tais como resistência às doenças, melhor qualidade
organoléptica do grão e alto potencial de produtividade.
Controle de qualidade e a seleção de
áreas adequadas para a produção de sementes
A seleção de áreas para a produção de
sementes merece especial atenção, devido à sua possível contribuição para
promover a redução da qualidade da sementes, quanto à pureza varietal, à
germinação, ao vigor e aos patógenos associados às sementes. A foto da página
anterior mostra o padrão de qualidade que um campo de sementes deve apresentar
quanto a qualidade de implantação da lavoura, população de plantas, controle de
ervas daninhas, conservação de solos, aspectos esses imprescindíveis para atingir
padrão de qualidade na matéria prima requerida para semente. Não é recomendado
conduzir campo para produção de semente de soja em áreas onde a cultura no ano
anterior foi semeada com outra cultivar para produção de sementes ou grãos,
devido ao risco de mistura. O uso da mesma área com soja por anos seguidos
propicia o aumento de inóculo de doenças e de pragas, detrimento para o
rendimento da lavoura e para a qualidade da semente.
A rotação de cultura com cereais é prática
recomendada para minimizar tais problemas. A população de ervas daninhas também
é importante. Elas podem ser hospedeiras de patógenos e insetos prejudiciais à
cultura da soja. Algumas ervas daninhas produzem sementes que são de difícil
separação da massa de sementes de soja durante o beneficiamento, como por
exemplo, a maria pretinha (Solanum americanum Mill), cujos frutos quando
colhidos junto com a semente de soja são de difícil separação durante o
beneficiamento.
Algumas dessas ervas daninhas são
agressivas e podem se tornar em problemas. Embora o isolamento de campo não
seja um fator limitante na produção de semente de soja, o mínimo de cinco
metros de distância é necessário entre campos de diferentes cultivares, visando
evitar a mistura mecânica no momento da colheita. Entretanto, o cruzamento
natural pode ocorrer se a população de insetos polinizadores for elevada na
área de produção.
Amostragem e testes para a avaliação
da qualidade das sementes
Um sistema confiável de CQ permite
monitorar a qualidade da semente em todas as fases de produção. Entretanto,
amostras representativas devem ser retiradas dos lotes de sementes antes e
depois de todas as operações, da pré-colheita até a pré-semeadura .
Na pré-colheita: as plantas são coletadas ao acaso no
campo, um ou dois dias antes da colheita. As vagens são trilhadas manualmente e
as sementes são avaliadas para qualidade fisiológica, através do teste de tetrazólio.
Ele fornece uma estimativa dos danos causados por percevejos e pela
deterioração por umidade, com ênfase especial no nível de vigor. Campos com
sementes com vigor acima de 90% são aceitáveis.

Dano por Percevejo
Durante a colheita: a amostragem da semente deve ser feita
pelo menos três vezes ao dia por colhedora: na metade da manhã, ao meio-dia e
na metade da tarde. Cada amostra deve ser avaliada quanto ao nível de dano mecânico,
através do teste de hipoclorito de sódio, ou através da determinação de
sementes quebradas, pelo método do copo medidor, cujo limite máximo de dano
mecânico recomendável para semente é de 3%. Para o teste de hipoclorito, duas
repetições de 100 sementes, visualmente não danificadas, devem ser postas para embeber
numa solução a 5,25% de hipoclorito de sódio durante 10 minutos.
Sementes com o tegumento danificado irão
embeber. Lotes com menos que 10% de sementes com dano mecânico, nessas
condições, poderão ser aceitos para fins de semente. Por outro lado, o
equipamento de colheita deve ser ajustado. O grau de umidade da semente também deve
ser monitorado antes e durante a colheita, várias vezes ao dia.
Durante o recebimento: as sementes devem ser avaliadas para
purezas física e genética, grau de umidade, dano mecânico (através do teste do hipoclorito
de sódio, ou pelo método do copo medidor), viabilidade e vigor.
Durante a secagem: a temperatura e o grau de umidade da
semente devem ser monitorados periodicamente, até que o nível desejado de
umidade seja alcançado. Uma vez terminada a secagem, o teste de tetrazólio pode
ser utilizado para avaliar a qualidade fisiológica.

Copo
medidor de bandinhas

Qualidade
de sementes verdes de soja
Durante os processos de
beneficiamento e de embalagem: diferentes testes podem ser aplicados às sementes durante tais
operações. Os testes de tetrazólio e de hipoclorito de sódio podem ser
aplicados durante todas as operações de beneficiamento, para a avaliação da
ocorrência de danos mecânicos. O teste de envelhecimento acelerado pode
fornecer uma estimativa do potencial de armazenamento dos lotes de sementes.
Considerando a amostragem, pelo menos duas amostras de 1,0 kg e uma amostra de
2,0 kg devem ser retiradas. Uma amostra (1,0 kg) é enviada para a agência
certificadora (amostra oficial) e a outra amostra é mantida em câmara seca e
fria (contra-amostra), utilizada para futuras avaliações, caso algum problema venha
a ocorrer com o lote durante a comercialização e semeadura.
A terceira amostra, de 2,0 kg, é utilizada
para avaliação da qualidade fisiológica, através do teste de emergência em
areia ou solo, sanidade da semente e também para pureza varietal, através do
teste de parcela para controle de qualidade.
Durante o armazenamento: especialmente em regiões quentes e úmidas,
o grau de umidade da semente deve ser monitorado freqüentemente. Quando o grau
de umidade alcança 13,5% ou mais, providências devem ser tomadas para aerar ou
secar a semente. O desenvolvimento de fungos de armazenamento (Aspergillus e
Penicillium) pode causar rápida deterioração das sementes. Outros testes, como
o de tetrazólio e de emergência em areia, podem ser empregados para avaliar periodicamente
a qualidade fisiológica das sementes durante o armazenamento.
Parcela de controle de qualidade
Este teste é também conhecido como teste
de pré-controle para a próxima geração. Amostras de lotes de sementes são semeadas
em parcelas e as plantas oriundas dessas sementes são avaliadas criteriosamente
durante todo o período de desenvolvimento, até a sua completa maturação. O
objetivo da parcela de controle é assegurar que todos todos os procedimentos do sistema de produção
estão operando satisfatoriamente.

Invasoras
afetam a produção
Esse processo viabiliza avaliar a pureza
varietal individual do lote de sementes. No que concerne ao pré controle da
próxima geração, ele supre informações importantes em adição às obtidas durante
as inspeções de campo. Isso é o componente central do processo de certificação.