Tecnologia de Semeadura: Cuidados e Desafios

A Visão de Três Empresas

Edição VIII | 03 - Mai . 2004
Edmar Lopes Dantas-comercial@jotabasso.com.br
Airton Francisco de Jesus-a.francisco@jotabasso.com.br
   Certamente, boa parte do êxito de uma cultura depende da rapidez e uniformidade do estabelecimento da população de plantas desejada, que por sua vez estão diretamente associadas ao processo de semeadura. Fatores como a época de semeadura adequada, umidade do solo e temperatura, preparo do solo, espaçamento e  densidade de semeadura, adubação, profundidade de  semeadura, associados à qualidade da semente, são decisivos para êxito dos resultados.                
  
    Ao voltarmos a este importante tema, decidimos ouvir as experiências de três empresas do ramo agrícola nacional: a Hadler & Hasse, através de seu responsável técnico (RT), Germano Hadler; a Agro-Sol Sementes, representada pelo RT José Francisco Vieira Martins; e a Agropastoril Jotabasso, na palavra dos responsáveis técnicos Airton Francisco de Jesus e Edmar Lopes Dantas.               
   Localizada no município de Campo Verde - MT, a Agro-Sol Sementes cultiva uma área de 5.000 ha de soja, 300 ha de arroz destinados à produção de sementes e 2.100 ha de algodão, 200 ha dos quais para produção de sementes e o restante para produção de fibra. A empresa entrou no mercado de produção e comercialização de sementes a partir da safra 1999/2000.              
    Já a Jotabasso, sediada em Ponta Porã, também no estado do Mato Grosso, irá cultivar no presente ano agrícola 26.600 há com soja, algodão, milho, feijão, trigo, triticale e aveia. Outras atividades ligadas a empresa são o confinamento de bovinos e um projeto de integração agricultura-pecuária.                
    A empresa Hadler & Hasse está situada em Pelotas,RS. O arroz irrigado, com 3.000 ha cultivados anualmente constitui a cultura mais expressiva, sendo que 500 ha são destinados à soja, 200 ha ao sorgo, 400 há ao azevém e 20 ha ao trevo branco.       
         
    Época e modos de preparação               
    Com respeito à forma e época em que à empresa começa a preparar-se para a semeadura, para não perder o melhor momento, José Francisco Martins, da Agro- Sol, informa que, normalmente, a empresa começa a preparar-se antes mesmo do término da última safra, pois é necessário planejar os tratos culturais de pós-colheita (manejo de controle de ervas, aplicação de calcário, plantio de culturas como milheto ou sorgo, que servem como protetor e/ou melhorador das características físicas e químicas do solo na entressafra). É também realizado o mapeamento dos talhões, com base nos resultados da última safra. "Assim, é possível escolher a melhor cultura e variedade a ser plantada em cada área", justifica.               
    Na Hadler & Hasse, segundo Germano Hadler, nas áreas de plantio direto e cultivo mínimo, os preparos iniciam-se no ano anterior, pelo menos com dez meses de antecedência. Quando em áreas de repetição, os preparativos começam durante a colheita anterior, ou imediatamente após a colheita.               
    "A empresa começa a organizar o plantio, primeiramente realizando um plano de produção, com envolvimento da área técnica, tão logo sejam definidas as áreas e as culturas a serem plantadas, pelos executivos da empresa", revela Airton de Jesus, da Jotabasso.               
   "Neste planejamento são definidas as cultivares, as áreas destinadas a cada cultivar, o cronograma de plantio (como produzimos semente há o escalonamento de áreas e época de plantio para reduzir riscos de produção), adubação, controle de pragas, ervas daninhas e doenças", informa. Ele lembra que também são previamente dimensionados as máquinas para plantio e colheita, os recursos humanos para cada operação e realizados os treinamentos necessários.     
           
    Sistemas de cultivo               
   Na experiência da Hadler & Hasse e da Jotabasso, prevalece o sistema de Plantio Direto, que, no entanto, requer maiores cuidados: "Apesar da facilidade e antecipação de seus manejos, trabalhamos em cima de prazos que devem ser cumpridos, seja na aplicação dos herbicidas ou na semeadura em si. Uma vez iniciado a semeadura, seu sucesso depende do cumprimento à risca dos prazos", observa Hadler. Sua empresa utiliza também o Cultivo Mínimo,(CM) o Preparo Convencional (PC) e o Preparo com água (variação do sistema pré-germinado). Já a Jotabasso utiliza o Plantio Direto (PD) em toda a área cultivada. Edmar Dantas, da Jotabasso, destaca que esse sistema requer cuidados especiais como manutenção de palha na superfície do solo, transitar máquinas em condições adequadas de umidade do solo para reduzir problemas de compactação, correção de acidez e alumínio tóxico, entre outros cuidados.              
    A Agro-Sol Sementes utiliza o Plantio Direto para a cultura da soja. Para o algodão, é empregado o Sistema Mínimo e Convencional, porque para esta cultura há algumas normas obrigatórias, estabelecidas pelos órgãos oficiais, como a destruição de soqueiras, que em sua maioria se dá através de processos mecânicos com o uso de grades.               
    "Aqui para o Mato Grosso, onde as precipitações são bem localizadas, o Sistema Convencional é o que requer maiores cuidados, pois o solo 'solto' com um perfil profundo é muito suscetível à ocorrência de erosões causadas pelas chuvas", avalia José Francisco. 
                
    Classificação de sementes               
   Hadler & Hasse e Jotabasso são unânimes em destacar que o processo de semeadura é aperfeiçoado com a utilização de sementes classificadas. A primeira utiliza peletização em trevo com corante, além de tratamento e inoculação em soja. A segunda emprega sementes tratadas com fungicidas, micronutrientes e inoculantes. Já para a Agro- Sol, por utilizar somente semeadoras a vácuo, que semeiam grão a grão, a classificação de sementes não é tão relevante. O grafite é considerado importante para facilitar o fluxo de sementes nos depósitos de plantio.
               
    Densidade de semeadura               
   Na Agro-Sol Sementes, a densidade de semeadura é determinada, quase que exclusivamente, pela cultivar e varia em função da percentagem de germinação realizada no solo e do vigor da semente. O mesmo acontece na visão da Agropastoril Jotabasso, que afirma ser importante ter em conta as características da cultivar, a população recomendada, a época de semeadura e o nível de fertilidade do solo onde ocorrerá a semeadura.               
   No caso de arroz irrigado, a densidade de semeadura está relacionada à variação da quantidade de taipas na lavoura. Segundo o RT da Hadler & Hasse, ela é, então, diretamente proporcional à topografia do terreno, uma vez que a regulagem utilizada nas lavouras independe do poder germinativo, pois a empresa usa sementes com vigor e PG, e tem como meta o emprego de 125 kg/ha.               
    Germano Hadler observa que, quanto maior a quantidade a ser usada numa área plana é bem menor, em PD e CM essa variação é minimizada, pois a semeadura é realizada sobre as taipas", acrescenta. A correção da densidade de semeadura baseia-se, primeiramente, no vigor da semente por ocasião do plantio e depois na avaliação dos dados de germinação. "Se um lote de sementes estiver com alta germinação, e com um vigor  bem.  sementes que germinarem vão originar uma plântula perfeita, causando estandes irregulares", pondera o RT da Agro- Sol.      
          
    Ajustes da semeadora               
   Segundo José Francisco Martins, vários fatores devem ser observados para se obter um bom plantio, no que se refere ao ajuste da semeadora. Primeiramente ele cita a perfeita regulagem das engrenagens, responsáveis pela distribuição das sementes, e dos discos, encarregados da abertura do sulco onde as mesmas cairão, a fim de obter-se o estande desejado e a profundidade ideal em que as sementes serão dispostas no solo. "Também temos as regulagens de adubo, tanto na quantidade que se quer por hectare como na profundidade de distribuição no solo e sua localização (abaixo ou ao lado da semente a uma profundidade em torno de 10 cm). Por último, temos a regulagem dos carrinhos ou rolos compactadores, responsáveis pelo fechamento e uma leve compactação do sulco onde caiu a semente, eliminando prováveis 'bolsas de ar' que prejudicariam o processo de germinação", explica.    
             
    “Para a obtenção de estandes nota dez, devemos valorizar todos os detalhes.” 
                   
   Todas as regulagens estão diretamente ligadas às condições de solo, como estrutura física, tipo de cobertura e sistema de plantio, sendo necessárias mudanças na troca de uma área para outra de configuração diferente. Um ajuste inicial pode ser feito ainda nas oficinas, mas é em nível de campo que ocorrem as principais regulagens da semeadora, onde são aferidos sistema de corte a ser utilizado, sistema de cobertura da semente, sistema de distribuição, etc, sendo necessárias aferições periódicas.               
    "Fazemos a regulagem das máquinas baseados em 90% de PG e 125kg/ha de densidade em arroz. Em soja, utilizamos os discos correspondentes ao diâmetro da semente. Nas outras culturas calculamos a densidade em função do seu PG, corrigindo para 100%",  revela Hadler.     
           
    Formação de estandes               
   De acordo com o RT da Hadler e Hasse"Investir no conhecimento dos colaboradores e tecnologia em máquinas e insumos são aspectos importantes, mas um bom estande tem início desde a escolha da área e sistema de cultivo até o tamanho da semente, profundidade de semeadura, características de operação e velocidade de semeadura. O conhecimento climatológico e previsões locais repercutem na tomada de decisão em termos de profundidade de semeadura, solubilidade de fertilizantes, escolha de cultivares, etc".               
   Escolha de sementes de alta qualidade fisiológica e sanitária, semeadura em condições ideais de umidade e temperatura e em solo bem preparado, maquinário adequado e utilização, quando necessário, de inseticidas e fungicidas para o controle de pragas iniciais e fungos de solo são fatores alinhados pelos responsáveis técnicos das outras duas empresas.               
    "Para melhorar a eficiência na semeadura devemos utilizar sementes com ótima classificação, usando o disco adequado para a peneira usada, evitando as sementes duplas. Já os espaços vazios são minimizados com a utilização de sementes de alta qualidade fisiológica", apregoa Airton de Jesus, da Agropastoril Jotabasso. Os três técnicos preferem a semeadura diurna, que permite um controle maior na qualidade do serviço executado. Estandes malformados podem ocorrer onde se utiliza plantadeiras que deixam o sulco de plantio aberto e ocorrer chuva logo após o plantio, formando-se uma crosta que impede a germinação da semente - admite o RT Edmar Dantas. Ele afirma que outro problema é realizar o plantio em áreas com palha, onde a semente fica em contato com esta dentro do sulco, impedida de absorver água e de desencadear o processo de germinação. A semeadura em solos com pouca umidade também torna a germinação irregular.  
              
    “O sucesso da lavoura só será obtido se acertarmos o processo de uma semeadura.”

    Segundo a Agro-Sol Sementes, no caso de germinação deficiente por problemas de vigor, pode ser recomendável o replantio. "Do contrário, o resultado serão plantas fracas e desuniformes, afetando diretamente na produtividade", observa José Francisco.                
   Na experiência da Hadler & Hasse, os problemas de estandes malformados ocorriam na época em que se empregava a semeadura a lanço em que as sementes eram encobertas com profundidades variáveis.                
    Aproveitamento de lavoura              
    Em termos de aproveitamento de área agricultável, para que não ocorram espaços sem semear e outros com sobre-semeadura, Germano Hadler diz que sua empresa utiliza se de artifícios topográficos para locação de pontos de trilha e carga. "As estradas e canais de irrigação e drenagem são estrategicamente plotados para melhor uso em menor espaço cultivável. Não utilizamos GPS para semeadura, mas por não semearmos à noite a marcação das faixas das máquinas fica bem nítida", explica.                
    A Agropastoril Jotabasso igualmente não utiliza o sistema global de posicionamento em suas semeadoras, mas sim marcadores de linhas. "Praticamente todos os espaços da lavoura são cobertos, ocorrendo sobre semeadura nas bordaduras e nos arremates próximos às curvas de nível", informa Airton de Jesus.               
    O GPS é empregado pela Agro-Sol na sistematização dos talhões, de acordo com as dimensões do maquinário, eliminando cantos e bicos. Esta tecnologia também é usada no momento do plantio, para abrir as faixas certas de semeadura, de forma a evitar a sobre-semeadura em algumas linhas. "Um fator importante é que se trabalhe com todos equipamentos iguais, principalmente semeadoras", opina José Francisco.               
    Diferenças entre espécies              
   "Dentre suas necessidades, cada espécie tem suas características, sendo algumas fáceis, outras difíceis, mas o segredo é utilizar-se do melhor sistema de cultivo para aquela espécie, na área determinada, com o melhor maquinário e, evidentemente, com a melhor semente. O resto depende da competência do RT e de seus colaboradores", resume Germano Hadler.               
    Para o RT da Agro-Sol, não existe, de forma geral, uma espécie mais difícil e sim algumas que exigem mais atenção, como é o caso da semente de arroz, devido à sua dimensão e formato e ao uso de alta população por metro linear. "Se a semente ficar muito enterrada, a plântula precisará gastar muita energia para romper o solo, e se ficar na superfície receberá muita influência do ambiente, prejudicando o processo de germinação", justifica José Francisco.

    
    Dinâmica de Semeadura no evento AgriShow Cerrado                
 
    “O processo de semeadura exige a capacitação dos operadores.”   
             
    "A lavoura mais difícil de semear é o algodão, porque a semente possui pouca reserva, não devendo ser plantada a profundidade maior que 3mm, já que qualquer formação de crosta dificulta a emergência", opina Airton de Jesus, da Jotabasso.  
              
    Capacitação de Recursos Humanos               
    Segundo a Hadler & Hasse, esse é um item fundamental para quem deseja qualidade em suas operações: "Investimento em conhecimentos tecnológicos passam pelo RT e se estendem ao operador da semeadora, os quais devem falar a mesma linguagem para que o proveito seja máximo, tanto de maquinário quanto na utilização da área, insumos,  fertilizantes, cultivares, etc".               
    Na Jotabasso, os operadores de máquinas também recebem treinamentos específicos para o plantio, conhecendo a máquina e seu funcionamento. Airton Francisco destaca também os treinamentos sobre segurança do trabalho, lembrando que a empresa disponibiliza aos operadores os equipamentos necessários e que todo o trabalho é acompanhado por um técnico de segurança contratado pela empresa.              
    "Hoje em dia, todas as máquinas e implementos envolvidos no processo de semeadura empregam alta tecnologia, o que exige a capacitação dos operadores e a noção exata da importância deste processo", observa o RT da Agro-Sol Sementes. 
              
    Conclusões Jotabasso - "Quando se obtém um bom estande na época mais indicada para a cultivar plantada, a mesma irá expressar o máximo de seu potencial genético,  resultando na mais alta produtividade. Nossa empresa está dimensionada com o parque de máquinas para que a semeadura seja realizada dentro da época mais indicada para cada cultivar, pois tanto a antecipação como o retardamento de plantio afetam diretamente a produtividade. O mesmo raciocínio serve para a colheita, onde nosso sistema está dimensionado para que se colha o mais rápido possível, pois aprendemos com os nossos professores, nas universidades, que semente se faz no campo."
              
    Agro-Sol - "Cada vez mais os cultivares estão regionalizados ou micro-regionalizados. Daí, então, vem a importância de se ter um bom estande e observar a época certa de semeadura de um determinado cultivar. O sucesso da lavoura só será obtido se acertarmos o processo de semeadura e, para que isto ocorra, é indispensável o uso de sementes com origem, ou seja, sementes certificadas ou fiscalizadas, com a garantia de qualidade descrita nos boletins de análise. Com o uso de sementes ditas 'salvas' ou 'bolsa branca' estaremos sempre fadados ao fracasso deste processo e sem nenhuma garantia de qualidade".
              
    Hadler & Hasse - "Atualmente, devido as novas indicações para a cultura do arroz irrigado, a entrada d'água na lavoura deve ser realizada no máximo em 15 dias pós-emergência. Portanto, quanto melhor e mais vigoroso o estande, mais rápida a entrada de água, dinamizando, em conseqüência, a cultura, em termos vegetativos e de práticas culturais. Para ao adoção destas técnicas é necessário o uso de semente de boas cultivares recomendadas, com alto poder germinativo e vigor. Em termos regionais diz-se que a pior lavoura do cedo (de outubro) é melhor que a melhor lavoura da semeadura tardia (de dezembro). Ter um bom estande é o passo inicial para se ter uma boa lavoura; evidentemente, várias outras práticas são necessárias para a realização do objetivo final. Quem parte dessa premissa, tem uma grande chance de uma safra vitoriosa."   
 
   

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