Simpósio de Sementes da ISTA
Projeta Futuro da Produção
Edição VIII | 04 - Jul . 2004 A diversidade
da pesquisa que está sendo conduzida em ciência e tecnologia de sementes é
verdadeiramente impressionante, sendo a apresentação dos trabalhados realizados
nessa área um componente valioso do simpósio de sementes da ista - a associação
internacional de análise de sementes.
O Simpósio de
Sementes da ISTA (International Seed Testing Association) de 2004, realizado em
Budapeste, Hungria, no mês de maio último, teve como tema: "Rumo ao futuro
na produção, avaliação e melhoramento de sementes". Os trabalhos foram
divididos nas sete áreas seguintes:
·
Aplicação
de Tecnologias Avançadas
·
Produção
de Sementes Orgânica e Convencional
·
Viabilidade
e Vigor: Avaliação e Impacto
·
Sistemas
de Sementes em Economias Emergentes e em Desenvolvimento
·
Limpeza
de Lotes de Sementes
·
Melhoramento
de Sementes
·
Bases
Fisiológicas da Qualidade de Sementes
Dos pôsteres
apresentados, aproximadamente 35% foram incluídos na seção sobre Viabilidade e
Vigor, 5% em Sistemas de Sementes, e os remanescentes 60% divididos igualmente entre
os outros cinco temas. Os autores vieram principalmente da Europa (40%),
América do Sul (25%) e Ásia (25%), com a América do Norte, África e
Austrália-Ásia tendo apenas alguns poucos participantes dessa vez.
Tomando-se por
país, houve a predominância do Brasil, o que permite projetar: se cerca de 50 trabalhos
vieram do Brasil para um congresso na Hungria, imagine quantos serão
apresentados no Congresso de 2007, no Brasil? O coordenador do Simpósio de
Sementes terá uma agradável dor de cabeça.
Para terminar
com as estatísticas, milho foi a espécie mais freqüentemente relatada, seguida de
perto pela soja. Cereais outros, além de milho, representaram o maior grupo
coletivo, seguido por sementes de oleaginosas e de hortaliças. Contudo, é
interessante observar que cerca de 12% de todos os trabalhos tratavam de
espécies de árvores e arbustos, e que um número pequeno de estudos em sementes
de flores foi relatado. É isso um indicador do "rumo ao futuro" para
espécies na pesquisa em sementes?
O que então nos
foi dito sobre o "futuro na produção de sementes"? Obviamente,
sistemas orgânicos são agora parte deste futuro. Ouvimos sobre os desafios para
a produção de sementes de qualidade, sendo estes desafios principalmente
relativos à limpeza do cultivo (controle de invasoras e de fitopatógenos). Foram
discutidos tratamentos de sementes para o controle de patógenos associados às
sementes nos sistemas de produção orgânica, incluindo o uso de calor (água
quente ou vapor), produtos botânicos (extratos vegetais) e micro-ondas.
Contudo, a
utilização de bio-protetores como tratamento de sementes, que tem sido
atualmente objeto de muitas pesquisas no mundo inteiro, quase não foi
mencionada. Teria sido devido ao fato de existir muita sensibilidade comercial
a respeito desses tipos de resultados? Suspeito que sim.
Será possível
produzir sementes de alta qualidade sob sistemas orgânicos? - a resposta é "sim",
eventualmente. A presença de sementes orgânicas vai apresentar novas exigências
para a análise de sementes? - a resposta é "não". Os métodos de
análise não dependem de um lote ter sido produzido sob um sistema orgânico ou
convencional.
Qual então o
futuro para a produção de sementes convencional, onde o objetivo é também produzir
sementes de alta qualidade? De todos os trabalhos sobre produção de sementes apresentados
nesse Congresso, na minha opinião, os mais significantes foram aqueles nos
quais foram relatados os efeitos do ambiente durante a maturação das sementes
sobre sua qualidade.
Minhas razões
para isso são as seguintes: para a produção comercial de sementes, experimentos
envolvendo o manejo agronômico, controle de pragas, épocas e métodos de
colheita, e secagem são "o presente"; os resultados são importantes,
mas os métodos são, em muitos casos, a "sintonia fina" ou a aplicação
de princípios conhecidos em novas espécies. Eles não são "o futuro". Acredito
que o futuro está em ser capaz de entender como o meio ambiente afeta a
qualidade das sementes e em evitar produzir sementes em ambientes que causam
deterioração das mesmas. Ambientes que permitem altos rendimentos de sementes
não necessariamente permitem também a produção de sementes de alta qualidade;
determinar o ambiente correto pode ainda nos possibilitar produzir consistentemente
lotes de sementes de alto vigor!
A segunda parte
do tema do simpósio era "O futuro na avaliação da qualidade de
sementes". Três aspectos dessa parte do evento impressionaram-me. O
primeiro deles foi o de que, entre todos os trabalhos apresentados, menos de 50
abordaram algum aspecto da análise da qualidade das sementes e quase metade
destes envolveu testes de vigor! O segundo foi o de esforços estarem sendo
direcionados para aumentar o número de espécies para os quais testes de vigor,
como o de envelhecimento acelerado, condutividade e deterioração controlada,
possam ser utilizados. O terceiro foi o uso de métodos de análise estabelecidos
há muito tempo para determinar a qualidade de sementes de espécies que não estão
atualmente nas Regras para Análise da ISTA.
O analista de
sementes do futuro terá novas ferramentas para avaliação da qualidade de sementes?
Aparentemente, para análises de germinação e pureza, a resposta é
"não", mas a ajuda computadorizada para a identificação de sementes vai
oferecer uma assistência preciosa. Para a detecção de patógenos associados às
sementes, detecção de material transgênico em lotes de sementes, e para
identificação/verificação de cultivares, uma gama de métodos moleculares e
outros já estão disponíveis ou sendo desenvolvidos. Para a ISTA, isso implica em
uma mudança significativa em direção oposta a de padronizar internacionalmente
um método e sua aceitação dentro das Regras para Análise de Sementes da ISTA,
para onde qualquer método pode ser usado, desde que satisfaça critérios de
desempenho especificados.
O futuro bem
pode ver esta mesma abordagem adotada para outras áreas da avaliação da
qualidade das sementes.
O tema da parte
final do simpósio era "O futuro para o melhoramento das sementes". Sementes
podem ser "melhoradas" de várias maneiras. O melhoramento de plantas
melhora as características da cultivar, incluindo a qualidade das sementes;
limpeza e classificação remove as sementes indesejáveis; tratamento de sementes
controla os patógenos; peletização melhora o desempenho das sementes; superação
da dormência permite que ocorra a germinação, e o "priming" pode
ajudar no deempenho das sementes/plântulas. Estas técnicas são bem conhecidas,
conforme demonstrado pela maioria dos trabalhos apresentados.
“O futuro da produção de sementes está
em sermos capazes de entender como o meio ambiente afeta a qualidade das sementes
produzidas.”
A dormência
continua a se constituir em um problema, e enquanto os métodos para superação
de dormência e permitir a germinação em espécies temperadas são na maioria dos
casos bem entendidos, as exigências para muitas espécies subtropicais/tropicais
não são. Estou certo de que a continuação das pesquisas em métodos de superação
de dormência para estas espécies irá eventualmente, produzir os resultados desejados.
De todos os
trabalhos apresentados nessa área, aqueles que apresentam maior potencial impacto
para o futuro foram aqueles relatando possíveis métodos para melhorar o
desempenho de lotes de sementes com alta germinação, mas baixo vigor. Não
podemos realizar milagres e transformar sementes mortas em sementes vivas!
Mas se uma
técnica tal como a hidratação aerada permitir que se "conserte" a deterioração
da semente, que leva ao baixo vigor, e assim permitir que o lote de sementes se
comporte em um nível próximo ao seu potencial, pense nas conseqüências. Pode
acontecer que no futuro possamos transformar lotes de baixo vigor em lotes de
alto vigor? Esta é realmente uma interessante proposição. Qual será o futuro
para as indústrias de sementes nas economias em transição e emergentes? Os
desafios de as empresas passarem de estatais para privadas nos foram
apresentados pela indústria de sementes do Leste Europeu.
Mas em países
da África e Ásia, que não podem fazer frente ao apoio e as oportunidades oferecidos
aos membros da União Européia, poderá o desenvolvimento do setor de sementes
ocorrer tão rapidamente? Afinal, a qualidade das sementes é tão importante para
os agricultores da Tanzânia e Vietnã como o é para os agricultores da Europa.
Existe agora, assim como existirá no futuro, a necessidade de fornecedores de
sementes nessas economias de transição e emergentes estabelecerem uma reputação
pela qualidade de suas sementes, e para sistemas de garantia de qualidade efetivos
e eficientes, incluindo para análise de sementes. Esse futuro vai obviamente
exigir a continuação e melhoria dos esforços na educação internacional e treinamento
em ciência e tecnologia de sementes.
É claro que,
por concentrar no futuro esta revisão, posso talvez ser culpado de ignorar o presente
e, em particular, o valioso trabalho que vem sendo conduzido no sentido de
avançar nosso entendimento das bases fisiológicas da qualidade das sementes. A
deterioração das sementes, com seu final em morte, seus sintomas físicos de
plântulas anormais, e seus sintomas ocultos baixando o vigor das sementes, pode
ter um impacto muito significativo sobre um lote de sementes.
A oportunidade
de aumentar nosso entendimento desse processo continuará a ser o resultado dessa
importante pesquisa científica. Para o futuro, há também a perspectiva
intrigante de ser capaz de detectar e caracterizar os fatores genéticos que
contribuem para o vigor e a longevidade das sementes. Durante os três dias do
congresso, ouvimos muitas apresentações e vimos muitos pôsteres. A diversidade
da pesquisa que está sendo conduzida em ciência e tecnologia de sementes é verdadeiramente
impressionante; a apresentação de tais informações é realmente um componente
precioso do Congresso que a ISTA realiza a cada três anos.
Que possam
estes continuar por muito tempo.