Pensamentos e Reflexões sobre Armazenamento de Sementes II

Edição IX | 04 - Jul . 2005
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    Visões ou percepções muito racionais ou relativamente simples podem transformar problemas aparentemente insolúveis em problemas desafiadores, porém passíveis de solução.                 
   A implementação de ações corretivas para problemas de qualidade das sementes, é claro, requer grande cooperação, colaboração e coordenação (os 3Cs) entre a Garantia do controle de qualidade (GCQ) e as unidades operacionais relevantes, o que em geral leva um frustrante longo tempo para ser alcançado.                
   Os especialistas do QAC de muitas empresas descreveram para nós em detalhes as numerosas dificuldades, obstáculos e mesmo hostilidade que encontraram na tentativa de recrutar a cooperação das unidades operacionais, como a produção, condicionamento e marketing, para identificar problemas potenciais, determinar a origem ou a causa das perdas em qualidade, e definir e implementar ações corretivas. Neste ponto do ensaio me lembrei de um breve episódio dos anos 70, envolvendo um amigo meu e os 3Cs, que teve um final feliz surpreendente.                
    Os personagens participantes no episódio eram um produtor de sementes, um vendedor de sementes e uma transportadora. Eles estavam numa disputa séria e calorosa sobre alguns problemas dispendiosos sobre qualidade das sementes que estavam estourando uma relação de negócios de longa data e parecia estar levando ao litígio. Por mais de 10 anos, o produtor tinha produzido grandes quantidades de sementes de valor relativamente alto num estado da costa oeste para venda e embarque por caminhão até o vendedor no sudeste, para vender naquela região. Os embarques tinham sido feitos pela mesma transportadora, mesmo caminhoneiro, desde o início. O negócio tinha operado muito bem e rentavelmente até os dois anos anteriores, quando passaram a ser emitidos pedidos limitados de venda de muitos lotes de sementes em vários estados. As consequências dos pedidos limitados foram grandes: os pedidos limitados ocorreram no pico da estação de vendas; alguns dos lotes de sementes sem rótulo tiveram de ser rotulados novamente; alguns foram rejeitados pelo atacadista e tiveram que ser descartados, descontados, rerrotulados e reembarcados; outros tiveram de ser enterrados, pois as sementes estavam tratadas.                
    Decidindo que uma boa medida dos 3Cs era a única esperança de conciliar as questões de modo a preservar o relacionamento, meu amigo viu e ganhou o apoio de sua contraparte com o produtor, e o perito em reclamatória com o caminhoneiro. Enquanto isso, fizemos alguns testes para ele, que indicaram que quando a germinação ainda era adequada após as sementes chegarem no sudeste, já havia uma redução substancial na armazenabilidade (vigor) dos lotes.                
    Informações dadas pelo representante do caminhoneiro revelaram que dois anos antes, quando os problemas começaram, o produtor tinha concordado em mudar o embarque para uma rota mais ao sul (e mais quente) e os antigos caminhões tinham sido trocados por novos, os quais eram mais seguros e melhor fechados. Quando os três solucionadores de problemas começaram a especular que as condições desfavoráveis no caminhão durante o embarque poderiam ter causado uma redução na armazenabilidade das sementes, o caminhoneiro imediatamente solicitou a colocação de monitores de temperatura nos embarques periódicos de fertilizantes na mesma rota, no mesmo tipo de caminhão. Os monitores revelaram temperaturas que passavam de 50°C e que tinham uma média de 42°C durante os quase cinco dias que as sementes ficavam no caminhão. Do lado do produtor foi descoberto que as sementes eram embaladas em pacotes herméticos com umidade relativamente alta para armazenagem "selada", enquanto do lado do vendedor soube-se que as sementes eram descarregadas e amontoadas num barracão "receptáculo" não ventilado por até uma semana até serem movidas para as instalações principais de armazenamento.                    

    “Ações corretivas para problemas de qualidade das sementes requerem grande cooperação, colaboração e coordenação.”

    A conclusão de consenso dos resolvedores de problemas era que as altas temperaturas desenvolvidas durante o embarque e mantidas por vários dias no barracão de recebimento do vendedor, combinadas com a umidade relativamente alta das sementes nos pacotes resistentes ao vapor de umidade, iniciavam ou aceleravam os processos de deterioração. As três partes imediatamente concordaram com a conclusão e com as ações corretivas propostas, isto é, voltar à rota de embarque mais ao norte e mais fria, assim como aos antigos caminhões que eram menos fechados, reduzir o teor de umidade das sementes em cerca de 1% antes de empacotar, e mover imediatamente as sementes para o depósito ventilado, após seu recebimento. Os problemas não reincidiram.                 
    A boa relação comercial das três partes foi retomada, suas reputações foram preservadas, meu amigo foi promovido e todos ficaram felizes. E eu também fiquei "só sorriso" por ter tido uma pequena parte num episódio com um final feliz que não é comum. Porém, este não é o fim do meu ensaio sobre armazenagem e deterioração de sementes. Ele prosseguirá na próxima edição.

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