Agronegócio - um setor em movimento

Edição XVIII | 02 - Mar . 2014

    Mesmo com todas as críticas e autocríticas, o Brasil é um país próspero. Para desgosto dos pessimistas e da turma ‘do contra’ há sinais evidentes e temos motivos de sobra para reconhecer sem pudor que diante da nossa recente história (pouco mais de 500 anos) o país atingiu níveis de prosperidade admiráveis. 

    É verdade também que a conjuntura atual não é das mais tranquilas, não temos feito o dever de casa e se tivéssemos mais competência coletiva tudo poderia estar melhor, principalmente diante das oportunidades que o universo generosamente nos concedeu.

    Obviamente, ainda estamos distantes de vários outros países cujos desígnios foram ordenados muito antes, e em que pese às respectivas trajetórias mais elaboradas e eficazes. Por outro lado, alguns fazem parte da própria origem da civilização humana e nem por isso se apresentam em melhores condições.

    Evoluímos em todas as áreas. Não na velocidade e nem na qualidade que gostaríamos ou necessitaríamos, mas foram avanços indiscutíveis. Alguns setores avançaram primeiro, outros depois. Uns poucos, perenemente, enquanto os demais experimentam saltos espaçados. Especificamente, contudo, o agronegócio é um desses que dá gosto de analisar.


    Firmou-se como um setor econômico

    A pretexto de olhar positivamente o agronegócio, não se tem a intensão de recomendar o ‘berço esplêndido’ como uma realidade do setor, até porque os desafios são muitos e requerem diariamente capacidade inequívoca dos seus agentes para enfrentá-los. Mas analisar sob uma ótica leve, permitindo assumir o prazer de encontrar resultados animadores não pode representar pecado.

    Não é intenção criticar o recorrente (des)governo em relação ao setor. Inclusive a falta de marcos regulatórios e segurança jurídica, de investimentos básicos e consistentes em logística e infraestrutura, por exemplo, ou mesmo a falta de lógica nas diretrizes para com os setores (ora com uns, ora com outros) serão deixados de lado, embora reconhecidos.

    O propósito é utilizar as lentes seletivas da competência endógena do setor. Primeiro na constatação fundamental de que o agronegócio representa muito mais que uma área de produção e desenvolvimento multiproduto e já há algum tempo se consolidou como um grande setor econômico. 

    Acima de tudo, tem dado mostras consistentes, reiteradamente, de que é o principal motor da economia, somado ao fato de que os sinais no horizonte nos conduzem a acreditar que ainda o será por um longo período. E antes que alguém se levante para apresentar e apontar os seus problemas (que não são poucos) ou sugerir uma visão romântica dessa interpretação, vale considerar que não é necessário qualquer malabarismo ou viés estatístico para encontrar informações que justificam a visão otimista e redentora. 

    A título de exemplo raso, em 2013, a balança comercial brasileira apresentou superávit de apenas US$ 2,5 bilhões no ano; contudo, o agronegócio contribui sozinho com um saldo de quase US$ 83 bilhões. Se observado um horizonte mais amplo, dos últimos 14 anos (2000 a 2013), fica ainda mais evidente a importância que o setor emprestou para a estabilidade macroeconômica e, por conseguinte, para os interesses sociais do país. 

    É difícil imaginar outro setor, que no curto e mesmo no médio prazo seja capaz de contribuir decisivamente com os indicadores socioeconômicos como este. Não só em função dos reflexos nos indicadores macroeconômicos, mas principalmente na transferência de renda, no acesso a alimentos e na própria contribuição social, um elemento caro para qualquer governo. O que fatalmente não tem sido novidade ao longo dos últimos 40 anos.

    Na prática, basta bom senso, um pouco de desapego ideológico ou de viés setorial que, com pequeno interesse, é possível encontrar elementos capazes de demonstrar não apenas a pujança econômica, analisando dados de produção, produtividade, transformação, mercado, balança comercial ou mesmo contribuição no Produto Interno Bruto, mas também e principalmente de diversidade e dinamismo. A base de pesquisa e o repositório de conhecimento estatístico do setor são enormes e disponíveis a qualquer interessado.


    Um sistema estruturado

    Dois aspectos chamam particularmente a atenção no que vemos no agronegócio e que estabelecem ainda mais consistência no que se imagina como um setor consolidado: de um lado a diversidade produtiva construída principalmente ao longo dos últimos 20 anos e de outro, a maturidade das cadeias que o compõem, dando clareza da sua completude e entrelaçamento de suas estruturas.

    Para ficar em apenas um indicador, dos quase US$ 100 bilhões de dólares exportados em 2013 pelo setor foram mais de 40 grandes grupos de produtos que de algum modo ultrapassaram oficialmente a fronteira brasileira, trazendo divisas para o país. Ainda é importante considerar que uma gama enorme de produtos do agronegócio é consumida internamente, e nem por isso são menos importantes. Daí a complexidade do sistema de produtos que somos capazes de fazer chegar ao consumidor, seja ele interno ou no mercado internacional.

    Parece animador ao constatarmos que, mesmo em período de moeda nacional valorizada, somos competitivos o suficiente para atuar no mercado internacional com um grupo significativo de produtos e atividades. Essa capacidade demonstrada nos dá certa confiança, uma vez que ela, em si, pode representar uma barreira à entrada, quando comparados com outros players mundiais, e que muitas vezes não apresentam os problemas estruturais que enfrentamos aqui. Dito de outro modo, à medida que forem sendo sanados, poderemos nos tornar facilmente ainda mais competitivos, ampliando nossos mercados.

    A segurança e a maturidade que o agronegócio empresta são perceptíveis se analisarmos as estruturas ou o modo como está desenhado. Servindo-nos de um modelo de análise construído a partir do final da década de 1960 (cadeias e complexos agroindustriais), percebe-se que ao analisar o agronegócio brasileiro são facilmente encontrados complexos agroindustriais maduros, de cadeias complexas e com estruturas integradas, que se fundem num grande sistema.

    Esse desenvolvimento estrutural é particularmente interessante e reflete nossa capacidade de competir no mercado internacional quando levamos em conta que ocorre numa gama significativa de produtos agrícolas, demonstrando a amplitude. Mesmo para aqueles que ainda são exportados apenas com transformação primária, como é o caso de boa parte das commodities, requer-se um sistema agroindustrial complexo antes e durante o processo produtivo.

    Os sinais no horizonte, principalmente pela responsabilidade que o Brasil está sendo chamado a assumir no cenário mundial em relação à produção de alimentos, são excelentes, mas precisamos saber aproveitá-los, obviamente.

    Para isso é necessário que, de um lado, o setor continue a utilizar sua capacidade de mobilização e principalmente de organização, buscando melhorar cada vez mais seu aparato tecnológico e de competição. Mas é fundamental lembrar que dentro dos três subsistemas que compõem o agronegócio, o de produção (indústria de insumos e produção primária) está bem desenvolvido, mas ainda muitas cadeias estão carentes quando se trata dos subsistemas de transferência (transformação industrial, estocagem e transporte) e de consumo (força que dá forma ao sistema).

Temos muito trabalho, mas a expectativa é boa. Até a próxima.

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