A brusone do trigo e seu crescente impacto no mundo

A brusone do trigo e seu crescente impacto no mundo

   Pesquisadores do México, Bangladesh, Estados Unidos, Alemanha e Brasil projetam como será o comportamento da brusone do trigo, doença que se agrava num contexto de mudanças climáticas. Os resultados mostram a urgência de avançar para sistemas agroalimentares sustentáveis ​​e resilientes.

   É muito pequeno, microscópico e, no entanto, representa uma das maiores ameaças à segurança alimentar global hoje e no futuro. Trata-se do Magnaporthe oryzae, um fungo patogênico que causa a brusone do trigo, uma doença devastadora que, segundo pesquisas recentes, poderá reduzir drasticamente a produção global de trigo.

   Só na safra 21/22, o trigo foi cultivado em 222 milhões de hectares em todo o mundo, produzindo 779 milhões de toneladas de grãos. Neste sentido, procurar soluções para enfrentar essas doenças com potencial para reduzir drasticamente a produção agrícola é uma missão de primeira ordem de importância.

   “A brusone do trigo tornou-se uma ameaça substancial à produção de trigo em áreas quentes e úmidas”.

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FOTO: CIMMYT

   Longe de ser um problema que ficou no passado e em área restrita, a brusone do trigo prevaleceu e se espalhou, afetando grandes regiões de vários continentes: “Em fevereiro de 2016 foi registrada em Bangladesh, sendo a primeira vez que isso foi relatado fora da América do Sul e, pouco depois, em 2018, foi reportado pela primeira vez na Zâmbia, no continente africano”, detalham os pesquisadores.

   Qual é o impacto potencial da doença a nível global e regional num contexto de variabilidade climática. Quantos hectares poderão ser afetados pelo agente patogênico? Quais são as áreas mais vulneráveis?

   Para ajudar a compreender os riscos e conceber soluções, um grupo de pesquisadores de vários países combinou dois modelos de simulação – um para o crescimento e rendimento do trigo e outro para simular a dinâmica do desenvolvimento da doença, considerando também estudos anteriores e analisando dados históricos.

   Um dos aspectos mais relevantes e inovadores deste novo estudo é que sua metodologia considera, além da vulnerabilidade climática – que está impulsionando futuros eventos de doenças em novos países – fatores que não haviam sido considerados anteriormente, como o acúmulo do inóculo, o microrganismo ou suas partes capazes de causar infecção, como esporos e fragmentos de micélio, propiciam maior infecção e danos às culturas.

   Nas atuais condições climáticas, sublinha o estudo, 6,4 milhões de hectares de terras aráveis ​​são potencialmente vulneráveis ​​à doença, e “um clima mais húmido e quente no futuro provavelmente aumentará a área com condições adequadas à infecção, particularmente no hemisfério sul, reduzindo a produção global de trigo em 69 milhões de toneladas por ano até 2050, um declínio de 13%.”

   “A vulnerabilidade mais extrema estimada em climas futuros está na América do Sul e em África, onde poderá ver até 75% das áreas de trigo tornarem-se vulneráveis ​​à doença”, nota o estudo, que revela que além das regiões que são atualmente afetadas pela a doença, existe “potencial de perda de rendimento mesmo em países ou regiões onde a doença ainda não está presente”.

   O sudeste dos Estados Unidos, México, América Central, África Oriental, Índia, Austrália Oriental, Japão, Itália, Espanha, Nova Zelândia, entre outros países anteriormente não afetados, são vulneráveis, observa o estudo, o que contribui para que centros de pesquisa como o CIMMYT procurem estratégias de prevenção e cuidados oportunos para enfrentar doenças como a brusone do trigo. Hoje, 70% do trigo plantado no mundo deriva de materiais genéticos do CIMMYT.

   Para os especialistas que participaram do estudo – do CIMMYT (México e Bangladesh), da Universidade da Flórida (Estados Unidos), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, Estados Unidos) e a Universidade Técnica de Munique (Alemanha) – é essencial continuar a pesquisa e levar práticas de cultivo adequadas aos produtores as sementes.

   Através do seu programa Sistemas Agroalimentares Sustentáveis ​​(SAS), o CIMMYT promove ações para que os produtores mundiais se adaptem às novas condições climáticas. A ciência colaborativa é uma dessas ações. Convidamos você a ler o artigo completo Vulnerabilidade da produção à brusone do trigo sob mudanças climáticas, disponível na revista Nature Climate Change: https://doi.org/10.1038/s41558-023-01902-2

*Esta notícia foi escrita por Fernando Morales Garcilazo para o CIMMYT, e pode ser acessada em seu idioma original em: https://www.cimmyt.org/es/noticias/el-brusone-del-trigo-y-su-futuro-impacto-global/

Subject:Linha Verde

Author:Fernando Morales Garcilazo (CIMMYT)

Publication date:16/04/2024 12:06:01

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