A chegada do El Niño já afeta o desempenho agrícola do Brasil neste ano.

   A colheita total de grãos nesta safra 2023/24 no Brasil deverá alcançar 299,8 milhões de toneladas, 20 milhões a menos que na safra passada e, 6,3% abaixo do calculado na safra anterior de 2022/23, a qual foi de 319,8 milhões de toneladas.

   A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu novamente suas estimativas de colheita de grãos desta safra 2023/24 devido aos efeitos do El Niño com calor excessivo e chuvas inconsistentes no Centro-Oeste do país. 

   O atraso no início das chuvas no Centro-Oeste, seguido por precipitações irregulares e mal distribuídas e, períodos de veranicos e altas temperaturas durante o desenvolvimento da soja, resultou em quebras esperadas na produtividade. 

   Segundo levantamento realizado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), cerca de 6% da área de soja no estado precisou ser replantada devido à falta de chuvas e calor. A janela de plantio ficou muito longa, com alguns produtores iniciando o plantio em setembro e finalizando apenas em dezembro ou janeiro. Com isto, as maiores perdas foram observadas em áreas com cultivares de ciclo precoce com estimativa de produtividade de 50 sacas por hectare na região, ante 62 sacas por hectare em 2023.

Grãos

   Os agricultores do Centro-Oeste vão produzir 140,3 milhões de toneladas de grãos em conjunto, apontando para uma queda de 13,6% em relação à temporada anterior (162,5 milhões), a qual é uma das maiores nas últimas décadas. 

   Já no estado do Mato Grosso, a retração entre as safras deve ser de 14,4%, considerando-se as culturas de soja, milho e algodão, a qual estima-se em 86,5 milhões de toneladas. 

   Além disso, a CONAB também reduziu sua previsão de produção de grãos no Matopiba, que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, devido às intempéries semelhantes às do Centro-Oeste. Sendo que a colheita em 2023/24 deve ser menor que em 2022/23 em todos esses Estados, com o maior tombo na Bahia. A Conab ajustou a produção baiana para 11,5 milhões de toneladas, uma queda de 14,5% em relação ao ciclo anterior. 

   Por outro lado, embora o excesso de chuvas tenha limitado o potencial produtivo, a colheita do Sul do Brasil deve crescer 10,2% para 88,9 milhões de toneladas.

   Assim, a Conab projeta uma produção de soja de 149,4 milhões de toneladas em 2023/24, 3,4% menor que o colhido no ciclo passado.

   Por sua vez, a colheita total de milho foi ajustada para 113,7 milhões de toneladas nesta safra, em comparação com 131,9 milhões de toneladas em 2022/23. 

   Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para números semelhantes ao da CONAB, projetando a colheita total do país em 303,4 milhões de toneladas neste ano, 3,8% abaixo do volume de 2023. O órgão estima 150,4 milhões de toneladas de soja, 117,7 milhões de toneladas de milho (somadas as produções da safra e safrinha) e 10,4 milhões de toneladas de arroz.

Sementes

   Apesar do maior volume de chuvas na região sul do país ter atrapalhado o plantio de alguns campos durante os últimos meses de 2023, Alexandre Levien (Diretor Técnico e Administrativo da Fundação Pró-Sementes) diz não ter observado lavouras com problemas críticos na região até o momento, com expectativas normais para o volume e qualidade das sementes a serem colhidas em breve.

   A região de MATOPIBA, por sua vez, sofreu com o atraso da chuva para o plantio devido ao impacto do “El Niño” causando maior seca no centro oeste e nordeste do país. No entanto, segundo Celito Missio, Diretor Presidente da Sementes Oilema, a qualidade das sementes será determinada apenas após início da colheita a partir de Março deste ano, sendo que também não é possível atribuir perdas de nenhuma cultivar na região.

   Já no MS, Airton Francisco de Jesus, Membro do conselho na Agropastoril Jotabasso, acredita que está havendo forte pressão da alta temperatura sob a qualidade das sementes sendo colhidas, assim como alta incidência de percevejos atacando as sementes neste ciclo final da cultura da soja. Por isso, os produtores com melhor capacidade de gestão e estrutura terão mais chances de terminar a safra sem maiores problemas de qualidade e produção final.