O que fazer quando o futuro chegar?

Edição XXI | 05 - Set . 2017

    Um pouco de futurismo não faz mal a ninguém. Desde que os nossos antepassados mais primitivos desceram das árvores (algo em torno de 3,7 milhões de anos), dominando o fogo (entre 400 e 300 mil anos atrás), e evoluindo a ponto de se tornarem conscientes sobre a própria existência, rompendo continuamente suas limitadas capacidades, o mundo estava fadado a nunca mais ser o mesmo. E o planeta talvez sem capacidade sequer para suportar-nos como espécie.


    Uma pergunta inquietante!

    Mas, e como será o futuro? Essa perguntinha inquietante tem nos acompanhado  desde aquele momento. Entender e saber de um futuro que nós mesmo criamos à medida que evoluímos é tarefa hercúlea, indigesta e incerta. Há apenas sinais. Pouco pode ser definitivo ou evidente. Talvez esteja exatamente aí a beleza de sermos humanos, conscientes, inconformados e intransigentemente evolutivos.

    A agricultura, primeiro pela subsistência, depois pelo mercantilismo, e mais recentemente como agronegócio (conceito cunhado por Davis e Goldberg apenas em 1957), sempre teve e mantém até hoje (e ninguém sabe até quando) importância capital na capacidade de sustentar a evolução da espécie no planeta.

    Principalmente no agronegócio (mas não exclusivamente nele), os desdobramentos dos arranjos organizacionais e a capacidade de construir inter-relações tem dado outra dinâmica de entendimento da capacidade de evoluirmos como agentes, agregando-nos, para, como grandes arranjos de indivíduos ou organizações, sermos capazes de aproveitar oportunidades e fazer frente às adversidades, competindo uns com os outros. 

    Sem isso, talvez não avançássemos tanto, tão rápido, e provavelmente também nem tão perniciosamente. Competir entre si tem sido a nossa mola propulsora da evolução. Esse reordenamento contínuo pela sobrevivência tem nos tornado cada vez mais capazes de exponencialmente criar conhecimento e aplicá-lo. Inovando por consequência.


    Inovação, visão sistêmica e competitividade

    O agronegócio tem a inovação como um ativo fundamental, e talvez graças a ele mantém sua capacidade de responder plenamente aos desafios alimentares de um planeta com mais de 7 bilhões de habitantes. Já faz algum tempo, desde o final da primeira guerra mundial, que o alimento se tornou artigo de barganha e estratégia militar. Daí surgiu o termo segurança alimentar como ativo estratégico das nações. 

    Mais recentemente, este termo, associado ao conceito de segurança do alimento (não confundir com o anterior), tem sido utilizado como barreiras sanitárias para impor limites mercadológicos entre países, apenas como maneira indireta de proteger seus agentes econômicos, travestido de proteger a sua população.

    Percebe-se de imediato que o conceito de sistema integrado a que se refere o texto anteriormente é a realidade indelével da atualidade e não está presente apenas entre os agentes, como fica evidente criando redes e cadeias, por exemplo, de onde originou-se na essência o próprio conceito de agronegócio. Mas permeia e transpassa as ciências em si. 

    Já há algum tempo, os próprios profissionais, tanto das áreas técnicas como sociais, perceberam que à medida que eram capazes de atuar holística e sistemicamente, tornavam-se também geradores de melhores resultados, ampliando principalmente sua capacidade inovativa.

    O grande diferencial do agronegócio  parece  residir exatamente nessa capacidade de integrar e promover ganhos de competividade, criando ao mesmo tempo ganhos de escala e de escopo (um grande desafio em qualquer setor). Os sistemas de integração, primeiro lavoura-pecuária e depois lavoura-pecuária-floresta, são apenas alguns exemplos desse processo irreversível de se adaptar continuamente às capacidades dos recursos naturais do planeta.


    Do Jeca Tatu ao Agrihub

    A agricultura, a reboque dos demais setores do agronegócio (principalmente da indústria pós-porteira e do setor de distribuição) tem experimentado (e feito bonito) cada vez mais os avanços tecnológicos antes apenas imaginados nas indústrias eminentemente urbanas, como de automóveis, da aviação ou sistemas de manutenção da vida, nos hospitais.

    Quem recupera na história a época do Jeca Tatu (personagem caricato criado por Monteiro Lobato em 1914), quando o agricultor e a agricultura eram retratados como o atraso e a pobreza, deve ficar orgulhoso e de certo modo admirado pela rapidez evolutiva, reunindo diferentes ciências, aplicando-as num setor agora intensamente integrado ao mercado: o agronegócio.

    Há pouco tempo, era difícil imaginar a ampla e intensa aplicação de tecnologia, a começar pela agricultura de precisão, por exemplo, primeiro com a adubação em taxa variável, depois a recente aplicação de defensivos em taxa variável, o uso de drones de monitoramento, somado à utilização de avançados recursos de tecnologia da informação para a gestão em tempo real, dentre muitas outras inovações que se tornam cada vez mais partes do cotidiano.

    Esse processo cada vez menos individual e mais integrado, sistêmico e inovativo vê-se materializado justamente quando o próprio conceito de agronegócio se cristaliza em iniciativas como a do Agrihub, dos mato-grossenses Famato, Imea e Senar, cujo propósito é criar uma rede de inovação em agricultura e pecuária, que identifica as necessidades dos produtores e os conecta a startups, mentores, empresas, pesquisadores e investidores; promovendo assim o melhor ajuste das tecnologias ao campo.


    2045. Um ano para marcar no calendário

    Assim como pode acontecer noutros setores, as inovações no agronegócio possuem quatro ingredientes cruciais: o crescimento populacional (em 2050 seremos 9 bilhões de habitantes sobre a terra), a competição cada vez mais evidente pelos mercados internacionais, o uso intenso de tecnologias baseadas na informação e no conhecimento, e, por último, a associação com a mecanização e automatização de atividades, operações e, inclusive, decisões.

    Nesse particular, a inteligência artificial, a internet das coisas e a robótica vão transformar tudo, não apenas no setor urbano, mas também no agronegócio que está de olho nessas tecnologias. Como dito no início, o futuro é um lugar no qual o ser humano sonha em chegar rápido, mas não sabe como será. Justamente porque ele é criado um pouquinho a cada dia e cada dia mais rápido.

    A agricultura já está experimentando, por exemplo, o uso de diferentes máquinas totalmente autônomas para a realização de operações agrícolas. Não vai demorar muito para que sejam possíveis operações 24 horas por dia com monitoramento de dados em tempo real, fora a capacidade dessas máquinas conversarem perfeitamente com outras, respondendo automaticamente, por exemplo, às ocorrências meteorológicas.

    A inovação é exponencial em todos os setores e o agronegócio não vai escapar também. Ou, visto de outro modo: vai se beneficiar igualmente desses avanços todos, inclusive patrocinando muitos deles.

    Em se tratando de inteligência artificial, a grande questão da vez e que intriga a todos é quando (e não se) as máquinas superarão a capacidade humana, tornando-se inteligentes a ponto de existir uma máquina capaz de, ela mesma, criar máquinas ainda mais sofisticadas, sem precisar de programadores humanos. A inteligência artificial cresceria por conta própria. 

    Há estudos avançados de que a singularidade das máquinas (ou singularidade tecnológica), como esse momento é chamado, deverá acontecer por volta de 2045. Ou seja, muitos de nós, que estamos agora lendo esse texto devemos estar vivos quando isso acontecer. Um novo mundo provavelmente deverá emergir desse momento. Mas fique tranquilo, o agronegócio estará nele.

    Até a próxima.

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